quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O AQUECIMENTO GLOBAL, OS FURACÕES, AS ENCHENTES, AS SECAS, OS TSUNAMIS, OS TERREMOTOS E O CAPITALISMO.

"O que realmente somos é aquilo que o
impossível cria em nós" (Clarice Lispector)
Se está cientificamente comprovado que o planeta Terra já teve eras diferenciadas de climas, nas quais ocorreram variações significativas, bem como mudanças das conformações geológicas, todas havidas durante bilhões de anos (vide quadro abaixo) sem a interferência humana, é igualmente verdadeiro que a ação humana atual pode interferir e realmente provocar uma nova mudança. Uma coisa não exclui necessariamente a outra.

Está cientificamente provado (embora o tresloucado e fanfarrão Donald Trump não o queira aceitar) que a emissão de gás carbônico na natureza, como ora ocorre, principalmente pelos Estados Unidos e China, pontas de lanças do capitalismo mundial, é fator de contribuição para o aquecimento global e ameaça à vida humana, como de resto  o é para toda a vida animal e vegetal do planeta. 

A irracionalidade da relação social estabelecida a partir da mediação social pela forma-valor (dinheiro e produção de mercadorias sensíveis e serviços), na qual coisas inanimadas ganham vida e comandam a nossa própria vida de modo predatório, além de segregacionista, é de tal forma dominante que nos obriga a caminharmos cegamente rumo ao abismo, como se seguíssemos o itinerário do estouro de uma manada de bois sem podermos entender o porquê de tal procedimento:
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— poluímos os rios nas grandes cidades e áreas rurais, neles jogando dejetos industriais, lixo urbano e derrubando as suas matas ciliares e causando assoreamentos, voçorocas, etc.;
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— derrubamos as nossas matas sem projetos de manejos sustentáveis que permitam o equilíbrio entre o uso, a extração da madeira e sua reposição racional, que é possível;
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— degradamos as terras com cultivo agrícola predatório;
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— produzimos alimentos contaminados por agrotóxicos que provocam câncer;
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— obrigamos os trabalhadores a ocuparem áreas de risco para moradias em razão do processo de valorização da terra urbana transformada em mercadoria (e isto num país de baixa densidade demográfica) e de simultânea desvalorização salarial;
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— por fim, usamos energias poluentes ao invés de energias limpas, por mera compulsão de enriquecimento megalomaníaco e lucro fácil. 

Para termos um exemplo da nossa cegueira coletiva, basta olharmos o trânsito das grandes cidades, nas quais poderíamos facilmente obter boa velocidade de locomoção de produtos e pessoas se tivéssemos transporte de massa para nos locomovermos nos grandes corredores de transporte (os metrôs dão uma aliviada neste quesito, mas sem resolver o problema completamente) ao invés de individualismo cômodo, mas verdadeiramente incompreensível, do automóvel e do caminhão a diesel disputando espaço e empesteando a atmosfera.  

O que está na base deste comportamento irracional é um modo de ser social igualmente irracional, mas que, infelizmente é tido como natural. 
A POLÍTICA É INCAPAZ DE BRECAR A DEVASTAÇÃO
ECOLÓGICA IMPOSTA
 PELO CAPITALISMO

Costuma-se, equivocadamente, considerar que a política e seus agentes representativos, os políticos (na sua grande maioria a serviço dos capitalistas que subvencionam as suas eleições, pois são poucos os empresários que assumem pessoalmente cargos eletivos) tenham soberania de vontade em seus atos, dependendo apenas destes os acertos ou erros na condução dos mais variados aspectos da vida social. 

Tal conceito, que pode ser aceito para problemas de pequena monta, não é correto para questões macrossociais. A política e os políticos podem decidir sobre a prioridade de uma obra, sobre a prioridade de uma determinada área de serviços públicos, sobre uma política monetária a ser adotada, mas não podem dar ordens conflitantes com o comando abstrato da lógica mercantil da qual são dependentes e meros instrumentos de regulação e indução desenvolvimentista.

Ao invés de ter vontade soberana, a política é vassala da economia, cumprindo papel de regulação e indução da lógica autotélica e vazia de sentido virtuoso da reprodução do valor, do mercado, que é de onde tira o seu sustento por meio dos impostos.

Assim, ao invés de comandar soberanamente a política, é comandada de modo submisso e serviçal por uma lógica intrinsecamente negativa que se instalou em todas as sociedades mundiais ao longo da História e cuja involução ora atinge o seu limite interno absoluto de crescimento, tendendo ao colapso da própria forma como relação social, com consequências devastadoras para a vida no planeta. 
A conferência mundial do clima de 2040, no Everest...

A intensificação de ocorrências e volume dos furacões, terremotos, tsunamis, enchentes, secas, etc., como resultante do aquecimento global, é inegável. Não se trata de mera presunção, mas sim de uma constatação trágica, escancarada no noticiário nosso de cada dia.

A hipossuficiência da política no combate à predação ecológica capitalista está comprovada pela inocuidade das tímidas decisões políticas das conferências mundiais sobre o clima ocorridas no Rio de Janeiro (1992), Copenhague (2009) e Paris (2015), pois bastou nos Estados Unidos a assunção à presidência da república de um capitalista-mor para serem colocados os xeque os acordos celebrados e retiradas do orçamento público as verbas de combate aos danos ambientais.

Mas, o castigo vem a cavalo: a natureza se revolta indiscriminadamente, atingindo ricos e pobres.

No atual estágio da concorrência globalizada da produção de mercadorias, a luta desesperada pela hegemonia de mercados cada vez mais depressivos, único modo de sobrevivência econômica e política, não pode prescindir da exploração predatória dos recursos naturais e de seu processamento inadequado, visando ao lucro.

A emissão de gás carbônico na natureza, que comprovadamente provoca o efeito-estufa, causador do aquecimento global, continua em patamares inaceitáveis, estabelecendo uma contradição entre a obstinação do mercado em se manter vivo e a vida animal e vegetal do planeta, obrigando-nos a fazer uma opção entre a vida e a morte, ou seja, entre superar o modo de produção mercantil ou caminhar celere e cegamente para o abismo.  
A submissão da vontade política à lógica mercantil tem de ser contraditada pela consciência da necessidade de superação de um modo social fetichista que nos impõe o ecocídio. 

Precisamos compreender que, se não superarmos a crise ecológica resultante da lógica mercantil ditatorial e fetichista que lhe é subjacente (ou seja, se não superarmos a forma-valor, que é tida equivocadamente como um dado ontológico, imutável e ganho histórico da vida social), marcharemos para um desfecho catastrófico na nossa relação com a natureza (barbárie social à parte). 

Temos de nos compenetrar de que a irracionalidade da estrutura dos capitais financeiro, industrial e comercial que sustenta o Estado e a política irá até as últimas consequências no seu desvario e tentativa de manutenção desse status quo suicida, ainda que enfrente debilidades funcionais para cada segmento (que ora se agravam, apontando para um colapso futuro).

Cabe a nós, e somente a nós, nos desvencilharmos da mercadoria e do dinheiro, expressões materializada da abstração forma-valor, que são instrumentos aparentemente inocentes (mas verdadeiramente culpados) dessa devastação toda, passando então a construirmos, conscientemente, o mundo da emancipação humana.

Isto, claro, enquanto a mãe natureza permitir que continuemos a ocupar nossa maravilhosa casa, o planeta Terra.

(por Dalton Rosado)

2 comentários:

SF disse...

Dalton,

Toda a constatação sobre o capitalismo é mero exercício de contabilidade, facilmente atingível por quem saiba as 4 operações.
O estelionato é descarado e o deboche do capitalista contra a ética é asqueroso.

No entanto, na busca por fatos estruturantes para a conduta humana impõe que se compreenda o drama humano a partir de sólidos conhecimentos científicos.

Por que o homem é cruel, psicopata, agressivo e irracional?

Simples. Porque é predador!

A insensibilidade ao sofrimento alheio, a sanha assassina, o esgar de prazer no banquete sangrento, o paroximo de lubricidade, as paixões e o imperdernido egoísmo faz do homem uma fera!

E não existe bondade no mundo das feras. É a Lei da Natureza.

Porém, há uma saída!

A vida consumista e diletante inevitavelmente leva ao desespero, pois não há como fugir a consequência das próprias ações.

Logo, podemos fazer escolhas coerentes com a ética e a moral independente do cenário externo de desespero e irracionalidade.

Necessariamente, é uma postura individual, mas com a esperança de se tornar coletiva.

Uma coletividade de seres humanos que livre e espontaneamente procurem superar a fera interior.

E isso sem líderes, sem partidos, sem slogans e sem bandeiras.

Quem obrigará isto?

A dor advinda do fato do ser humano racional ter aceitado ser rebaixado ao nível das feras.


celsolungaretti disse...

RESPOSTA ENVIADA PELO DALTON ROSADO POR E-MAIL:

Caro SF,

o ser humano vive um estágio de evolução. É claro que resquícios da sua primeira natureza de animal irracional permanecem presentes.

Entretanto, a segunda natureza, primeiramente marcada pelo ganho da racionalidade na qual desponta o interesse em compreender o sentido da sua própria existência e a busca da contenção de sua própria efemeridade de vida (daí a crença na vida espiritual extracorpórea e nas divindades), deve dar lugar a uma terceira natureza, superior, e isso se não se extinguir moto próprio via hecatombe nuclear ou por conta de mudanças naturais provocadas por ele mesmo ou não.

A nós cabe fazermos a opção certa que nos compete fazer e uma delas é superarmos a irracionalidade da mediação social pela forma valor, gênese do capitalismo.

Um grande abraço e obrigado por suas sempre importantes contribuições.

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