quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

OS TOTALITÁRIOS CONTRA-ATACAM

Teremos entrado num túnel do tempo? A
retórica é a mesmíssima dos tempos de Médici
Primeiramente, os presidentes dos Clubes das três Armas lançaram um pomposo Manifesto Interclubes, exigindo que a presidente Dilma Rousseff, comandante em chefe das Forças Armadas (à qual o trio deve obediência), desautorizasse duas de suas ministras. Vide aqui.

Em seguida, convencidos pelos ministros militares a respeitarem a hierarquia, os insubmissos recuaram: colocaram uma retratação no ar e, pouco depois, deletaram tudo, dando por encerrado o assunto. Vide aqui.

Agora, no site do torturador-símbolo do Brasil Carlos Alberto Brilhante Ustra (o único com  registro em carteira, já que foi declarado torturador pela 23ª Vara Cível de São Paulo...), os totalitários contra-atacam com um  alerta à Nação: "Eles que venham. Por aqui não passarão!". Vide aqui.

É a História se repetindo como farsa: soa muito mal, na boca dos herdeiros políticos do  generalíssimo  Francisco Franco, a célebre expressão com que Dolores Ibarrurí, a Pasionária, exortava o povo espanhol a resistir aos fascistas na década de 1930.

"Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria", começa o papelucho de 2012, para logo enveredar por delírios megalomaníacos:
"São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente".
Traduzindo: eles são (*) os representantes daquele Exército que conspiradores contumazes, acumpliciados com uma potência estrangeira, conseguiram arrastar em 1964 para uma aventura golpista, cuja consequência foi a imposição de uma ditadura bestial e de um bestial terrorismo de estado aos brasileiros.

UNIFORMES HERÓICOS x FARDAS EMPORCALHADAS

Brilhante Ustra parece aguardar
os aplausos por sua nova obra...
A afirmação de que o Exército do presente se fundamenta no golpismo e no totalitarismo deveria ser repudiada firmemente pelos militares atuais --os que vieram depois das trevas e não possuem esqueletos no armário.

Eles têm é de orgulhar-se de vestirem o uniforme de Carlos Figueiredo e Roberto dos Santos, os heróis da Estação Antártica Comandante Ferraz; não o de Brilhante Ustra, aquele que “emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar”, segundo a frase imortal do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias.

Na prática, trata-se de um manifesto subscrito por 13 generais, 6 tenentes coroneís, 73 coronéis, 2 capitães de mar e guerra, 1 capitão de fragata, 1 major e 1 tenente.

É muita pretensão uma centena de oficiais em pijamas se declararem depositários dos valores nos quais se alicerça o Exército. E bizarro a lista incluir três representantes... da Marinha!

Mas, como a lógica anda meio distante dos antros das viúvas da ditadura, eles também se proclamam porta-vozes do Clube Militar:
"Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo... O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante".
Como a relação de signatários não inclui o presidente do Clube Militar, Renato Cesar Tibau da Costa, devemos supor que ele haja sido destituído? Ou os 97 estão falando em nome do Clube sem nenhuma delegação formal para o fazer? E desde quando três marujos são porta-vozes do clube do Exército?

O principal, claro, é a quebra da hierarquia, à qual, mesmo na reserva, eles continuam submetidos, segundo seu regimento disciplinar. Cometem, portanto, a mais crassa indisciplina ao confrontarem seus superiores supremos: o ministro da Defesa e a presidente da República. São estes os "fundamentos em que se alicerça o Exército do presente"?!

O objetivo último das escaramuças,
todos sabemos qual é...
Além de contestarem os dirigentes e as políticas do Executivo, eles também insurgem-se contra as decisões do Congresso Nacional, ao qualificarem a instituição da Comissão da Verdade de "ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo".

Se 1985 significou alguma coisa, foi que não existe mais tutela fardada sobre os Poderes da República. É totalmente inaceitável a pretensão desses nostálgicos do arbítrio, de quererem impedir com ultimatos velados o resgate da verdade histórica --objetivo real da Comissão, destituída de autoridade para remeter os assassinos, torturadores, estupradores e ocultadores de cadáveres aos tribunais, como vem ocorrendo em países com tolerância menor ao despotismo e à barbárie.

Cabe agora ao Ministério da Defesa tomar as atitudes cabíveis para fazer a hierarquia das Forças Armadas voltar a ser respeitada.

Trata-se, evidentemente, de uma provocação. Mas, reagindo estritamente à transgressão disciplinar, Celso Amorim ganhará a parada.

Oficiais militares são extremamente avessos às quebras de hierarquia, pois temem vir a ser eles próprios desacatados pelos subalternos. Não apoiarão a bravata inconsequente desses gatos pingados, ainda mais por eles estarem agindo em causa própria e não em defesa da corporação: inquietam-se, sobretudo, com o que possa vir à tona a seu próprio respeito.

No fundo, estão em pânico face ao enorme risco de passarem à História com imagem tão hedionda quanto a de Brilhante Ustra, o signatário nº 15 do manifesto tosco e, não por acaso, o primeiro dentre os 73 coronéis. Só a patente inferior impediu que ele encabeçasse a lista de apoio a um documento que inspirou, provavelmente redigiu e trombeteou no seu site.

* deveriam ter escrito "somos", mas desconhecem a gramática tanto quanto ignoram a Constituição Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos do Homem...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CRIME E CASTIGO

Alvíssaras! As autoridades começam a cumprir corretamente seu papel face à escalada de episódios chocantes.

Caso daquele em que cinco monstros não só espancaram um mendigo, como deram o mesmo tratamento ao estudante Vitor Suarez Cunha (foto) quando este tentou deter a agressão covarde, desfigurando-o com seus socos e chutes.

O Ministério Público do RJ fez denúncia impecável, enquadrando-os em tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe, tortura ou meio insidioso ou cruel, além de utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Podem ser condenados a duas décadas de prisão, mas seria ingenuidade acreditarmos que ficarão tanto tempo encarcerados.

Tomara que passem pelo menos alguns anos convivendo com outras bestas-feras --aquelas cuja desumanidade se deve a terem vivido sempre sob a lei do cão, ao contrário dos privilegiados fúteis que barbarizam seus semelhantes por mera diversão.

E a Força Aérea Brasileira também não  aliviou  para o soldado que, por amizade a dois dos agressores, apoiou-os nas redes sociais, chegando a colocar na sua mensagem que, se ele tivesse participado do linchamento, “Vítor não estaria vivo”.

Por considerar que tal manifestação foi incompatível com a "doutrina e conduta dos militares da corporação”, a FAB abriu um procedimento administrativo que deverá conduzir à exclusão do boquirroto.

CORREA ACERTA AO DAR UM PASSO ATRÁS. VAMOS VER SE DÁ DOIS À FRENTE

A fase dos  grandes timoneiros  passou, sem deixar saudades
Várias vezes já fui alvo de desqualificações e insultos por parte de companheiros que não aceitam a diversidade de opiniões no nosso campo.

Para eles, toda e qualquer discrepância da  única posição correta  não passa de uma heresia a ser combatida a ferro e fogo. Talvez sem sequer saberem quem foi Joseph Stalin, são defensores extemporâneos do monolitismo stalinista.

Emblemático foi o que aconteceu quando do golpe de estado hondurenho. Posicionei-me desde o primeiro momento e da forma mais contundente contra a derrubada do presidente legítimo, mas recusei-me a levantar a bola do poltrão Manuel Zelaya, que se deixara expulsar do país vestindo pijamas. 

Percebi logo que lhe faltavam  cojones, como dizem os  hermanos. Um Salvador Allende morreria antes de consentir que o humilhassem daquela maneira.

O mundo desabou sobre mim. No entanto, o desenrolar dos acontecimentos comprovaria o acerto da minha intuição.

Zelaya convocou uma épica carreata até a fronteira hondurenha, adentrou o país... e, frente a frente com os militares golpistas, refugou como menininho assustado, voltando atrás quando o certo seria deixar-se prender para forçar a OEA e os países que o apoiavam a agirem, ao invés de se limitarem às declarações platônicas. 

Enumerando as grandes oportunidades desperdiçadas?
Depois, reentrou sorrateiramente e enfurnou-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa... para nada. Passado o impacto do factóide que gerou, o confinamento mais esvaziou do que alavancou sua luta. Permaneceu por mais de quatro meses e, no final, inerte e esquecido, acabou nem sequer influindo na eleição que decidiu quem o sucederia.

Encerrado o prazo legal do seu mandato, seguiu para o exterior, melancolicamente. Depois, fez acordo com o novo governo e voltou em definitivo para Honduras, com o rabo entre as pernas.

"QUANDO UM DOS NOSSOS DÁ TIRO NO PÉ, 
NÃO PRECISA QUE O APLAUDAM"

O que acaba de acontecer não foi tão acachapante, mas mostrou de novo como é melhor adotarmos uma posição independente do que contribuírmos, como  Maria vai com as outras, com os desacertos do nosso lado.

O presidente equatoriano Rafael Correa exagerou na dose ao processar jornalistas mas, claro, muitos por aqui baliram amém, alinhando-se incondicionalmente com sua atitude.

Quando um dos nossos dá tiro no pé, não precisa que o aplaudam; ajuda mais quem o alertar sinceramente de que assim acabará manco.

Foi o que fiz (vide aqui), de forma respeitosa, pois estou acostumado a lidar com a má fé do PIG. Às vezes ficamos mesmo exasperados, mas não podemos nos deixar levar pela emoção, facilitando o trabalho do inimigo.

Eis uma notícia  quentinha  da agência France Presse:
Há momentos em que é obrigatório darmos um passo atrás
"O presidente do Equador, Rafael Correa, pediu à Justiça que anule a condenação a três anos de prisão e ao pagamento de 40 milhões de dólares imposta a três diretores e um ex-editor do jornal El Universo, a quem processou por injúrias, após a forte rejeição internacional gerada pela sentença.

'Apesar de saber que muitos não querem que sejam feitas concessões a quem não merece, assim como tomei a decisão de iniciar este julgamento, decidi ratificar algo que há tempos estava decidido em meu coração: perdoar os acusados, concedendo a eles a remissão das condenações que merecidamente receberam', disse Correa ao ler nesta segunda-feira uma carta aos equatorianos.

A condenação contra o diretor Carlos Pérez, os subdiretores César e Nicolás Pérez e o ex-chefe de opinião Emilio Palacio tinha sido rejeitada pelas relatorias para a liberdade de imprensa da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e da ONU, e organizações como Repórteres Sem Fronteiros, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e a Human Rights Watch.

O perdão da pena é uma opção do querelante prevista no código penal para as ações privadas por injúria, como é o caso de Correa, que apresentou sua ação na qualidade de cidadão comum".
Andou bem Correa ao dar um passo atrás, para poder depois dar dois à frente.

Tomara que continue acertando: o que tem de fazer agora é estimular a criação de alternativas à imprensa burguesa, ao invés de confrontá-la diretamente, tornando-se alvo fácil para aqueles a quem convém apresentá-lo como ditador em potencial.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

OS CINCO CUBANOS NÃO SÃO HERÓIS MAS, SEM DÚVIDA, INJUSTIÇADOS

Linchamentos judiciais devem ser sempre combatidos,
mas heroicizar agentes secretos é um exagero nocivo
O companheiro Jacob Blinder, principal divulgador das políticas bolivarianas em nosso país, pede-me que "aborde o tema dos Cinco Heróis cubanos, presos injustamente nos Estados Unidos", pois, segundo ele, eu possuiria "grande penetração junto à opinião pública".

A última afirmação é exagerada, claro. "Grande penetração", por enquanto, só tem quem dispõe das tribunas da grande imprensa, que estão cada vez mais fechadas para mim --tanto como profissional quanto como personagem histórico até hoje envolvido com os assuntos impactantes do noticiário.

A existência do território livre da internet impede o  macartismo que não ousa dizer seu nome  de nos reduzir à invisibilidade --é o caso também do próprio Jacob, do Laerte Braga, do Rui Martins, do Carlos Lungarzo e de tantos outros articulistas de esquerda com trabalhos marcantes. Mas, confinados no espaço virtual, nossa defesa das boas causas repercute bem menos --e é isto que almeja o sistema.

Quanto aos agentes da inteligência cubana presos nos Estados Unidos desde 1998, foram mesmo injustiçados, daí ser desejável que a presidente Dilma Rousseff interceda por eles junto a Barack Obama.

No recente Fórum Social Mundial, o senador Eduardo Suplicy se comprometeu a tratar do assunto com Dilma e a fazer um pronunciamento no Senado; com a penetração que eu tiver, grande ou pequena, coloco-me inteiramente ao lado do Suplicy quanto a que eles devam ser libertados o quanto antes, para retornarem a seu país sem restrições de nenhuma espécie.

Os EUA, que tanto faturam com o filão dos filmecos de tribunais, passam a vida estuprando a Justiça, como fizeram no Caso Sacco e Vanzetti: mesmo sabendo que os anarquistas italianos eram inocentes de um assalto com duas vítimas letais cometido por criminosos comuns, levaram até o fim a farsa judicial e até deram sumiço nas provas contra os verdadeiros culpados. [O governador do Massachussetts, 50 anos depois de sua execução, proclamou oficialmente a inocência de Sacco e Vanzetti.]

ACUSAÇÕES INVENTADAS 
PARA AGRAVAR O CASO
 
O que realmente havia contra os cinco era estarem espionando os exilados cubanos; infiltraram-se nos seus círculos para prevenir os atos de terrorismo que os gusanos  estabelecidos em Miami desfechavam contra Cuba. A resposta costumeira a tal delito é a mera expulsão.

Mas as autoridades estadunidenses, com sua habitual tendenciosidade, agravaram o caso inventando outras acusações, que foram ruindo como castelos de cartas ao longo do tempo.

O primeiro a ser solto, René Gonzales, encontra-se há quatro meses em regime de liberdade supervisionada; depois de haver passado 13 anos no cárcere, ainda ficará impedido de voltar ao seu país até outubro de 2014.

Espero que, desta vez, os EUA não façam sua  mea culpa  só cinco décadas depois que eles tiverem morrido. A palhaçada já foi longe demais; tem de acabar.

Só não concordo com o rótulo de  heróis  aplicado a espiões e agentes infiltrados. Mesmo inexistindo sangue em suas mãos, fazem lembrar demais a Operação Condor, o assassinato de Orlando Letelier e outras abominações dos  anos de chumbo.

Afora um calo que me é particularmente sensível: o cabo Anselmo. Quando me recordo da confiança que o  Moisés  (José Raimundo da Costa, o último comandante da VPR) tinha no seu antigo parceiro de  movimentos da marujada e da forma ignóbil como foi por ele atraído para a morte, vem-me um profundo desprezo por quem finge amizade para melhor atraiçoar os que o estimam (o cabo Anselmo foi responsável também pelo sequestro e execução, na Casa da Morte de Petrópolis, da minha estimada companheira Heleny Guariba, a Lucy).

Então, para mim, seja qual for o regime que a utilize e o fim objetivado, a espionagem é uma atividade vil. E disto não abro mão.

Ao contrário dos utilitaristas (para os quais os fins justificam os meios), os revolucionários acreditamos, isto sim, na interação dialética entre fins e meios. Há expedientes que não podemos utilizar, mesmo que o inimigo os empregue contra nós, sob pena de aviltarmos nossos ideais.

Para não deixar a impressão de que considero tralha cinematográfica a totalidade da produção de Hollywood, lembro um filme no qual o dilema foi bem colocado: Perseguidor implacável (1971), o primeiro da série  Harry, o sujo.

O inspetor interpretado por Clint Eastwood baleia um sequestrador e, para obrigá-lo a confessar o local no qual mantém encarcerada uma adolescente ameaçada de morrer por asfixia, pisa em seu ferimento.

O grande diretor Don Siegel vai distanciando a câmara daquela cena hedionda, até que ambos se tornem pontinhos na tela; foi sua maneira de expressar o repúdio das pessoas civilizadas à tortura. E, adiante, ficamos sabendo que de nada adiantara, pois a jovem já estava morta.

Há sempre uma justificativa ou uma atenuante qualquer para se ultrapassar a fronteira entre a civilização e a barbárie, o certo e o errado, o digno e o indigno.  

Então, a regra de ouro foi expressa pelo velho juiz protagonizado por Spencer Tracy, noutro filme que se constituiu em louvável exceção: Tribunal em Nuremberg (d. Stanley Kramer, 1961). Indagado sobre quando começou o desvirtuamento da Justiça alemã  sob o nazismo, ele responde: "Foi no dia em que o primeiro juiz condenou o primeiro réu que ele sabia ser inocente".

É imperativo voltarmos a ser os que não abrem o precedente dúbio, ao qual segue-se a banalização da dubiedade. Por maior que seja o preço a pagar, cabe a nós personificarmos a alternativa à geléia geral na qual conveniências amorais e imorais são colocadas à frente dos princípios. Ou não haverá para o cidadão comum nenhum símbolo visível de que outro mundo seja possível.

Concluindo: os agentes secretos cubanos foram injustiçados, então têm de ser libertados e devemos nos mobilizar em favor de sua libertação.

Mas, não representam exemplos que devamos louvar e nos quais possamos nos espelhar. Muito pelo contrário.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

COMO ENFRENTAR A DITADURA DO PIG?

O presidente equatoriano Rafael Correa exortou os povos latino-americanos a se rebelarem contra a ditadura exercida pelos meios de comunicação.

O motivo foi o posicionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no caso dos três editores e um ex-editor do jornal El Universo que a Justiça equatoriana condenou a três anos de prisão e ao pagamento de uma indenização de US$ 40 milhões a Correa.

A CIDH solicitou ao Equador que suspenda a condenação. Correa retrucou que tal medida "envergonharia um estudante medíocre de primeiro ano de Direito".

O pivô da disputa é aquele episódio de setembro de 2010, quando Correa foi dialogar com policiais rebelados por motivos salariais, passou mal, foi levado a um hospital policial e mantido praticamente como refém durante 10 horas, até ser resgatado pelos militares.

O editor de Opinião do El Universo acusou Correa de haver mandado o exército disparar contra o hospital, colocando em risco a vida de civis.

A Justiça emitiu sentença draconiana, a comissão ligada à OEA ficou contra. Se não for atendida, o problema poderá ser levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos e, em último caso, à Assembléia Geral da OEA.

Na minha opinião, Correa pode ter razão em termos gerais, mas exagera no episódio particular: uma mísera coluna não justifica tamanha tempestade em copo d'água. 

Ele, com certeza, obteria --amigavelmente ou pela via judicial-- idêntico espaço para retrucar nas próprias páginas do El Universo. Poderia dar coletiva refutando. Tinha a imensidão de meios de um governo para contrapor sua versão à do jornalista. 

Um ano e meio depois, ainda há sequelas do motim policial
Foi buscar uma sentença desproporcional e se vulnerabilizou: até leigos percebem que o rigor foi excessivo. Isto facilitará o trabalho dos adversários.

Quanto à  ditadura dos meios de comunicação, ela é nossa velha conhecida. Saltou aos olhos em episódios como a cobertura do Caso Battisti, da ocupação policial da USP e da barbárie do Pinheirinho (para citar só os mais recentes). Tendenciosidade e manipulação extremas.

No entanto, tudo que seja ou pareça cerceamento da liberdade imprensa terá sempre custo político altíssimo --até porque será exatamente a tal  ditadura  que vai fazer a cabeça de leitores, telespectadores e ouvintes no que tange à interpretação do episódio.

Há uma lição esquecida do passado: a criação em 1951 de uma rede noticiosa alternativa para se contrapor à hostilidade com que a imprensa tratava o governo de Getúlio Vargas, a Última Hora do grande Samuel Wainer.

Está mais do que na hora de a esquerda brasileira se unir em torno de projetos desse tipo, buscando caminhos para se comunicar com as grandes massas, ao invés de deixá-las entregues à lavagem cerebral de jornalões, revistonas e tevezonas.

Enquanto cada agrupamento e tendência preferir ter seus próprios veículos, colocando-os principalmente a serviço dos seus interesses eleitoreiros, perderemos de goleada a batalha da comunicação.

Precisamos nos ver de novo como campo da esquerda, deixando de lado tais ridículas  disputas de mercado, que nos igualam a pequenos comerciantes competindo por clientela.

Somos bem mais fracos. Temos de reaprender a nos somar, em nome de nossos ideais e valores maiores. Chega de brigarmos por  boquinhas  e por ninharias do sistema! Existimos para acabar com o sistema, não para nos cevarmos nele.

Quanto às tentações autoritárias, são a pior resposta que podemos dar. O caminho continua sendo o de criarmos o poder popular, fora do estado e contra o estado; não o de pretendermos voltar o estado burguês contra a burguesia. 

Nunca dá certo. E acaba quase sempre em golpe... contra nós.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

FIQUEI MUITO FELIZ AO VER OS FARDADOS SUBMETIDOS À AUTORIDADE PRESIDENCIAL

Num dos espaços virtuais em que se discutiu meu artigo Dilma paga pra ver e faz Clubes Militares engolirem blefe, um comentarista assim resumiu o episódio da provocação ultradireitista e a firme resposta da presidente Dilma Rousseff: "os militares disseram o que queriam, mesmo proibidos para tanto, e a presidente só lhes passou um pito. Muito bonitinho, entre mortos e feridos salvaram-se todos". 

Como não foi atitude isolada --muita gente na esquerda deixou de reconhecer a importância de não termos desta vez engolido o sapo, mas sim o enfiado na goela dos inimigos--, resolvi compartilhar com vocês o desabafo que postei no CMI:

Assim como a Roselyne do filme, nossa Dilma domou os leões...
Não se deve desmerecer nem minimizar o fato de a Dilma haver tido a coragem política de colocar os militares provocadores no seu devido lugar.

Foi exatamente o que o Lula deixou de fazer em 2007, quando o Alto Comando do Exército lançou uma nota oficial que presidente nenhum poderia aceitar. Quem quiser recordar o episódio, pode acessar aqui.

A única atitude aceitável, naquela circunstância, era a exoneração imediata dos signatários.

Para não ficarmos em exemplos da esquerda, até o ditador Geisel agiu assim quando desobedecido pelo comandante do II Exército e, adiante, quando desafiado pelo ministro do Exército. Nos dois episódios cortou o mal pela raiz e, com isto, garantiu o prosseguimento do seu projeto de abertura política.

...cujos rugidos, desta vez, viraram miados.
O Governo Lula medrou e, ao negar apoio à proposta de revogação da anistia de 1979 (defendida pelo Tarso Genro e pelo Paulo Vannuchi), selou o destino da luta pela punição dos torturadores: ela verdadeiramente acabou naquele início de setembro, há quatro anos e meio. Tudo que veio depois foram iniciativas antecipadamente condenadas ao fracasso.

Então, depois de tantos recuos, finalmente temos uma presidente sem medo de  bicho papão. Ela pagou pra ver e todos nós pudemos constatar que era blefe.

Em 2007 eu também achava que era blefe. Nada indicava que o Alto Comando tivesse o aval da tropa para alguma aventura institucional; e as mãos que movimentam os cordéis dos golpes no Brasil (o grande capital e os EUA) nem de longe estavam insatisfeitas com o Lula, pois seus interesses vinham sendo escrupulosamente contemplados. Para que mudar?

No entanto, daquela vez o Lula não pagou pra ver, e deu no que deu. Estamos até hoje morrendo de inveja dos vizinhos que ousaram botar os  gorilas  na jaula.

Pouco importando que a Dilma não seja do meu partido, desta vez eu fiquei muito feliz ao ver os fardados submetidos à autoridade presidencial.

Isto deveria ser comemorado por toda a esquerda, sem sectarismo.

Como, sem sectarismo, toda a esquerda deveria ter comemorado, p. ex., a vitória no Caso Battisti e a instituição do Dia dos Mortos e Desaparecidos Políticos em SP.

Já que conquistamos poucas vitórias, deveríamos pelo menos valorizar as que obtemos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

DILMA PAGA PRA VER E FAZ CLUBES MILITARES ENGOLIREM BLEFE

O episódio da notícia plantada pelas  viúvas da ditadura  n'O Estado de S. Paulo para pressionar a presidente Dilma Rousseff (ver aqui) terminou com o  incrível exército de Brancaleone  batendo em retirada sob vara, conforme o próprio jornalão relata:
"Os presidentes dos Clubes Militares foram obrigados ontem a publicar uma nota desautorizando o texto do 'manifesto interclubes' [ver íntegra aqui] que criticava a presidente Dilma Rousseff por não censurar duas de suas ministras que defenderam a revogação da Lei da Anistia.

Dilma não gostou do teor da nota por não aceitar, segundo assessores do Planalto, qualquer tipo de desaprovação às atitudes da comandante suprema das Forças Armadas.

A presidente convocou o ministro Celso Amorim (Defesa) para pedir explicações. Ele se reuniu com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e Aeronáutica a 'desautorização' da publicação do documento, divulgado no site do Clube Militar no dia 16, como revelou o Estado na terça-feira.

No dia seguinte, houve a reunião de Amorim com os comandantes das três Forças e uma conversa com a presidente. Paralelamente a essa movimentação, os comandantes telefonaram aos presidentes dos três clubes a fim de que a nota crítica a Dilma fosse suprimida.
Ontem, o 'comunicado interclubes' foi retirado do site no início da tarde. Por volta das 16 horas, foi divulgado um outro texto, em que os presidentes desautorizavam o comunicado anterior. Esse desmentido, porém, não chegou a ficar meia hora no ar. O Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o desmentido..."
Uma avaliação interessante do episódio é a da colunista Eliane Cantanhêde, na Folha de S. Paulo:
"A nomeação de Menicucci [para a Secretaria de Políticas para as Mulheres] sinaliza claramente que a primeira presidente mulher da história brasileira, torturada pela ditadura militar, tem um encontro marcado, em algum momento à frente, entre restrições políticas e convicções, entre palavras e atos. É quando fará sua foto oficial para a história.

Não é fácil. O caminho é tortuoso, cheio de obstáculos e armadilhas. Uma delas foi a nota impertinente dos clubes militares, na qual oficiais de pijama se deram ao direito de criticar a presidente e comandante em chefe das Forças Armadas e exigir que ela desautorizasse duas ministras -Menicucci e Maria do Rosário (Direitos Humanos)- por defenderem a verdade sobre ditaduras.

Tal como a presença de Menicucci 'diz' o que Dilma não pode dizer, militares da reserva muitas vezes verbalizam o que os da ativa pensam, mas não podem falar. Tal como Menicucci mede as palavras para não expor a amiga presidente, os da reserva tiveram de recuar por conveniência dos da ativa. E a luta continua".
Eu só faria uma ressalva:  alguns  militares da reserva temerosos do que a Comissão da Verdade possa vir a apurar verbalizam o que alguns colegas na ativa com esqueletos no armário pensam, mas não podem falar. A grande maioria do oficialato quer mais é saber de sua carreira, pragmaticamente.

Então, a Dilma agiu muito bem ao pagar para ver, expondo o blefe de uma minoria extremista e fazendo seus autores o engolirem a seco.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

GRAVE ALERTA: CONFLITO SÍRIO PODE CONFLAGRAR TODO O ORIENTE MÉDIO

Uma rara análise desapaixonada do impasse sírio é dada por Marco Vicenzino, analista formado por Oxford que dirige uma consultoria de risco político global nos EUA. A ótica dele, no artigo Risco de guerra regional: a Síria não é a Líbia (veja aqui) é, exclusivamente, tornar compreensível, para investidores e atores políticos, o cenário atual e desdobramentos possíveis.

Seu alerta: "um impasse sangrento e prolongado na Síria pode se arrastar por tempo indeterminado" e o país tende a "se converter no campo de batalha central de uma mais ampla guerra regional por procuração, entre os Estados de maioria sunita e uma coalizão de forças xiitas lideradas pelo Irã".

Trata-se do aspecto mais negligenciado por uma esquerda simplista que reduz todas as crises a uma disputa entre o Mal (o imperialismo das grandes nações ocidentais) e o Bem (quem quer que com ele, circunstancialmente, tenha choques de interesses, pouco importando se se trata de um estado teocrático que horrorizaria Marx ou da mais bestial tirania familiar).

Erram rotundamente os que só enxergam a mão sinistra dos imperialistas desestabilizando a Síria, sem perceberem que as disputas regionais e religiosas têm relevância imensamente maior neste episódio.

A análise equivocada leva a uma opção desastrosa, a de implicitamente respaldarem o açougueiro Bashar al-Assad, de quem só se pode esperar mais do mesmo: tentativas de estancar a revolta com banhos de sangue.

O que resultará?
Um episódio menor foi estopim
de uma guerra terrível em 1914
"A insurgência crescente vai continuar a atrair desertores do exército e cidadãos comuns, com violência também crescente.

Voluntários e simpatizantes experientes e endurecidos na batalha, vindos de toda a região e de fora dela, vão, cada vez mais, unir-se às fileiras da oposição para proteger os seus irmãos étnicos ou religiosos. Assim como o Iraque atraiu combatentes estrangeiros, a Síria também o fará -mas em escala muito maior e mais violenta.
"A Síria corre o risco de converter-se em uma colcha de retalhos de encraves sectários".
E, claro, muitas outras nações também sofrerão as consequências --seja envolvendo-se no conflito por determinação própria, seja por serem a ele arrastadas, seja por terem de lidar com levas de refugiados--, afora os previsíveis impactos sobre o comércio e a economia.

A região já é um barril de pólvora, por conta da situação insustentável nos territórios que Israel tomou pela força e pela força mantém, das pressões contra o programa nuclear iraniano, de rivalidades e intolerâncias milenares.

A guerra civil na Síria poderá vir a ser o estopim que conflagrará todo o Oriente Médio --algo como o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em 1914.

Então, são de uma insensibilidade monstruosa os que vituperam os esforços da ONU e da Liga Árabe para, correndo contra o tempo, ainda evitarem o pior.

Salta aos olhos que a já diminuta chance de se deter a marcha para o pesadelo passa por um cessar-fogo sob supervisão internacional e pelo afastamento de al-Assad.

Os aloprados da geopolítica preferem brincar com fogo, alheios ao perigo de que o incêndio venha a ser global, como tudo tende a ser global nos dias de hoje.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ASSIM GRASNARAM OS CORVOS

A grande imprensa não deu, mas eu dou, graças a uma dica do bom companheiro Caio Toledo: eis os grasnidos com que as aves de mau agouro tentaram pressionar a presidente Dilma Rousseff, conforme reproduzidos  no site Políticas de Memória.  

MANIFESTO
INTERCLUBES
MILITARES

COMPROMISSOS…
“Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio. A partir da minha posse, serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.”

No dia 31 de outubro de 2010, após ter confirmada a vitória na disputa presidencial, a Sra Dilma Roussef proferiu um discurso, do qual destacamos o parágrafo acima transcrito. Era uma proposta de conduzir os destinos da nação como uma verdadeira estadista.

Logo no início do seu mandato, os Clubes Militares transcreveram a mensagem que a então candidata enviara aos militares da ativa e da reserva, pensionistas das Forças Armadas e aos associados dos Clubes. Na mensagem a candidata assumia vários compromissos. Ao transcrevê-la, os Clubes lhe davam um voto de confiança, na expectativa de que os cumprisse.

Ao completar o primeiro ano do mandato, paulatinamente vê-se a Presidente afastando-se das premissas por ela mesma estipuladas. Parece que a preocupação em governar para uma parcela da população sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros.

Especificamente na semana próxima passada, e por três dias consecutivos, pode-se exemplificar a assertiva acima citada.

Na quarta-feira, 8 de fevereiro, a Ministra da Secretaria de Direitos Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos. Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E, a Presidente não veio a público para contradizer a subordinada.

Dois dias depois tomou posse como Ministra da Secretaria de Política para as Mulheres a Sra Eleonora Menicucci. Em seu discurso a Ministra, em presença da Presidente, teceu críticas exarcebadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega. A platéia aplaudiu a fala, incluindo a Sra Presidente. Ora, todos sabemos que o grupo ao qual pertenceu a Sra Eleonora conduziu suas ações no sentido de implantar, pela força, uma ditadura, nunca tendo pretendido a democracia.

Para finalizar a semana, o Partido dos Trabalhadores, ao qual a Presidente pertence, celebrou os seus 32 anos de criação. Na ocasião foram divulgadas as Resoluções Políticas tomadas pelo Partido. Foi dado realce ao item que diz que o PT estará empenhado junto com a sociedade no resgate de nossa memória da luta pela democracia (sic) durante o período da ditadura militar. Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bi-partidarismo.

Os Clubes Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da Presidente sem que ela, como a mandatária maior da nação, venha a público expressar desacordo com a posição assumida por eles e pelo partido ao qual é filiada e aguardam com expectativa positiva a postura de Presidente de todos os brasileiros e não de minorias sectárias ou de partidos políticos.

Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 2012

(assinam os presidentes do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube de Aeronáutica)

VIÚVAS DA DITADURA PLANTAM NOTÍCIA CONTRA MINISTRAS DA DILMA

Deu n'O Estado de S. Paulo que os clubes militares das três Armas emitiram nota conjunta de ridículo atroz: exigem que a presidente Dilma Rousseff venha a público desautorizar suas ministras sempre que disserem alguma verdade sobre a ditadura de 1964/85.

O texto da jornalista Tânia Monteiro (vide aqui) deixa transparecer nitidamente sua simpatia pela catilinária das viúvas da ditadura:
"Em sinalização de como os militares da reserva estão digerindo a instalação da Comissão da Verdade, presidentes dos três clubes militares publicaram um manifesto censurando a presidente Dilma Rousseff e atacaram as ministras dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e da Secretaria das Mulheres, Eleonora Menicucci, por supostas críticas dirigidas à caserna".
Sinalização do quê, cara-pálida? Desde quando os frequentadores dessas associações recreativas, entre uma e outra partida de bocha, falam em nome da maioria dos oficiais da reserva? Que eu saiba, nunca lhes foi dada delegação nenhuma neste sentido.

É de supor-se que os diretores estejam mesmo apavorados com os esqueletos que possam sair dos armários oficiais. Afinal, o Clube Militar do Rio de Janeiro vive homenageando o torturador-símbolo do Brasil, Carlos Alberto Brilhante Ustra, além de comemorar religiosamente o aniversário da quartelada de 1964.

Quantos militares de pijama têm comparecido aos desagravos a Ustra? Cerca de 300. O que representam, no conjunto dos oficiais da reserva do RJ? Um por cento? Provavelmente, menos ainda.

Então, constata-se a existência de uma pequena minoria que ainda segue a cartilha de Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet e que tais. E, simplesmente, não há como sabermos o que pensa a maioria. Isto é o que um jornalista isento concluiria.

O pior é que a tal Tânia Monteiro vai mais longe ainda:
"A carta, embora assinada por oficiais da reserva, traduz a insatisfação de militares da ativa, que são proibidos de se manifestarem".
Que insatisfação? De onde ela tirou tal conclusão? Viu numa bola de cristal? Acreditou no que lhe foi contado por quem a escolheu para trombetear o assunto?

Foi pouquíssimo ortodoxa, por sinal, a reprodução de trechos entre aspas e a ausência do texto integral, que um profissional de imprensa cioso necessariamente colocaria no final da notícia, depois de introduzi-lo nos parágrafos iniciais.

Pode-se pensar num subterfúgio para driblar algum risco legal qualquer. Mas, com isto, o leitor foi convidado a assinar um cheque em branco. Ainda bem que, em tempos de internet, tudo acaba vazando (vide aqui)...

Por esta e outras, saltou aos olhos tratar-de uma notícia  plantada  para ser reproduzida em todos os sites e correntes virtuais da extrema-direita. E, claro, o foi --em um por um.

O que motivou a reação destrambelhada dos nostálgicos do arbítrio?
  • uma declaração da Maria do Rosário, de que os trabalhos da Comissão da Verdade poderiam levar à responsabilização dos agentes do terrorismo de estado. Ora, se (para imensa vergonha do Brasil e dos brasileiros...) nada indica que os acontecimentos vão marchar nesta direção, por que haveria a presidente da República de desmentir o que, à primeira vista, parece ser apenas uma hipótese improvável?
  • as críticas que a ex-resistente Eleonora Menicucci de Oliveira faz àqueles que torturaram a ela e a seus antigos companheiros de militância, além de assassinarem bestialmente o saudoso Luiz Eduardo Merlino. Os ditos cujos deveriam é se dar por felizes de estarem sendo apenas criticados, não trancafiados numa prisão como os criminosos hediondos que foram. Além de terem obtido a (terrivelmente injusta e totalmente descabida) impunidade, ainda querem amordaçar ministras?!
  • o fato de constar em qualquer documento do PT que o partido está empenhado "no resgate de nossa memória da luta pela democracia durante o período da ditadura militar", ao que os gorilas objetam, pateticamente, que na época da criação da sigla a abertura política já havia ocorrido. E daí? É público e notório que o PT foi constituído por veteranos da resistência à ditadura, sindicalistas do ABC e expoentes da esquerda católica. Então, tem, sim, o direito de apresentar-se como depositário da memória da luta contra o despotismo.
Se Dilma der qualquer satisfação aos autores de um exercício tão amadoresco de lobbismo extremista, simplesmente se desqualificará como comandante em chefe das Forças Armadas.

Cabe-lhe sair em defesa de suas ministras ou, face à nenhuma importância deste factóide, simplesmente o ignorar.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

VOCAÇÃO HISTÓRICA

O colunista Wolfgang Münchau, do Financial Times, comentou:
"Quando o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, propôs que a Grécia adiasse suas eleições como condição para receber nova ajuda, chegamos ao ponto em que o sucesso não é mais compatível com a democracia.

Shäuble quer prevenir uma escolha democrática 'errada'. Similar é a sugestão de que as eleições aconteçam, mas uma grande coalizão permaneça no poder, independentemente do resultado.

A zona do euro quer impor sua escolha de governo à Grécia, no que a transformaria em sua primeira colônia".
ditadura do mercado  se agrava.

E a Alemanha que tenta de novo submeter as nações livres européias aos seus desígnios, exatamente como nos tempos daquele indivíduo histérico que usava um bigodinho engraçado.

CAOS NA LÍBIA

Estão eufóricos os defensores de ditaduras como supostos males menores: a Líbia não consegue voltar à civilização, o governo central está sem controle dos grupos autônomos que se uniram para derrubar o tirano Mummar Gaddafi e estes, agindo como lhes dá na telha, cometem brutais retaliações contra cidadãos identificados com o regime deposto.

A última vítima foi Hala Misrati, apresentadora de TV --para piorar, morta na prisão, quando cabia às autoridades estarem zelando por sua vida e por sua integridade física e mental.

Repetiu-se o drama do próprio ditador, que jamais deveria ter sido emasculado e executado daquela maneira, mesmo pesando sobre ele a responsabilidade por haverem recebido tratamento semelhante tantos e tantos cidadãos líbios, inclusive meninas e meninos. Mas, o  olho por olho, dente por dente  é a justiça dos pastores de cabras dos tempos bíblicos, não tem mais lugar no século 21.

Denúncias de gravíssimas violações dos direitos humanos vêm sendo feitas pela ONU, a Anistia Internacional e a ONG Médicos Sem Fronteira.

Mantenho o que disse durante a crise: 
  • havia mesmo que se impedir o massacre dos rebeldes pelas forças governamentais, mas a Otan extrapolou em muito o mandato que lhe foi conferido pela ONU, passando a atuar como força invasora e não como missão de paz;
  • com Gaddafi, havia a certeza de que os cidadãos líbios continuariam sendo torturados e executados para que fosse mantida a tirania familiar na qual desembocara sua quartelada de milicos nacionalistas (1);
  • com os rebeldes no poder, o leque de possibilidades se abriria e, se prevalecessem as piores hipóteses, seria o caso de denunciarmos o novo governo tanto quanto denunciávamos o antigo;
É o que estou fazendo agora (2), a cobrar da ONU e da Otan providências para corrigirem o mal causado por sua intervenção desvirtuada e desatinada.

É de supor-se que, se a luta para a derrubada de Gaddafi fosse conduzida pelos próprios rebeldes, eles acabariam, no transcurso de uma campanha bem mais longa, sendo obrigados a criar um comando único, embrião do futuro governo.

Tendo a Otan assumido a dianteira e liderado as operações militares --precipitando, portanto, os acontecimentos--, chegaram ao poder ainda como um amontoado de grupelhos autônomos de guerrilha, divididos por querelas tribais, religiosas e políticas.

Derrubado Gaddafi, a ONU e a Otan omitiram-se de sua evidente responsabilidade na reconstrução do país --começando por darem ao novo governo os meios para impor sua autoridade e, tarefa imediata, desarmar e desmobilizar os grupos guerrilheiros.

Era a receita óbvia do caos; e o caos aconteceu.

1 Para verdadeiros revolucionários, tanto os regimes de força instaurados pelos golpes de estado de cunho nasserista quanto as tiranias familiares  das mil e uma noites  nada, absolutamente nada têm a ver com a construção de sociedades igualitárias e livres, nas quais os explorados assumissem o papel de sujeitos da História, ao invés de continuarem instrumentalizados e intimidados, apenas trocando de senhores.
2 Durante longo tempo, Trotsky considerou que o desvirtuamento da Revolução Soviética não seria definitivo enquanto  a economia se mantivesse coletivizada. Certa vez lhe perguntaram o que faria se, pelo contrário, ficasse confirmado que a  nomenklatura  se tornara uma classe dominante, só que de novo tipo. Face à possibilidade de a obra de sua vida adulta inteira ter ruído, ele simplesmente respondeu: "Então, passarei imediatamente a organizar a luta dos servos do coletivismo burocrático". Da mesma forma, será patético nos lamentarmos de que a derrubada de Gaddafi (como a daquele outro tirano, o czar) não tenha levado aonde se queria. Temos é de voltar à luta, tantas vezes quantas forem necessárias para a verdadeira emancipação do povo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ÁLBUM DE FAMÍLIA

Quando fui visitar o cidadão da foto em 2009, só tinha certeza de que fora condenado num julgamento de cartas marcadas; saltavam aos olhos as aberrações jurídicas cometidas, em tudo e por tudo semelhantes às dos quatro processos a que respondi em auditorias militares, durante a ditadura brasileira. 

Mas, se não havia provas reais de sua culpa, também não existia como eu ter certeza absoluta da sua inocência.

Então, eu me empenhava em salvá-lo em nome do príncipio fundamental de que é a culpa que tem de ser provada, não a inocência. Nenhuma corte verdadeiramente comprometida com a Justiça o condenaria com base naquela peça de acusação inquisitorial e farsesca.

Bastou eu conversar uns dez minutos com ele para dissipar quaisquer dúvidas: lembrando-me de homens duros do nosso lado que eu conheci (não vai aqui nenhuma crítica: eles tinham todos os motivos para o serem...), eu percebi claramente que se tratava de ave de outra plumagem. E costumo acreditar nas minhas intuições, pois elas dificilmente me traem.

Minha filhinha concorda inteiramente.

GRÉCIA: NÃO PASSARÃO!

Um milhão de espanhóis protestaram neste domingo contra a penúria que os poderosos do mundo lhes querem enfiar goela adentro.

Depois da Grécia, berço da civilização, é a vez da heróica Espanha contestar as receitas capitalistas para a preservação dos bancos à custa do sacrifício dos homens.

Nada mais simbólico, se lembrarmos que foi também em terras espanholas que se deu a primeira grande tentativa de se deter a escalada nazifascista, na década de 1930.

É hora de gritarmos de novo: não passarão!

É hora dos melhores seres humanos se colocarem mais uma vez ao lado dos resistentes espanhóis.

É hora de formarmos novamente brigadas internacionais, para enfrentarmos o mesmo inimigo.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O DIAGNÓSTICO DE TOSTÃO SOBRE A MEDIOCRIDADE DO NOSSO FUTEBOL

Os jornalões quase nada trazem de importante, que mereça ser comentado, neste domingo de carnaval.

A exceção ficou por conta do outro ex-craque da bola que agora nos brinda com atuações magníficas no teclado: Tostão.

Semelhante a Sócrates pela maneira inteligente de jogar, pela profissão fora dos gramados (ambos médicos), pelas posições políticas esclarecidas, por ter o que dizer e saber expressar-se muito bem.

Brilhou no futebol quando uma ditadura terrível estava no auge. Talvez por isto, talvez por ser naturalmente tímido e discreto, Tostão nunca deu declarações contundentes nem subiu a palanques. 

Mas, com sua extrema dignidade, é um exemplo de homem que não se deixou distorcer pelos holofotes. Continua mineiramente transmitindo sua sabedoria a quem tem o privilégio de o escutar.

Sua coluna dominical, cujos principais trechos reproduzo, é um dos melhores diagnósticos que já li sobre os motivos pelos quais o melhor futebol do planeta hoje se joga na Espanha e o Brasil está seriamente ameaçado de novo fiasco no Mundial que sediaremos:
"...quando, onde e como começou o fascínio dos técnicos pelo jogo aéreo, pelos chutões, pelos lançamentos longos e outros detalhes?
Imagino que os treinadores, influenciados pelo tecnicismo mundial em todas as áreas, pela busca de conhecimento científico que poderia desvendar os segredos de um jogo, e pela busca do ouro, do prestígio e do poder, características do ser humano, adotaram uma maneira de jogar mais segura, previsível e mais fácil de ser treinada e repetida.

Todos os técnicos passaram a fazer e a falar as mesmas coisas. Criaram milhares de conceitos e chavões repetidos por torcedores e imprensa.

Com isso, passaram a ter o controle das partidas e dos jogadores. O sonho dos treinadores é transformar o futebol em um jogo programado, sem surpresas. Isso os torna mais importantes. Os comentaristas passaram a analisar todos os jogos a partir da conduta dos técnicos.

É mais seguro dar um chutão, para se livrar da bola, e fazer um lançamento longo, mesmo para um companheiro marcado, do que trocar passes no meio-campo, ainda mais na defesa. Isso evita perder a bola e levar o contra-ataque.

É mais fácil cruzar a bola na área do que fazer triangulações. Para isso, basta ensinar jogadores medianos a cruzar e a cabecear bem. Daí, surgiram os 'cai-cais', que tentam cavar faltas, enganar os árbitros, para jogar a bola na área.
 É mais seguro colocar zagueiros encostados à grande área, para diminuir os espaços nas costas, do que adiantá-los. Por outro lado, aumentam os espaços entre zagueiros e volantes. Se esses ficam muito atrás, o time fica muito longe do outro gol quando recupera a bola.
Por essas e várias outras condutas, os técnicos tomaram conta do jogo e se tornaram estrelas do espetáculo. Quanto mais rígida a estratégia, mais difícil é formar jogadores inventivos e habilidosos. Com menos craques, há menos chances de mudar a maneira de jogar. Cria-se um círculo vicioso negativo.

A única justificativa para tanta mediocridade era e é o resultado, como se, para vencer, fosse essencial jogar feio e com menos riscos. Nem o resultado mais existe".
Se queres um monumento, olha para as últimas competições importantes: o Campeonato Brasileiro foi vencido pelo Corinthians, que deve ter entrado para o Guiness como recordista de vitórias por 1x0, enquanto no Mundial de Clubes o Barcelona goleou o Santos por 4x0, numa partida cujo placar mais justo seria 7x1.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

RECADO AOS PATRULHEIROS DO MORALISMO RANÇOSO

Deu n'O Globo:
"Num encontro marcado por cobranças dos parlamentares e pelo constrangimento, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, fez (...) um movimento de reaproximação com a bancada evangélica e mandou uma mensagem da presidente Dilma Rousseff: de que mantém todos os compromissos assumidos com o setor durante a campanha eleitoral, como o de que o governo não irá patrocinar mudanças na atual legislação sobre aborto.

Gilberto ainda pediu desculpas aos parlamentares da Frente Parlamentar Evangélica pelo efeito de declarações dadas durante o Fórum Social Mundial...

- A presidente Dilma pediu que reafirmasse à bancada evangélica que a posição sobre o aborto é a posição que ela assumiu já na campanha. A posição do governo está absolutamente clara e assim vai continuar - disse Carvalho".
Eu não peço perdão a bancada evangélica nenhuma, nem a quaisquer fanáticos religiosos que queiram impor suas crenças à coletividade.

Aqui não é estado teocrático --felizmente!!! Se não preservarmos os valores da civilização, acabaremos apedrejando adúlteras, como ainda ocorre em nações espiritualmente ancoradas na Idade Média.

Defenderei sempre, incondicionalmente, o direito da mulher e seu companheiro decidirem por si sós se deve ou não ser levada até o fim a gravidez pela qual são responsáveis.

Nem o Estado nem quaisquer abelhudos têm legitimidade para se imiscuírem nesta questão (detalhe: eu não aprovo o aborto, mas abomino o autoritarismo).

Sou radicalmente contrário à homofobia, que é crime e deve mesmo ser punida como tal.

E favorável a que se ensine a coletividade a conviver harmoniosamente com as diferenças de gênero, pois ainda há preconceitos muito arraigados, a ponto de parlamentares assumirem o grotesco papel de patrulheiros do moralismo rançoso, chantageando partidos e governos em nome desses preconceitos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LINDEMBERG FOI CONDENADO, MAS OS PRINCIPAIS CULPADOS FICARAM IMPUNES

Esta charge do Caso Nardoni virou genérica:
serve para todos os julgamentos novelescos
Em outubro de 2008, uma novela policial teve desfecho trágico por conta da truculência insensata com que atuou a Polícia Militar e do circo armado pela mídia.

Os principais culpados escaparam impunes, como sempre.

O aloprado que provavelmente não mataria ninguém num país onde existisse polícia civilizada acaba de ser condenado a passar o resto da vida na prisão. Não lhe reconheceram a atenuante de que era um irresponsável (porque imbecil), enquanto os que deveriam agir de forma sensata e responsável precipitaram os acontecimentos, apenas para darem exibição de força.

Com o emocionalismo linchador insuflado pela cobertura sensacionalista e irresponsável, até a madre Teresa de Calcutá seria condenada inapelavelmente em todos os quesitos.

O mais importante quase todos omitiram: Deus nos livre de ficarmos entre a PM e seus alvos!

Um antigo parente meu, gerente de banco, certa vez me contou: quando assaltavam sua agência, a única preocupação dos funcionários era a de despacharem os bandidos o quanto antes. A grana, o seguro reporia. Mas, se as  otoridades  chegassem, a vida deles correria gravíssimo risco.

Eis o que escrevi na época. Não mudaria uma palavra sequer hoje.
A PM trocou o comandante do inquérito que deveria apurar as trapalhadas cometidas pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no Caso Santo André. Resta saber se foi para produzir mais luz ou, pelo contrário, apagar a pouca que existia, mediante uma atuação mais eficaz no encobrimento da verdade dos fatos.

O coronel Eliseu Teixeira, sem isenção nenhuma, assumira a defesa incondicional do Gate.

Quando começou a ser desmascarada pela TV Globo a balela de que a invasão policial havia sido precipitada por um disparo de Lindemberg, o coronel se manteve irredutível.
A sentença foi a cacapa mais cantada de todos os tempos
 Aí a sobrevivente Nayara confirmou em entrevista coletiva o que já ficara evidenciado a partir do teipe gravado no momento dos acontecimentos e das conclusões do perito independente contratado pela emissora: não houvera tiro nenhum, só uma operação de inoportunidade e incompetência extremas, que acabou provocando a morte de quem se queria salvar.
Como 2 e 2 são quatro, a opinião pública imediatamente concluiu que a verdade era a que se depreendia de teipe, perito e Nayara; e que a mentira estava do lado de sempre.

Foi quando o coronel tentou salvar a situação com uma frase patética, dizendo que o tiro não era "fator primordial" para avaliar-se se a ação do Gate fora ou não desastrosa.

Insultou a inteligência de todos que acompanhavam o caso.

Se houvera tiro, ainda se poderia desculpar uma invasão que deu todo tempo do mundo para Lindemberg atirar em Eloá.

Sem tiro, a única conclusão possível é que tal invasão foi inconsequente, sem planejamento adequado e executada da forma mais canhestra.

Segundo a PM, o coronel Eliseu Teixeira foi botinado do inquérito "devido à repercussão da coletiva" de Nayara. Por ter sido flagrado mentindo ou porque não conseguiu bolar uma mentira convincente para tapar o sol com a peneira? Eu cravaria a segunda opção, sem pestanejar...

De tudo isso, o que mais deveria preocupar o cidadão comum é: se a PM mente descaradamente num episódio que meio mundo estava acompanhando, o que não fará nos demais?

Desta vez, por acaso, havia uma poderosa emissora de TV esmiuçando o episódio. E das outras vezes, quando ninguém desmistifica as mentiras?

Quantos inocentes não terão sido abatidos por engano e depois dados como "bandidos reagindo à prisão"?

Quantos não estarão cumprindo penas imerecidas?

Quantas pessoas honestas não terão sido colhidas por fogos cruzados que uma polícia competente evitaria provocar?

Não era só o comandante do inquérito que precisava ser trocado. É a própria filosofia que norteia a truculenta atuação policial em São Paulo e aqueles que por ela respondem nos altos escalões.
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