terça-feira, 27 de março de 2012

A COMISSÃO DA VERDADE E AS CABEÇAS DA HIDRA

É um tiro na mosca o artigo de José Luiz Niemeyer dos Santos Filho, doutor em ciência política pela USP: Comissão da Verdade tem de incluir elites civis.

Vem ao encontro de uma posição que venho defendendo desde o início das discussões sobre a punição dos torturadores: a de que a culpa dos mandantes foi imensamente maior que a dos paus mandados, os únicos colocados na berlinda.

Os pittbuls agiram exatamente como se espera de pittbuls. Fiquei com raiva muito maior dos presumivelmente civilizados que lhes retiraram as focinheiras e atiçaram contra nós: presidentes, ministros, altos comandantes militares, cúmplices civis, etc.

Começando pelos signatários do Ato Institucional nº 5, horda que tem Jarbas  Mandei às Favas Meus Escrúpulos  Passarinho e Delfim Netto como remanescentes (creio que todos os outros já estão no inferno).

Com medidas como a supressão do habeas corpus nos chamados casos de Segurança Nacional, o AI-5 foi uma licença dada à repressão para torturar e matar. Aquelas canetas pingavam sangue.

Mais que do cabo Polvorelli da Polícia do Exército, que me agrediu covardemente pelas costas e estourou para sempre meu tímpano, eu guardei raiva dos almofadinhas da 2ª Seção que às vezes vinham me visitar, curiosos sobre como seria seu congênere da guerrilha (eu comandava o setor de Inteligência da VPR).

Aqueles canalhas em fardas impecáveis ou ternos da moda, alguns até exalando perfume, eram os que analisavam, em gabinetes confortáveis e fora do alcance de nossos gritos, os apontamentos dos interrogatórios conduzidos sob torturas as mais bestiais.

Balelas que impingíamos aos tacanhos brutamontes incumbidos do serviço braçal às vezes eram por eles desmascaradas. Como consequência, apanhávamos dobrado.

Nosso sangue neles não espirrava, ao contrário dos torturadores. Mas, eram culpados por nosso sangue espirrar: diziam quem, quando e quanto deveria sofrer. Eu não conseguia admitir que pessoas sofisticadas, conscientes do que faziam, se dedicassem a ofício tão hediondo.

Então, a perspectiva de ver apenas os Curiós engaiolados nunca me satisfez. Questão de perspectiva.

Eis os trechos principais do texto de Niemeyer dos Santos Filho:
"A participação ativa dos setores civis da sociedade no golpe militar de 31 de março de 1964 deve ser discutida e aprofundada, inclusive naquilo que se refere à tortura e ao desaparecimento daqueles que se opunham ao regime.

A participação civil nos regimes ditatoriais é regra quando se observa alguns dos processos históricos contemporâneos. Além dos militares e dos serviços secretos, sempre há aqueles grupos civis que incentivaram a ruptura institucional a partir do uso da força militar.

Foi assim no movimento de ascensão do nazismo na Alemanha, do fascismo na Itália e do comunismo na antiga União Soviética. É padrão: o setor conservador e radical das Forças Armadas se ancora no meio civil como braço auxiliar para a ação de poder.

E tão grave quanto: os setores civis, principalmente das elites empresariais conservadoras, utilizam-se da caserna para manterem privilégios e garantirem novas regalias.

Se os excessos cometidos pelos radicais de farda ocorreram, é necessário ressaltar que eles aconteceram também por incentivo e por interesse desses grupos.
Vale lembrar que a deflagração do golpe militar de 1964 foi precedida por uma movimentação da classe média paulista (a chamada 'Marcha com Deus Pela Liberdade', que foi organizada também por grupos ligados às grandes empresas de São Paulo).
Os bons companheiros: Boilesen, financiador 
da repressão, e Delfim, signatário do AI-5
O ano de 1964 é também resultado do apoio irrestrito dos chamados 'capitães da indústria' de São Paulo e dos representantes mais conservadores das oligarquias agrárias do Nordeste à época.
São grupos civis, com origem ligada ao empresariado, que frequentavam recepções de congraçamento entre civis e militares, gabinetes governamentais e ambientes acadêmicos ideológicos, como a Escola Superior de Guerra (...), que viam no golpe de 1964 uma oportunidade única.

Essa oportunidade se baseava em uma estratégia que foi regra mestra no desenvolvimento econômico do período: o arrocho salarial para manutenção dos ganhos de capital, agenda decisiva para a manutenção do patamar de lucratividade dos investimentos nacionais e internacionais no período após Juscelino, de rápida industrialização do país.

Mas o incentivo para o golpe e o decisivo apoio durante boa parte da execução do regime de 1964 não ficam restritos a essa ação quase 'institucional' dos grupos civis que se fundiam aos interesses dos militares mais radicais à época.

Mais graves foram as ações pensadas e organizadas diretamente por grupos civis radicais, como o obscuro 'Comando de Caça aos Comunistas', a 'Operação Bandeirantes', entre outras, que foram conduzidas a partir de ações clandestinas, com o apoio dos serviços secretos militares e das lideranças e grupos empresariais à época.

Esperemos que (...) a Comissão da Verdade, de alguma forma, também possa se deter nesta seara que envolve uma segunda sombra do regime de 1964".

2 comentários:

Anônimo disse...

A Comissão da Verdade tem que atingir os ISSO É UMA VERGONHA da vida. Além, é claro, das empresas que financiaram a repressão.Por falar nisso, ontem teve manifestações em várias capitais do Brasil contra ex-agentes da repressão. Em São Paulo foi lindo os manifestantes em frente a empresa de segurança privada do tal de capitão Lisboa. E ele acusou o golpe , pois retirou do site de sua firma de segurança o nome das empresas clientes.

Anônimo disse...

Torturador Encontrado

Davi dos Santos Araújo

ESSE CARTAZ FOI SHOW! AHAHAHA

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