quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O QUE DIZEM OS MOTOQUEIROS NO ALÉM?

É mesmo "um livro original"...
Isto não é nenhuma pretensão de causar espanto com histórias do outro mundo. Interessei-me pelo livro espírita Motoqueiros no além (Instituição de Difusão Espírita, 1ª edição em 1983, 141p.), porque tenho pavor de motocicletas e fiquei curioso em saber o que diriam aqueles cujos acidentes com motos anteciparam suas passagens para o plano espiritual.  

Constatei que hoje eles admitem a imprudência de se possuir uma maquina dessas, "um meio de transporte para o lado de lá", como dizem no livro os jovens desencarnados

Peço desculpas aos que não acreditam na sobrevivência do espírito após a morte do corpo e, portanto, na reencarnação. Eu acredito, definitivamente. Mas estejam todos à vontade para encarar isto tudo, crédulos e incrédulos, apenas como um bate-papo. Por favor.

Trata-se de uma seleção de depoimentos de 400 jovens "que foram desligados do corpo físico através de problemas com as motocicletas que lhes mereciam especial atenção". Eles transmitiram suas mensagens no centro espírita Perseverança, na rua Bruna, 53, em São Paulo, pelo lápis mediúnico de Euríclides Formiga. Nenhum deles culpa a máquina, nem fala de imprudência. A explicação é uma só: "chegou a hora".

O autor do livro, Eduardo Carvalho Monteiro, afirmou que, além de as mensagens levarem conforto às famílias dos moços mortos prematuramente, "não poderíamos esquecer as advertências que significam, endereçadas aos usuários de semelhante condução para que usufruam das máquinas referidas com a prudência e o respeito que merecem, de modo que se tornem cada vez mais dignas de apreço no transito da vida comunitária". 
Eduardo Monteiro, falecido em 2005.

É uma obra religiosa, "livro original, porque enfeixa valiosas demonstrações de sobrevivência além do plano físico, expressando as correspondências de viajores que alcançaram o mais além, talvez em tempo rápido que, decerto, não esperavam".

"Aqui, também, temos a nossa patota, só que o barato é outro", diz um dos ex-motoqueiros. Ele reflete: "A morte é, como já ouvi alguém falar, coisa comum nos outros. A nossa parece que está sempre a milhões de quilômetros. Bolas, às vezes está a um passo. Por via das dúvidas, é melhor não esquecer certas obrigações, como, por exemplo, a principal de todas, amar ao próximo, bom e seguro investimento na poupança do céu".

Não só a moto é isentada de culpa, como eles se transformam em advogados dessas máquinas: "A moto foi apenas um meio para ocorrer o que já estava determinado, isto é, a viagem para o outro plano. É natural que alguns possam ter precipitado um acidente, mas aí trata-se de mau aproveitamento do livre-arbítrio". [Sobre imprudências e perigos, esta é a única frase no livro todo.]

"Como os outros, que vieram pelo mesmo transporte, digo novamente que ninguém impediria meu retorno naquela hora", diz, fazendo veemente defesa da motocicleta como veículo de transporte: "Motos são iguais aos automóveis, aos caminhões de carga, aos ônibus de transporte coletivo e também a muitos carros de bois, em cujos movimentos tanta gente perdeu a permanência do corpo". 

E mais, dirigindo-se especificamente a um pai: "Você sabe tudo sobre mim, após a transformação que se operou em seu filho, desde aquele acidente que ninguém evitaria no mundo. Fiz tudo, em nosso primeiro contato, para retirar a impressão culposa que jogaram sobre a máquina, a minha moto, ali, como se fosse o veículo do momento para a viagem inadiável".
Instrumento do destino ou veículo para kamikazes? 

A viagem é que é inadiável, disse-lhe este espírito: "Procurei bancar o advogado dos irmãos motoqueiros, cuja palavra soa até pejorativa, quando simplesmente está incluída no linguajar dos jovens do mundo inteiro. Seu filho veio na hora certa, mas não deixa por menos a saudade".  

A maioria "já sabia" do tempo curto que passaria na Terra, daí o lugar comum de seus diálogos mediúnicos com os pais: "A moto foi somente o transporte... a moto transportou-me à vida nova, como poderia ser usado outro veículo... já foi dito por companheiro que chegou aqui cavalgando máquina igual, que, chegando a hora, você vem até dormindo. Assim, longe a ideia de andar condenando quem quer que seja por fatos dessa natureza... naquele dia, o choque da mobilete com o pesado veículo fazia parte de uma programação antiga..."

Na mesma linha: "Naquela tarde, completava minha jornada no mundo. A moto foi o motivo, ou, se quiserem, o instrumento de que se valeu o destino, no entender de vocês, para que se cumprisse o inevitável o fato de eu vir de carona na máquina e só a mim ter acontecido tudo aquilo, simplesmente quer dizer que estava escrito".  
Filmaço sobre motoqueiros: Easy Rider.

O espiritismo não aceita o acaso em nenhum momento de nossa existência, disse Eduardo Carvalho Monteiro, que morreu em 2005 e é tido como o maior historiador dessa religião no Brasil. "Tudo tem razão de ser e seu instante apropriado."

Palavra final de um motoqueiro morto: "A morte foi apenas meio de transporte que me foi conferido a fim de retornar ao mundo maior depois de haver cumprido a etapa da vida pela qual me responsabilizei na recente experiência na Terra. Não houve imprudência, nem erro de cálculo na direção do veículo que me colheu. Resta-nos a todos confiar em Deus, diante do que nos ensinam aqueles que são os fiéis intérpretes dos ensinamentos de Jesus na Terra e aqui... a moto foi o instrumento que me jogou para um nova dimensão da vida".  De lambujem, o livro tem, no fim, um glossário de gírias dos motoqueiros.

Também de lambujem, eu conto um caso real.  Digo isto: numa noite muito fria, caiu na minha mesa, na Agência Estado, uma matéria curta, datilografada, transmitida por telefone pelo repórter setorista da polícia. Um homem engravatado, bem vestido, fora preso pela polícia dormindo à noite numa gaveta do cemitério da Quarta Parada, em São Paulo.

Alguns anos se passaram até que me caiu às mãos o livro Motoqueiros no Além.  Conta que o homem do cemitério era um industrial conhecido na região. 
Por Apollo Natali

Na delegacia, explicou que dormia no cemitério porque queria ficar perto do filho, que perdera a vida num acidente de moto. 

No centro espírita, recebeu  mensagem psicografada do filho: "Pai, o senhor não vai me encontrar no meio das pedras daquele cemitério. Eu estou vivo".

4 comentários:

Valmir disse...

meu dilema espiritual com relação a livros psicografados é saber pra quem vai os direitos autorais, a parte da venda dos livros que seria do escritor: vai para o espirito ou para o cavalo???

Apollo disse...

Caro Valmir, o mundo é habitado por gente honesta e por gente desonesta, você sabe disso. Há médiuns que psicografam livros e embolsam os direitos autorais. Há médiuns que não fazem isso. Por exemplo, Chico Xavier. Os direitos autorais de milhões e milhões de livros por ele psicografados que se espalharam pelo mundo ele doou tudo para fins beneficentes. Chico dizia que quando morresse, queria morrer nu. Ele era totalmente desapegado das coisas materiais. Direitos autorais podem ir para o cavalo às vezes, nunca para o espírito. Obrigadão por ler o fantástico Náufrago da Utopia.
Apóllo Natali

Anônimo disse...

Mas, Celso, como você sendo um materialista marxista pode acreditar em espíritos?

celsolungaretti disse...

Ué, o artigo é do Apollo, não meu. Publiquei-o como publico outros textos de meus colaboradores com os quais não concordo (nem discordo) inteiramente. Mas, não sairei pela tangente, seria fácil demais.

Então, esclareço que não sigo como um autômato nenhuma corrente de pensamento, nem nego (jamais!) aquilo que capto com meus sentidos. Estou sempre com a mente aberta para aprender coisas novas.

Já presenciei fenômenos extremamente chocantes e conclusivos no sentido de que existem mesmo forças obscuras, que tanto podem ser os chamados "espíritos" de pessoas mortas, quanto projeções imateriais de pessoas vivas.

Ou seja, tenho certeza absoluta de que há alguma coisa nessa direção, mas não cheguei a uma conclusão definitiva sobre o que seja, nem sobre se as religiões que nelas creem dominam realmente tais forças.

E, por ter sensibilidade artística, considero fascinantes as histórias das entidades da umbanda (lembram-me a mitologia grega) e a musicalidade dos seus cultos. Alguns daqueles "pontos" são belíssimos.

Enfim, trata-se de uma religião alegre e cheia de vida, ao contrário das de origem européia, repressivas e taciturnas demais pro meu gosto. Mas devoto não sou, de nenhuma.

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