segunda-feira, 18 de abril de 2011

O JORNALISTA, O ASSASSINO E A MÍDIA ABUTRE

Não é por ele ter um dia comparado Mino Carta a Odorico Paraguaçu que eu aprecio o trabalho de Fernando de Barros e Silva. Até porque eu escolheria outro personagem, este histórico, como o mais afim do arrogante  imperador: o capitão William Lynch, cujo sobrenome deu origem ao substantivo linchador. Advinhem por quê.

O certo é que, nestes tempos tão carentes de vida inteligente no jornalismo, Barros e Silva constitui honrosa exceção, como se constata em sua coluna desta 2ª feira, O jornalista e o assassino, cujos principais trechos reproduzo:
"Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público...

O jornalismo transita entre essas duas exigências, desafiado a atender as demandas de uma sociedade ao mesmo tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares.

Um caso como a tragédia de Realengo reúne interesse público e interesse do público em grau máximo...

Como fazer sua cobertura? Até onde saciar a curiosidade (mórbida) das pessoas? Até onde devassar o sofrimento das famílias? Deve-se expor sem limites os vídeos 'preparatórios' do assassino?
Não há respostas conclusivas a essas perguntas. Mas não fazê-las, sob pretexto de que seriam ingênuas numa época de informação instantânea, equivaleria a deixar o jornalismo e suas opções fora do debate público. É preciso refletir melhor sobre os nossos critérios.
Sobretudo quando o jornalismo se converte em 'infotainment' e parece inclinado a se guiar quase exclusivamente pelos interesses 'do público'. A superexposição midiática, apelativa e, afinal, monótona do assassino serve bem de exemplo. Nunca um vídeo foi tão visto e comentado. É contra esse espetáculo que deveríamos nos opor".

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