quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

LUNGARETTI E DALTON ROSADO REBATEM DELFIM NETTO – 1 (o desalento outonal de um ferrenho apologista do capitalismo)

Por Delfim Netto
FIM DO CAPITALISMO NÃO TORNARIA O HOMEM 
MAIS 'HUMANO'
.
Tempos estranhos estes? Não! Tempos normais, quando vemos o homem como ele é, despido da romântica humanidade moral que lhe atribuímos. Um animal territorial, dotado pela evolução biológica de um terrível e perigoso instrumento — a sua inteligência.. 

Com ela submeteu a natureza que o criou e inventou sofisticadas teorias para separar-se em tribos que se veem com desconfiança dentro e nos limites do território que ocupam e estabeleceram como seu

Esse sentimento é tão poderoso que, frequentemente, ele sacrifica a única coisa que efetivamente dispõe — a própria vida — para defender-se da cobiça real ou inventada de outras tribos internas ou externas.
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"A natureza do homem é um fenômeno complexo e é duvidosa a ideia de que a ciência lhe imporá 
a desejada humanidadeantes que ela produza 
sua própria destruição" (Delfim Netto, amargo como nunca)
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As pesquisas antropológicas recentes acumulam, cada vez mais, evidências de que só o homem é capaz, em nome de crenças sem nenhum suporte factual, de desenvolver poderosos preconceitos para justificar os mais pavorosos massacres de membros da sua espécie quando os supõe de outras tribos.

Não há registro desse comportamento em nenhuma outra espécie que a natureza produziu. O predador é sempre a espécie que está acima da cadeia alimentar, que a consome para sobreviver e reproduzir. Há registros esporádicos de lutas entre grupos de macacos, mas que não terminaram em macacocídeos.

A notícia mais amena é que a história revela também uma outra faceta da natureza do homem. Ainda que menos frequentemente, ele dá demonstração de altruísmo. Há algumas semanas, assistimos a uma explosão universal de solidariedade da espécie em resposta ao trágico acidente que se abateu sobre a Chapecoense.
O regime capitalista "gerou uma desigualdade insuportável"

Isso coloca um problema. Como saber se tem sentido — a não ser por um desejo generoso — afirmar que, para civilizar os homens, bastaria liberá-los dos constrangimentos que lhes impôs o regime capitalista, uma organização econômica que aumentou exponencialmente, nos últimos 300 anos, a produtividade do seu trabalho (e o seu desejo de quero mais), mas gerou uma desigualdade insuportável?

Bastará eliminar o capitalismo para reduzir a agressividade e aumentar a solidariedade e o altruísmo potencialmente implícitos na natureza humana para que floresça no homem a imaginada humanidade que lhe atribuímos?

Tenho dúvidas. Afinal, somos, diariamente, testemunhas de que o homem é humano, tanto quando mata como quando consola o outro da sua espécie. As evidências antropológicas não sustentam a hipótese de que seu comportamento é a resposta à organização capitalista de produção.

A natureza do homem é um fenômeno complexo e é duvidosa a ideia de que a ciência lhe imporá a desejada humanidade, antes que ela produza sua própria destruição. 

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