segunda-feira, 13 de novembro de 2017

SOMOS TODOS SERVOS VOLUNTÁRIOS DO CAPITAL. E AÍ VEM O DILÚVIO...

"Tomai a resolução de não mais servirdes e sereis
livres. Não vos peço que empurreis ou derrubeis,
mas somente que não o apoieis: não tardareis ver
como, qual colosso descomunal que se tira a base,
ruirá por terra e se quebrará" (Etienne de La Boeté)
Os promotores de Justiça da Coréia do Sul acusaram o herdeiro da Samsung, de 49 anos, de ter subornado Choi Soon-il, a chamada Rasputina sul-coreana e amiga íntima da ex-presidente Park, para que esta o ajudasse a obter a aprovação oficial da fusão de duas filiais da Samsung, operação fundamental para facilitar a sucessão de Lee à frente do conglomerado.

Um amigo me perguntou o que leva um empresário do porte de Lee Jae-Yong a assumir o risco de ser preso como corrupto. Ganância burra?

Respondi-lhe que não, explicando: o capital, como riqueza abstrata que é, tem uma dinâmica existencial própria, necessitando de constante crescimento e circulação para permanecer vivo e acreditado. Daí empresários poderosos não hesitarem diante da possibilidade de caírem no ostracismo e até serem presos (isto se aplica às empreiteiras brasileiras, bem como aos políticos nas disputas eleitorais).

O capital apenas se serve da riqueza material, concreta (um objeto ou serviço qualquer indispensável à sustentação da vida humana) para existir; um oportunismo vil. Sem um crescimento contínuo ele definha e colapsa, tornando evidente a sua irracionalidade, posto que as consequências nefastas de sua faina, como a desigualdade social, já foram inquestionavelmente provadas. 
Terá Lee Jae-Yong uma TV Samsung na sua cela?

Algo parecido com as famosas pirâmides de capital (hoje muito usadas por empresas que desejam vender os seus produtos aliados a uma farsa de enriquecimento fácil), consideradas como crime por fraudarem os desavisados que dela participam. 

Disse ao meu amigo que o capital nunca permanece estável: ou cresce ou morre. Daí a autofagia capitalista promovida pela concorrência internacional e nacional de mercado, com apenas alguns vitoriosos sobrevivendo. Daí as fusões de empresas gigantescas que se unem para dominar o mercado ou não serem levadas de roldão pelas concorrentes.    

Os tempos são de instabilidades econômicas provocadas pela crise da dessubstancialização do valor das mercadorias, a qual, além de provocar uma queda na produção das ditas cujas, produz estragos no sistema financeiro e nas finanças públicas. 

Este último efeito advém do uso de tecnologia microeletrônica aplicada à produção (robotização), aliada à globalização da produção (que busca produzir mercadorias com baixos salários nos países periféricos do capitalismo, como a China e a Índia), procura extrair vantagens da sua relação com o Estado (este cada vez mais falido graças à própria dessubstancialização do capital acima referida).

Este é o motivo de as grandes empresas praticarem crimes de corrupção política e financeira: a busca da sobrevivência a qualquer preço.
Por sua vez, expressiva parcela dos pequenos empresários sucumbe à autofagia do capital, espremida entre uma legislação que lhe obriga ao pagamento de juros, cumprimento de normas trabalhistas, sanitárias, fiscais, burocráticas, etc., e a incapacidade de obtenção de lucros suficientes para mantê-la financeiramente saudável.

Tais pequenos empresários carregam uma culpa administrativa por sua falência, mas não compreendem que se trata da consequência óbvia da lógica mercantil que os escraviza, nem percebem que tal lógica caminha a passos largos para o abismo.   

O trabalhador vê o desespero bater à sua porta e vive assombrado pelos fantasmas do desemprego, da redução de direitos trabalhistas e previdenciários (algo que está na pauta dos políticos que servem todos ao capital, mesmo os que se proclamam anticapitalistas).

Na verdade, o capital e o capitalista, bem como o trabalho e o trabalhador, são aparentemente antagônicos mas não passam de faces distintas de uma mesma moeda: dependem todos da sobrevivência do capital para manterem-se vivos. 

Felizmente, o capital, o capitalista, o trabalho, o trabalhador e todos nós que padecemos sob tal lógica segregacionista e suicida caminhamos para o fim de tal relação social; devemos ter a sensatez de realizar o quanto antes a transição para uma sociedade emancipada, que supere essa forma de relação social baseada no valor econômico, antes que a mesma provoque uma hecatombe social ou ecológica capaz de extinguir a vida humana no Planeta.

Destarte, não há contradição entre o capital e o trabalho, na medida em que ambos representam a síntese do valor, sendo, portanto, faces de uma mesma moeda. No primeiro caso, valor acumulado; no segundo, valor assalariado. 

Daí porque os desavisados e pretensos anticapitalistas marxistas tradicionais endeusaram (sub-repticiamente ou por ignorarem as teorizações do Marx esotérico, da maturidade, condenando a forma-valor e prenunciando o seu colapso, cujos sintomas ora ocorrem) a figura do trabalho e do trabalhador como fonte de dignidade humana e positivaram a criação do valor, ao invés de condená-lo como negatividade social a ser superada.

Não é a forma de administração do Estado, sob o modelo neoliberal ou keynesiano, estatizante ou monetarista, liberal burguês ou marxista-leninista, que possibilitará a eliminação da contradição social existente. É a superação da relação social sob a forma-valor, injusta na sua essência existencial, que vai permitir a erradicação da miséria social. 

O capitalismo liberal e o marxismo tradicional positivaram o gênero valor e, como consequência, as espécies capital e trabalho abstrato, perpetuando a extração de mais-valia por meio das empresas privadas ou do Estado; isto resultou, inevitavelmente, no fracasso de ambas as formas de administração política, que ora vivem os estertores do colapso interno dessa relação social.

A Rússia, cuja revolução bolchevique acaba de completar 100 anos, tornou-se um país capitalista como qualquer outro (inclusive exportador de máfias e capitalistas multinacionais). 

A China se tornou a maior defensora da livre concorrência de mercado diante da preocupação estadunidense com a indigestão causada pelo próprio veneno da dinâmica capitalista, que lhe proporcionou o apogeu e agora prenuncia impasses intransponíveis. 

Os poucos países capitalistas dominantes se mantêm graças à emissão de dinheiro sem valor, ao qual desavisadamente o mundo empresta credibilidade, mas o truque funcionará somente até o momento em que se evidencie sua insubsistência, como riqueza hiper-abstrata que é.

Este será o momento do dilúvio capitalista. (por Dalton Rosado)

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