domingo, 28 de novembro de 2010

PALIATIVOS E SOLUÇÕES: FRAGMENTOS DE UMA DISCUSSÃO...

...NO PORTAL LUIS NASSIF:

LUZETE: COMO SERIA O CONSUMO DE DROGAS NUMA SOCIEDADE SOCIALISTA?

"Celso, fico pensando se o problema se dá propriamente no âmbito dos modos de produção específicos. como aconteceria o enfoque do consumo da droga numa sociedade socialista?

ou você acredita que numa sociedade socialista o uso de drogas deixaria de ser um recurso que homens recorrem para dar conta das suas angústias, verdadeiramente humanas e que não encontram eco em formas tradicionais, digamos assim, de enfrentar a vida?

a droga é apenas resposta ao consumismo, aos desvarios de uma sociedade onde o bicho homem come o outro bicho homem?

sei lá..."

CELSO: DROGAS EVIDENCIAM SER A EXISTÊNCIA INSATISFATÓRIA

"A Luzete me propôs uma questão complicadíssima.

De que socialismo estamos, afinal, falando? Se for do real que vicejou e ainda é encontrado em países de desenvolvimento tardio, não tenho dúvidas de que a droga continuará existindo no mercado negro. A repressão nunca é solução, sempre existe alguém correndo riscos na suposição de que não será agarrado.

Se pensarmos no sonho de Marx -- a construção de uma sociedade nova em bases mundiais, com foco na colaboração e solidariedade entre os homens para a promoção do bem comum --, as pessoas provavelmente prefeririam o convivio harmonioso e amoroso com outras pessoas do que se drogarem.

Penso naquela bela frase que Godard atribuiu a Lênin (nunca descobri se é mesmo dele ou não passou de mais uma liberdade poética do cineasta francês): "A ética é a estética do futuro".

E na proposta de Marx, de conduzir a humanidade ao reino da liberdade, no qual cada cidadão poderia se desenvolver plenamente como ser humano, livre dos grilhões da necessidade.

Enfim, a droga oferece satisfações que as pessoas não conseguem alcançar pelos meios normais. Evidenciam que a existência é insatisfatória para elas -- e, sob o capitalismo, sempre será, pois a própria lógica do sistema é manter os indivíduos insatisfeitos, competidores e consumistas.

Acredito que, numa sociedade em que as pessoas verdadeiramente se realizassem, a grande maioria não visse atrativo nos estados alterados de consciência.

E, se todos tivessem o materialmente necessário para uma existência satisfatória, também é provável que houvesse bem menos pessoas fazendo da droga uma fonte de renda, como agora."

LUZETE: A UTOPIA É UTOPIA. É OUTRO LUGAR... E ENQUANTO ISTO?

"Celso,

continuamos lidando com utopias... e elas não chegam...

e tenho dúvidas. me pergunto se a utopia política um dia chegar, ainda assim as pessoas não recorrerão ao consumo de drogas que alteram o estado de consciência. esta hipótese é plausível. então, como se lidará com a questão?

bom... mas a utopia é utopia... é um outro lugar... e enquanto isto, Celso? enquanto isto?! descriminaliza-se ou não a droga? qual a melhor forma de atacar/lidar com o problema? deixa rolar? como, no âmbito mesmo do capitalismo, pode-se lidar com esta questão, na sua transitoriedade, pressupondo-se que esta ética que nascerá no futuro um dia dará conta melhor do problema, ou quem sabe até, porque deixará de ser problema?

quer dizer, "cobro" de você um certo pragmatismo..."

CELSO: SOB O CAPITALISMO TUDO MARCHARÁ SEMPRE PARA PIOR

"Luzete,

eu tento despertar as pessoas para a necessidade imperativa de mudarmos o mundo, pois, sob o capitalismo -- que já esgotou sua função histórica, hoje tem sobrevida parasitária e se torna mais nocivo e destrutivo a cada dia -- tudo marchará sempre para pior.

Então, paliativos só transferem os problemas para adiante. Ou pegamos o touro pelos chifres ou teremos nova temporada de massacre de favelados daqui a dois anos.

Repressão não é solução. Extermínio é inaceitável e inominável. Alguns carros queimados não valem os inocentes que foram colhidos no fogo cruzado por essa bestial demonstração de força do Estado.

Menos, claro, para a classe média, que dá muito mais valor a seus carros do que à vida dos coitadezas.

O que você quer que eu sugira? Um país capitalista menos selvagem atuaria contra os traficantes com serviços eficientes de inteligência e ações seletivas, não utilizando áreas onde moram os civis como campos de batalha.

Mas, aqui, nem isto se faz. Pois a vida dos favelados não tem valor nenhum para o Estado, nem para a mídia.

O tom beligerante e triunfalista do noticiário de hoje quase me faz vomitar. Ninguém parece se dar conta de que estamos presenciando uma tragédia, não uma partida de futebol."

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