terça-feira, 17 de janeiro de 2017

PARA QUE SERVE MESMO O FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL?

"O único modo de descobrir os
limites do possível é ir além
deles, rumo ao impossível." 
(Arthur C. Clarke, escritor)
.
Começa hoje (17) em Davos, na Suíça, a reunião das mais altas autoridades do mundo político e econômico mundial, que aprofundarão o tema repensando o capitalismo

Como o próprio nome do fórum deixa claro, participarão do encontro figurões comprometidos com o modo de produção capitalista e empenhados em salvá-lo da derrocada em curso. 

Daí sua esperança, expressa na escolha do tema, de que seja possível concertarem uma reforma do capitalismo decadente, para que tudo permaneça como sempre esteve. 

Se olharmos a agenda do representante brasileiro, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles – ele se reunirá com empresários da OBS, Lloyd’s e AT&T, dentre outros, e com os ministros das finanças da Suíça e da Argentina, tudo sob o magnânimo patrocínio do Banco Itaú –, podemos deduzir o que se pretende com tal  repensar

A ênfase do encontro deste ano pretende ser “o povo”, e não mais “o mercado”, como tema principal, afirmam os organizadores. Mas não se trata, obviamente, de emancipar o povo do capital, e sim de mantê-lo inserido no processo de produção/exploração capitalista, uma vez que tal mecanismo histórico está fugindo do controle e se tornando inviável. Convenhamos que a tarefa deles não é fácil. 
Os filósofos conservadores como Francis Fukuyama – aquele que foi guru de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, elucubrando sobre um suposto fim da história, com a supremacia definitiva do mercado e da democracia como pilares de sustentação do progresso, desenvolvimento, liberdade e justiça social  se veem às voltas com uma realidade inesperada: depois de o capitalismo ocidental haver triunfado da Rússia oriental ao Leste Europeu, indo até a China e aos confins da Ásia e da África, eis que, no exato momento do seu apogeu, começou a emitir sinais pra lá de alarmantes, de que não é mais capaz de segurar a onda. Tem de ser repensado porque já não consegue servir minimamente como modo de mediação social viável...      

Os dirigentes e megaempresários insistem na retomada do desenvolvimento econômico e se reúnem para buscarem a solução milagrosa que mantenha o status quo mercantil mundial. Em desespero de causa, abandonam o neoliberalismo tradicional e admitem uma participação maior do Estado para conter eventuais descontroles. Os seus gurus de plantão são convocados.  

Neste contexto, o modelo chinês de capitalismo privado + autoritarismo político ganha força. Não por acaso, é o premiê chinês Xi Junping quem abrirá o encontro, falando sobre a necessidade de mecanismos de controles quanto a esta preocupação comum a todos esses capitalistas ali presentes.

Trocando em miúdos: um estado militar, totalitário, com economia de mercado, é o que está na pauta do dia, para conter a insatisfação crescente

Os movimentos da desintegração do capitalismo globalizado são evidentes. Eles vão desde a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, passando pela verborragia desconectada com a realidade de um Donald Trump, cujo discurso protecionista viaja na contramão do capitalismo one world.  Aliás, neste sentido, há uma tenebrosa semelhança da retórica trumpetista com as arengas de Hitler. 

Trump fala uma coisa e os seus ministros da área de segurança internacional e comercial dizem outra; tal qual Hitler, que mentia da mesmíssima forma, descaradamente. Fico a me indagar sobre qual a natureza de tal desencontro de opiniões governamentais na futura Casa Branca. Seriam falsidades estratégicas ou, meramente, irresponsáveis e inconsequentes?          

Mas, voltemos a Davos, que se tornou um encontro cada vez mais concorrido de homens de negócios em consonância com governantes e politicas econômicas governamentais, num mundo perplexo diante dos problemas cujas estruturas tradicionais de governo e da economia não são capazes de resolver. 

Os problemas da emigração, com a quantidade cada vez maior de pessoas que fogem da fome e da guerra causada pelo terror; da desintegração dos estados nacionais dominados por milícias; da renitente queda da economia mundial e do crescimento do desemprego estrutural, dentre outros, já não encontram soluções dentro da lógica de mercado, colocando em xeque os tradicionais discursos desenvolvimentistas repetidos anos após ano em Davos. 

A questão que se coloca não é repensar o capitalismo, mas sim superá-lo. De nada adianta insistirem num modo de produção de mercadorias que se tornou incompatível com o saber tecnológico aplicado irreversivelmente nesta produção e que deixou de produzir valor num volume necessário. 

A exploração capitalista chegou ao seu ponto de contradição inconciliável e os homens têm de se conscientizar disto, começando a pensar em produzir para dar, e não para vender. 

É evidente que esta conclusão é tão inaceitável para os homens de Davos, como seria para o conde Drácula viver sob o sol de Ipanema. Equivaleria à renúncia a sua condição de capitalistas e governantes políticos, e eles estão em Davos justamente para tramarem o contrário, ou seja, para discutirem como fazer para que os problemas possam ser minimamente contornados, permitindo que a opressão continue a ser exercida. 

A reunião de Davos não visa à emancipação do povo, como querem fazer crer, mas a uma forma de relação social na qual se possa amenizar a crise de extermínio que ora se abate sobre esse mesmo povo, de modo a que se possa continuar a extrair-lhe mais-valia. Mas, não está fácil de tal objetivo ser concretizado. 

O interessado, exatamente o povo, pretenso foco do encontro, não foi convidado para esta festa em que pratos sofisticados e bebidas caríssimas coexistem com discursos que buscam contornar a realidade, tudo isto sob os auspícios dos maiores bancos do sistema financeiro internacional e das grandes corporações industriais e comerciais. 

Só rematados ingênuos  acreditam que a emancipação do povo possa advir da boa vontade dos seus opressores. (por Dalton Rosado)

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