domingo, 15 de março de 2015

A REDEMOCRATIZAÇÃO PELA METADE E O INQUALIFICÁVEL GOVERNO DE SARNEY FORAM OS LEGADOS DE TANCREDO NEVES

"Algo deve mudar, para que tudo continue como está"
(Lampedusa)

Não, não serei eu a tecer loas à transição manipulada que deu fim à ditadura militar sem mudança real na composição do poder (só nos métodos...) e sem que deixassem o povo decidir quem ele queria colocar no lugar do último general ditador.

Nem endeusarei --jamais!-- o político conservador com carisma zero que preferiu ver os brasileiros derrotados mais uma vez, desde que isto lhe permitisse apropriar-se da faixa presidencial sem passar pelo teste das urnas

Foi de arrepiar a campanha das diretas-já, desenvolvida pela cidadania para convencer o Congresso Nacional a aprovar a emenda Dante de Oliveira, que restabelecia imediatamente as eleições diretas para presidente da República.

Houve uma série de grandes comícios nas nossas principais capitais, alguns deles reunindo até 1 milhão de brasileiros que não suportavam mais a bestialidade & boçalidade impostas pelos golpistas de 1964.

As minhas melhores lembranças são:
Nas urnas, Tancredo não daria para a saída contra Lula.
  • o mar de camisas amarelas sinalizando a volta da esperança; 
  • o incrível tour-de-force de Leonel Brizola que, em função da mesquinha disputa de espaço político no campo da esquerda, começou sob vaias seu discurso numa manifestação das diretas-já na Praça da Sé (SP) e, com sua fala empolgante, conseguiu colocar o público a seu favor, terminando sob aplausos generalizados; 
  • e a promessa do craque Sócrates num comício-monstro do Anhangabaú (SP), de que, caso fosse restituído ao povo brasileiro o direito de escolher seu presidente, ele ficaria aqui para contribuir na redemocratização, recusando a proposta astronômica da Fiorentina.
Infelizmente, o Congresso rejeitou em abril/1984 a Dante de Oliveira e a eleição acabou sendo, mais uma vez, indireta. 

Aí, parte dos parlamentares que haviam frustrado a vontade popular abandonou o partido da ditadura (PDS) e formou uma nova agremiação (o PFL, depois DEM) que, unida ao PMDB, assegurou a vitória do peemedebista Tancredo Neves no colégio eleitoral.
Nas urnas, o carismático teria atropelado o apático.

Os vira-casacas de última hora receberam as recompensas de sempre.

Um dos piores deles era José Sarney,  que presidia o PDS e estimulou a dissidência que viraria PFL... mas ele próprio se filiou ao PMDB, provavelmente para tornar mais digerível sua indicação para vice na chapa de Tancredo, que, evidentemente, já teria sido articulada nos bastidores.

A Presidência acabou lhe caindo no colo: como Tancredo, vitimado por uma infecção generalizada, nem sequer pôde assumir (Deus castiga!), o primeiro presidente pós-ditadura acabou sendo alguém que, meses antes, era um dos mais servis porta-falácias e lambe-coturnos dos militares.

E as perguntas que não querem calar:
  1. quando, exatamente, esses congressistas de origem  arenosa  decidiram desembarcar da canoa furada da ditadura?
  2. foi só depois de eles terem assegurado, com seus votos, a rejeição da emenda Dante de Oliveira?
  3. ou já tinham esse projeto em mente, tendo voltado as costas ao povo para depois obterem bom preço nas barganhas com o PMDB?
Sua herança foi maldita
Nunca tive a menor dúvida de que o jogo foi de cartas marcadas e terminou como o carteador queria.

O certo é que, pelo voto popular, daria Brizola ou Lula; pela via indireta, no infame tapetão, deu Tancredo.

A grande imprensa, sob a batuta da Rede Globo, tudo fez para vender o conceito de que tal saída da ditadura pela porta dos fundos era o coroamento das diretas-já. Fomos poucos os que percebemos o embuste e, em meio à euforia orquestrada, denunciamos que tinha sido, isto sim, o resultado da traição às diretas-já.

O auê saudando a Nova República foi poeira colorida atirada nos olhos dos brasileiros, que acabaram engolindo gato por lebre: uma redemocratização pela metade, com expressiva participação de cúmplices da ditadura, ao invés da verdadeira ruptura com o totalitarismo que a aprovação da emenda Dante de Oliveira teria propiciado.

Vai daí que não se investigaram as atrocidades cometidas pelo regime militar, nem se julgaram os criminosos (que haviam anistiado preventivamente a si próprios).

E, por se ter deixado passar o momento ideal para a apuração e punição dos responsáveis por tais episódios infames, hoje salta aos olhos que isto jamais virá a ocorrer.

2 comentários:

Anônimo disse...

nunca me passou na garganta esse "tancredo"sempre por tras dos acordinhos excusos de bastidores,como o parlamentarismo e a inclusao do sarney(arena)no pmdb,pra a direita nao largar a batuta,oque me doi nessa epoca è o simples fato da emenda ser abortada,pelo que lembro,nao terminou de ser votada,foi pior que golpe de estado,como se vai adiante com um papelao desses?mas oque mais me preocupa sao os cliches usados em declaraçoes pelo sobrinho do "dr: tancredo",que seduzem os reaças enrustidos.

Anônimo disse...

eu nao lembro muito bem mas,a noite que a emenda foi votada,nao passou muita coisa nos telejornais,a nao ser o povo e os artistas globais presentes em plenario chorando e cantando o hino nacional,voce conhece algum fato historico que aconteceu em brasilia e nao foi publicado aquela noite,custo a crer que nos tiraram o direito legal de escolher o presidente e ficou tudo sò em lagrimas e frustraçao,se conhece conte aqui para nós,companheiro.

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