segunda-feira, 27 de junho de 2016

O CHORO DA CIGARRA MESSI E A MONOTONIA DAS FORMIGAS CHILENAS

Gênios na berlinda: Messi em 2016...
Lionel Messi é o melhor jogador de futebol de todos os tempos.

Enquanto a comparação com o principal craque do século passado (Pelé) se dava em termos de talento individual, ainda havia dúvida possível. 

Ambos capazes de fazer jogadas geniais, o brasileiro parecia ser um pouco superior na concretização dos gols e o argentino, muito superior no jogo coletivo. Dependendo dos pesos que se atribuísse a um e outro quesito, dava até para acreditarmos que Pelé continuasse sendo o rei do futebol.

A última evolução de Messi, passando a jogar mais recuado e oferecendo assistências primorosas para os companheiros (que estão fazendo de Suárez o matador mais afortunado do planeta bola), encerrou a questão. 

Mesmo admitindo-se que Pelé tenha sido um tantinho melhor no auge de ambos, o argentino é tão acentuadamente superior no pós-auge que já não há mais nada a discutirmos.

Ou há? Os que veem o futebol com mentalidade de guarda-livros (os contadores de outrora) alegam que Pelé foi muito melhor como jogador de seleção. 

Mas, se colocarmos a conquista de Copas do Mundo como critério fundamental para a aferição da qualidade dos futebolistas, excluiremos verdadeiros gênios dos gramados como Cruyff, Di Stéfano, Falcão, Platini, Puskas, Sócrates e Zico. Um pecado!
...Sócrates, em 1982...

Pelé conquistou dois Mundiais da Fifa (1962 e 1970) nos quais a Seleção Brasileira  era insuperável, não apenas por causa dele, mas de cracaços como Gilmar, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Gerson, Tostão, Jairzinho e Rivellino. E viu Garrincha carregar o escrete nas costas em 1962, já que ele próprio se contundira aos 25' da segunda partida, contra a Checoslováquia (que terminou 0x0), depois de ajudar o Brasil a fazer a lição de casa  contra o freguês México (2x0).

Se formos considerar o peso do contribuição individual para a conquista coletiva, não seria Pelé o melhor de todos os tempos, mas sim três jogadores que, eles sim, fizeram destacadamente a diferença: o já citado Garrincha (1962), Paolo Rossi (1982) e Maradona (1986).

Quanto a Messi, teve o azar de vir numa época na qual uma andorinha só já não consegue fazer verão. Quando tem grandes jogadores a seu lado, é o primus inter pares. Mas, nem mesmo ele é capaz de fazer milagres quando a Argentina só tem mais um fora-de-série em tempo integral (Mascherano) e outro de vez em quanto (Di Maria, que parece nunca estar em bos condições físicas nos momentos cruciais).

O que se viu na decisão da Copa América 2016 fez lembrar o Pelé caçado no Mundial de 1966: Messi bravamente tentando criar jogadas em meio a quatro adversários que o cercavam por todos os lados. Mesmo assim, cavou a expulsão de um dos mastins, sofreu faltas, serviu companheiros desmarcados (mas limitados demais para tirarem proveito da situação). 
...e Baggio em 1994.

Dava pena. Com Messi dando o máximo de si, bastaria existir um artilheiro competente a seu lado para o Chile ser goleado.

A maldição dos pênaltis novamente puniu os craques que carregam a maior responsabilidade. Assim foi com Baggio, Beckham, Drogba, Cristiano Ronaldo, Marcelinho Carioca, Sócrates, Zico e tantos outros.

E Messi, que tanto queria ser amado pelos ingratos hermanos, chorou.

Chorou porque sua genialidade se resume às quatro linhas. Não consegue perceber o que se passa fora delas, como o desvirtuamento do futebol, cada vez menos arte e cada vez mais competição (além de chafurdar em corrupção). 

Com jogadores obrigados a esforços desmedidos, correndo o tempo todo e sendo obrigados a tirar folgas imprevistas quando estão prestes a estourar.

Com decisões espetaculosas mas lotéricas como a da cobrança de pênaltis, que satisfazem a volúpia dos torcedores/telespectadores por emoções baratas mas frequentemente dão ensejo a grandes injustiças, na contramão do desempenho dos times e seleções ao longo da competição, como aconteceu neste domingo, 26 (a Argentina tinha melhor campanha). 

Depois de a revolução espanhola ter propiciado uma década de hegemonia do futebol-arte, técnicos como Diego Simeone e seleções como a do Chile aperfeiçoaram o antídoto à inspiração e ao jogo ofensivo, com sua marcação sob pressão praticamente no campo inteiro, quase sempre congestionando seu campo  defensivo com todos os jogadores.

Pergunto-me como alguém pode gostar daquele amontoado de transpiradores tentando abafar cada adversário que está com a bola. Que graça tem ver Messi derrubado a cada seis passadas por um medíocre qualquer. O que há de gratificante em 120 minutos de faltas violentas, muita catimba e quase nenhuma oportunidade de gol, merecidamente coroados por um 0x0.
O carrossel holandês ressuscitou o futebol ofensivo

Depois do carrossel holandês e de a geração de ouro brasileira ter saído de mãos abanando do Mundial de 1982, passamos mais de duas décadas assistindo a partidas banais, vendo as defesas prevalecerem, os zagueiros darem estourões e os gols saírem de bolas paradas. Temo que, depois do circulo virtuoso, tenhamos entrado noutro circulo vicioso  desses. 

Ai de nós se não soubemos preservar o que o futebol ainda tem de belo! Se desprezarmos as cigarras cujo canto nos encanta, sobrarão só as formigas, cujo monótono automatismo nos entedia até a medula.

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