segunda-feira, 30 de junho de 2014

DEDICO ESTA CANÇÃO AOS BRAVOS GUERREIROS DA SELEÇÃO BRASILEIRA

"Por que não chorar
quando se morre de desgosto?
Por que não gritar
quando lhe apertam o pescoço?
Faça alguma coisa
antes de ver o fim do poço.
Diga uma palavra 
ou, pelo menos, desespere.

Pelo menos chora, 
chora o seu medo.
Sangra sua dor,
sangra sua dor!"

(Sirlan, "Se você quiser chorar")

MUNDIAL 2014/18º DIA: O FAVORITISMO É LARANJA.

A Holanda mostrou como uma seleção de verdade enfrenta as dificuldades, ao conseguir uma virada espetacular sobre o México no Castelão. Manterá os 100% até o fim da Copa?

Evidentemente, o calor de 32º a prejudicaria mais do que aos astecas. Assim, passou o 1º tempo inteiro poupando forças e, embora tenha tomado alguns sustos, manteve a situação sob controle. Poderia até ter saído com a vantagem, se o soprador de apito português houvesse assinalado um pênalti clamoroso sobre Robben, atingido sucessivamente por dois adversários.

Logo no início da segunda fase, contudo, Giovani dos Santos fez um golaço ao arrematar de fora da área, mesmo cercado por três adversários. 
Frieza de Huntelaar para decidir aos 47' do 2º tempo

Foi uma desagradável surpresa para os laranjinhas, pondo por terra seu plano de acelerarem o jogo na etapa final e vencerem com facilidade. 

O técnico Van Gaal fez as alterações corretas para tornar seu selecionado mais agressivo, inclusive sacando Van Persie que, aos 30 anos, mostrava sentir os efeitos da canícula.

Do outro lado, o treinador Miguel Herrera consentiu (disse que os jogadores o fizeram por conta própria) no recuo do México para segurar o resultado, o que quase nunca dá certo.

O empate demorou a sair por causa de um milagre e outras boas defesas do goleiro Ochoa, mas Robben crescera de forma impressionante e desequilibrava o jogo. A atônita defesa mexicana acabou deixando Sneidjer desmarcado, na linha de área. Ele apanhou um rebote e, com um petardo no canto, fez também seu golaço, aos 44'. O ótimo Ochoa nem se mexeu, pois de nada adiantaria.
Frente a frente, os dois melhores em campo.

A Holanda, claro, não queria a prorrogação, e foi pra cima dos mexicanos com tudo. Robben fez um carnaval na linha de fundo e, quando puxava a bola para ganhar condições de arremate, o precipitado Rafa Márquez colocou a perna no caminho. Pareceu-me que o holandês poderia pular, mas preferiu ir ao encontro do obstáculo para caracterizar o pênalti. Quem manda o outro ser tão estabanado numa hora dessas?! 

Huntelaar fez uma cobrança seca e indefensável, aos 47'. A Holanda deu uma demonstração de força que confirma sua condição de principal candidata ao título. O México jogou como nunca durante 50 minutos, mas depois perdeu como sempre.

ANTES QUE EU VOLTE A SER NADA

No jogo do Nhô Ruim contra o Nhô Pior, a Grécia conseguiu não vencer uma Costa Rica que estava com dez jogadores desde os 21' do 2º tempo, quando Duarte foi merecidamente expulso. Ou seja, contando a prorrogação, teve uns 55 minutos para garantir a vaga com a bola rolando. Sua incompetência foi castigada.
Classificação dramática: Costa Rica chegou onde podia.

O placar ficou no 1x1 do tempo normal. Na decisão por pênaltis, o goleiro costarriquenho Navas, que já vinha sendo o melhor jogador em campo, defendeu a forte cobrança de Gekas e resolveu: 5x3 para Nhô Ruim.

A Holanda já está nas semifinais. O próximo jogo será treino.

De nove pênaltis, gregos e costarriquenhos deixaram de converter apenas um -mesmo assim por mérito do goleiro, e não por demérito do cobrador. Uma lição dos pequenos para certos grandes que  vacilam nos momentos cruciais. O comentarista internacional Clóvis Rossi acertou na mosca ao escrever que o Brasil foi "medíocre até nos pênaltis (errar dois em cinco é feio)"...

ESTOU COM O PEPE MUJICA E NÃO ABRO

"A Fifa é um bando de velhos filhos da puta. Poderiam ter punido [o atacante Luis Suárez], mas não aplicado sanções fascistas."
(José Alberto Mujica Cordano, um ex-guerrilheiro que não se deslumbrou com o poder nem trocou a palavra franca de revolucionário pela linguagem das conveniências e leniências, tanto que, para o povo uruguaio, continua e continuará sendo sempre o companheiro Pepe)  

sábado, 28 de junho de 2014

MUNDIAL 2014/17º DIA: BRASIL BALANÇOU, MAS NÃO CAIU.

Se, num Mundial disputado aqui, nosso herói é o goleiro, alguma coisa vai muito mal...
O travessão no apagar das luzes, a trave na cobrança de pênaltis e uma jornada inspirada do goleiro Júlio César salvaram o Brasil da suprema humilhação de ser eliminado do Mundial disputado em casa por um velho freguês sul-americano.

Após o 1x1 no tempo normal, 0x0 na prorrogação e 2x3 nos pênaltis, a seleção chilena sai glorificada, pois jogou de igual para igual com o pentacampeão, conseguiu reequilibrar a partida depois de ter tomado o gol e por um tris não viu recompensada a abnegação de seus atletas (que estavam visivelmente exaustos na prorrogação).

Nosso selecionado, pelo contrário, frustrou as esperanças de melhora ensejadas pela ilusória goleada sobre Camarões e tem de mudar quase tudo, da noite para o dia, se não quiser cair no abismo com o qual flertou neste sábado.
Dos jogadores do Barcelona que estavam em campo...

Os dois laterais são fracos na marcação e não têm feito grande coisa no apoio ao ataque.

O meio-de-campo só funciona na parte defensiva, mostrando total incompetência para fazer a bola chegar redonda aos atacantes. Os chutões varzeanos desferidos da retaguarda (recuso-me a utilizar o eufemismo ligação direta...) são patéticos num escrete que já teve Jair Rosa Pinto, Didi, Gerson, Falcão e outros que tais. 

Faz um bom tempo que não priorizamos a formação de jogadores aptos a cumprirem o papel de cérebros e maestros da equipe. Então, nada há a estranhar que nossa seleção hoje se mostre... descerebrada e desafinada! Ver os chilenos botando a bola no chão e os brasileiros apelando pro bumba-meu-boi quase me fez chorar.

Hulk só se salva pela transpiração, pois não tem qualidade técnica para vestir a gloriosa camisa amarelinha. A falha no gol de Alexis Sánchez foi ocasional, mas suas limitações se evidenciam partida após partida. [Também não se deve recriminá-lo por haver batido mal o pênalti que jamais deveria ter cobrado, pois estava em péssimas condições emocionais, tentando afoitamente compensar o erro cometido.] 

Fred, centroavante à antiga que não tem mais lugar no futebol atual, além de já sentir os efeitos da idade, só continua titular por teimosia do Felipão. E o desengonçado Jô, meramente mediano desde os tempos do Corinthians, conseguiu ser pior ainda. 
...só um se destacou.

Poderíamos, claro, atuar com um falso centroavante, mas esta saída óbvia se choca com a intransigência do treinador. Racionalidade nunca foi o forte dele.

Neymar se apequena quando a seleção mais depende dele. No 1º tempo, duas vezes teve o gol à sua disposição e refugou, preferindo dar mais um drible. 

E precisa parar de bater pênaltis: esperar que o goleiro escolha um canto para tocar no outro só funciona quando o arqueiro se precipita, como foi o caso de Bravo. Em 1986, contra a França, Sócrates aprendeu amargamente que, se o goleiro permanece estático, o atacante não tem mais impulsão para desferir um arremate forte.

Deus foi brasileiro desta vez, pois poucos centímetros determinaram que o arremate de Pinilla, no finzinho da prorrogação, explodisse no travessão ao invés de morrer nas redes. Mas, quem vive perigosamente acaba morrendo precocemente...

COM CAMISA AMARELA, JOGANDO UM FUTEBOL INSINUANTE, 
DE ENCHER OS OLHOS DO TORCEDOR. PENA QUE É A COLÔMBIA...

Enquanto peladeiros nos envergonhavam no Mineirão, um selecionado com uniforme parecido exibia no Maracanã o nosso futebol de outrora, com direito a golaço de James Rodriguez. 

James Rodrigues agora é o artilheiro da Copa
Outro de nossos tradicionais fregueses, o insinuante selecionado colombiano está bem melhor do que nós neste Copa e, se não sentir o peso da camisa, poderá nos castigar pelo que deixamos de ser. Hoje nem jogamos um futebol bonito, nem conseguimos nos tornar verdadeiramente competitivos; ficamos num intragável  meio-termo. 

De resto, a Colômbia mereceu amplamente os 2x0, mas os uruguaios podem queixar-se, com toda razão, de que a Fifa os derrotou nos bastidores bem antes dos adversários no gramado. 

PELÉ, QUE FRATUROU UM ADVERSÁRIO DE PROPÓSITO, APLAUDE O RIGOR DA FIFA CONTRA SUÁREZ!!!

Muitos seres humanos justos e íntegros se manifestaram contra o descalabro da Federação Internacional de Falcatruas Associadas que, não contente em excluir o melhor jogador uruguaio do Mundial 2014 por motivos que suspeito serem os mesmos da expulsão do argentino Rattín na partida contra os anfitriões ingleses em 1966 (o soprador de apito, juro, deu o "olhar em seu rosto" como um dos pretextos!), tratou Suárez qual um pestilento a ser mantido em quarentena, bem longe dos estádios.

Ao meu ver, a Fifa carregou nas tintas para fazer de conta que foi o falso moralismo e não o calculismo que inspirou a aberrante e inquisitorial sentença. Me engana que eu gosto.

Até mesmo a dita vítima, o chorão Chiellini, considerou "excessiva" a punição. E foi Maradona o autor da melhor frase: "Quem ele matou? Por que não o mandam para Guantánamo?". 

Não fico nem um pouco surpreso em encontrar o Pelé na posição antípoda e antipática. Alegou que, caso não houvesse rigor, episódios desse tipo poderiam se repetir durante a Copa.

Sorte dele que, naquele amistoso entre Brasil e Alemanha em 06/06/1965, a Fifa aplicou critério bem diferente: o alemão Giessmann disputou uma bola dividida com a rispidez habitual dos europeus, mas sem maldade, e Pelé, propositalmente, quebrou a perna do coitado, com toda a maldade do mundo.

Meninos, eu vi (pela TV, que transmitiu para São Paulo a partida disputada no Maracanã e vencida pelos canarinhos por 2x0).

Daquela vez, a expulsão bastou. Se encarado com o rigor extremo aplicado à besteirinha do Suárez, o episódio justificaria até o afastamento definitivo de Pelé dos gramados. Afinal, um coice que fratura o adversário é infinitamente mais grave do que uma mordida que nem sangue tirou.

Só que alguns sempre foram mais iguais para a Fifa. Que o diga Zidaine, cuja eleição como melhor jogador do Mundial 2006 foi mantida apesar de ele ter agredido com uma cabeçada o italiano Materazzi e sido expulso na partida final.

E há o preconceito, o terrível preconceito, tão bem descrito nestas palavras inspiradas do presidente Pepe Mujica:
"Os jogadores geniais frequentemente nascem nas entranhas do pobrerio. Nem sabem a alegria que nos dão. (...) A maioria deste mundo são os esquecidos, os que não têm voz. Quando um deles sobe, incomoda".

sexta-feira, 27 de junho de 2014

UM FILME QUE NINGUÉM QUERERÁ VER NESTE SÁBADO: "BYE BYE BRASIL"

A pausa na Copa do Mundo me deixou sem assunto, mas, não querendo quebrar a sequência de atualizações diárias, resolvi publicar este post que há algum tempo vinha guardando, à espera do momento mais propício.

Trata-se de mais um filme para ver no blogue, desta vez do bom cinema nacional que foi sumindo, sumindo, sumiu: Bye bye Brasil (d. Cacá Diegues, 1979), sobre os mambembes que entretinham o povo dos grotões antes da imposição avassaladora dos padrões (ou seria melhor dizer grilhões?) televisivos.

De quebra, a Caravana Rolidai percorre a Transamazônica, de tão triste memória, chegando próxima de onde aconteceu uma das maiores tragédias brasileiras. "Quando eu me banho no meu Araguaia/ E bebo da sua água sangre fria/ Bichos caçados na noite e no dia/ Bebem e se banham eles são comigo", cantou o Ednardo.

É um dos melhores papéis de José Wilker, ator que, paradoxalmente, foi mais uma vítima do toque de sadim da TV (no caso, da globalmente mais nociva de todas as tevês...). Ele desperdiçou seu talento em telenovelas e em produções cinematográficas com estética de telenovelas, acabando por não deixar nenhuma verdadeira obra-prima para trás.

Enfim, sua atuação como Lorde Cigano é uma das que guardo com carinho em minhas lembranças de cinéfilo. Espero que ocorra o mesmo com vocês.

Por último, não vejam nenhuma intenção de secar a seleçãozinha, até porque o meu palpite é de que ela vencerá o Chile.

Mas, como tenho espírito pasquineiro e considero que nada deve ser levado a ferro e fogo, poderei, sim, fazer algum gracejo no título e chamadas para as redes sociais. 

Como diria o Caetano Veloso, por que não?

Ou, como diria o Chaves, foi sem querer, querendo...

MUNDIAL 2014/15º DIA: AS ARMAS E OS BARÕES ASSINALADOS...

...Que da gloriosa pátria lusitana,
vieram como nunca dantes animados.
Contra seleções do nível de Gana
Não foram nada além de esforçados,
tropeçando em casca de banana!
(Celsões)

Os gajos devem estar mortos de vergonha, por terem perdido a vaga para uma seleção com tradição futebolística nem de longe comparável à deles. 

Infelizmente, o brasileiro (naturalizado) Pepe tem grande parte da culpa: falhando no 2º gol alemão e se fazendo expulsar logo depois, deu decisiva contribuição para Portugal iniciar o Mundial com o pé esquerdo (0x4). O saldo negativo acabaria sendo decisivo para a eliminação.

Mas, pior mesmo foi não ter conseguindo impor-se ao amadoresco selecionado estadunidense. No jogo que precisava vencer, perdia até os últimos minutos. O empate (2x2) que a ingenuidade do adversário lhe propiciou só serviria para prolongar sua agonia (cantei esta bola...).

A catástrofe se consumou quando foi incapaz de golear Gana, vencendo-a por míseros 2x1, enquanto os EUA conseguiam perder dos alemães apenas pela contagem mínima. Os EUA ficaram com saldo 0 e Portugal, -3.

Azar de Cristiano Ronaldo que, com 29 anos, talvez não tenha outra chance de ganhar uma Copa do Mundo. Nesta 5ª feira, ele pareceu estar finalmente recuperado da contusão causadora do seu desempenho opaco nas partidas anteriores. Finalizou várias vezes, mandou uma bola na trave, exigiu boas defesas do goleiro Dauda, mas também desperdiçou uma chance incrível ao cabecear à queima-roupa com mais força do que direção, em cima do goleiro. 

Curiosamente, o mesmo Dauda lhe ofereceu numa bandeja o gol de desempate (2x1), aos 35' do 2º tempo: ele espalmou infantilmente uma bola alta que poderia ter segurado, mandando-a na direção da marca de pênalti, bem onde estava o CR7.

Mas, já não havia tempo para os gajos fazerem os três gols que os salvariam do vexame.

A Alemanha derrotou os EUA por 1x0, novamente sem convencer. Chegou até a tomar sufoco no finzinho. Quem esperava ver blitzkriegs em todas as partidas deve estar pedindo seu dinheiro de volta...

A Argélia  lutou muito para empatar com a Rússia por 1x1, garantindo o direito  de levar uma surra dos alemães nas oitavas. O goleiro Akinfeev nega que o raio laser emitido contra seu rosto tenha sido responsável pela vacilada no tento argelino, mas o juiz turco jamais deveria ter autorizado a cobrança da falta naquelas condições.

Finalmente, a Bélgica manteve os 100% de aproveitamento ao vencer preguiçosamente a Coréia do Sul por 1x0. Mereceu as vaias recebidas.

BALANÇO - O destaque individual da fase de grupos foi, claro, Messi, que desencantou de vez neste Mundial: não só marcou quatro vezes, mas foram quatro golaços. E coletivo, a Holanda, chegando até a lembrar a laranja mecânica que deslumbrou o mundo em 1974.

O grande jogo das oitavas deverá ser Holanda x México, com óbvio favoritismo da primeira, mas possibilidade de surpresa. É o melhor escrete mexicano que já vi disputar uma Copa.

São francas favoritas as seleções da Alemanha (que pega a Argélia), Argentina (x Suíça), Bélgica (x EUA), Brasil (x Chile), Costa Rica (x Grécia) e França (x Nigéria). 

O Uruguai deveria passar pela Colômbia, mas a exclusão de Suárez tornou a partida imprevisível.  Feras feridas, os uruguaios poderão ganhar em motivação o que perderam em talento.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

LINCHAMENTO DE SUÁREZ: MORALISMO OU MUTRETA?

Fiquei enojado com a decisão da Fifa, de punir de forma extremamente exagerada uma ninharia (nenhuma gota de sangue foi derramada, ao contrário de coices que comprometem a carreira dos atletas atingidos e quase nunca valem ao agressor nove jogos de gancho e quatro meses de banimento do futebol!). 

Pior, tenho certeza absoluta que isto se deu em função muito mais do escândalo que causou/ensejou entre preconceituosos em geral e interessados na queda do Uruguai em particular.

Não excluo a possibilidade de que estejam se repetindo os acasos favoráveis aos anfitriões (daquela vez, os ingleses) que marcaram a mais vergonhosa das Copas, a de 1966. Por enquanto foram três: os dois gols surrupiados do México na estréia diante de Camarões, o pênalti inventado a favor do Brasil contra a Croácia e, agora, a exclusão de Suárez de um possível confronto com o Brasil nas quartas. Se houver mais coincidências deste tipo, concluirei que não passam de mera intencionalidade...

Quanto ao padrão Fifa de honestidade, o fato de haver respaldado a decisão do juiz que garfou a Croácia diz tudo. Foi, claro, uma tentativa canhestra de afastar as suspeitas de armação. Assim como ter imposto pena tão draconiana a Suárez não passa de indignação simulada para dar verossimilhança a uma decisão que leva todo jeito de ser tido tomada apenas e tão somente para afastá-lo do Mundial em curso. 

Causa-me profunda mágoa o fato de que assim praticamente se encaminhou a eliminação do bravo selecionado celeste

Então, publico na íntegra um digno e exemplar artigo do colega Vitor Birner, que aprovo em gênero, número e grau. Assim como recomendo seu texto seguinte sobre o mesmo assunto, Punição exagerada de Suárez parece ação de marketing, não de justiça esportiva (clique aqui p/ abrir).

Malditos os parasitas que, com suas penadas burocráticas, desconstroem o que os artistas da bola forjaram arduamente nos gramados que são o palco de glória das chuteiras imortais!!!

A PUNIÇÃO DE SUÁREZ E OS GRANDES PECADOS DOS 'PUROS'

“Tem que ser banido do futebol”; “É um mau caráter”; “Precisa ser internado”.

Eis algumas afirmações que li e escutei nas redes sociais e em programas de televisão que comentaram a mordida de Suárez em Chiellini, na vitória do Uruguai por 1×0 diante da Itália.

Os inquisidores, sedentos por justiça, bradam a sua decisão após julgarem e condenarem o ser humano que não conhecem.

O pecado do atacante, que nem foi original, pois ele mesmo já havia dentado os adversários quando vestia as camisas do Ajax e do Liverpool, o transformou, para muitos, no vilão da Copa do Mundo.

E eles querem vingança, o que é bem diferente de justiça.

Uruguai 1xo Itália não foi o jogo mais bem jogado da Copa do Mundo.

Não merece e nem será lembrado pela qualidade dos lances, beleza no trato da bola, gols espetaculares, defesas difíceis dos goleiros ou grande atuação de qualquer atleta que esteve em campo.

Mas nenhum confronto desta Copa do Mundo teve a alma do futebol tão viva.

O espírito do esporte mais popular do mundo se fez presente e seu brilho ofuscou o contato do ser humano com a bola.

Resumir o futebol às habilidades dos atletas, questões táticas e acertos ou erros dos jogadores quando tocam na gorduchinha é reduzi-lo a algo mecânico, matemático, robotizado e quase desumano.

É transformá-lo no zumbi moribundo que caminha sem alma em busca de objetivos como vitórias, dinheiro e sucesso.

Quem se acha superior pelo esforço para  se enquadrar em todos os padrões sociais desta sociedade pouco construtiva, cheia de preconceitos e necessitada de personagens de carne e osso para idolatrar ou julgar e punir, vaticinou a sentença irrevogável e mantém o lento processo de assassinato do futebol.

Reprovo o que Suárez fez, mas só posso condená-lo futebolisticamente, pois colocou em risco a classificação uruguaia.

O árbitro tinha que expulsá-lo.

Tirante isso, achei bizarro e divertido o ato impulsivo.

Cresci indo em estádios de futebol todas as semanas. ‘Cornetei’ em vestiários. Conheci a podridão dos bastidores. Joguei em diversos tipos de ambientes por amar fazê-lo. Minha paixão virou o meu ganha-pão. Frequento os terrões da várzea até hoje. Um dos meus prazeres é ser técnico de um time varzeano.

Eu entendi a reação daquele indivíduo, naquele momento da guerra psicológica, e a reprovei pela razão que você leu no post.

Tenho absoluta convicção que não pude ver, pela televisão, diversas coisas fora dos lances de bola.

De nenhum lugar, seja do banco de reservas, dentro do gramado ou na arquibancada, a gente consegue enxergar.

Chiellini, por exemplo, é um zagueiro que bate muito. Dá porrada nos adversários quando a redonda está longe dele.  Xinga e provoca. Sabe fazer tudo isso. É discreto, funcional, competente e competitivo.

Não o condeno por nada.

No mundo lúdico do futebol tudo isso pode, desde que o árbitro não flagre tais ações.

Os limites entre as quatro linhas são diferentes dos que precisam ser adotados fora dela.

Eles existem:

Não pode quebrar o adversário.

Não pode ofender por causa da raça (Suárez já foi condenado por isso no caso com Evra, nega até hoje a atitude racista e se recusa a cumprimentar o francês.

Não sei o que houve de fato, mas os companheiros do atacante, sejam negros, brancos o descendentes de índios, costumam elogiá-lo), da orientação sexual ou opção religiosa.

Mas provocar para desestabilizar, faz parte.

E isso, no calor da disputa feita com entrega pessoal que de vez em quase ultrapassa os próprios limites do indivíduo, leva os menos preparados na parte emocional a tropeçarem como fez Suárez.

Tais situações compõem o folclore do futebol.

Ainda bem que existem!

Repito: é um mundo lúdico e a magia esta nisso.

De maneira prática e realista, a entrada de Marchisio, merecidamente expulso, foi pior que a cena sui generis proporcionada por Suárez.

Podia quebrar a perna do rival, prejudicar a saúde dele intencionalmente ( de maneira casual faz parte do risco de quem se propõe a ser jogador de futebol) porque chegou por cima da bola, na canela, e provocar muita dor e sacrifício por meses.

Chiellini está inteiro depois da mordida.

Qualquer cotovelada proposital no rosto também é pior, pelos mesmos motivos, que o destempero de Suárez.

Me parece claro que a condenação pesada exigida por parte da opinião pública tem mais a ver com a crença num padrão do que com a preservação de integridade física;

Com o choque gerado pelo impacto estético incomum da cena mais do que com as consequências da atitude.

Com a incessante necessidade de condenar para satisfazer mazelas pessoais mais do que com o cada vez mais raro desejo de entender, contribuir e se divertir. (por Vitor Birner, no seu blogue).

MUNDIAL 2014/14º DIA: DANDO UM BICO NA MÁ FASE, MESSI É O CRAQUE DA COPA.

A primeira faz tchan...
A Argentina começa a exibir um bom jogo coletivo, com Di Maria cada vez melhor e, claro, Messi provando também no Mundial que é o futebolista nº 1 deste século, assim como Pelé foi o do século passado. 

O quadrado mágico, completado por Iguaín e Agüero (ou Lavezzi) poderá ainda ser a sensação desta Copa, principalmente se o técnico Alejandro Sabella efetivar o reserva que tem mostrado muito mais serviço do que o titular. Apesar de Messi  haver sido o grande destaque dos 3x2 contra a Nigéria, os demais também deram muito trabalho ao goleiro Enyeama. 

Quanto à defesa argentina, embora nível inferior ao meio-de-campo e ataque, não deve ser considerada uma peneira só porque tomou dois gols dos africanos. Musa também fez excelente partida e, pelo menos no primeiro tento, o mérito foi todo dele, pois desferiu um arremate simplesmente brilhante!

E Messi está voltando ao esplendor, depois de passar mais de um ano prejudicado pelas sucessivas contusões. Nesta 4ª feira deu assistências preciosas, ditou o ritmo do ataque, exigiu defesas difíceis de Enyeama e fez dois golaços: estufando as redes com um petardo certeiro após Di Maria ter carimbado a trave e cobrando uma falta de média distância com a perfeição de um Didi ou Zico.

...e a segunda faz tchun!
Não por acaso, Argentina e Holanda têm 100% de aproveitamento: são os selecionados com mais pinta de campeão. 

Quanto à Colômbia (também 100%) e à Bélgica (que venceu suas duas partidas e fará a 3ª como franca favorita contra a Coréia do Sul), só têm encontrado galinhas mortas  pela frente..

Torçamos para que o técnico Turrão... quer dizer, Felipão, mude finalmente alguns titulares, para tornar nosso selecionado mais competitivo. Do jeito que está, tende a cair logo no seu primeiro grande desafio. Devemos muito mais nos preocupar com as vulnerabilidades expostas diante do México do que nos entusiasmar com a goleada sobre os crustáceos coitadezas...

De resto, a França confirmou a minha suspeita de que suas goleadas sobre Honduras (3x0) e Suíça (5x2) se deveram, principalmente, à pouca resistência que encontrou. Mesmo poupando alguns titulares, tinha obrigação de vencer o Equador, ainda mais depois da expulsão de Valência logo no comecinho do 2º tempo. Foi um 0x0 chatíssimo.

A Suíça confirmou sua vaga goleando ninguém... quer dizer, Honduras, por 3x0. Não dará nem para a saída contra a Argentina. 

E a Bósnia pelo menos leva de volta uma vitória na bagagem: 3x1 sobre o Irã. Ambos morreram abraçados.

terça-feira, 24 de junho de 2014

MUNDIAL 2014/13º DIA: URUGUAI CLASSIFICADO, SUÁREZ AMEAÇADO.

Godin, autor do gol que deu o campeonato espanhol ao Atlético de Madri, hoje decidiu de novo.
Pobre Itália! Tinha um selecionado bem promissor, mas não se preparou adequadamente para suportar a canícula do Norte e Nordeste. Com um tiquinho de sorte no sorteio das chaves, provavelmente escaparia do vexame da eliminação precoce, que fez o simpático técnico Cesare Prandelli entregar o cargo.

O craque Pirlo, aos 35 anos, ditou o ritmo contra a Inglaterra, mas não teve forças para conduzir seu selecionado à reação nos dois jogos seguintes, quando foi o adversário quem abriu o placar. E Mario Balotelli volta com o prestígio abalado por haver sido a decepção das duas derrotas fatais, diante da Costa Rica e Uruguai: perdeu um gol incrível contra a primeira e hoje teve de ser substituído no intervalo porque, descontrolado, cavava a própria expulsão.

Foi morno o 1º tempo em Natal, com as duas seleções reservando suas energias para a etapa decisiva. A melhor chance pertenceu ao Uruguai: o veterano Buffon fez duas magníficas defesas consecutivas.  
Não terá sido a 1ª mordida de Suarez, mas...

Uma violenta solada de Marchisio mudou a história da partida. Foi merecidamente expulso no início do 2º tempo e à Itália só restou montar um ferrolho para tentar segurar o empate e classificar-se pelo saldo de gols. Aí o jogo virou uma guerra, com muita pancadaria, catimba o tempo todo e péssima arbitragem.

Mesmo com o juiz mexicano não marcando pênalti claríssimo em Cavani (agarrado e derrubado na área italiana) e Buffon operando um milagre em arremate perfeito de Suárez, o castigo acabou vindo: numa cobrança de escanteio aos 35', o zagueiro Godin subiu muito e cabeceou de costas (!), para decidir.

De resto, a TV mostrou o que pareceu ser uma cabeçada de Suárez em Chiellini e o revide com uma cotovelada, motivos suficientes para a expulsão de ambos, caso o árbitro tivesse peito para isto. Depois, o zagueiro alegou ter sido mordido, mostrando uma marca no pescoço (que pode ser antiga...). O lance está sob análise da Fifa e talvez redunde num gancho para Suárez.

Particularmente, eu detestarei se, com o Brasil passando pelo Chile e o Uruguai pela Colômbia, pegarmos a celeste desfalcada de Suárez, nas quartas. Ao contrário dos Galvões da vida -os quais, microfone em punho, torcem vergonhosamente por contusões e cartões dos adversários seguintes-, eu sempre preferi que minha seleção detonasse rivais com força máxima. 

Mais ainda no caso dos uruguaios: vai ser outra oportunidade de nos vingarmos do maracanazo, depois de já os termos mandado para casa em 1970, com uma maiúscula vitória por 3x1 na semifinal. O tira-teima perderá a graça se o melhor atacante deles não estiver em campo.

A esta altura, já está garantida a presença nas oitavas de cinco campeões mundiais (Alemanha, Argentina, Brasil, França e Uruguai), enquanto os outros três (Espanha, Inglaterra e Itália) soçobraram melancolicamente. 
...se houve mesmo, não foi tão nítida como a de Tyson em Holifield.

Como nenhum foi garfado, não têm do que reclamar, salvo do azar de haverem caído em chaves com rivais fortes e/ou calor excessivo. Mas, sem dúvida, a Copa ficaria bem mais atrativa com os três no lugar, p. ex., da Costa Rica, Grécia e Nigéria ou Irã (que decidem vaga do grupo F).

Nas outras partidas de hoje, a Costa Rica continuou apostando em retranca e contra-ataques, desta vez contra a Inglaterra, que mereceu vencer mas concluiu muito mal as boas oportunidades por ela criadas. Um 0x0 injusto. O jogo entre Costa Rica e Grécia leva jeito de que será o pior das oitavas.

Grécia que só despachou a Costa do Marfim, por 2x1, graças a um pênalti inventado pelo juiz equatoriano aos 47' do 2º tempo. Seu forte são os chutes de média e longa distâncias.

E a Colômbia, mesmo poupando oito titulares, goleou o Japão por 4x1, igualando-se à Holanda como seleção com 100% de aproveitamento. A diferença é só ter enfrentado sparrings, não adversários de verdade. Contra o Uruguai veremos se ela é tudo isso. 

Não descarto a possibilidade de que seja e desta vez se consagre. Mas, o meu palpite é de que acabará atropelada pelos guerreiros que, com corazón, garra y sangre charrúa, conseguiram sobreviver ao grupo da morte.

MUNDIAL 2014/12º DIA: OS CAMARÕES FORAM DEVIDAMENTE ENGOLIDOS.

Prato do dia no restaurante Mané Garrincha
A euforia brasileira com a goleada imposta por nossa seleção aos já eliminados e ingênuos camaronenses foi exageradíssima. Vencemos adversários que, nada mais tendo a perder, jogaram (tentaram, pelo menos...) e deixaram jogar, sem sequer adotarem a precaução mais óbvia de quem enfrenta Neymar, qual seja a de colocar um defensor no combate direto e outro na sobra. 4x1 foi pouco.

Tanto no início do 1º tempo, quanto no do 2º, o Brasil sufocou o adversário, pretendendo marcar logo de cara. Isto deu certo uma vez, na final da Copa das Confederações 2013, e foi suficiente para alertar todos os técnicos que nos encaram. Até o de Camarões! 

Passado o ímpeto inicial, os canarinhos não sabiam mais o que fazer, já que nosso meio-de-campo tem extrema dificuldade para fazer a bola chegar redonda aos pés dos atacantes. Um camaronês solucionou o impasse, permitindo infantilmente que o desarmassem. Aí Luiz Gustavo lançou Neymar que, livre e desmarcado, só precisou dar um tapa na bola. 1x0.

Daniel Alves retribuiu o presente, ao se deixar fazer de gato e sapato junto à linha de fundo. Veio o centro rasteiro e M'Bia concluiu como quis. 1x1. 

Por alguns minutos, a seleção brasileira pareceu ameaçada  pela 56ª colocada no ranking da Fifa. Mas, a história se repetiu: Neymar recebeu totalmente à vontade, deu um corte no zagueiro e chutou no contrapé do goleiro. 2x1, fácil, fácil.
Neymar agradece a Deus pela moleza que lhe deram...

Na segunda etapa, Fred e Fernandinho completaram a goleada anunciada.

Fernandinho substituiu Paulinho no 2º tempo e foi bem melhor. Deverá ser efetivado.

Ramires entrou no lugar de Hulk  aos 17' do 2º e precisaria esforçar-se muito para conseguir ser pior. Pareceu-me, contudo, ter sido um artifício do Felipão para evitar que o substituto deitasse e rolasse em cima dos camaronenses, impondo-se como titular. Bernard seria bem capaz disto. Temo que nossos treinador, tão teimoso quanto ultrapassado, venha a insistir com Hulk nas oitavas. Com isto, poderemos ir pros quintos. Deus nos acuda!

Fred fez um gol que qualquer um marcaria, mais nada. Continua sendo um peso morto para a seleção; atacantes plantados à espera que a bola chegue até eles não têm lugar no futebol atual. É outro que precisa sair, mas Scolari dificilmente sacará.

Daniel Alves não está sequer aparecendo bem no ataque, além de, defensivamente, oscilar entre o ridículo e o desastroso. Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

O peso da camisa brasileira poderá ser suficiente para passarmos pelo Chile nas oitavas: nosso freguês de caderneta andino talvez trema e não repita o futebol extremamente aplicado e taticamente impecável que exibiu diante da Espanha.
...a mesma que o Hulk não soube aproveitar.

Mas, jogando essa bolinha, corremos sério risco de, mais uma vez, não passarmos das quartas.

De resto, no jogo dos já classificados, o Chile não colocou o coração na ponta das chuteiras e foi naturalmente sobrepujado pelo melhor futebol dos holandeses: 2x0. Os laranjinhas conseguiram consertar sua defesa, estão com 100% de aproveitamento e devem ser considerados os principais favoritos ao título -desde que vacilarem na final não tenha se tornado um hábito, afinal já chegaram lá três vezes, saindo sempre com as mãos abanando.

Impressionantes os 3x1 dos mexicanos sobre a Croácia. Atropelaram um adversário que  nos exigiu enormes esforços e apito amigo. E, se dois gols legítimos não lhes houvessem sido surrupiados na partida contra Camarões, os astecas teriam empatado conosco também no saldo de gols. Bem melhor do que a retranqueira Costa Rica, o México é um azarão que pode surpreender.

Finalmente, no jogo dos já desclassificados, os reservas da Espanha tourearam cangurus: 3x0, mais o baile

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O PT TEM SALVAÇÃO?

Não conheço pessoalmente o Gilberto Carvalho, que, a exemplo de Lula, tem origem proletária: foi quando trabalhava como soldador em fábricas do PR e do ABC paulista que ingressou na Pastoral Operária, da qual se tornaria secretário-geral.

Continua até agora à frente de uma Secretaria-Geral, no caso a da Presidência da República. E é alvejado dia e noite pela direita, como seu principal inimigo no governo depois da queda de Zé Dirceu.

Companheiros de Brasília me garantem ter ouvido dele, quando maior era a pressão orquestrada desde a Europa e tão bem secundada por figuras do Judiciário e da grande imprensa brasileira, que considerava "uma questão de honra" salvar o escritor Cesare Battisti da perseguição inquisitorial e vendetta italiana.

Até onde sei, foi GC o petista mais influente a empenhar todo seu prestígio para fazer com que a solidariedade revolucionária prevalecesse sobre a realpolitik na decisão do Governo Lula. 

Havia, sim, quem pouco se importasse com o fato de existirem evidências mil de que Battisti, inocente das acusações mais graves que lhe faziam, estava servindo apenas como bode expiatório e como troféu político para os neofascistas de Silvio Berlusconi. Esses preferiam entregar um companheiro de ideais às feras do que arriscar-se a uma retaliação de governo do 1º mundo -que acabou não vindo, como eu sempre disse que não viria. É um motivo a mais para respeitarmos e admirarmos os que, mesmo no poder, continuaram mantendo sua integridade política e pessoal: eles foram raros!

A entrevista de GC na Folha de S. Paulo desta 2ª feira (23) novamente vem ao encontro das minhas posições, mesmo que ele provavelmente as desconheça. É que pessoas formadas nos mesmos valores tendem a analisar de maneira semelhante os acontecimentos.

Durante todo o julgamento do mensalão, fui reticente quanto à alegação de inocência dos réus petistas, pois os anos em que exerci meu ofício na imprensa do Palácio dos Bandeirantes me permitiram conhecer bem as entranhas putrefatas do poder. Tão bem que seria cínico se fingisse acreditar na ingenuidade de companheiros que são tudo, menos ingênuos. 

Via-os, e vejo-os, não como anjinhos injustiçados por Satã Barbosa, mas sim como militantes que cometeram o erro de incidirem nas práticas usuais da politicalha porque as viam como necessárias para o PT poder governar. Acabaram sujando as mãos, não movidos pela ganância, mas sim sofrendo pessoalmente as consequências da opção do partido de não tentar mais mudar radicalmente a sociedade, preferindo concretizar alguns dos seus objetivos (abdicando de outros) sem uma franca ruptura com o status quo capitalista.

Então, eu pregava a denúncia do dois pesos, duas medidas ao invés da arguição de inocência. Cabia, sim, uma autocrítica pública do partido e dos seus dirigentes por terem se deixado conspurcar (e por terem conspurcado a pureza dos seus ideais) no contato com as práticas corriqueiras da política fisiológica e corrupta. Porque a obstinação em tapar o sol com a peneira apenas convenceria os melhores cidadãos de que os revolucionários de 1968 e seus herdeiros em nada diferiam da podridão característica dos rebentos da política oficial, sendo todos farinha do mesmo saco.

Eu, pelo contrário, sempre coloquei a defesa da integridade dos ideais revolucionários acima da defesa de pessoas. E, como homem de comunicação que sou, sabia muito bem que o povo não acreditaria nas balelas que lhe tentavam impingir. Há um ano estamos vendo, nas ruas e nos estádios, que o povo realmente não acreditou.

Foi uma agradável surpresa para mim encontrar num grão petista tal exercício da reflexão crítica, ao invés de tergiversações e triunfalismo. É algo tão raro que vale a pena reproduzir os principais trechos da entrevista de GC (cuja íntegra pode ser acessada aqui).  

Torço para que haja mais petistas como ele, conscientes do imperativo de se resgatarem os valores originais do partido -aqueles que eu compartilhava fervorosamente três décadas atrás.
A afirmação de que o xingamento contra Dilma não partiu só da "elite branca" foi uma espécie de sincericídio?
Não. Foi muito consciente. Tenho feito esforço enorme para ter muita sintonia com as ruas e para não romper com aquilo que considero justo e honesto, mesmo que me custe. 
...Não nego atos de corrupção que tivemos. Infelizmente, eles aconteceram, têm de ser reprovados. Esses atos nos doem primeiro a nós mesmos. O problema é o tratamento que se dá a erros dos outros, como o mensalão tucano...
Precisamos ter clareza disso e combater, porque, do contrário, começa a ganhar corpo uma opinião cada vez mais ampla de que nós estamos prejudicando o país, de que inventamos a corrupção.
O sr. disse que a imagem de partido corrupto "pegou" em setores mais populares.
Tenho certeza de que o PT tem na sua imensa maioria uma gente muito séria, honesta. Agora, precisamos de fato ter um rigor interno ético muito grande. Lutar desesperadamente pela reforma política para mudar o indutor da corrupção, que é o financiamento empresarial de campanha. Sinto isso na carne.
Na carne?
Porque vejo companheiros que acabam se enrolando muitas vezes nesses processos de corrupção, em grande parte induzidos por uma prática tradicional no país e que antes, insisto, não aparecia, porque não se investigava.
O sr. é responsável pela interlocução com os movimentos sociais, mas hoje o PT paga militância em campanhas.
Acho que que, na justa medida em que nós nos tornamos uma grande instituição, fomos nos burocratizando. O PT trouxe inovações fundamentais para a ampliação da participação das pessoas na política e dar protagonismo a setores populares marginalizados. Mas o vírus da velha política também nos contaminou, em parte.
...precisamos reconquistar o sentido coletivo de fazer política. Reanimar a militância. Na medida em que a gente foi se verticalizando, fomos nos tornando mais pragmáticos, perdendo a nossa mística. 
Os grifos são todos meus, obviamente.

domingo, 22 de junho de 2014

MUNDIAL 2014/11º DIA: OS GAJOS SALVARAM-SE PELO GONGO... OU APENAS PROLONGARAM SUA AGONIA?

Cristiano Ronaldo é o referencial da seleção portuguesa: não está jogando nada e os outros também.
O domingo teve um jogo sonolento com gol no fim e duas peladas com muitos tentos. Nenhum dos seis selecionados tem futebol para ir além das quartas.

Portugal ganhou um presentão aos 5' da partida com os Estados Unidos (num centro sem perigo, o zagueiro Cameron furou grotescamente e o goleiro Howard, ainda por cima, escorregou, deixando o gol aberto para a conclusão de Nani), mas não soube ampliar a vantagem.

Howard voltaria a falhar num arremate de média distância que se chocou contra sua trave, mas se redimiu ao evitar o gol de Nani no rebote. E, no 1º tempo, foi só.

Os estadunidenses voltaram melhor e, aos 9', o zagueiro Ricardo Costa salvou uma bola em cima da linha, com o goleiro Beto já vencido. Dez minutos depois o lateral Johnson acertou um belo chute de fora da área e empatou, com a colaboração de Beto, que fez golpe de vista.

Argelinos comemoram a sova que deram no bêbado  
Sem inspiração e com Cristiano Ronaldo irreconhecível, os gajos tentaram sufocar os EUA, o que deu mais ou menos certo (ficavam rolando a bola de um lado para outro, sem conseguirem penetrar) até os 36', quando, afinal, os gringos foram pra  frente e... desempataram!

Com o relógio chegando ao quinto minuto de acréscimo, o badalado CR7 fez sua única jogada aproveitável da noite: deu um centro para Varela fechar o placar em 2x2.

Com um ponto ganho e déficit de 4 tentos, Portugal agora tem de derrotar Gana, torcer por uma vitória alemã contra os Estados Unidos e torcer mais ainda para que os resultados das duas partidas lhe permitam reverter a vantagem estadunidense no saldo de gols (5).  

Tomar a vaga da Alemanha será mais difícil ainda, pois neste caso a desvantagem a ser tirada é de 8. Noves fora, o gol no apagar das luzes provavelmente só terá servido para prolongar a agonia lusitana.

Existe, aqui também, a possibilidade de acontecer um jogo de compadres na próxima rodada: um empate dará o 1º lugar aos germânicos e a vaga aos estadunidenses.

No sofrível grupo H, os belgas só foram para cima dos russos nos 15 minutos finais e acabaram marcando o gol salvador aos 43'. Estão dentro.

Os argelinos superaram a empolgação dos coreanos do sul, enfiando-lhes um ilusório 4x2:  foram apenas os menos piores. Jogarão pelo empate contra a Rússia, decidindo a 2ª vaga. Para quê? Para nada, pois são ruins demais.

MUNDIAL 2015/10º DIA: ENQUANTO HÁ MESSI, HÁ ESPERANÇA.

O goleirão Haghighi se esticou todo, mas não havia como defender o arremate primoroso de Messi.
Os  pequenos do futebol mundial estão armando bem suas retrancas, que criam imensas dificuldades para os grandes. Assim, já nos acréscimos, o Irã esteve a três minutos de arrancar um inimaginável empate de uma das favoritas da Copa, a Argentina. Como? Atuando com extrema aplicação tática e mantendo os 11 jogadores atrás quando atacado.

Pior, contra-atacou com muito perigo, exigindo três defesas delicadas do bom goleiro argentino Romero. Sabe-se lá o que aconteceria caso tivesse aberto o placar.

Só que, enquanto há Messi, há esperança. O melhor futebolista deste século vivia outra jornada opaca, mas novamente decidiu tudo com um golaço. 

Parece que alguém lá em cima gosta mesmo dele...
Provavelmente sentindo o peso dos esforços para conter um adversário muito superior, os iranianos cometeram o erro fatal de deixá-lo sob a guarda de um único marcador, o que para o messias dos argentinos é nada. Recebeu no bico da área, deu um corte para dentro e conseguiu simplesmente efetuar o arremate perfeito: forte, no cantinho e com curva. Uma obra-prima! 

Só um absoluto fora-de-série consegue realizar uma proeza destas num momento em que está sendo tão pressionado. Parece que, depois de sucessivas contusões, Messi já não tem mais tanta lenha para queimar no aspecto físico, preferindo preservar-se para os momentos da partida em que sua enorme categoria pode fazer a diferença.

Quando ainda tinha pique para praticar um futebol exuberante, suas finalizações e assistências garantiam goleadas. Hoje nem tanto, o que não o impede de continuar sendo decisivo, agora em versão minimalista. 

E a beleza plástica de suas melhores jogadas permanece inalterada. Desde Pelé, nenhum jogador foi capaz de aproximar tanto o futebol das artes: rege os movimentos de seus companheiros como um maestro, assume o papel de solista nos momentos culminantes e seus gols são verdadeiras pinturas, cantadas em prosa e verso! 

Klose leva jeito de que quebrará o recorde de Ronaldo 
O 1x0 sobre o Irã colocou a Argentina nas oitavas e eliminou a Bósnia -que a Nigéria venceu, também pelo placar mínimo. Quem vai ficar em primeiro lugar e qual seleção garantirá a 2ª vaga é o que resta para se decidir na última rodada. Se empatarem, a Argentina logrará o objetivo A e a Nigéria, o B; tomara que não decidam fazer um  jogo de compadres.

A Alemanha, que tem um conjunto muito mais harmonioso do que o argentino, careceu neste sábado de um craque capaz de tirar coelho da cartola quando necessário. Com uma defesa muito bem armada e um poder ofensivo maior do que o iraniano, Gana chegou a estar vencendo por 2x1, mas acabou cedendo o empate.

Seu grande pecado foi não ter conseguido anular o poderoso jogo aéreo dos alemães. Assim, nasceram de centros os gols de Gotze (que, curiosamente, cabeceou mal a bola, mas esta bateu no seu joelho e entrou) e de Klose (que saiu do banco para igualar o recorde do Ronaldo Fenômeno, de 15 gols marcados em Copas do Mundo). Outras bolas alçadas para a área africana também levaram perigo.

Já os erros cometidos pelos germânicos foram pontuais (o zagueiro Mustafi deveria ter ao menos atrapalhado a cabeçada de Ayew no 1º gol e uma vacilada na saída de bola propiciou o 2º)  e certamente serão corrigidos pelo técnico Joachim Löw. Eles tomaram um susto, mas continuam entre os principais favoritos deste Mundial. 

sábado, 21 de junho de 2014

BLACK BLOCS DEPREDARAM BANCOS E CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS. EU NÃO DEPREDARIA AS CONCESSIONÁRIAS.


"Hay gente que se escandaliza más porque se les rompan los cristales a los bancos que porque los bancos los bancos se dediquen a romper la vida de la gente" (anônimo)

"O monopólio surgiu dos bancos, os quais, de modestas empresas intermediárias que eram antes, se transformaram em monopolistas do capital financeiro. Três ou cinco grandes bancos de cada uma das nações capitalistas mais avançadas realizaram a 'união pessoal' do capital industrial e bancário, e concentraram nas suas mãos somas de milhares e milhares de milhões, que constituem a maior parte dos capitais e dos rendimentos em dinheiro de todo o país. 

A oligarquia financeira, que tece uma densa rede de relações de dependência entre todas as instituições econômicas e políticas da sociedade burguesa contemporânea sem exceção: tal é a manifestação mais evidente deste monopólio.

O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade. A reação em toda a linha, seja qual for o regime político, é a exacerbação extrema das contradições. (...) Intensifica-se também particularmente a opressão nacional e a tendência para as anexações, isto é, para a violação da independência nacional.

Os monopólios, a oligarquia, a tendência para a dominação em vez da tendência para a liberdade, a exploração de um número cada vez maior de nações pequenas ou fracas por um punhado de nações riquíssimas ou muito fortes: tudo isto originou os traços distintivos do imperialismo, que obrigam a qualificá-lo de capitalismo parasitário, ou em estado de decomposição." (Lênin, O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo, cujo texto integral pode ser acessado aqui)

"O que é roubar um banco comparado a fundar um?" (Bertolt Brecht)

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