quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

LUNGARETTI E DALTON ROSADO REBATEM DELFIM NETTO – 3 (o abismo tanto pode nos tragar como fazer-nos corrigir nossos erros)

Por Celso Lungaretti
SE O FIM DO CAPITALISMO TARDAR, NÃO HAVERÁ MAIS HUMANOS.
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Numa coluna surpreendente, Delfim Netto reduz o homem a "um animal territorial, dotado pela evolução biológica de um terrível e perigoso instrumento — a sua inteligência"; afirma que não se descobriu ainda como evitar que continue exterminando seus iguais (uma tendência que o diferencia de todos os outros animais); e diz ser duvidosa a hipótese de que se humanizará antes que "produza sua própria destruição".

Parece estar abalado com o advento da era Trump, quando o capitalismo volta a se mostrar tão desumano quanto o era na fase mais selvagem, além de ter elevado sua iniquidade intrínseca à enésima potência.

Enfim, aos 88 anos, Delfim chega finalmente à idade da razão. E deve estar contemplando a obra de sua vida com a mesma perplexidade do dr. Frankenstein face à criatura: terá sido para isso que serviu caninamente aos piores ditadores e acumpliciou-se com o festival de horrores resultante das 15 assinaturas de ministros (uma delas a sua) aprovando a instituição do AI-5?!

Numa provável tentativa de exorcizar os fantasmas que lhe tiram o sono, escreveu um texto na linha de que, se o capitalismo conduziu a humanidade a "uma desigualdade insuportável", o fim do capitalismo também não conseguiria civilizar os homens.
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"A desigualdade aumentou de tal maneira que uma ínfima minoria acumulou poder suficiente para impor sua vontade à imensa maioria dos seres humanos" (Celso Lungaretti)
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Quer acreditar que, numa encruzilhada do destino, a opção existente era entre dois caminhos igualmente ruinosos. Isto o aliviaria um pouco de sua culpa por ter escolhido a via que levou a resultados catastróficos, a ponto de o Brasil estar em frangalhos e a própria sobrevivência da humanidade encontrar-se gravemente ameaçada.

Deixa, contudo, de considerar um dado fundamental da equação que tenta montar: o de que os animais brigam com outros animais e defendem com unhas e dentes seu território por uma questão de sobrevivência. Precisam garantir alimentação e abrigo para si e para o grupo a que pertencem, caso contrário sucumbirão à fome, ao frio, às intempéries, etc.

Foi também devido à escassez que os homens passaram milênios competindo encarniçadamente uns com os outros. Inexistindo o suficiente para todos terem tudo de que necessitavam para uma existência digna, o quero mais a que alude Delfim forneceu o impulso decisivo para irem, pouco a pouco, desenvolvendo as forças produtivas. A motivação egoísta acabava sendo uma espécie de motor do progresso, ainda que obtido graças ao enorme sofrimento e mazelas terríveis que desabavam sobre os mais fracos.
O fantasma da escassez deixou, enfim, de nos assombrar.

Era. Não é mais, pois a barreira da necessidade foi afinal transposta e hoje já dispomos de conhecimento científico e meios tecnológicos para a produção do que é realmente preciso para todos vivermos sem privações e sem o estresse que a competição exacerbada causa.

O que ainda nos impede de alcançarmos uma existência feliz e plena, em lugar do atual pesadelo globalizado? 

O capitalismo, claro! Ou, mais precisamente, o fato de que ele fez a desigualdade aumentar de tal maneira que uma ínfima minoria acumulou poder suficiente para impor sua vontade à imensa maioria dos seres humanos.

E, em nome da perpetuação de um status quo que só a ela beneficia, arrasta a humanidade a uma crise econômica que se prenuncia avassaladora e à destruição do equilíbrio ecológico sem o qual nossa espécie se extinguirá.

Só sobreviveremos se nos unirmos para deter a atual marcha da insensatez, fazendo com que o bem comum prevaleça sobre os interesses mesquinhos que nos estão levando à beira do abismo.

E, se formos capazes disto, certamente também o seremos para, em seguida, construirmos uma sociedade verdadeiramente humana.

2 comentários:

Valmir disse...

certamente que o socialismo corrige o problema da desigualdade causada pelo capitalismo...
mas com o problemático inconveniente que iguala todos pela privação e escassez, coisa que ninguém parece desejar...pela experiencia que tem sido feita com tal sistema no mundo até hoje.
(agora...não sabe como fico feliz em saber que serei sumariamente censurado..isso iguala - para continuar no tema - seu blog com todos os outros da sinistra...isso me tranquiliza quanto à ordem natural das coisas...tudo funciona como esperado)

Anônimo disse...

Excelente artigo, Celso e Dalton. Delfim está tentando justificar o injustificável.
E por falar nos avanços que possibilitaram o ser humano a chegar num estágio de produzir tudo que é necessário para uma vida digna(e com sobras), lembro que li dias atrás uma matéria onde se anunciava com empolgação uma possível solução para combater a fome no mundo: insetos
Até parece brincadeira - e de muito mau gosto ! Nada contra as qualidades nutritivas deste alimento, mas sabendo da gigantesca produção mundial por parte do chamado agronegócio, e da fortuna gasta com tecnologias neste setor, é um verdadeiro insulto propor aos famintos que se virem com insetos.

Um forte abraço !

Marcelo Roque

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