terça-feira, 27 de março de 2018

HOJE É DIA DE PARABENIZAR O DALTON ROSADO E DE DETONAR O PATRIOTISMO

Faz exatos dois anos que o Dalton Rosado começou a colaborar com este blog, trazendo abordagens teóricas que rapidamente encontraram um público assíduo e ajudaram sobremaneira o Náufrago a cumprir uma das principais missões que assumiu, a de estimular o exercício do pensamento crítico.

Devemos-lhe cerca de 230 posts impecáveis, nos quais ele dissecou a atualidade brasileira e mundial a partir, principalmente, dos ensinamentos da vertente de reinterpretação da obra de Marx que ficou conhecida na Alemanha como crítica do valor, tendo Robert Kurz como seu expoente mais destacado. Suas abordagens na linha da economia política têm tudo a ver com este momento em que a crise insolúvel do capitalismo se aproxima do inevitável desfecho, produzindo acontecimentos dramáticos em escala mundial.

Como uma pequena homenagem ao Dalton, é republicado abaixo o terceiro dos seus artigos, datado de 4 de abril de 2016 mas, surpreendentemente, mais apropriado para os dias atuais do que para o momento em que foi escrito, pois o patriotismo voltou à tona estrondosamente com a saída do Reino Unido da União Européia e a eleição de Donald Trump, mais último refúgio dos canalhas (conforme a frase lapidar de Samuel Johnson) do que nunca...
O PATRIOTA
"...quase todos os hinos nacionais falam de guerra..."
Todos nós fomos educados dentro de um sentimento de adoração à pátria; de respeito e disponibilidade à defesa dos interesses patrióticos, ainda que com a própria vida; e aconselhados à convivência fraterna com as demais pátrias. 

Entretanto, a lógica das relações sociais internacionais denuncia uma contradição implícita entre o sentimento patriótico e a boa convivência com os demais patriotas estrangeiros. 

Tal como ocorre no interior dos países, onde a cisão social promovida pela lógica das relações sociais sob a forma-valor estabelece cidadãos de primeira classe, os bem aquinhoados, e os de segunda classe, os trabalhadores assalariados de baixa renda (a grande maioria), as relações comerciais internacionais estabelecem uma disputa mercadológica pela riqueza abstrata que se constitui como verdadeira guerra de interesses econômicos entre nações ricas e pobres. 
"...embora a rima ajude..."

Cada Estado defende os interesses privados ou estatais das suas empresas contra as empresas estrangeiras, visando à maior arrecadação de impostos, embora o Estado nacional, a pátria, esteja, agora, na globalização do capital, sofrendo uma fragilização inerente à emigração e decomposição do próprio capital, ou propiciando a formação de blocos, como a União Europeia.

Assim, o sentimento patriótico, que obedece à lógica de disputa mercadológica da riqueza abstrata, na qual cada mercadoria persegue a hegemonia de mercado, é parte da causa do empobrecimento das pátrias perdedoras dessa disputa fratricida.  

A crítica ao patriotismo pode parecer absurda, pois contraria uma lógica que vem sendo positivada nas nossas mentes nos últimos séculos; e isso porque a aceitação da contrariedade significa uma postura de necessária ruptura com tudo que até então nos foi ensinado como bom. 

Defesa de cultura regional e preservação de sentimentos atávicos não devem ser confundidas com patriotadas próprias de posturas xenófobas. É graças a isso quase todos os hinos nacionais falam de guerra, pois é esse o sentimento indutor da separação patriótica. 
"...o patriota é alguém que foi massacrado por uma positivação cultural ora insustentável..."
O senso comum entende que o conceito de patriotismo é cláusula pétrea da melhor compreensão de organização social; questioná-lo corresponde uma heresia, assim como alguém dizer que é contra a lei da gravidade, p. ex.

O patriota não é um idiota (embora a rima ajude), mas apenas alguém que foi massacrado por uma positivação conceitual que ora se torna insustentável graças à falência do modelo social do qual tal qualificação e conceito fazem parte. 

O mundo deve ser uno, sem fronteiras, etnicamente harmônico, culturalmente diverso e solidário no atendimento das necessidades dos seres humanos.

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