terça-feira, 31 de maio de 2016

O QUE MUDOU NO BRASIL FOI ISTO: ACABOU A CONCILIAÇÃO DE CLASSES.

Os governos de Lula corresponderam a um momento da história do neoliberalismo no Brasil em que foi possível a conciliação entre as classes sociais: um período de prosperidade econômica, que provia crédito e benefícios aos trabalhadores, assim como dividendos astronômicos aos banqueiros, de uma maneira bastante funcional, com todo o mundo ficando satisfeito.

A economia do País parecia extremamente sólida, mas isto não passava de ilusão, como todos agora sabemos.

Com a crise internacional (queda dos preços de matérias primas), associada à deficiência produtiva que um país subdesenvolvido como o Brasil tem e terá durante muito tempo ainda, a conciliação entre as classes sociais deixou de ser viável; então, a burguesia financeira reconstitui o poder executivo da República, que jamais deixou de pertencer a ela, de um jeito ou de outro.

Em outras palavras, no ano de 2002 a burguesia financeira permitiu que o PT gerenciasse os seus negócios, com lucros para ela própria e com benefícios para os despossuídos, num momento favorável do ponto de vista econômico, viabilizado em grande parte pelo comércio internacional. 

Os banqueiros enriqueceram como nunca dantes neste país, até que as vacas emagreceram e a fonte secou; chegara a crise.

Então a burguesia financeira pegou a bola (que era sua) e o jogo da conciliação de classes acabou. Quem jogou, jogou. Para quem não jogou, resta aquela ridícula Doutrina Temer: “Não fale em crise; trabalhe!”

Por estes tão essenciais motivos, e por outros além destes, devemos assumir que o que houve por aqui, com a substituição de Dilma por Temer, não foi um golpe de estado, mas tão somente um ajuste, um dos muitos ajustes neoliberais, para que o sistema propriamente dito (incluído o seu aspecto político, é claro) não sofresse nenhuma alteração significativa, nem mesmo um arranhão.

Tal empreitada conta, como seria de esperar-se, com os préstimos do medíocre Temer e sua incomparável trupe de ministros. O neoliberalismo, todos sabemos, é feito de ajustes, efetuados sempre que há necessidade de adequação a novas condições econômicas, administrativas, geopolíticas, etc.

O PT compreendeu desde cedo as regras do jogo político da burguesia, nesta democracia de barganhas e enganações; e a elas aderiu como coadjuvante solícito, chegando ao ponto de gerir os interesses daqueles que conduzem o poder financeiro, certamente o maior e mais pesado poder que se tem visto. 

De 2002 em diante, é como se os banqueiros tivessem dito: "Vocês, petistas, podem exercer a presidência, mas a vice-presidência será sempre nossa, sempre de direita", como um dispositivo de segurança à disposição dos reais donos do País. 

Uma olhada nos vice-presidentes de Lula e Dilma confirmará isto. Homens de direita, mas não muito —o suficiente para restabelecerem a normalidade caso o velho PT tentasse extravagâncias como reforma agrária, reforma urbana, revitalização educacional, essas coisas de comunista...

Portanto, por mais que em alguns aspectos a coisa vá piorar bastante para os trabalhadores e para o povo (as vítimas de sempre), o sistema capitalista neoliberal brasileiro, que vigora sem interrupções desde 1990, permanecerá exatamente o mesmo, com a estabilidade de que goza qualquer sistema social vitorioso. 

Quanto ao pacote econômico anunciado por Temer em maio, trata-se, real e concretamente, do famoso ajuste fiscal, aquele que o Joaquim Levy tentou mas não conseguiu nos impor, um tanto agudizado para compensar o atraso na sua implementação.

Com desemprego, com violência urbana crescente, com crise política, com todo o subdesenvolvimento do Brasil, o sistema continua vigoroso, voraz, imenso, total, quase sem oposição e, principalmente, sem grandes alterações. (por Eduardo Rodrigues Vianna)

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