sábado, 1 de janeiro de 2011

CHEGANDO À LIBERDADE

1969. Logo no início de minha clandestinidade, passei alguns dias num hotelzinho barato do Centro Velho de São Paulo, aguardando definições sobre o papel que desempenharia na Vanguarda Popular Revolucionária.

Só saía para almoçar, comprar jornal... e assistir ao bangue-bangue do cinema que ficava logo embaixo.

Tudo mudara repentinamente demais na minha vida. Então, o western revolucionário de Sergio Sollima me distraía das inquietações e ajudava a suportar a inusitada solidão, além de revigorar meus ideais, servindo quase como uma reafirmação de valores.

O Dia da Desforra é sobre um peão mexicano (Thomas Milian) que participa do levante camponês de Juarez e, quando este é derrotado, torna-se um homem permanentemente em fuga e, por falta de alternativa, um pequeno marginal.

Por haver visto um ricaço estuprar e matar uma menina, atiram-lhe a culpa, marcando-o para morrer. E um ex-xerife (Lee Van Cleef) lhe move longa perseguição, até perceber a verdade.

Como é honesto, recusa-se a limpar a sujeira dos poderosos. Toma, isto sim, o partido do injustiçado, produzindo o desfecho catártico antecipado no título.

O filme virou cult. Tem ótimo roteiro, ação empolgante e dá muitos toques sobre a desigualdade social, a opressão imposta aos humildes e a instrumentalização da lei pelos interesses dominantes.

É um arraso o tema principal da (belíssima!) trilha de Ennio Morricone, "Run, Man, Run", falando sobre a existência um lugar onde os homens não se matam e veem um ao outro como irmãos; um lugar onde o eterno fugitivo vai poder viver sem medo e, afinal, será livre...

Mas, até encontrar esta terra, deverá continuar correndo, a fronte voltada para o sol, contra tudo e contra todos, até chegar à liberdade, até chegar aonde eles nunca, nunca, nunca terão de novo prisões para ele.

"Run, Man, Run" está aí embaixo. Foi a música que me veio à cabeça ao pensar nas agruras do companheiro Cesare Battisti, que tanto correu de país em país, tanto amargou a privação injusta da liberdade e agora, finalmente, está chegando aonde nunca mais haverá cárceres à sua espera.

Um comentário:

Haroldo Cunha/São Gonçalo/RJ disse...

Celso, não deixarão o Battisti sossegado! Como mencionou um comentarista no post anterior, eu também tenho pouquíssímo conhecimento, para não dizer nenhum, das ações dele na Itália, no entanto ele conta com minha simpatia pelo fato de ser Berlusconi, com seus seguidores fascistas, um vampiro di anime, pois só isso explica suas constantes volta ao poder.

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