segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

AS EDITORAS DE LIVROS PARA CRIANÇAS ABREM O CHORORÔ; COM A RECESSÃO, AS TETAS DOS GOVERNOS SECARAM.

Algum destes livros ainda será lido na próxima década? 
Leio na Folha de S. Paulo que o tempo das vacas magras chegou às editoras especializadas em obras para crianças, depois de elas passarem muito tempo auferindo lucros exagerados graças ao "governo brasileiro e as suas generosas compras de livros".

Segundo o repórter Bruno Molinero, "as aquisições podiam chegar a milhares de exemplares de cada título e render milhões de reais todos os anos às empresas".

Mas, a fonte secou. "Principalmente a partir de 2015, as compras governamentais para abastecer bibliotecas e escolas minguaram nas esferas federal, estadual e municipal —até quase desaparecerem com a crise econômica em que o país mergulhou."

E não é que até uma recessão tem um ou outro ponto positivo?! 

Já cuidei da seção de literatura em revistas (o que não fiz na minha carreira jornalística?) e era obrigado a escrever qualquer bobagem sobre títulos infanto-juvenis que estivessem sendo lançados. Folheava-os e a maioria era tão ruim que eu tinha vontade é de alertar os pais: "Não desperdicem seu dinheiro com este item de consumo (é só isto e nada além disto)! Não vai fazer bem nenhum a seus filhos. Insistam com os professores para adotarem os clássicos, começando pelos do Monteiro Lobato".  

Pois, após ter constatado que sua qualidade média era das mais insatisfatórias, interessei-me em saber por que, cargas d'água, eram lançados tantos e tantos títulos, sem diferenças substanciais entre eles ("um mais um igual a zero", diria o poeta Marcus Accioly) . 

Logo percebi como funcionava o esquema. As editoras mimavam de todas as maneiras professores e autoridades, para que os livros adotados pelas escolas mudassem de ano para ano. Mestres que não merecem carinho e chupins da burocracia reagiam exatamente como deles se esperava, esforçando-se por fazerem jus aos mimos, no afã de os receberem cada vez mais.

Com isto, a qualidade literária que se oferecia às crianças geralmente era quase nenhuma, matando no nascedouro qualquer possibilidade de virem a se tornar leitores assíduos. O resultado está aí, bem visível nas redes sociais: o que as novas gerações escrevem evidencia dificuldade imensa de concatenação do raciocínio, comunicação sofrível, crassa desinformação e ignorância esplêndida da ortografia e da gramática.
Então, ao invés de implicitamente concordar com o chororô do pessoal das editoras sobre o "desmonte do mercado", o repórter deveria é lembrar que havia muito mais vida inteligente no tempo em que as escolas só adotavam obras com real qualidade literária, as quais, até por não serem tantas assim, passavam de irmão para irmão, para desafogo dos pobres pais. 

Depois, contudo, depená-los a cada novo ano passou a ser a palavra de ordem. Que se matassem de fazer horas extras! E que seus impostos fossem dilapidados em livrecos para breve utilização, desde que as engrenagens do capitalismo continuassem girando!

A recessão deveria nos fazer refletir sobre tudo isto. Mas, nada espere da grande imprensa neste sentido, pois ela existe para ocultar ou relativizar as mazelas e a desumanidade intrínseca do capitalismo.

Um comentário:

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Não esperar nada da grande imprensa, nem da grande "esquerda".

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