segunda-feira, 11 de abril de 2011

AO MESTRE, COM CARINHO: MEU TRIBUTO A SIDNEY LUMET (1924-2011)

Um dos meus cineastas prediletos, Sidney Lumet morreu neste sábado, aos 86 anos, de linfoma.

Depois de dirigir muitos seriados de TV entre 1951 e 1957, ele estreou no cinema com um clássico absoluto: 12 homens e uma sentença (1957), que transcorre inteiramente na sala em que os jurados discutem um caso ao qual ninguém dá muita importância.

Faz um calor sufocante, o ar condicionado está quebrado e eles querem liquidar logo a questão, condenando à morte um jovem com toda pinta de culpado. 

No entanto, a sentença precisa ser unânime e um deles (Henry Fonda) começa a questionar detalhes do processo pelos quais o medíocre e desinteressado defensor público passara batido. Aos poucos, os  demais jurados vão se convencendo de que existe mesmo a possibilidade de o réu ser inocente.

As características básicas de Lumet já estavam todas presentes neste filmaço: história fortíssima, profundidade psicológica, grandes interpretações, direção sóbria e eficiente.

Ele era tão esquerdista quanto algum cineasta poderia ser na meca do cinema comercial, fazendo críticas certeiras ao sistema, aos poderosos, às injustiças. Sempre tão consistentes e sem panfletarismo que acabavam sendo engolidas por Hollywood.

Quando eu começava a me interessar pelo cinema adulto, lá pelos 15 anos, seu O homem do prego (1964) me atingiu em cheio: outro drama contundente como um soco no estômago.

Mostra um judeu (Rod Steiger) que é dono de uma loja de penhores  em Nova York e vive atormentado pelas lembranças de seus tormentos durante o nazismo, dos entes queridos assassinados, etc.

De tão fixado no passado, ele nem percebe a afeição que seu jovem funcionário negro lhe dedica... até que este morre para defendê-lo de um assalto.

Dos 72 títulos de Lumet, apenas 42 foram longa-metragens cinematográficos; os demais, filmes e séries para TV, além de um curta.

Afora os dois longas acima citados, eu recomendo fortemente:
  • A colina dos homens perdidos (1965), com Sean Connery ótimo no papel de um sargento durão que, levado a uma prisão militar no norte da África, começa a rebelar os outros prisioneiros contra o tratamento desumano de que são vítimas;
  • Até os deuses erram (1972), também com Sean Connery, desta vez como o policial que espancou um suspeito até a morte. O filme recapitula o tenso duelo entre ambos, com o prisioneiro descobrindo as vulnerabilidades do inquisidor e o acuando, até que este reage com uma explosão de violência;
  • Rede de intrigas (1976), a crítica mais devastadora que o cinema já fez à TV. Um âncora estressado (Peter Finch) se descontrola, faz um desabafo em pleno ar e acaba se tornando uma espécie de guru televisivo. Mesmo sabendo que ele não se encontra no seu estado normal, a televisão o usa enquanto há algo a espremer, em termos de audiência... e depois o joga fora;
  • O príncipe da cidade (1981), sobre a corrupção policial e a dolorosa tentativa de regeneração de um detetive (Treat Williams). Para purificar-se, entretanto, ele é obrigado a denunciar os colegas de sua unidade, apesar dos fortes laços de companheirismo que os unem; e
  • O veredicto (1982), que considero o melhor drama de tribunal de todos os tempos, sobre um advogado decadente e bêbado (Paul Newman, superlativo!) que tem uma última chance de voltar à tona, desde que vença um processo contra a influente Igreja Católica e o melhor escritório de advocacia que o dinheiro pode arregimentar.
        Outros títulos de destaque na carreira de Lumet são Longa jornada noite adentro (1962), Limite de segurança (1964), O golpe de John Anderson (1971), Serpico (1973), Assassinato no Expresso Oriente (1974), Um dia de cão (1975), Equus (1977), O mágico inesquecível (1978), Armadilha mortal (1982), Daniel (1983), A manhã seguinte (1986), O peso de um passado (1988), Negócios de família (1989) e Antes que o diabo saiba que você está morto (2007).

        Era um diretor que sabia escolher boas histórias, valorizá-las ao máximo e extrair grandes desempenhos de seus intérpretes. Talvez por isto, os melhores atores quase sempre atendiam ao seu chamado.

        A já escassa vida inteligente que subsistia em Hollywood, agora se tornou ainda mais ínfima.

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