segunda-feira, 17 de julho de 2017

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO... E DA CANÇÃO JAMAIS ESQUECIDA!

O saudoso cine Patriarca virou oficina mecânica
Muita água passou debaixo da ponte desde aquele domingo em que, como quase sempre fazia, acompanhei meu pai ao seu  bico  de fim de semana.

Além do trabalho exaustivo numa fiação, ele sacrificava seu repouso para botar mais dinheiro em casa: recolhia apostas nas corridas de cavalo, em troca de uma comissão de 10%. Repassava-as por telefone a um tio-avô que vivia disto.

Este parente, que lembrava muito o personagem  Amigo da Onça (grande Péricles!), descarregava os jogos pesados em outras bancas, segurando só os que teria como pagar.

Então, na ampla casa do meu avô, os apostadores iam fazer sua fezinha e alguns passavam a tarde lá, assistindo ao futebol, torcendo ruidosamente na hora dos páreos televisionados (Vai! Vai! Vai! VVVVVVAAAAAIIII!!!), jogando cartas.

Eu tinha uns seis anos e brincava com um ou outro amigo da turminha da rua sem coisa melhor para fazer em pleno domingão.

Certa vez, o único que estava por lá me convidou a ir até o cine Patriarca olhar os cartazes, a cinco quarteirões de distância. Fomos.
Para minha surpresa, ele levou um papo de coitadeza e convenceu um bom velhinho a nos pagar um ingresso. Parece que fazia sempre isto, pois o porteiro, sem discutir, permitiu que eu também entrasse, dois pelo preço de um.

O filme era sobre Ali Babá. Adorei a canção tipo chiclete (gruda no ouvido...) que acompanhou os letreiros iniciais, mas... passados uns 10 minutos eu resolvi ir embora, pois não avisara o meu pai e sabia que ele se preocuparia se não me encontrasse. 

O senso de responsabilidade falou mais alto; no entanto, fiquei tão frustrado que a tal musiquinha jamais me saiu da cabeça... 


Quase 60 anos depois, deparei-me num blogue de downloads com o filme
 Ali Babá and the forty thieves, de 1944, dirigido por Arthur Lubin. Fiquei curioso: seria este?

Fui atrás do vídeo no Youtube e constatei que não. Mas, na busca apareceu também o menos conhecido The adventures of Hajji Baba, de 1954 (d. Don Weis). Bingo!

Aquele tema que me deslumbrara tinha assinatura ilustre: Dimitri Tiomkin, de quem simplesmente adoro as composições para
 Sem Lei e Sem Alma. E o cantor era ninguém menos do que o Nat King Cole. Ouçam:
O filme, falado em inglês e sem legendas, podia ser assistido no Youtube, mas logo desisti. Não valia mesmo a pena vê-lo por completo.

Pelo menos a canção não me decepcionou, como costuma acontecer com as lembranças que o tempo e a imaginação colorem na nossa mente.

Caso dos gols guardados com tanto carinho na memória, mas que hoje, revistos no Canal 100, mostram-se até banais, não resistindo à comparação com os de Messi e Neymar.

No fundo, talvez gostemos mesmo é de evocar o que éramos... e nunca mais seremos. 

Vem-me à mente outro filme, este bem mais recente e muito melhor: Exótica, d. Atom Egoyan, 1994. 

A certa altura, ele traduziu cruelmente em palavras a sensação que quase todos temos ao olharmos para trás, já na segunda metade da jornada:
"Por que uma colegial nos parece tão fascinante? É que ela tem a vida toda pela frente, e nós já desperdiçamos a nossa".

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