sábado, 11 de fevereiro de 2017

NÃO AGEM EM NOME DO PAI NEM DO FILHO OS QUE VANDALIZAM O ESPÍRITO SANTO

A EXPLOSÃO DA BARBÁRIE EM VITÓRIA
.
"Por um mundo no qual sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente
livres" (Rosa Luxemburgo)
''
De repente, aproveitando a falta de policiamento causada pelo motim de policiais militares, um grande contingente de pessoas comuns corre para saquear lojas em Vitória (ES). 

Outro grupo se revolta contra os saques e se estabelece uma espécie de confronto social de ação e reação diante da barbárie instalada.

Pessoas são assassinadas e se amontoam nos corredores do Instituto Médico Legal. 

As forças militares nacionais são chamadas a fazer o patrulhamento das ruas vazias e conter os focos de saques. 

Os ônibus não circulam. 

O comércio fecha as portas e assiste impotente ao arrombamento das lojas. 

Nos bancos a guarda é reforçada e as agências lotéricas decretam feriado; com isto, não se pagam contas e não se recebem valores. 

A polícia civil adere ao motim da polícia militar.

Cessa o fluxo comercial e de serviços da cidade e o único movimento que se observa é de tiroteios, saques e do patrulhamento das forças nacionais recém-chegadas à Vitória. 

O retrato da barbárie é exibido nas tevês do Brasil inteiro e também no exterior. Curiosamente, poucos dias antes a mesma TV mostrava os motins de presos por todo o Brasil e apontava Vitória como exceção, qualificando-a de modelo de administração presidiária (!).

São fatos e contradições de um sistema que já não consegue esconder a sua falência, apesar de se recusar à busca de alternativas fora da lógica estabelecida.  

As razões desta anomia social estão intimamente ligadas, obviamente, à falência de um modelo de relação social que não consegue prover comodamente e dignamente o sustento da maior parte da população.

Mas, há uma motivação adicional para tal comportamento, além da abismal cisão social e moral.  

Na medida em que as pessoas são induzidas a um comportamento individualista, no sentido do provimento das suas necessidades diante de uma sociedade na qual a competitividade autofágica é a tônica socialmente positivada e que já não oferece oportunidades mínimas para a maioria delas viver bem, qualquer atalho para se descolarem por si (e os outros que se danem!) encontrará quem se disponha a trilhá-lo: é aí que o reprovável saque é bem-vindo nas mentes aculturadas a tal  autofagia.
Estabelece-se a conduta amoral como critério moral de comportamento; quem saqueia mais é visto como o mais esperto.

Os saqueadores bárbaros do século 21, no íntimo das suas mentes moralmente decompostas, intuem, sem compreensão clara do que está subjacente aos seus comportamentos, que seja também assim que uma minoria próspera, encastelada nas suas redomas confortáveis, colhe os frutos de um saque oficialmente consentido, via extração de mais-valia e renda do capital.  

A dedução é subjacente, mas ativa. Faz todo sentido compararem sua penosa situação à existência nababesca dos vencedores sociais, com suas moradas bem abastecidas de víveres, localizadas em bairros satisfatoriamente pavimentados e dotados de boa infraestrutura urbana, com cercas e guardas a lhes proteger a vida, e que encaram a disputa de mercado, com suas mercadorias e serviços, como se tudo fosse um benfazejo jogo de regras preestabelecidas, no qual ganham os mais competentes, como se os  ditos vencedores, e só eles, fossem merecedores das benesses sociais...
  
Nunca antes ocorrera algo desta natureza em Vitória; e mesmo os verificados em outras cidades tiveram menor intensidade. Há um significado sociológico nisto, pois denuncia a progressão de uma doença social. 
Trata-se, agora, da consequência típica de um modelo social que chegou ao ponto máximo da sua exaustão e que explode de forma espontânea, sem qualquer direção política conscientemente dirigida; ou seja, uma explosão que se caracteriza como um estágio de anomia social bárbara.  

Quando o Estado não consegue controlar sua força militar, abrindo a porteira para saques e assassinatos por particulares, é sinal que a decomposição do sistema alcançou níveis insuportáveis para a população, seja do ponto de vista material ou moral. 

A razão primária deste fenômeno reside na crise do moderno sistema produtor de mercadorias, que já não mais reproduz uma quantidade de valor suficiente para irrigar o organismo social. 

Assim, como consequência, o Estado falido já não pode cumprir sua função de regulador das relações mercantis, nem é capaz de prover a satisfação das demandas sociais básicas, de vez que se estabelece um desequilíbrio entre estas e a arrecadação de impostos, daí decorrendo a incapacidade de sustento das forças militares (primordial para o sistema!). 

O quadro é de completa exaustão, sinalizando que vivemos os estertores de um modelo de estrutura social.
.
É PRECISO PENSAR O IMPENSÁVEL
.
Emprego? Não há. Serve sub-emprego de 12 horas por dia?
Há outros sinais evidentes em níveis macroeconômicos, como:
  • o fato de o sistema financeiro precisar ser socorrido pelo Estado-nação, cuja dívida pública é impagável (até os juros dessa dívida já não são saldáveis) por meio emissão de moeda sem lastro;
  • a falência da previdência social, que é uma catástrofe anunciada, segundo muitos ministros;
  • o desemprego estrutural, que informa que já não há vagas de emprego nos setores primário, secundário e terciário da economia.
Enfim, evidencia-se a necessidade inadiável da adoção de um modo alternativo de relação social. 

Agora, finalmente está superada a falsa dicotomia entre capitalismo de estado (inclusive sua variante dita de esquerda, o chamado socialismo real) e capitalismo liberal (democracia burguesa), com a perspectiva de que ambos sejam jogados na lata de lixo da História. Prenuncia-se uma nova visão de mundo, que irromperá a partir da obsolescência do modelo social mercantil, levando de roldão as tentativas de mantê-lo vigente apesar das evidências de saturação.             

Mas, a inconsciência sobre o que fazer no sentido da superação de tudo isso persiste, pois os indivíduos sociais foram educados para o equivocado entendimento de que só o trabalho abstrato, fonte de produção de valor, e ele mesmo sendo valor, é o modo possível de provimento da sua subsistência. Questionar esse modo de ser social é como contestar a lei da gravidade, algo impensável. 
Mas, é preciso pensar o impensável, é preciso fazer o impossível. 

Entretanto, independentemente de sua consciência ou inconsciência sobre o colapso interno deste modo de ser social, a decomposição sistêmica ocorre a olhos vistos, com as pessoas se rebelando diante das suas dificuldades materiais de subsistência, do modo que lhes parece (equivocadamente) como solução mais imediata. 

O saque de mercadorias não é solução, apenas revelando a existência de uma esquizofrenia social bárbara; eles são a explicitação deste conteúdo trágico, e revelam um avançado estágio de doença social, mas não nos levam à emancipação social, que somente virá como resultante de uma consciência social sobre o que fazer e que consiste no pacto de um novo modo de produção social.  (por Dalton Rosado)

Um comentário:

Anônimo disse...

é sempre bom saber de onde vem o mal que nos aflige...quem eram os malfeitores antes de abraçar abertamente a carreira do crime: pega o congresso nacional e todos os ninhos de ratos similares espalhados pelo país...mais de 90% de seus integrantes são originalmente advogados ou jornalistas...o que significa; o mal já estava em seu DNA.

Related Posts with Thumbnails