sexta-feira, 29 de abril de 2011

CAÇANDO LAMARCA, OS MILITARES BOMBARDEARAM ÁREAS CIVIS A ESMO

FAB jogou bomba em SP durante cerco a Lamarca é o título da reportagem publicada pela Folha de S. Paulo nesta 6ª feira (29).

Serve para novamente comprovar que as Forças Armadas extrapolaram todos os limites na repressão aos resistentes -- neste episódio específico, caçando fugitivos da VPR.

Que lhes importava se atingissem caçadores furtivos ou crianças catando palmito, com seus explosivos lançados a esmo?

Fui dos primeiros contatados pelo repórter Rubens Valente quando encontrou tal informação num arquivo secreto militar, agora tornado público.

Não pude ser de grande valia, já que não estava onde as bombas poderiam ser percebidas nem escutara qualquer referência a elas. [Para quem quiser conhecer em pormenores o que me aconteceu naqueles dias, recomendo a leitura do Náufrago da Utopia.]

Mas, acabei dando as dicas que lhe permitiram localizar seus dois entrevistados, o Darcy Rodrigues e o Joaquim dos Santos.

Eis a matéria assinada por Rubens Valente e João Carlos Magalhães:
"Documento das Forças Armadas liberado após 41 anos de sigilo revela que, em 1970, aviões da FAB despejaram bombas em áreas civis na região do Vale do Ribeira, em São Paulo, durante cerco ao grupo do guerrilheiro Carlos Lamarca, da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).

O papel confirma o que poderia antes parecer exagero dos relatos feitos pelos militantes de esquerda que participaram do conflito: 'Aviões B-26, da FAB, bombardearam regiões suspeitas'.
O ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, 69, hoje capitão da reserva do Exército e na época braço direito do ex-capitão do Exército Lamarca, confirmou ontem à Folha que durante dez dias viu aviões sobrevoando a região e ouviu explosões que ele julgou serem de bombas caindo na região de Jacupiranga, a cerca de 30 km de Registro.
'Eles escolhiam para bombardear as reentrâncias da serra do Mar, onde achavam que estávamos escondidos. Jogavam as bombas no início da manhã e à tarde.'
'Para eles, não era só nos caçar, era também fazer exercício de guerra diferente.'
Em fuga, Rodrigues, o 'Leo', se escondeu na mata até ser preso, agredido e levado a São Paulo, onde foi submetido a torturas diárias.

Ele era um aliado de Lamarca desde os anos 60, quando deixou o Exército para seguir o capitão. Depois, exilou-se em Cuba até 1980.

A Folha também localizou o motorista de Lamarca, Joaquim dos Santos, o 'Monteiro'. Ele escapou da região e avisou outros membros da VPR, mas acabou preso pela Oban (Operação Bandeirante). Lá ouviu de policiais relatos sobre o bombardeio. 'Eles falavam que tinha é que jogar bomba mesmo.'

O relatório que cita o bombardeio foi produzido pelo CIE (Centro de Informações do Exército), redistribuído pela Aeronáutica e integra o lote de 50 mil documentos entregues recentemente ao Arquivo Nacional de Brasília.
O texto descreve a 'Operação Registro', desencadeada pelo Exército, pela Aeronáutica e pela Polícia Militar de São Paulo entre 27 de abril de 5 de maio de 1970.
A partir das primeiras informações fornecidas sob tortura, por presos no Rio, o Exército chegou à região do grupo de 19 guerrilheiros liderados por Lamarca.

Ele, contudo, conseguiu romper o cerco militar e conseguiu chegar ao sertão da Bahia, onde foi cercado e morto no ano seguinte".

Um comentário:

Priscila disse...

Olá Lungaretti, escrevi uma crítica sobre seu livro, caso queira visualizar:

http://caixa-de-pandora-oba.blogspot.com/2011_05_01_archive.html

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