terça-feira, 21 de novembro de 2017

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Meu nome é ninguém (1973) é mais um western italiano idealizado, produzido e dirigido pelo grande Sergio Leone; só que, neste caso, ele preferiu transferir a seu assistente Tonino Valerii o crédito de diretor.

Por quê? Tenho cá pra mim que Leone  não quis quebrar a sequência evolutiva de sua obra. Começara dirigindo épicos da Antiguidade (Os últimos dias de Pompéia –também não creditado–, 1959; e O colosso de Rodes, 1961); inventara o bangue-bangue à italiana ao transferir para o velho Oeste uma saga de samurais (Por um punhado de dólares, 1964) e foi realizando filmes cada vez mais ambiciosos:
  • Por uns dólares a mais (1965), em que uma busca de vingança assume contornos grandiosos;
  • Três homens em conflito (1966), perfeito como filme de ação e extraordinário como líbelo contra a guerra;
  • Era uma vez o Oeste (1968), um western nostálgico e filosófico, que contrapõe lendas e realidade, desmistificando fábulas românticas consagradas, ao mesmo tempo em que presta tributo a essas belas fantasias;
  • Quando explode a vingança (1971), tudo que ele queria dizer sobre as revoluções, sem prejuízo da ação propriamente dita, magnífica!
O passo seguinte seria Era uma vez a América (1984), monumento cinematográfico, uma das maiores obras-primas da sétima arte em todos os tempos.

Enquanto acumulava forças e reunia recursos para seu projeto mais caro e ousado, que tal ganhar um dinheirinho surfando na onda do sucesso de Terence Hill em clave cômica? [Este ator começara seguindo as pegadas de Franco Nero como mocinho taciturno, mas nesta linha não convencia e acabou descobrindo sua real vocação ao estrelar o acomediado Chamam-me Trinity , ao lado do fortão Bud Spencer (d. Enzo Barboni, 1970).]

Meu nome é ninguém combina o melhor do Leone (novamente a discussão sobre como se engendravam as lendas, a belíssima trilha musical –desta vez um tanto wagneriana– de Ennio Morricone e a dignidade que Henry Fonda confere ao seu personagem), com o pior do Terence Hill (as sequências típicas de comédia de pastelão, cuja ausência seus fãs jamais perdoariam, mas cuja presença frustrou os devotos do western puro-sangue). 

A história é a de um jovem desconhecido, mas muito hábil no gatilho (Hill), que importuna uma lenda viva do Oeste (Fonda), tentando por todos os meios forçá-lo a, antes de aposentar-se, inscrever seu nome definitivamente na História: quer porque quer que ele enfrente sozinho um verdadeiro exército de malfeitores.

Em termos qualitativos, o desperdício de tempo com as palhaçadas de Hill o coloca mais ou menos no patamar de Por um punhado de dólares; sem tal concessão comercial, seria uma espécie de irmão menor de Era uma vez o Oeste
Mesmo assim, tem um ótimo ponto de partida e algumas sequências inesquecíveis. Merece ser visto.

Leone repetiria a dose com Trinity e seus companheiros (1975), usando Damiano Damiani como testa-de-ferro

O resultado foi constrangedor, perda total. Trata-se de um filme vazio e indefensável, pior do que qualquer western dirigido por Leone ou pelo Damiani ele mesmo (afinal, antes de entrar nessa roubada, Damiani firmara reputação em 1966 com o ótimo Gringo, uma das inesquecíveis incursões da Cinecittà pela Revolução Mexicana). 

Felizmente, não houve uma terceira associação de Leone com Terence Hill, um ator simpático e carismático, mas que se projetou num contexto de decadência e descaracterização do ciclo, acabando por as simbolizar.

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