domingo, 24 de setembro de 2017

NORAMBUENA DIZ ESTAR SENDO UM BODE EXPIATÓRIO E AFIRMA QUE EMPRESÁRIOS INFLUENTES QUEREM FAZÊ-LO SOFRER

"Desde que fui detido no Brasil, estou há 14 anos encarcerado sob condições de severidade extrema. Isto significa que sou duplamente punido: por meio da pena a que fui condenado e também pelo regime a que estou sendo submetido.

A constituição brasileira (também a chilena) estabelece que não pode haver duplo castigo, dupla punição; então, trata-se de uma irregularidade. Sou o único preso no Brasil que está em tal situação; pratica-se uma total discriminação contra mim. Embora o alto nível de criminalidade no Brasil seja mundialmente conhecido, não existe um único preso neste país que tenha passado sequer três anos em condições tão rigorosas, e eu já passei 14.

Tais regimes carcerários geralmente são aplicados por período determinado, como punições temporárias, pois está comprovado que afetam a psique das pessoas; são regimes muito severos de isolamento, que têm como consequência perturbações mentais e físicas.

Por que tal discriminação contra mim? É injusta e totalmente arbitrária. Trata-se da principal razão pela qual eu quero retornar ao Chile: por minha sobrevivência.

...A razão de tamanho rigor, creio, seria a operação que realizamos no Brasil. A pessoa que sequestramos é muito influente aqui e seus sócios em nível empresarial, de São Paulo, são bem poderosos, têm influência em todas as instâncias do país, tanto as jurídicas quanto as políticas.

Tais empresários comentaram que, enquanto eu estivesse no Brasil, fariam todos os esforços necessários para que eu cumprisse minha pena nas piores condições possíveis.

Há outras pessoas que participaram da mesma operação e já receberam os benefícios previstos na lei, embora a minha pena e a deles fossem idênticas. 

Definitivamente, eu sou alguém a quem querem castigar, sou um bode expiatório que querem fazer de exemplo, sobretudo por causa dos antecedentes que tenho: fugido do Chile, com condenação no Chile, etc. Esta é a explicação."

(Maurício Hernandez Norambuena, em seu livro Un paso al frente
(Ceibo Ediciones, 2016, 252 p. — a tradução do
castelhano é minha, CL)

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