Querida Thaís de
todo o Brasil, esse seu desabafo contra o racismo, que faz entristecer o
coração brasileiro, é apenas mais um entre os milhares deles, semelhantes, sofridos, diários, esparramados pelo mundo,
desde que mundo é mundo. Entre eles estão os marcantes, históricos, grandiosos
desabafos contra a discriminação de um Nelson Mandela, um Martin Luther King,
de um Joaquim Nabuco, chamado O Abolicionista.
Nabuco, com seu persistente desabafo jurídico abolicionista abalou a mais longa escravidão de negros do mundo, que desconsoladamente aconteceu neste nosso querido Brasil durante sufocantes 358 anos.
Nabuco, com seu persistente desabafo jurídico abolicionista abalou a mais longa escravidão de negros do mundo, que desconsoladamente aconteceu neste nosso querido Brasil durante sufocantes 358 anos.
Os mais inconformados
dizem que a escravidão no Brasil vigorou arrastados 388 anos, desde o seu descobrimento, em 22 de abril de 1500, até a assinatura da Lei Áurea, em 1888. Não. A mais longa escravidão, a mais demorada trevosa inclinação do ser humano, a de
escravizar seu semelhante, foi a dos hebreus, no Egito: 700 anos.
Sem resposta à
pergunta que não cala --por que
racismo?-- resta-nos o conforto de festejar as iniciativas de parte da
humanidade não racista em marcar, com datas comemorativas, a ação, a luta, o
esforço, a memória de personalidades, brancas e negras, para erguer o
estandarte da dignidade das pessoas negras e de outras colorações não
brancas.
A batalha de
Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul foi apoiada por organizações
de mulheres brancas, ativistas, a combater o odioso racismo institucionalizado
contra os negros por parte de uma minoria branca. Não é confortador? Disse
Mandela: estamos lutando por uma
sociedade em que as pessoas parem de pensar em termos de cor. Não é uma questão
de raça, é uma questão de ideias.
Sobra-nos no
Brasil a aflição de constatar discriminação até por parte de negros e índios: Helda de Sá, uma mestiça cabocla
amazonense, só depois de dobrar sistemática oposição de militantes do movimento
negro e indígena, conseguiu cadastrar-se como a única delegada mestiça a
participar da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, em
2005, em Brasília. Discriminação por quê?
Um ano depois,
quando se comemorava o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação
Racial, o governador Eduardo Braga, movido pela Nação Mestiça-Movimento Pardo-Mestiço,
sancionou lei tornando o Dia do Mestiço, 21 de março, uma data oficial do Estado
do Amazonas, em homenagem a todos aqueles que possuem mais de uma origem racial
no Brasil, mulatos, caboclos, cafuzos, ainocos, entre outros, e seu papel na formação
da identidade nacional. Em seguida, comemora-se
o Dia do Caboclo, 24 de junho, que foi o primeiro mestiço brasileiro.
Em 2010 o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, descobriu, afinal, que os brancos deixaram de ser maioria no País,
se comparados ao total das outras classificações de cor e raça.
Agora, neste 20
de novembro, o Brasil comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, data da
morte do escravo Zumbi dos Palmares, em 1695, para lembrar a resistência do negro contra a
escravidão, desde o primeiro tráfico de africanos para o Brasil, iniciado menos de meio século depois de sua
descoberta. Pouco mais de mil cidades
brasileiras, entre os 5.570 municípios do país, celebram o Dia Nacional da
Consciência Negra. Dependem da aprovação dos prefeitos. Há brancos que se
empertigam contristados diante de altares e olvidam as lições de humanidade de
suas religiões.
Entidades como o Movimento Negro, o maior do gênero no País, organizam palestres e eventos educativos, visando principalmente crianças negras. A instituição procura evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.
Entidades como o Movimento Negro, o maior do gênero no País, organizam palestres e eventos educativos, visando principalmente crianças negras. A instituição procura evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.
Mesmo nos Estados
Unidos, onde a realidade é o secular massacre de negros nas cidades sulistas e
o atual, televisionado, desrespeito aos seus direitos, existe o Dia de Martin
Luther King, feriado nacional, oficializado em 1983, comemorado na terceira
2ª feira de janeiro, data próxima ao aniversário do líder morto em 1968.
O quadro nos Estados Unidos ainda hoje é de protestos de negros por todo o país e repressão dos brancos contra eles, como
nos velhos tempos de Luther King. Mas, não devemos perder a fé em nossos irmãos
brancos, disse o próprio Luther King, no auge de sua luta. De algum modo,
acrescentou, esperançoso, precisamos acreditar que os mais desnorteados dentre os
brancos possam aprender a respeitar a dignidade e o valor de cada personalidade
humana.
Obama se preocupava com o que acontecia na escola com suas filhas negras, com sua esposa, e sentia particularmente a humilhação comum sofrida pelo negro em seu pais. O senador, à saída de restaurantes, era tratado como um manobrista.
Desabafo do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, do tempo em que era senador: o índice de mortalidade infantil entre os americanos negros e pobres é semelhante ao da Malásia. Entre os negros é comum o desemprego e processos criminais que um em cada três deles vão sofrer. Brancos ganham em média 70% mais do que os negros. Há discriminação sistemática e prolongada por parte de grandes corporações, sindicatos ou áreas do governo municipal. Há bairros em que não se vendem imóveis a negros.
A miscigenação está tornando os Estados Unidos mais negro e moreno, mas em geral os membros de todas as minorias continuam a ser medidos pelo grau de assimilação da cultura branca, o quão próximo seus padrões de discurso, suas roupas ou seu comportamento estão da cultura branca dominante e quanto mais uma minoria se desvia desses padrões exteriores, mais sujeita fica aos preconceitos.
Obama se preocupava com o que acontecia na escola com suas filhas negras, com sua esposa, e sentia particularmente a humilhação comum sofrida pelo negro em seu pais. O senador, à saída de restaurantes, era tratado como um manobrista.
Desabafo do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, do tempo em que era senador: o índice de mortalidade infantil entre os americanos negros e pobres é semelhante ao da Malásia. Entre os negros é comum o desemprego e processos criminais que um em cada três deles vão sofrer. Brancos ganham em média 70% mais do que os negros. Há discriminação sistemática e prolongada por parte de grandes corporações, sindicatos ou áreas do governo municipal. Há bairros em que não se vendem imóveis a negros.
A miscigenação está tornando os Estados Unidos mais negro e moreno, mas em geral os membros de todas as minorias continuam a ser medidos pelo grau de assimilação da cultura branca, o quão próximo seus padrões de discurso, suas roupas ou seu comportamento estão da cultura branca dominante e quanto mais uma minoria se desvia desses padrões exteriores, mais sujeita fica aos preconceitos.
Meu
próprio desabafo contra as sombrias manifestações de racismo que se perpetuam
no planeta azul, e sem pretensões de qualquer exibicionismo humanitário, é
oferecer à nossa magoada Thais Araújo, e a todos os demais magoados negros, e
todos os brancos, e todos de todas as colorações, duas matérias minhas sobre
opressão aos negros que estão flutuando no Google.
Uma, de título um pouco
forte porque inevitável, Tio Sam, Tio Sam, que matas os teus negros, é uma
paráfrase dos ditos de Jesus Cristo:
Jerusalém, Jerusalém, que matas os teus profetas. São desabafos e lamentações
de Martin Luther King sobre a opressão dos brancos contra os negros de seu
país.
Outra, de título Escravidão!, é a
resenha-de-uma-resenha do total de 50 que compõem um livro de História que
pretende explicar o Brasil (escrevo História com maiúscula e ponto e basta). A
obra, coordenada pelo jornalista Lourenço Dantas Motta, chama-se Introdução ao Brasil -- um banquete no Trópico, dois volumes, Editora Senac São Paulo.
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