sexta-feira, 8 de abril de 2016

DALTON ROSADO: "MARX, O ESOTÉRICO, TINHA RAZÃO".

"A mercadoria é uma
 contradição em 
termos" (Marx)
É difícil, para quem não se aprofunda na análise da dinâmica das relações sociais sob a égide da forma valor (dinheiro e mercadorias), a compreensão de que elas se inserem dentro de uma contradição em processo, e que por assim ser têm de chegar, inevitavelmente, a um limite existencial, que ora foi atingido (não há mal que dure para sempre).

Segregação social à parte, a contradição fundamental consiste no fato de que a forma valor tem uma necessidade de evolução de crescimento contínuo que tende ao infinito (a troca contínua e crescente de novo trabalho vivo, em produção, por trabalho objetivado, passado, coagulado nas mercadorias em consumo), de onde ela extrai a sua força, mas que tem limite de expansão.

Tal limite ocorre:
  1. pela capacidade individual do ser humano de consumir mercadorias; 
  2. pelo descompasso entre o aumento da população a menor (atingida a expansão territorial mundial das relações capitalistas), em relação à necessidade de aumento contínuo da produção de mercadorias, a maior; 
  3. pela contínua busca pelo capital da redução do tempo de trabalho necessário (aquele em que o trabalhador recebe em valor o valor produzido) para oportunizar o tempo de trabalho excedente (aquele não remunerado pelo qual o capital extrai a mais-valia indispensável ao seu aumento contínuo), mas que elimina postos de trabalho graças ao uso da tecnologia, hoje exacerbada ao extremo (trabalho morto, das máquinas, não produtor de valor, que aumenta a mais-valia relativa per capita mas diminui a massa global de valor produzido). 
Por tudo e em tudo o capitalismo caminha cada vez mais celeremente para o seu ocaso. Mas os governos e suas instituições, os economistas, o sistema financeiro, os empresários privados ou estatais, os políticos, etc., não querem aceitar essa realidade, tal qual alguém que quebra o espelho para não ter que ver a própria imagem em decomposição.

Antes, todo o establishment burguês emergente pôde substituir a escravização direta, feudal, que aviltava a melhor compreensão dos direitos humanos e os mais elementares postulados cristãos (até então praticado pelo estado monárquico absolutista eclesiástico), pela inconsequente e disfarçada escravização indireta oportunizada pela produção mercantil que agora chegou ao seu limite existencial fazendo voar pelos ares todos os construtos institucionais ora (ainda) em vigor.

Mas o poder burguês ainda não descobriu o que colocar (para seu benefício excludente) em substituição a esse modo mercantil de relação social exaurido: o capitalismo. Austeridade fiscal escorchante; aumento de impostos; emissão de moeda dissociada de sua substância válida, o trabalho abstrato (moeda sem lastro, oficial falsa); ou a emissão de títulos públicos que se sabe de antemão que são irresgatáveis em futuro próximo, e que vêm agora sendo largamente usadas mundo afora, são medidas paliativas ou de extremo sacrifício que prenunciam um colapso sistêmico iminente.

A história estabeleceu um impasse para o que (e os que) promove(m) a cisão social; está na ordem do dia superar tal cisão ou caminharmos para a barbárie já em curso. A solução natural para essa situação de inviabilidade de forma e conteúdo das sociedades mercantis passa obrigatoriamente pelo abandono da produção de mercadorias e adoção de uma produção de bens e serviços necessários à vida, sem se comprar e vender; uma volta à partilha da riqueza material com critérios de produção científicos e de apropriação coletiva e verdadeiramente humana. (por Dalton Rosado)

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