sexta-feira, 6 de abril de 2018

A INGENUIDADE DO LULA E A HIPOCRISIA SISTÊMICA DO CAPITALISMO

Lula com a rainha da Dinamarca: igual à nobreza de berço?
Não é historicamente curioso que o primeiro presidente da República a ser preso no Brasil por crime comum seja justamente uma pessoa de origem operária, ainda que tal operário tenha jogado pedra na cruz para ser aceito pelo Império Romano da atualidade?  

A justiça republicana é historicamente mais severa com seus inimigos de classe; mas, talvez o reconhecimento do propósito conciliatório de Lula como governante amenize a sua pena, quando estiver politicamente exaurida a desmoralização que ora lhe impõem.

Quando nós, os que lutávamos contra a ditadura, éramos presos, ainda que temêssemos pela vida sob a covarde tortura, tínhamos o orgulho próprio de quem luta contra a injustiça. Este era o conforto dos que colocavam a honra e a dignidade acima de mesquinhos interesses pessoais e de poder.

Lula acreditou nos cânones da democracia burguesa e, assim, acendeu uma vela a deus e outra ao diabo. Cortejou os donos do PIB e das esferas institucionais do poder burguês como se fossem confiáveis. Não são.

A postura de Lula é própria à ingenuidade de quem, tendo crescido politicamente sob os auspícios da indignação popular contra a injustiça (ainda que em lutas árduas e sofridas), achou que poderia adotar os mesmos métodos de governo que a tradicional elite brasileira sempre utilizou para se perpetuar majoritariamente no poder – aceitar e praticar a corrupção. Deu-se mal.
"É uma justiça mais severa com os inimigos de classe"

O atual ensaio de prender alguns políticos da elite política tem dois objetivos:
a) dar um puxão de orelha nos que concorrem para o agravamento das combalidas finanças do erário público, vítima de corrupção desvirtuadora da função estatal de manutenção da ordem capitalista vigente e que, no Brasil, tomou ares de inaceitável comportamento endêmico; 
b) desmoralizar a esquerda quando no exercício do poder, punindo-a pela aviltante prática de corrupção com a justificativa de que todos são iguais perante a lei (um falacioso lema republicano).
Apesar de ter sido expulso do PT sob o beneplácito de Lula e outros dirigentes petistas, tenho, pessoalmente, um desconforto pelo que representa a sua desonrosa prisão, explorada com júbilo pelos tradicionais e empedernidos defensores do capital e de tudo que ele incorpora.

O meu sentimento é de solidariedade humana a um septuagenário e de perda do que até aqui construímos. 

Infelizmente, a prisão atual difere daquela que foi imposta a Lula pela ditadura militar em 1980, quando era dirigente sindical. 
"Vida política brasileira nauseia até observadores desatentos"
Agora, sua prisão está manchada pela nódoa do corrupto pacto conciliatório com o que há de mais podre na vida política brasileira como forma de propiciar continuidade ao sujo jogo do processo eleitoral, cuja hipocrisia sistêmica (inclusive dos tribunais eleitorais) é de dar náusea mesmo a um observador menos atento.    

A nós, que lutamos por uma sociedade emancipada, só nos resta só nos resta tirarmos lições desse episódio, para que algo assim não se repita jamais; e esforçarmo-nos para nos colocar à altura do combate aos males do sistema capitalista, da sua opressão econômica e de sua hipocrisia institucional. (por Dalton Rosado)

2 comentários:

celsolungaretti disse...

Lamento ter deletado por engano, quando o que eu queria era aprová-lo para publicação, um comentário apontando o nome de três ex-presidentes da República do Brasil presos depois de deixarem o poder.

Como não consegui recuperar tal mensagem, pesquisei o assunto e constatei que foram, na verdade, cinco: Hermes da Fonseca, Arthur Bernardes, Washington Luís, Café Filho e Juscelino Kubitschek.

Minhas desculpas ao comentarista, que estava basicamente certo em sua correção, embora tenha sido desnecessariamente grosseiro quanto a outros detalhes. Isso eu relevo porque tal espírito beligerante praticamente se tornou um padrão nas redes sociais. (Celso Lungaretti)

celsolungaretti disse...

Eis a resposta que o Dalton mandou por e-mail:

Caro Lungaretti,
No Brasil o Lula é o primeiro presidente preso por crime comum, após um trâmite processual seguindo todos os ritos do Código de Processo Penal que o condenou a 12 anos e nove meses de prisão em regime fechado, ainda pendente de trânsito em julgado.
É nesse sentido que sua prisão é inusitada. Os outros, foram alvo de detenções ou prisões por períodos breves e em razão de alegados crimes políticos.
Dalton Rosado

Agradeço ao Dalton ter esclarecido definitivamente a questão. Minha preocupação foi apenas a de não "censurar" o comentarista. Ele tinha uma questão pertinente a propor e eu, como um trapalhão, perdi a mensagem dele. Então, não me aprofundei em outros aspectos, apenas garimpei a lista de ex-presidentes que foram posteriormente presos. o Dalton colocou os pingos nos ii. (Celso Lungaretti)

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