quarta-feira, 14 de março de 2012

PINHEIRINHO: EIS O PERFIL DOS "CRIMINOSOS" DA SONINHA FRANCINE

"Porque gado a gente marca/ tange, ferra, engorda e mata/ mas com gente é diferente"

"Esses [os escorraçados do Pinheirinho] são criminosos tirando vantagem da situação, não pessoas pobres defendendo suas terras."

A frase da ex-vereadora, ex-subprefeita da Lapa e ex-coordenadora da campanha virtual de José Serra só chamou a atenção pela autoria: de Soninha Francine não se esperava que adotasse tão rapida e irrestritamente a "vil linguagem dos interesses políticos" (excelente expressão que nos foi legada por Glauber Rocha).

Mas, muitos outros personagens andaram afirmando coisas semelhantes. Na mídia e nos papos de botequim, os coitadezas foram desqualificados depois de detonados. Os miseráveis continuam sendo tratados da mesma forma e despertando os mesmos preconceitos do tempo em que Victor Hugo escreveu sua obra-pima.

Daí ter chegado em boa hora a dica do companheiro Ivan Seixas, veterano da resistência à ditadura e presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, no qual representa o Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de SP:
"Você já leu o relatório preliminar do Condepe sobre o Pinheirinho, com o perfil dos atingidos? Ele cala a boca dessa cambada que diz que eram vagabundos, etc e tal".
Todos devemos ler o relatório A Voz das Vítimas, cujas quatro primeiras partes (de um total de sete) já estão disponibilizadas, aqui, aqui, aqui e aqui.

Logo que ocorreu a blitzkrieg nazistóide, o Condepe decidiu convocar um mutirão de entidades de direitos humanos e movimentos sociais do Estado, para ouvir e tomar a termo o depoimento do maior número possível de vítimas da violência no Pinheirinho. 

Credenciou cerca de 90 voluntários, que no dia 30 de janeiro começaram a entrevistar quem estava nos quatro abrigos improvisados pela Prefeitura de São José dos Campos para confinar as famílias desabrigadas pela destruição de suas casas.

Acabaram colhendo 634 depoimentos, que permitiram traçar o seguinte perfil das vítimas do Pinheirinho:

Condição civil
Solteiros (as) – 153 pessoas
Casados (as) – 161 pessoas
União Estável – 226 pessoas
Divorciados (as) – 53 pessoas
Viúvos (as) – 20 pessoas
Separados (as) – 14 pessoas
Não responderam – 07 pessoas

Faixa etária
Até 20 anos – 16 pessoas
De 21 a 30 anos – 56 pessoas
De 31 a 40 anos – 59 pessoas
De 41 a 50 anos – 23 pessoas
De 51 a 60 anos – 18 pessoas
Acima de 60 anos – 3 pessoas
Não responderam – 212 pessoas

Filhos(as)
Possuem – 563 pessoas
Não possuem – 66 pessoas
Não responderam – 5 pessoas

Idade dos filhos(as)
Até 1 ano de idade – 62 crianças
De 1 a 2 anos de idade – 97 crianças
De 3 a 4 anos de idade – 127 crianças
De 5 a 6 anos de idade – 85 crianças
De 7 a 8 anos de idade – 112 crianças
De 9 a 10 anos de idade – 114 crianças
De 10 até 11 anos de idade – 80 crianças
Total – 677 crianças

Situação escolar dos filhos(as)
Matriculados(as) em escola ou creche – 357 crianças e adolescentes
Não matriculados(as) – 175 crianças e adolescentes
Em branco – 90

Emprego
Possuem atividade remunerada – 402 pesquisados(as)
Não possuem – 121 pesquisados(as)
Não declararam – 221 pesquisados(as)

Principais profissões relatadas
Pedreiros - 55
Domésticas/diaristas/faxineiras - 49
Ajudantes de obras/pedreiros – 45
Auxiliares de serviços gerais – 28

Renda
Até 1 salário mínimo – 197 trabalhadores(as)
De 1 a 2 salários mínimos – 180 trabalhadores(as)
De 2 a 3 salários mínimos – 8 trabalhadores(as)
De 3 a 4 salários mínimos – 16 trabalhadores(as)
De 4 a 6 salários mínimos – 2 trabalhadores(as)
Renda variada – 3 trabalhadores(as)
Não responderam – 60 trabalhadores(as)

Danos profissionais sofridos com a desocupação
Tiveram prejuízo em sua remuneração – 470 pessoas
Não tiveram prejuízo em sua remuneração – 198 pessoas
Não sabem – 33 pessoas
Não responderam – 155 pessoas

São estes os  criminosos  da Soninha --ou seria melhor dizermos  ex-Soninha?

Outras partes do relatório detalham as principais violações de direitos humanos ocorridas, apresentam os relatos das vítimas, etc. Vale a pena ler, até como antídoto à desinformação da grande imprensa, sempre colocada a serviço das más causas.

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