quarta-feira, 23 de outubro de 2013

UM FILME NA CONTRAMÃO DO JUVENILISMO OPORTUNISTA

O diretor alemão Werner Herzog, hoje com 71 anos, é um grande talento que não encontra mais espaço para fazer grandes filmes. Dá vontade de chorar quando comparo Aguirre, a cólera dos deuses (1972) com tralhas caça-níqueis como O sobrevivente (2006).

Na contramão dos críticos, considero No coração da montanha (1991), que vocês podem ver completo e legendado na janelinha abaixo, como sua última obra-prima. 

É de arrepiar! Numa fase em que o cinema já mimava despudoradamente os jovens, por serem eles os maiores consumidores do produto  filmes, Herzog foi na direção contrária. [A coisa é tão patética que a novela no qual se baseou o filme Fuga do Século 23, dirigido por Michael Anderson, estabelece 21 anos como o limite da vida no futuro, em função da escassez de recursos. O filme, contudo, preferiu fixar em 30 anos a idade em que as pessoas tinham de ser executadas, para não assustar a  clientela...] 

Um aclamado alpinista por vocação e paixão (Vittorio Mezzogiorno), já quarentão, entra em confronto com um jovem (Stefan Growacz) interessado apenas em colher os frutos do sucesso: grana & fama. Para tornar a disputa mais dramática, o novo fica com a mulher (Matilda May) do velho.

Ambos acabam travando um duelo mortal ao escalarem, cada qual por uma face, um dos picos mais perigosos do mundo. Um tem a ambição e o vigor, o outro a afinidade com a natureza adquirida num longo convívio e as habilidades desenvolvidas à custa de haver sempre amado aquilo que fazia. 

De quebra, Herzog fustiga com suas alfinetadas mais cáusticas a indústria cultural.

As performances e personagens de Mezzogiorno e Donald Sutherland são simplesmente inesquecíveis.

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