domingo, 7 de agosto de 2016

CURIOSIDADE: UMA ENTREVISTA CONCEDIDA POR GERALDO VANDRÉ 8 MESES ATRÁS.

Encontrei uma entrevista que Geraldo Vandré concedeu em dezembro último à TV Itararé, da Paraíba, e a estou postando – apenas como curiosidade. 

Ele foi receber um prêmio e parece ter sido convencido a falar de supetão, sem que nada estivesse preparado. O ambiente é inadequado e há muito barulho vazando, a ponto de até terem colocado legendas em todas as falas. 

A entrevistadora não tinha uma pauta nem sabia o suficiente para fazer perguntas inteligentes. Afora se perceber claramente que o Vandré impôs a condição de não ser indagado sobre o que mais se quer saber dele, começando pelos motivos de seu comportamento errático desde que voltou do exílio. 

Foi torturado ou não? Sofreu lavagem cerebral ou não? O que aconteceu na chegada, durante os 58 dias em que esteve internado numa clínica carioca, isolado dos outros pacientes, sob tutela e guarda militar? Não será ainda desta vez que ficaremos conhecendo as respostas.

A entrevistadora deixou-o à vontade para falar o que quisesse e ele pareceu nada de relevante ter para dizer, afora exibições de erudição fora de lugar, frases de efeito que não surtiram efeito (a pior delas: "Che Guevara foi o maior garoto-propaganda da indústria armamentista, ajudou a vender muito fuzil e metralhadora"), declamações de versos que só ele parecia achar geniais... um vulcão extinto, em suma. Deu pena.

Felizmente, intercalaram muitos vídeos do tempo em que Vandré era Vandré (há outra entrevista de características semelhantes postada no Youtube, também de dezembro de 2015, sem sequer a inclusão de músicas para quebrar a monotonia). 

Agora, parafraseando o título alternativo de uma canção de 1967 (Ventania), ele está mais para um homem que perdeu seu cavalo e continuou andando... mas esquecera, ou haviam apagado de sua mente, o lugar para onde queria ir.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Celso,primeiramente ,mais uma vez ,grato por nos brindar com mais esse conteúdo cultural.

Ao assistir essa entrevista tive uma compreensão muito distinta de seu relato.E só comento por que ambas as impressões são muitos desiguais.

De cara, uma constatação:

- Vandré é um POETA monumental!O VULCÃO ESTÁ BEM ACESO!

A frase sobre o Chê e a venda de armas é de uma fina ironia.Ela pode ser combinada com a sua definição sobre arte como uma função inútil que não serve para o mundo do trabalho.E a sua explicação sobre a etimologia da palavra belo ( de Arte) como guerra.Ou seja, Vandré faz guerra de um jeito diferente.Por opção , por exlío voluntário.

Por fim, gostei muito da sensibilidade da entrevistadora.Apesar de temas restringidos, ela cercou Vandré sutilmente quando resgatou contextualmente a música CAMINHANDO.Ela usou outros modos também.
Agora, quando ele se refere a "voltar eternamente" à Paraíba, tive que conter as lágrimas juntos com ele...

Mais uma vez,Celso, minha sincera gratidão

Cezar

celsolungaretti disse...

A vida seria muito monótona se todos concordássemos em tudo. Eu conversei longamente com o Vandré em junho de 1968 e depois em 1980. Entre essas duas ocasiões já houve uma grande mudança: o que ele falava ainda fazia sentido (não o considerei 'xarope', como muitos o avaliavam), mas ele perdera a concisão e a objetividade. Dava voltas e mais voltas até chegar ao fulcro da questão. Para entender aquela algaravia toda eu precisava prestar tanta atenção que sai do apê dele exausto.

Assisti na TV aquele especial do Globo News e foi deprimente ao extremo para mim. Não reconheci mais aquele que havia sido meu primeiro ídolo musical, desde que eu ouvi "Canção Nordestina" e aquele grito que ele dá no meio da música me atingiu até o fundo da alma (eu tinha 15 ou 16 anos).

E, claro, também me causou a pior impressão possível nessa entrevista de dezembro/2015.

É evidente que algo tão surpreendente como a mutação do Vandré será interpretado por cada um de uma maneira, dependendo até da própria história de vida. P. ex., para quem passou o que eu passei nas garras dos milicos é muito difícil aceitar que ele estivesse em seu estado normal quando homenageou a FAB. A única coisa que faz sentido, para gente como eu, é que estivesse sob o efeito da síndrome de Estocolmo.

Concluindo: cada um de nós, a seu modo, está certo, pois vê um Vandré diferente, "interpretado" a partir da respectiva subjetividade.

Um forte abraço!

P.S. - há muita coisa sobre o Vandré neste blogue, bote o nome dele na busca e aparecerá. Não só artigos, como também teipes musicais, documentários, etc.

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