quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A BANALIDADE DO MAL

Está no noticiário:
"Um adolescente de 14 anos pegou o carro do namorado da mãe, rodou em alta velocidade no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, e acabou atropelando e matando um pedestre na calçada".
Sofri algo parecido, em 1992, um dia depois do acidente que quase matou Nelson Piquet em Indianápolis.

Como era meu rodízio, um colega me deu carona na volta do serviço. Fiquei num cinema de arte do bairro de Pinheiros, para ver Dimenticare Palermo (1990), do Francesco Rosi.

Acordei no Hospital das Clínicas, com a perna fraturada em quatro lugares, lembrando-me apenas de estar assistindo ao começo do filme.

O trauma me fizera esquecer o resto. Durante a lenta recuperação, a fita VHS chegou às locadoras e aluguei, constatando que o final fora mesmo totalmente apagado da minha mente.

Quanto já capengava por aí, fui chamado ao distrito policial.

O delegado me contou: o condutor da moto que me atropelara havia assassinado um homem com um automóvel aos 18 anos de idade e quase me aleijara aos 19. 

Ele queria incriminá-lo mas, como os policiais que atenderam a ocorrência não tinham arrolado testemunhas (caixinha, obrigado!),  a única chance era uma denúncia formal minha.

O canalha nem sequer se preocupou com o que me acontecera. Jamais me procurou para pedir desculpas e ver o resultado de sua obra.

Mesmo assim, eu não mentiria para retaliar. Confessei que o episódio evaporara da minha mente. 

Ele ficou livre para reincidir; espero que não o tenha feito, mas duvido...

Trata-se dos  cuervos  que o capitalismo está criando. Por mais que compreenda os motivos de serem o que são, não consigo aceitar, em termos psicológicos. Sempre fico chocado.

E quão insignificantes, como pessoas, são tais mostrengos! A banalidade do mal.

Caso de um rapaz que viveu com a irmã de uma de minhas ex.

Pequeno marginal, foi preso e fez barganha: entregou os comparsas, depôs contra eles e permaneceu pouco tempo detido.

Não podendo se vingar diretamente dele, os bandidos mandaram matar seu irmão mais velho, que era honesto e bom pai de família.

Solto, o alcaguete seguiu tocando sua vida, como se nada houvesse acontecido.

Um homem de verdade ficaria prostrado pelos remorsos e talvez se matasse.

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