segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

PORTA-VOZES DA 'NOVA DIREITA' QUEBRAM O PAU. QUE TAL DAR UMA UZI PARA CADA?

Toque do editor
Desde que deixei de trabalhar na grande imprensa, fiquei privado das informações de cocheira que os personagens bem situados nos escalões superiores dos Poderes sopram para jornalistas (sempre com segundas intenções, claro, mas o bom profissional consegue administrar tais situações sem transgredir seus princípios).

Lendo criticamente o noticiário e as análises relevantes, consigo ter uma boa noção das grandes coordenadas da política e da economia. Sobre os movimentos de bastidores, contudo, a coisa se torna bem mais difícil quando tentamos nos orientar às cegas.

Para que meus leitores também não fiquem às cegas, eu costumo disponibilizar-lhes textos de autores que têm acesso às informações necessárias para comporem um bom quadro de bastidores. 

Caso deste abaixo, que leva a assinatura de Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e analista do Banco Central. 

Ele foi ao encontro de algo que já atraíra a minha atenção – a encarniçada disputa por mais influência que os porta-vozes da nova direita estão travando –, mas, por tratar-se de um universo antípoda do meu, eu não tinha como aquilatar o que está por trás do arranca-rabo. Via o efeito, mas não sabia a causa.
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BARRACO EXPÕE DISPUTA DENTRO DA 
DIREITA, QUE NÃO SE DECIDE SOBRE TEMER
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Celso Rocha de Barros
Como diria o comissário Gordon (*), não foi o debate de que precisávamos, mas talvez tenha sido o debate que merecíamos. Uma pequena guerra civil começou dentro da chamada nova direita brasileira: Reinaldo Azevedo, colunista da Folha, foi atacado por Joice Hasselmann, ex-veja, e por Rodrigo Constantino, ex-veja, por suas críticas à Lava Jato, e respondeu animadamente.

Intelectualmente, foi um daqueles jogos em que o compacto com os melhores momentos tem só o hino nacional e o apito final. Mas o barraco dos conservadores foi o canário na mina: é sinal de uma crise chegando, e de uma disputa real dentro da direita brasileira, que deve se tornar mais acirrada nos próximos meses.

A direita brasileira precisa se decidir sobre Temer; abandoná-lo é colocar em risco as reformas de mercado, apoiá-lo é colocar-se no centro do alvo da Lava Jato. Não será fácil.

Azevedo defende o governo Temer e, recentemente começou a fazer críticas à Lava Jato. Talvez o apoio e o timing das críticas não sejam completamente não relacionados. Ao contrário de Olavo de Carvalho ou Constantino, Azevedo tem trânsito na direita institucional brasileira; suas posições são mais ou menos próximas das do DEM, p. ex., ou da direita do PSDB. Esses setores investiram pesadamente no governo Temer. E todo mundo ali vai aparecer nas delações.
OC, Azevedo, Bolsonaro e Constantino: ambições à flor da pele

Para essa turma, o ideal é que a cruzada anticorrupção pare no PT, e o discurso Temer colocou o Brasil nos trilhos de novo tem de colar até a eleição de 2018. Se der certo, os governistas entram com boas chances na disputa presidencial.

Os adversários de Azevedo são recém-chegados buscando maior inserção institucional. Não se importariam se a política brasileira implodisse. No cenário de implosão, Azevedo os ameaça com Lula; mas eles sonham, aberta ou secretamente, com Bolsonaro. E, sobretudo, cada um deles sonha ser Steve Bannon, o assessor de extrema-direita de Trump.

Os movimentos anti-Dilma tentam se equilibrar no meio dessa tensão. Recentemente, convocaram uma passeata a favor da Lava Jato. Mas a convocação é uma piada: em vez de tentar atrair o maior público possível para defender a operação, o Movimento Brasil Livre incluiu na pauta dos protestos a reforma da Previdência e a revogação do Estatuto do Desarmamento. 

Fez isso para impedir que apareça qualquer um que se disponha a gritar Fora, Temer!. Isto é, o MBL apoia a Lava Jato desde que o seu lado continue no poder. Como diria o PT, assim até eu.
O sonho de alguns deles: ser o Steve Bannon do Bolsonaro  

Por sua vez, Ronaldo Caiado não disfarça a pretensão de ser candidato a presidente no ano que vem. Olhando com os olhos de 2018, Caiado já se apavorou com o que viu, e pediu a renúncia de Temer. 

Mas é difícil que arraste consigo sua base social ou o resto da direita, ao menos enquanto Temer estiver amarrado às reformas. E quem se converter ao Fora, Temer! tão perto de 2018 vai parecer oportunista (e o será).

A história não contada do impeachment de Dilma Rousseff é justamente sua origem na crise de liderança da direita brasileira depois da quarta derrota presidencial seguida do PSDB. Desde então, a direita brasileira foi liderada por quem gritasse mais alto. Agora a combinação de delações contra a direita e eleições presidenciais vai testar a competência política dos vencedores de 2016.
* personagem das história em quadrinhos do Batman

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