segunda-feira, 15 de maio de 2017

APOLLO NATALI ATUALIZA DANTE ALIGHIERI: "O INFERNO BRASILEIRO".

"Qui sono tutti quelli?
Sono tutti papa i cardinali
Que vano cercando loro lánima

Per me se vá la perduta gente
Per me se vá fra leterno dollore
Laciatto ogni speranza ó voi que entrate"
(Dante Alighieri, A Divina Comédia: Inferno)
.
Tradução: quem são todos aqueles? São todos papas e cardeais que vão procurando, cada um, a sua alma. Por mim, a porta do inferno, se vai à gente perdida; por mim se vai à eterna dor. Deixai cada esperança, ó vós que aqui entrais! 

Dante estava, então, sendo conduzido por sua amada Beatriz num passeio pelo inferno. Os sacerdotes eram as almas perdidas.

Mas hoje, que triste desesperança é essa que nos mata a alma? Que lágrimas nos conduzem a uma comparação entre o inferno de Dante e o atual inferno sediado em Brasília?  

Quem são todos aqueles? São deputados e senadores que por sua conduta vão perdendo, cada um, as suas almas. Pela porta desse inferno brasiliense perambulam as gentes perdidas na condução do Pais, se arquitetam eternas dores. Como todos têm visto.
Quem são aqueles senadores e deputados carrascos do povo que vão procurando, cada um, encher seus bolsos à custa da insegurança, desnutrição, aflição, morte, de mais de 200 milhões de almas não perdidas? De almas que suam a camisa no trabalho, pagam suas contas e impostos, são escravizadas pela infernal lei do mercado, pelas megaempresas que levam a multidões eternas dores pelos crimes que perpetram impunemente contra os consumidores.

Lei do mercado satânica, parelha com uma justiça bruxa, principalmente os tribunais de pequenas causas, pequenas causas para eles, gigantescas para os injustiçados, tribunais nos quais o consumidor é levado a entregar sua alma, a perdoar nas enganosas conciliações os crimes perpetrados rotineiramente contra eles por megaempresas, públicas e privadas.

Quem são esses vereadores e prefeitos de 6 mil prefeituras espalhadas pelo Pais, esses deputados estaduais, governadores, que vampirizam o sangue do povo com suas mordomias satânicas? Como assim? Cargos de comissão, empreguismo, roubo do dinheiro público.

Já disse isso em alguma lugar e demônio nenhum vai me impedir de repetir: pesquisa da Transparência Internacional não tão antiga assim diz que os brasileiros consideram corruptos ou muito corruptos os políticos e instituições como o Congresso, a polícia, o sistema de saúde, Judiciário, funcionalismo público, imprensa, ONGs, Igreja.

Entre imprensa escrita no papel e a escrita na web, sou jornalista faz 56 anos. Acreditava que meus textos poderiam mudar alguma coisa para melhor neste Brasil imenso, querido, perdido. Não mais acredito.  

O experimentado e fervoroso jornalista Clóvis Rossi, com quem trabalhei no Estadão e no extinto Correio da Manhã, disse em artigo na Folha de S.Paulo há alguns anos: dá vontade de desistir, a gente escreve, escreve, escreve, e não consegue mudar nada. Que pena, Clóvis, a imprensa não é Revolução Francesa, que acabou com a farra irresponsável dos poderosos do palácio de Versalhes.

O procurador da República Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava-Jato, compartilhou há três meses (e quem quiser compartilhar, compartilhe também!) esta análise de José Padilha, n'O Globo, sobre um diabólico mecanismo de exploração da sociedade brasileira.

O texto é longo. Um resumo: na base do sistema político brasileiro opera um mecanismo de exploração da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do Estado e grandes partidos políticos. O mecanismo opera em todas as esferas do setor público, no Legislativo, no Executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.

Prosseguindo: o mecanismo impõe uma barreira para a entrada de pessoas inteligentes e honestas na politica nacional, porque elas entendem como ele funciona e não o aceitam. Remember Joaquim Barbosa.

A maioria dos políticos brasileiros tem baixos padrões morais e éticos.A administração pública brasileira se constituí a partir de acordos relativos à repartição dos recursos desviados pelo mecanismo. 

Um político pode até fazer mudanças administrativas no país mas somente quando essas mudanças não colocam em xeque o funcionamento do mecanismo. 

As políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao crescimento econômico sustentável são incompatíveis com o mecanismo, que tende a gerar um Estado cronicamente deficitário.

O mecanismo não pode conviver com um Estado eficiente mas também não pode deixar o Estado falir. Se o Estado falir, o mecanismo morre. 

A combinação desses dois fatores faz com que a economia brasileira tenha períodos de crescimento baixos, seguidos de crise fiscal, seguidos de ajustes que não visam conter os gatos públicos, seguidos de novos períodos de crescimentos baixos, seguidos de nova crise fiscal.

Ainda José Padilha: como as leis são feitas por congressistas corruptos e os magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo mecanismo, tanto a lei quanto os magistrados das instâncias superiores tendem a ser lenientes com a corrupção.

Geme, povo brasileiro, geme nas chamas de um inferno desses.     

Deixemos cada esperança, nós que nele chafurdamos. (por Apollo Natali)

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