domingo, 19 de julho de 2015

A AGONIA LENTA DE DILMA E A PUTREFAÇÃO DO AMBIENTE POLÍTICO

Em sua coluna dominical, que reproduzo abaixo, o veterano jornalista Clóvis Rossi veio ao encontro de uma avaliação que eu já venho fazendo há algum tempo: o País não conseguirá suportar indefinidamente a conjugação das graves crises política e econômica atuais. Algo precisa ser feito antes que o Brasil entre em ebulição. A agonia lenta da presidenta Dilma Rousseff é o pior dos cenários possíveis.

Discordo, contudo, de que a agilização da lavagem de roupa suja e uma definição legal sobre se Dilma faz ou não jus ao impeachment sejam o suficiente.

A raiz do problema não é Dilma ter delinquido ou não, nem se sua campanha foi contaminada pela roubalheira ambiente. Mas sim o fato de ela haver vencido em 2014 satanizando seus dois principais adversários e agora estar fazendo exatamente aquilo que dizia serem sinistras intenções dos ditos cujos. 

Da minha parte, admito que ela possa ser honesta como uma santa no trato com o dinheiro público, mas não tenho dúvida nenhuma de que ela haja pecado como uma endemoniada no tocante a estelionato eleitoral.

Bem, dirão vocês, estelionato eleitoral não é motivo de impeachment. Mas, as últimas pesquisas divulgadas atestam que boa parte dos eleitores responsáveis pela vitória de Dilma hoje tem uma avaliação negativa do seu governo (caso contrário ela não estaria com apenas e tão somente 9% de ótimo e bom). Então, ela não consegue unir a Nação nem inspira confiança de que seja capaz de tirá-la da crise; ela é parte da crise.

Quais as opções existentes? 

A direita quer transformar a rejeição em impedimento, mas, por enquanto, esbarra na falta de justificativa legal para o impeachment. Até quando? Os indicadores econômicos vão de mal a pior e a insatisfação popular se fará sentir de maneira cada vez mais intensa, ainda mais com o arrocho fiscal do Joaquim Levy visivelmente fazendo água e a desconfiança do empresariado aumentando cada vez mais (o que o faz jogar na retranca, demitindo funcionários e adiando investimentos até o quadro se aclarar). 

Como a necessidade é a mãe da invenção, mais dia, menos dia, se encontrará o pretexto formal para dar fim a uma situação insustentável.

Repito meu alerta: todo cuidado é pouco com os protestos marcados para daqui a um mês, pois qualquer confronto que produza vítimas fatais poderá servir como estopim para uma tentativa, aí sim, golpista.

Em médio prazo, contudo, não vejo nenhuma possibilidade de Dilma terminar o mandato caso continue teimosamente insistindo nos erros cometidos. Se quiser desarmar a bomba antes que a contagem regressiva chegue ao fim, precisará dar uma guinada de 180º na política econômica, demitindo Levy e buscando uma saída da crise econômica coerente com as tradições históricas do PT e com a posição que ela mesma defendeu em campanha. A brincadeira de eleger-se com a esquerda e governar com a direita, repetida demais, já perdeu a graça e cansou. É a hora da verdade.

Se o seu defenestramento se tornar inevitável, bem melhor será ela renunciar antes disto, não concedendo à direita o triunfo apoteótico de haver conseguido seu impedimento. Uma cartada possível: tentar articular uma dupla renúncia (de Michel Temer também), para forçar a convocação de novas eleições. Seria, aliás, a forma mais sensata e com chance de frutificar, no sentido de virarmos esta página confusa e desalentadora da nossa História.

Quanto ao parlamentarismo, não pode ser novamente adotado oportunisticamente para resolver um problema imediato. Muito menos sem o endosso do eleitorado, mediante novo plebiscito --e ainda assim, para viger depois de 2018, quando acaba o mandato presidencialista que o eleitorado concedeu a Dilma.

Eis a coluna do Clóvis Rossi, Uma putrefação lenta demais: 

A percepção externa da crise brasileira está bem retratada na revista peruana "Caretas", cujo número mais recente diz que a Lava Jato "é a mais importante investigação anticorrupção na história brasileira e latino-americana".

É dizer muito quando se conhece como a história latino-americana é prenhe de escândalos formidáveis de corrupção.

O ponto alto do escândalo em curso foi a abertura de investigação a respeito de Luiz Inácio Lula da Silva, notícia que não escapou a nenhum jornal mais ou menos relevante do planeta.

"The New York Times" deu, aliás, um título significativo: "Brasil acrescenta ao inventário dos escândalos de corrupção a investigação de um ex-presidente".

Já estamos, pois, pelo menos aos olhos de um dos grandes jornais do planeta, com um dossiê tão formidável de corrupção que se transformou em inventário –algo que usualmente se faz post-mortem.

É natural, em assim sendo, que o público brasileiro sinta um cheiro nauseabundo de putrefação do ambiente político.

Claro que sempre é preciso ressalvar que todo mundo é inocente até prova em contrário –e a delação premiada não é suficiente como prova.

Mas o inventário a que se refere "The New York Times" está durando tempo demais, sem que haja culpados em definitivo, condenados pela Justiça ou inocentes definitivamente declarados, depois das investigações competentes.

É urgente acelerar as coisas, sem, claro, abandonar todas as cautelas que garantam uma investigação limpa e legítima e a preservação integral do direito de defesa.

Está na hora de o Judiciário, até agora o único dos três Poderes cuja cúpula não foi colocada sob suspeição, criar uma força-tarefa, em coordenação com o Ministério Público e a Polícia Federal, para encerrar o "inventário", mandando para a cadeia quem merecer e passando atestado de bons antecedentes para quem for inocente.

Um país, qualquer que seja, não pode conviver eternamente com a suspeita de que seus principais líderes e alguns de seus principais empresários são corruptos.

Como diz o subtítulo do artigo de sexta-feira, 17, de Pedro Luiz Passos, presidente do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial, "sem solução do imbróglio político em que o país se meteu, a economia não voltará a crescer".

Uma parte importante do imbróglio é dada pela discussão cada vez mais escancarada sobre uma eventual defenestração da presidente Dilma Rousseff.

É importante deixar claro, nesse capítulo, que impeachment não é golpe, pela simples e óbvia razão de que está previsto na Constituição e –como diria o Conselheiro Acácio– o que é constitucional não é golpismo.

Feita essa ressalva, é indecente tratar do afastamento da presidente pelas costas, em conversas de bastidores entre altas autoridades.

Impeachment é algo que se tem de encarar de frente. Se alguém acha que há razões que justifiquem a abertura do processo (eu acho que não há), que as apresente de peito aberto no foro adequado.

Seria a única maneira decente de encerrar pelo menos parte desse sórdido "inventário". 

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