sexta-feira, 18 de agosto de 2017

RUI MARTINS TIRA O GÊNIO DA GARRAFA - 1

A INJUSTIÇA DE DILMA NO CASO CELSO LUNGARETTI
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Por Rui Martins, de Genebra.
Existe hoje um caso Celso Lungaretti dentro da esquerda brasileira. Injustiçado pela ex-companheira de resistência na VPR Dilma Rousseff, marginalizado pelos blogueiros petistas, na verdade Celso simboliza a verdadeira esquerda não comprometida. E deve, por isso e pelo seu passado e presente de lutas, ter o nosso reconhecimento e apoio.
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Existe hoje um caso Celso Lungaretti dentro da esquerda brasileira. Os mais jovens não sabem quem é Lungaretti e vamos resumir: líder secundarista quando houve o golpe militar no Brasil, Celso Lungaretti entrou na Vanguarda Popular Revolucionária, VPR, com 18 anos; com 19 anos foi preso e passou por torturas, das quais tem sequelas até hoje. VPR é o mesmo movimento ao qual pertenceu a ex-presidente Dilma Rousseff, podemos dizer que ambos eram companheiros de luta na resistência.

Para não cometer erro, transcrevo a Wikipedia sobre Lungaretti:
"Preso em abril de 1970, foi acusado injustamente como delator da área de treinamento da VPR em Registro/SP porque sua organização preferiu preservar os dirigentes do Comando Nacional que a revelaram sob torturas, culpando ele e outro militante secundarista nos documentos e versões oficiais. Após grandes coações psicológicas e torturas físicas, foi obrigado a escrever manifestos e dar entrevistas renegando seu passado revolucionário e criticando a esquerda armada ainda em 1970.
Conseguiu restabelecer a verdade dos fatos no final de 2004, a partir de um relatório secreto militar que veio a público e da intervenção em seu favor do historiador (comunista e também resistente)  Jacob Gorender, que o inocentou dessa acusação em carta publicada na Folha de S. Paulo.
Em 2005, Celso lançou o livro Náufrago da Utopia: Vencer ou morrer na guerrilha aos 18 anos.
Desde então atua como blogueiro, defendendo os ideais revolucionários, os direitos humanos e o exercício do pensamento crítico, assumindo causas como a do escritor italiano Cesare Battisti (como porta-voz do Comitê de Solidariedade).
Recentemente (2011), Celso Lungaretti foi inocentado pela justiça em São Paulo em processo movido contra ele pelo jornalista Boris Casoy."
Restabelecida a democracia, já fora da prisão há algum tempo, Lungaretti lutava para sobreviver. Com a Lei da Anistia, e restabelecida a verdade a seu respeito, Celso Lungaretti obteve parte de uma indenização pelos males sofridos fisicamente e na sua carreira de jornalista. Mas ficou faltando uma parte e para recebê-la entrou com um processo, no qual conseguiu ganho de causa, como o próprio Lungaretti explica [neste texto, entre outros].

Entretanto, no momento de execução da decisão a ele favorável, o governo petista, através da Casa Civil, encarregou a Advocacia Geral da União, AGU, de recorrer da sentença, para adiar, como vem sendo adiado já há dez anos, o pagamento de sua indenização, embora todos seus companheiros da resistência armada já tenham sido indenizados.

Sofrendo problemas econômicos com sua família, Lungaretti chegou a apelar à presidente Dilma Rousseff, tendo recebido a informação de que a presidente não poderia interferir, por se tratar de questão judiciária em andamento, quando na verdade bastaria ter sido retirado o recurso oposto pela Advocacia Geral da União.

Por que não funcionou a solidariedade entre companheiros com Lungaretti? Provavelmente em consequência das posições críticas de Lungaretti, um eterno revolucionário, às posições do governo Dilma Rousseff. Num espetáculo doloroso de intolerância e de dogmatismo inaceitável, os textos críticos, mas por isso mesmo importantes, de Celso Lungaretti passaram a ser rejeitados pelos blogueiros da esquerda padronizada, reproduzidos apenas pelo Direto da Redação, do qual sou editor.

Trata-se de um caso Celso Lungaretti porque ao se negar a se submeter à cartilha do governo petista (e muitos blogueiros eram mesmo pagos para isso), a chamada esquerda brasileira virou as costas ao antigo resistente, negando-se a pleitear junto ao governo um tratamento humano entre companheiros contra a discriminação mais parecida com vingança, pois Lungaretti não sabe se dobrar e entoar o hino dos louvores exigido.

É lamentável que na sua luta, o companheiro Celso Lungaretti, só encontre um apoio, o de Dalton Rosado, também injustiçado pelo PT, e o meu. Escrevo daqui de longe, na esperança de que outros companheiros se unam ao Celso Lungaretti na sua luta, cuja figura de combatente mesmo hoje doente, de indomável, só pode enriquecer, com seus apelos ao debate e com suas críticas, o pensamento de esquerda no Brasil.

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