terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CORREA ACERTA AO DAR UM PASSO ATRÁS. VAMOS VER SE DÁ DOIS À FRENTE

A fase dos  grandes timoneiros  passou, sem deixar saudades
Várias vezes já fui alvo de desqualificações e insultos por parte de companheiros que não aceitam a diversidade de opiniões no nosso campo.

Para eles, toda e qualquer discrepância da  única posição correta  não passa de uma heresia a ser combatida a ferro e fogo. Talvez sem sequer saberem quem foi Joseph Stalin, são defensores extemporâneos do monolitismo stalinista.

Emblemático foi o que aconteceu quando do golpe de estado hondurenho. Posicionei-me desde o primeiro momento e da forma mais contundente contra a derrubada do presidente legítimo, mas recusei-me a levantar a bola do poltrão Manuel Zelaya, que se deixara expulsar do país vestindo pijamas. 

Percebi logo que lhe faltavam  cojones, como dizem os  hermanos. Um Salvador Allende morreria antes de consentir que o humilhassem daquela maneira.

O mundo desabou sobre mim. No entanto, o desenrolar dos acontecimentos comprovaria o acerto da minha intuição.

Zelaya convocou uma épica carreata até a fronteira hondurenha, adentrou o país... e, frente a frente com os militares golpistas, refugou como menininho assustado, voltando atrás quando o certo seria deixar-se prender para forçar a OEA e os países que o apoiavam a agirem, ao invés de se limitarem às declarações platônicas. 

Enumerando as grandes oportunidades desperdiçadas?
Depois, reentrou sorrateiramente e enfurnou-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa... para nada. Passado o impacto do factóide que gerou, o confinamento mais esvaziou do que alavancou sua luta. Permaneceu por mais de quatro meses e, no final, inerte e esquecido, acabou nem sequer influindo na eleição que decidiu quem o sucederia.

Encerrado o prazo legal do seu mandato, seguiu para o exterior, melancolicamente. Depois, fez acordo com o novo governo e voltou em definitivo para Honduras, com o rabo entre as pernas.

"QUANDO UM DOS NOSSOS DÁ TIRO NO PÉ, 
NÃO PRECISA QUE O APLAUDAM"

O que acaba de acontecer não foi tão acachapante, mas mostrou de novo como é melhor adotarmos uma posição independente do que contribuírmos, como  Maria vai com as outras, com os desacertos do nosso lado.

O presidente equatoriano Rafael Correa exagerou na dose ao processar jornalistas mas, claro, muitos por aqui baliram amém, alinhando-se incondicionalmente com sua atitude.

Quando um dos nossos dá tiro no pé, não precisa que o aplaudam; ajuda mais quem o alertar sinceramente de que assim acabará manco.

Foi o que fiz (vide aqui), de forma respeitosa, pois estou acostumado a lidar com a má fé do PIG. Às vezes ficamos mesmo exasperados, mas não podemos nos deixar levar pela emoção, facilitando o trabalho do inimigo.

Eis uma notícia  quentinha  da agência France Presse:
Há momentos em que é obrigatório darmos um passo atrás
"O presidente do Equador, Rafael Correa, pediu à Justiça que anule a condenação a três anos de prisão e ao pagamento de 40 milhões de dólares imposta a três diretores e um ex-editor do jornal El Universo, a quem processou por injúrias, após a forte rejeição internacional gerada pela sentença.

'Apesar de saber que muitos não querem que sejam feitas concessões a quem não merece, assim como tomei a decisão de iniciar este julgamento, decidi ratificar algo que há tempos estava decidido em meu coração: perdoar os acusados, concedendo a eles a remissão das condenações que merecidamente receberam', disse Correa ao ler nesta segunda-feira uma carta aos equatorianos.

A condenação contra o diretor Carlos Pérez, os subdiretores César e Nicolás Pérez e o ex-chefe de opinião Emilio Palacio tinha sido rejeitada pelas relatorias para a liberdade de imprensa da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e da ONU, e organizações como Repórteres Sem Fronteiros, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e a Human Rights Watch.

O perdão da pena é uma opção do querelante prevista no código penal para as ações privadas por injúria, como é o caso de Correa, que apresentou sua ação na qualidade de cidadão comum".
Andou bem Correa ao dar um passo atrás, para poder depois dar dois à frente.

Tomara que continue acertando: o que tem de fazer agora é estimular a criação de alternativas à imprensa burguesa, ao invés de confrontá-la diretamente, tornando-se alvo fácil para aqueles a quem convém apresentá-lo como ditador em potencial.

4 comentários:

Anônimo disse...

Monolitismo stalinista? O que seria isso? O contrário da ultra-fragmentação trotskista?

Anônimo disse...

Celso, admiro seu blog e seus textos, mas permita-me uma crítica construtiva: ofender o camarada Stalin, grande herói da revolução russa - apesar dos erros, muitos dos quais corroborados por Trotski como no caso dos kulaks - a pretexto de falar do erro estratégico do Zelaya não ajuda em nada a construir a unidade na luta.
Márcio
Fortaleza/CE

celsolungaretti disse...

Monolitismo stalinista significa a imposição das posições da nomenklatura que se formou na URSS sobre todas as outras tendências do movimento comunista, por meio de julgamentos farsescos, de expurgos, de perseguições e de assassinatos.

Em suma, tratar as divergências dentro do nosso campo como casos de polícia, impondo a unidade pelo terror e pela eliminação dos que divergiam.

celsolungaretti disse...

Márcio,

Stalin jamais foi herói de revolução nenhuma. Desempenhou papel dos mais apagados na fase heróica da Revolução Soviética e depois ascendeu ao primeiro plano para ser seu coveiro, realizando a profecia do Trotsky: primeiro, o Partido Comunista substitui o proletariado; depois, o Comitê Central substitui o partido; finalmente, um ditador substitui o Comitê Central.

Quanto ao Zelaya, ele mesmo se colocou fora da luta, eu apenas o constatei. Lembre-se: dos presidentes se acovardaram quando da onda de quarteladas nos anos de chumbo, nenhum conseguiu dar a volta por cima. A unidade a ser construída em Honduras é com quem tem brios para encarar o inimigo.

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