domingo, 12 de março de 2017

FASCISTIZAÇÃO EM MARCHA: UM TRUMP HOLANDÊS ASSOMBRA A ELEIÇÃO DE 4ª FEIRA. DEPOIS VIRÁ FRANÇA? ALEMANHA?

Por Clóvis Rossi
O FANTASMA DE 
UM NOVO TRUMP
Os dois têm o mesmo tipo de cabelo cor-de-palha. Compartilham também sentimentos xenófobos e islamofóbicos. São ambos chamados de populistas, no caso de direita, um; e de extrema direita, o outro.

Não é por acaso, portanto, que Geert Wilders é considerado o Donald Trump holandês. E não é por acaso igualmente que ele é o novo fantasma a assombrar quem é avesso a esse tipo de políticos: afinal, liderou a maioria das pesquisas para a eleição que ocorrerá na próxima 4ª feira, 15.

Uma eleição que será a primeira a testar a cepa europeia do populismo vitorioso nos Estados Unidos.

Há uma coincidência adicional: a maioria dos analistas descarta a hipótese de que Wilders, mesmo que obtenha a maioria dos votos, seja capaz de formar governo.

Como não parece haver a menor chance de ele (ou qualquer outro) conseguir a maioria absoluta, teria que montar uma coligação para governar. E, supõe-se, nenhum dos demais partidos concordaria em aliar-se a um extremista que parece tão pouco holandês, se se considerar o histórico de tolerância característico do país até recentemente.

Mas a maioria dos analistas também descartava, primeiro, que Trump pudesse vencer a primária republicana. Venceu. Depois, que pudesse se eleger. Elegeu-se.

Por enquanto, Wilders está tecnicamente empatado com o primeiro-ministro, o liberal Mark Rutte: a mais recente pesquisa dá 26 cadeiras na Câmara para o partido do premiê e 23 para o de Wilders, em um total de 150 assentos.

Mas é preciso notar que, com esse resultado, Wilders praticamente dobraria o número de deputados com que conta atualmente (12), ao passo que Rutte perderia 15 vagas.

Há, pois, um nítido avanço da extrema direita, o que combina com o que acontece no resto da Europa e mesmo no Brasil, em que pela primeira vez um candidato duro (Jair Bolsonaro) parece ter alguma viabilidade eleitoral.

No caso holandês, é difícil encontrar razões objetivas para votar contra o establishment, como seria o caso com Wilders.

O Financial Times fez um levantamento curioso sobre a realidade holandesa, com um título que talvez explique tudo: os inquietos holandeses estão "ricos, trabalhando (não desempregados, portanto) e sob tensão".

De fato, o desemprego é de insignificantes 5,3%, a renda per capita é 38% superior à do Reino Unido, paradigma de economia sólida, e a satisfação com a vida merece nota 7,3, quando a média dos países ricos da OCDE é de 6,5%.

Um livro coletivo recente (Quem somos nós?) diz, no entanto, que esses números não bastam para eliminar "a profunda melancolia" que afeta os holandeses, causada em especial pelo afluxo de imigrantes nas últimas três décadas (2 milhões de não-europeus numa população total de 17 milhões).

É essa melancolia (ou medo) que Wilders explora e com a qual conquista votos em diferentes tipos de eleitores, unidos pela sensação de que os imigrantes representam uma ameaça.

Se esse medo triunfar na Holanda, servirá de incentivo a extremistas semelhantes na França e na Alemanha, as duas eleições seguintes que definirão a cara da Europa. 

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