quinta-feira, 15 de março de 2018

MEDIDAS ECONÔMICAS DE TRUMP VÊM RATIFICAR, 160 ANOS DEPOIS, OS PROGNÓSTICOS DE MARX - 1

A GUERRA INTERNACIONAL DA CONCORRÊNCIA DE
MERCADO E O LIMITE ABSOLUTO DO CAPITAL
                                             
  "O limite do capital é o
próprio capital"
(Karl Marx)
Nada mais atual do que os vaticínios de Karl Marx, na sua crítica da economia política feita há 160 anos, sobre a tendência à superprodução de mercadorias em relação à capacidade de consumo mundial (capacidade de consumo ditada pelo poder aquisitivo, que é diferente de necessidade de consumo), entre outros temas relativos à produção de mercadorias de igual contemporaneidade. 

Digo eu que tal superprodução ocorre principalmente para muitas commodities, dentre as quais o aço. 

Entretanto, é justamente por sua atualidade que os economistas burgueses e grandes capitalistas; a academia; os empedernidos cientistas políticos; bem como a esquerda fisiológica dita marxista do movimento operário, ou apenas socialistas keynesianos, teimam em negar a sua atualidade face aos acontecimentos mundiais, ignorando (por intencional alheamento) os seus conceitos e prognósticos.

É que eles detestam ter de encarar a verdade marxiana, esotérica, que confronta seus conceitos burgueses ou envergonhadamente burgueses, pretensamente imutáveis e as suas práticas políticas. 

Mas, por paradoxal que possa parecer, é justamente um grande empresário estadunidense travestido de político outsider, mas investido na presidência dos EUA, Donald Trump, quem ratifica os prognósticos do Marx esotérico com suas medidas econômicas.

Vejamos, em seguida, a análise dos fatos sociais empíricos, ditados pela lógica e dinâmica do capital, em confronto com a análise marxiana esotérica contida na sua crítica da economia política.

Sobre a superprodução e atual taxação do aço – O desenvolvimento tecnológico da produção de aço e a correspondente extração do minério de ferro, sua matéria-prima mundo afora, provocou uma oferta mundial desse produto, que apesar de ser básico na produção de bens duráveis como veículos, geladeiras, máquinas de lavar, fogões, botijões de gás, máquinas e motores, além de uma infinidade de produtos da indústria metalúrgica, tem hoje uma oferta maior do que a sua procura no mercado. 

O barateamento do valor do aço tem como fato gerador básico o desenvolvimento em escala mundial da tecnologia aplicada à produção, que provoca a aumento da extração de mais-valia relativa na sua produção graças ao mecanismo de substituição da capital variável (trabalho vivo, remunerado aos trabalhadores) pelo capital constante (meios de produção e máquinas, trabalho morto, não remunerado), fenômeno dissecado por Karl Marx n'O capital). 

Ora, com o valor de produção socialmente estabelecido por padrões mundiais, o quantitativo de valor e de preço inferior da produção do aço internacional em relação à produção de aço estadunidense faz com que os industriais dos EUA que usam tal produto passem a optar por sua importação, para poderem fazer frente à concorrência nacional e internacional.

Assim, quando o presidente Donald Trump propõe que a importação do aço seja taxada como medida de proteção à siderurgia estadunidense, ele está implicitamente elevando os custos de produção da indústria automobilística e metalúrgica dos EUA, e o que ajuda por um lado mas prejudica pelo outro, sendo que os malefícios provavelmente excedem em muito os benefícios econômicos pretendidos.      

Cumpre-nos dizer que os Estados Unidos em que pese o (ainda) bom nível de empregabilidade, enfrenta o rebaixamento dos níveis salariais e, consequentemente, da redução da massa de mais-valia, o que os obriga a viver da emissão de moeda (internacional) sem lastro e da emissão de títulos públicos a juros irrisórios. Uma bomba-relógio ainda sem data para explodir. 

O capitalismo one world, tão pretendido outrora pelos EUA, encontra-se numa sinuca de bico, pois, como dizia Marx, “o verdadeiro limite do capital é o próprio capital”, antevendo que suas contradições internas o levariam a impasses intransponíveis, que culminariam na sua autodestruição, sem que isto signifique, ipso facto, a emancipação humana. 

Sobre os efeitos colaterais da superprodução de mercadorias relativamente à capacidade de consumo – Se, como consequência de uma mágica qualquer, a China dita comunista fosse surpreendida pela vizinha Índia, que tem população pouco inferior à chinesa (ambas possuem mais de 2,5 bilhões de habitantes) com a produção de mercadorias qualitativamente equivalentes e cujos preços fossem inferiores, a primeira medida do novo mandarim chinês Ji-Xiaoping seria sobretaxar os produtos indianos como forma de proteção da indústria chinesa e dos seus empregos (justamente ele, dito comunista, e que agora é o campeão da defesa do livre comércio).

É que o capital tem regras ditatoriais de comportamento. Então, estando a China inserida no contexto mercantil mundial como a mais nova potência capitalista mundial (ainda que o povo chinês tenha renda per capita compatível com a brasileira e níveis de desigualdades sociais igualmente desumanos), certamente acabaria repetindo os oportunistas e falaciosos discursos capitalistas de ocasião.

A China, que teve níveis de crescimento do PIB surpreendentes e constantes nos últimos 20 anos, depara-se agora com a questão levantada por Marx sobre o limite interno absoluto do capital, tanto por questionamentos das contradições internas quanto externas do capital. 
Por Dalton Rosado

O futuro da China é bater de frente contra o muro desse limite interno absoluto do capital. 

Marx deve se revirar no túmulo, horrorizado, diante do marxismo chinês...
 (continua neste post)

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