terça-feira, 8 de agosto de 2017

HÁ 50 ANOS ERA PRESO O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. QUE TAL VERMOS O FILME CULT?

Quanta desproporção entre mulher e arranha-céus! 
A magia do cinema tudo consegue: desde fazer com que uns bonequinhos de 40 cm. se tornassem, nas telas, o gorila de 15 metros que espantou os espectadores do mundo inteiro em 1933 (quando estreou o clássico King Kong de Merian Cooper e Ernest Schoedsack, com a ingênua/provocante Fay Wray roubando a cena) até tornar interessantíssimo o filme sobre as peripécias de um personagem real tão desinteressante quanto João Acácio Pereira da Rocha, o bandido da luz vermelha.

Hoje se completam 50 anos desde a prisão de João Acácio. Eis um pequeno resumo de sua carreira, que fui buscar no site da revista Mundo estranho (o autor é Danilo Cezar Cabral):

"Órfão de pai e mãe, João Acácio começou cedo no crime com pequenos furtos. Nasceu em Joinville, Santa Catarina, e ainda garoto fugiu dos cuidados de seu tio para morar na rua com seu irmão mais velho. Mudou-se para São Paulo no começo dos anos 60.
O banal/boçal João Acácio...

Agia sozinho e armado. Chegava a seus alvos de táxi ou de ônibus e preferia atacar casarões de alta classe. A invasão rolava na alta madrugada – entre 4 e 6 da manhã –, depois que o bandido cortava a energia do local

Para assaltar na escuridão, usava uma lanterna de luz avermelhada. Mas o bandido só ganhou o apelido de Luz Vermelha por causa de um assassino estadunidense que usava uma luz parecida com a de sirenes policiais na hora de matar as vítimas.

Agiu sem ser pego durante seis anos e foi capturado por um vacilo, ao deixar impressões digitais no vidro da janela de uma casa assaltada. Foi preso no dia oito de agosto de 1967, no Paraná, e pegou uma pena de 351 anos de prisão.

Com seu jeitão excêntrico virou celebridade, vestindo-se como os Beatles e os cantores da Jovem Guarda. Torrava a grana dos assaltos com mulheres e boates, e até recebeu cartas de amor enquanto estava atrás das grades. 

Sob a cor do diabo (como o próprio João Acácio se referia ao vermelho), matou quatro pessoas e cometeu 77 assaltos. Apesar de nunca ter sido acusado oficialmente, existe a suspeita de que tenha estuprado mais de cem mulheres.
...e sua versão glamourizada (Villaça).
Em 1968, fizeram o filme célebre sobre sua vida. A sequência, intitulada Luz nas trevas – a revolta do bandido da luz vermelha, foi lançada em 2009, com Ney Matogrosso na pele de João Acácio, quando o bandido estava no xadrez.

Que fim levou? Desdentado e com distúrbios psiquiátricos, saiu da prisão em 1997, após 30 anos de reclusão. Quatro meses depois, em janeiro de 1998, foi morto numa briga em Joinville, sua cidade natal"

Atração que o leitor pode conferir na janelinha abaixo, O filme O bandido da luz vermelha, dirigido por Rogério Sganzerla, foi o popularizador do chamado cinema marginal, que era principalmente paulista, pobre em recursos mas rico em criatividade, transgressor da linguagem cinematográfica tradicional, mais chegado ao universo dos cabarés e dos tipos decadentes da zona do meretrício do centro velho de São Paulo (enquanto o cinema novo, predominantemente carioca, tinha como referências principais os trabalhadores e favelados) e fortemente influenciado pela nouvelle vague francesa, que ganhou uma versão terceiro-mundista...

O rigor histórico nos manda considerar Ozualdo Candeias como o verdadeiro pai do cinema marginal, com seu belíssimo A margem, de 1967. Mas, tratou-se de uma obra tão pessoal e diferente de tudo que se fazia no Brasil, que não teve seguidores, enquanto o bandido de Sganzerla inspirou Júlio Bressane, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci, Neville D'Almeida, Emílio Fontana e muitos outros.

Quanto ao filme em si, foi uma curiosa transposição de O demônio das onze horas (d. Jean-Luc Godard, 1965) para o ambiente esculhambado da boca-do-lixo, com narração brega ao estilo dos programas policiais radiofônicos (Gil Gomes & cia.) e participação de artistas marcantes da era do rádio, como o humorista Pagano Sobrinho e o cantor Roberto Luna. 

Paulo Villaça consegue sustentar bem seu personagem, o qual, claro, tinha bem mais a ver com o Jean-Paul Belmondo do filme francês do que com o João Acácio da vida real.

E a frase mais marcante, citada ad nauseam fora das salas de exibição, era "o terceiro mundo vai explodir, quem 'tiver de sapato não sobra"...

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