domingo, 20 de março de 2011

AMARGA (MAS NECESSÁRIA) DECISÃO

Carrancas e óculos escuros...
É triste ter-se de optar entre valores igualmente fundamentais para os povos e nações, mas há momentos em que contemplar a todos se torna impossível.

Na crise da Líbia, não há como se conciliar o direito à vida e à liberdade com o princípio de autodeterminação dos povos.

Há um tirano que se mantém há 42 anos no poder graças à utilização mais excessiva e bestial da força.

Até agora, a comunidade internacional apenas torcia para que os líbios afinal o escorraçassem do poder.

Mas, o regime de terror absoluto implantado por Gaddafi conseguia inibir as reações populares. E o mundo se omitia.

...compõem visual típico de ditadores
Até que, contagiado pela temporada de caça aos ditadores do Oriente Médio e adjacências, o povo líbio finalmente foi à luta contra o  grande ditador.

Mas, quem se sabe odiado pelos governados trata de preparar-se bem para resistir a eles. Então, armado até os dentes, Gaddafi começou a levar vantagem militar e acabaria esmagando a rebelião.

Como deveria proceder o resto do mundo? Reconhecer o direito do mais forte? Cruzar os braços diante dos massacres?

As potências fizeram o que tinham de fazer: intimaram Gaddafi a interromper a carnificina.

Este ordenou um cessar-fogo... e, ato contínuo, o rompeu, voltando a atacar os rebeldes.

Qual deveria ser a reação das potências? Deixarem-se ludibriar por um genocida desses? Com sua desmoralização, o mundo inteiro viraria uma terra sem lei.

Ademais -- o que para elas verdadeiramente não conta, mas tem importância extrema para nós -- ficaria difícil, quase impossível, derrubar os déspotas, pois estes sufocariam os movimentos de resistência com banhos de sangue, certos de sua impunidade.

Então, mesmo reconhecendo que esses aliados só intervêm contra determinados ditadores e não contra todos os ditadores, ainda assim não há como recriminarmos sua decisão.

Não há nem o que discutir: eles são mesmo movidos por interesses. É óbvio.

Isto, contudo, não os impede de estarem, neste momento, representando a civilização, contra a barbárie que Muammar Gaddafi personifica como ninguém.

Quanto a nós, homens de esquerda, simplesmente dilapidaremos nosso patrimônio moral e credibilidade se associarmos nossa imagem à de um dos mais repulsivos tiranos da atualidade.

O homem comum, com seu senso comum, concluirá que somos parte da podridão sanguinolenta que aí está, e não a alternativa a ela.

Se deixarmos de corporificar a esperança coletiva numa sociedade menos desumana, mais livre e mais justa, nada nos restará.

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