domingo, 8 de maio de 2011

AS CONTRADIÇÕES NO SEIO DAS FORÇAS INIMIGAS EXISTEM SIM!

Os companheiros que desconhecem o ambiente jornalístico tendem a menosprezar as famosas  contradições no seio das forças inimigas. Igualam tudo, de forma simplista: a imprensa burguesa é conservadora, reacionária e se colocará sempre contra tudo aquilo em que nós acreditamos, ponto final.

Mas, lembrando o bordão de Joelmir Beting, na prática a teoria é outra.

A Folha de S. Paulo, p. ex., sempre manteve postura bem diferente da d'O Estado de S. Paulo no que diz respeito aos conflitos do Oriente Médio: enquanto o vetusto  Estadão  é claque incondicional dos EUA e Israel, a Folha adota postura mais equilibrada e frequentemente crítica.

Por quê? Francamente, ignoro. Talvez algum dos leitores possa esclarecer que interesse(s) leva(m) a Folha a pender um tantinho para a esquerda nesta questão.

Pode ser até um resquício das antigas brigas entre os jornalões, daqueles tempos em que os Mesquitas qualificavam Frias e Caldeira de meros comerciantes (em contraposição à orgulhosa elite quatrocentona que a família proprietária do  Estadão  representava) e estes respondiam que o eram, sim, e com muito orgulho.

O certo é que o editorial de hoje da Folha de S. Paulo, Recaída imperial, com alguns retoques, poderia ser veiculado até pela imprensa de esquerda. Quando a gente pensa que já viu tudo...

Leiam e comprovem:
"Em meio à sucessão de versões incompletas e até contraditórias, acumulam-se dúvidas sobre a legalidade e a legitimidade da operação em que foi morto Osama bin Laden, mentor dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Os questionamentos convergem para dois pontos. Houve violação da soberania do Paquistão quando helicópteros americanos invadiram seu espaço aéreo? Bin Laden foi executado, quando poderia ter sido capturado e julgado?

A resposta ao primeiro ponto pode ter mais nuances do que sugerem os protestos verbais de autoridades paquistanesas. Há indícios de algum acordo entre os dois países sobre incursões americanas, ainda que no caso de Bin Laden sem autorização específica.

Desde 2001, o Paquistão recebeu US$ 22 bilhões de Washington para colaborar contra o terror. Aviões não tripulados americanos têm bombardeado posições terroristas no país. Documentos obtidos pelo WikiLeaks mostram que Islamabad forneceu a localização de parte dessas bases - portanto já permitiu acesso a seu território.
Quanto à segunda questão, as informações disponíveis sugerem que o objetivo da operação era eliminar Bin Laden, e não prendê-lo. Só um cúmplice do terrorista teria disparado contra as forças especiais. Bin Laden teria sido morto diante da filha e de uma mulher. Tinha pistola e fuzil ao alcance, mas não os usou.
A decisão de jogar o corpo no mar - não prevista na Convenção de Genebra - reforça a interpretação. Na versão americana, o túmulo do saudita poderia tornar-se ponto de culto terrorista, mas a ausência de um corpo contribui para a convicção de muitos de que o governo Obama quer ocultar detalhes comprometedores da ação.

É preciso ressalvar que cabe manter uma atitude pragmática na avaliação do episódio. Bin Laden não era um inimigo convencional, mas mentor do ataque mais letal já registrado em território americano, com 3.000 mortos.
 Barack Obama tentou conferir um tom de vitória moral ao raide, ao dizer que se fez justiça. Justiça, no entanto, é algo que se realiza em tribunais, sob o império da lei - como não se cansam de pregar os americanos, ainda que nem sempre o pratiquem.
Países poderosos sempre se reservaram a prerrogativa de não cumprir normas caso julguem que seus interesses ou segurança estejam em risco. A guerra ao terror transformou a exceção em regra ao proclamar o direito à intervenção preventiva. A frouxidão quanto a princípios de direito internacional é atestada pelo episódio recente da morte de um filho do ditador líbio Muammar Gaddafi por forças da Otan, que extrapolou o mandato da ONU de apenas proteger a população civil.

Os EUA, portanto, precisam não apenas esclarecer as circunstâncias da morte de Bin Laden, mas assegurar ao mundo que essa recaída imperial não implica abjurar a profissão de fé no multilateralismo e no respeito às normas internacionais feita por Obama".

Um comentário:

Laércio disse...

Já que leitores são instados a comentar o porque da Folha ter posições esquerdóides de vez em quando, lá vai a minha: a Folha pretende se dirigir a leitores mais modernos, críticos, que pensam com a própria cabeça. E um poquitim mais à esquerda, ao menos no discurso. Vários atribuem ao editorial sobre a "Ditabranda", diminuindo as atrocidades do período militar, uma fuga sensível de assinates do jornal.
Realmente, considero das mais imparciais a avalição sobre o que ocorreu no caso 'Delenda Osama'. Faltou dizer que o orgulho nacional do Paquistão foi atingido, e até que ponto o governo ora no poder sera agredido com isso.

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