segunda-feira, 21 de março de 2011

ANOS DE CHUMBO: FALTA ALGUÉM NO DEBATE SOBRE PUNIÇÃO DOS CARRASCOS

O ditador Costa e Silva o tinha como fiel servidor
Este artigo é de  dezembro 
de 2008, mas permanece 
tão atual que merece bis: 
afinal, não só as tentativas 
de se punirem torturadores 
da ditadura de 1964/85 
continuam focadas apenas
nos   paus mandados  e 
poupando os mandantes, 
como Delfim Netto segue louvando o capitalismo 
com o mesmo ardor e 
justificando a desigualdade 
e as injustiças com o 
mesmíssimo papo furado...


Em artigos na revista O Cruzeiro e depois em livro, o jornalista David Nasser clamava: "Falta alguém em Nuremberg".

Referia-se ao principal carrasco da ditadura getulista, o capitão Filinto Strubling Muller, que depois tirou a farda e vestiu o terno de parlamentar das bancadas direitistas.

Da mesma forma, eu digo que falta alguém no debate sobre a punição dos responsáveis pelas atrocidades cometidas pela ditadura de 1964/85: os mandantes em geral e, particularmente, os signatários do famigerado Ato Institucional nº 5.

A mim, mais do que os pittbuls em si, repugnam-me os presumivelmente civilizados que tiraram a coleira dos pittbuls.

Os ditadores mudavam, mas
o ministro Delfim continuava
Com uma simples canetada, deram sinal verde para torturas, assassinatos, estupros, ocultação de cadáveres e todo o festival de horrores dos anos seguintes.

E, depois de delegarem o serviço sujo à ralé, ficaram bem a salvo em seus gabinetes luxuosos.

Um deles é Delfim Netto, que continua defendendo fervorosamente o capitalismo, por ele assim louvado em sua coluna na Folha de S. Paulo (Cuidado):
-- "Capitalismo" é o codinome de um sistema de organização econômica apoiado no livre funcionamento dos mercados. Nele há uma clara separação entre os detentores do capital (os empresários) que correm os riscos da produção e os trabalhadores que eles empregam com o pagamento de salários fixados pelo mercado. É possível (e até necessário) discutir a qualidade dessa organização e sugerir-lhe alternativas. O difícil é negar a sua eficiência, a sua convivência com a liberdade individual e os dramáticos resultados que desta última emergiram a partir dos meados do século 18.Depois de uma estagnação milenar, nos últimos 250 anos ela permitiu a multiplicação por seis da população mundial, multiplicou por dez a sua produção per capita e elevou de 30 para 60 anos a expectativa de vida do homem.
Os empresários   correm os riscos da produção  até o momento em que causam uma recessão planetária e ainda são socorridos por seus governos -- ao invés de receberem punição exemplar pelos crimes que cometeram, como as astronômicas gratificações autoconcedidas às vésperas da tempestade anunciada. Aliás, a inexistência de punições para tais safadezas, a pretexto de não estarem capituladas em lei, diz tudo sobre o capitalismo.

Quanto aos trabalhadores, continuam recebendo salários fixados pelo mercado em patamares bem inferiores ao valor daquilo que produzem, daí o descompasso entre oferta e procura, foco de crises cíclicas que agora podem ser represadas por mais tempo, mas não evitadas.

Bons companheiros: o  Cidadão
Delfim 
com o  Cidadão Boilesen
O preço mais dramático da desigualdade inerente ao capitalismo continua sendo a guerra ou a recessão; sempre o sofrimento da maioria como conta a pagar pelo banquete da minoria.

Se queres um monumento à eficiência do capitalismo, olha em torno: os bolsões de miséria em que vegetam tantos seres humanos, apesar de já estarem dadas todas as condições para assegurar-se sobrevivência digna a cada habitante do planeta.

Vale destacar, ainda, a possibilidade de a própria espécie humana ser extinta em função das agressões ao meio ambiente motivadas pela ganância. A cada dia constatamos que as alterações climáticas constituem uma ameaça muito mais grave do que nos querem fazer crer. E há outras, como a escassez de água potável.

Quanto aos alardeados frutos do desenvolvimento das forças produtivas, aconteceram   por causa  ou apesar  do capitalismo? É uma longa discussão.

Não há como dimensionarmos o quanto avançaríamos se, p. ex., ao invés de as pesquisas científicas estarem atreladas a interesses mesquinhos, priorizassem o bem comum.

É uma possibilidade ainda a ser testada, não no figurino totalitário do século passado, mas a partir da livre cooperação entre os homens.

E o será, para desespero dos que há 40 anos tentavam deter o avanço social com a força bruta e hoje recorrem à retórica falaciosa.

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