quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

DEU A LOUCA NO MUNDO CAPITALISTA: EUA ADEREM AO PROTECIONISMO E CHINA DEFENDE LIBERDADE DE MERCADO.

GLOBALIZAÇÃO E PROTECIONISMO ECONÔMICO
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"Seguir o protecionismo é como se fechar num quarto 
escuro em que o vento e a chuva podem ficar
de fora, mas também não há luz e ar."
(Xi Jinping, presidente da China, no
Fórum Econômico Mundial)
O capital é expressão de uma relação social (valor acumulado) no seu estágio desenvolvido, quando os seres humanos se tornam meros instrumentos de viabilização de sua lógica abstrata. Eles não o sabem, mas o fazem (Marx). 

Por ser fruto uma lógica abstrata que serve como forma de relação social, tem regras próprias de existência e comportamento que, paradoxalmente, submetem os seus criadores (os seres humanos) a ditames absolutistas, o que independe da vontade dos ditos cujos.  

Qualquer movimento que contrarie as regras absolutistas da reprodução do capital somente apressa o seu encontro inexorável com a derrocada final, encurtando a contagem regressiva até tal desfecho. 

Nesse sentido, a globalização da economia é uma contingência natural e irreversível do seu processo de busca de reprodução. Como já disse neste artigo, o capital, tal qual a água face à lei da gravidade, procura locais para escoar o seu processo reprodutivo sem o qual ele não sobrevive.

A contradição inconciliável de tal processo de reprodução armou uma cilada para os seus beneficiários originais, as nações do Ocidente que primeiramente viveram a fase de surgimento e crescimento do capitalismo. É que o feitiço virou contra o feiticeiro. 

Antes, os países produtores de mercadorias consumidas no resto do mundo tudo produziam. Houve um tempo em que o cotidiano do brasileiro estava saturado de produtos estrangeiros: ao acordar, fazia a barba com Gillette; banhava-se com Lux, o sabonete de 9 entre 10 estrelas do cinema; guiava um carro Ford ou Chevrolet; abastecia num posto Esso; e assim por diante, até terminar a noite vendo o seriado estadunidense Os intocáveis numa tevê General Electric... 

Seguindo a trilha da busca do oxigênio vital e diante da concorrência de mercado que tudo determina na vida mercantil, as grandes empresas produtoras passaram a produzir em locais próximos do consumo, eliminando os custos da circulação que apenas reduzem a extração de mais-valia para os produtores pelo tempo alongado do ciclo de reprodução do capital. 

Além disto, passaram a buscar locais nos quais o trabalho abstrato permitisse a redução do quantitativo de trabalho necessário (leiam-se salários escravos, de mera subsistência) e oportunizar a existência de trabalho excedente, aquele não remunerado pelo capital e que produz mais-valia e reproduz o lucro, embolsado pelo capital, como única forma de sua reprodução aumentada. 

Ora, o protecionismo mercantil, que consiste em tarifar os produtos importados de modo a se priorizar a produção interna, nacional, coisa que parece muito justa e promissora, de fato não o é; isto porque o capital enquadrado nos limites nacionais reduz a sua capacidade de reprodução aumentada pela queda do volume global de negócios (ainda que apenas alguns produtores ganhem mais). 

Assim, o protecionismo mercantil cedo demonstra a sua incoerência de propósitos, pois contraria a rígida lógica expansionista necessária à dinâmica de reprodução do capital. 

Mas, a cilada que as contradições do capitalismo engendraram para os seus beneficiários originais, os países onde estavam sediadas as grandes empresas, consiste no fato de que, com a transferência das unidades fabris de seus territórios e sem produção mercantil, minguam os empregos e a arrecadação fiscal. 

O capital não é imperialista no sentido das nações, como sempre se propagou, mas o é numa dinâmica existencial própria, não admitindo que a vontade dos governantes se sobreponha à sua vontade (por isto absolutista).    

Esta é explicação racional para a aparente confusão que se observa no atual quadro capitalista internacional, com o novo mandatário de um país que sempre defendeu a liberdade mercantil planetária (a raposa e as galinhas livres num mesmo galinheiro...) agora pregando a reserva de mercado, enquanto o presidente de uma nação dita comunista, que sempre se fechou em suas fronteiras como modo de barrar a concorrência ditada pelo melhor nível de produtividade tecnológico ocidental, fazendo as vezes de arauto da liberdade de mercado. Refiro-me, evidentemente, a Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China). 

A perplexidade que tal situação causa à maioria das pessoas é apenas a resultante de uma lógica inexorável: o capital caminha para a própria destruição em face de suas contradições internas, aqui explicitadas pelo binômio da tecnologia de produção de mercadorias aliada aos salários escravos. O capital, enfim, expõe a sua carantonha. 

Mas a questão não é apenas de mudança de mãos dos países produtores de riqueza abstrata e que com isto se tornam economicamente poderosos (ainda que produzam cisão social interna). Tal mudança de mãos obedece a critérios lógicos e que têm efeitos colaterais, quais sejam:
— se forem aplicadas medidas protecionistas nas economias das grandes potências, sairá enfraquecido o já combalido mercado internacional e, ao invés de criar empregos internamente, apenas vai aumentar o desemprego estrutural;
— se não foram aplicadas medidas protecionistas o crescimento dos países emergentes, com seus baixos níveis de custos de produção de mercadorias, aprofundará a queda da massa global de valor da mais-valia planetária, aprofundando o desemprego estrutural, causa de debacle mundial. 
Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.    

Aguardemos os próximos capítulos desta ópera bufa, na qual o povo é a grande vítima. 
                               (por Dalton Rosado)                                 

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