quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LIVRE PENSAR É SÓ PENSAR

Como na conhecida parábola sobre prisões, José Serra é o bode que colocaram na cela superlotada.

Face ao insuportável fedor do bicho, os prisioneiros esqueceram todas as suas queixas, exigindo apenas a retirada do caprino.

Da mesma forma, ao representar na eleição presidencial a mais retrógrada direita brasileira -- desde o DEM que é seu aliado, passando pelo ferrabrás que lhe serve de vice e terminando nas  viúvas da ditadura  que caluniam Dilma Rosseff na internet --, Serra se tornou o nome mais inaceitável para qualquer homem de esquerda neste momento.

Ainda assim, não se trata de uma partida de futebol, no qual se torce desbragadamente para um time contra outro, fechando os olhos a seus defeitos.

Os torcedores, na sua maioria, acham válido vencer no último minuto dos acréscimos com gol roubado.

Um homem de esquerda quer construir um futuro, não meramente ganhar uma eleição.

Então, numa disputa direta entre Dilma e Serra, inexiste outra opção que não a de apoiarmos a primeira. Nem anular faria sentido.

Discordo totalmente, entretanto, de quem prega o voto útil já no 1º turno. Na ausência de verdadeira ameaça -- Serra não tem chance nenhuma de liquidar a fatura em 3 de outubro --, cada um de nós deve votar em quem realmente o expressa politicamente, ou esteja mais próximo disto.

Para mim, p. ex., Dilma vem em quinto lugar, bem depois de (por ordem alfabética) Ivan Pinheiro, Plínio de Arruda Sampaio, Rui Costa Pimenta e Zé Maria.

Eu violentaria minhas convicções e rasgaria as bandeiras pelas quais luto desde os 16 anos de idade se optasse por ela em detrimento de qualquer um desses quatro.

O voto útil só fará/faria sentido para nós em 31 de outubro.

E tendo a clareza de que, uma vez cravada a estaca no coração do Nosferatu neodireitista, começa o nosso verdadeiro trabalho: o de lutar para que o PT governe com o ideário de 1979, não o de 2002.

Se alguém ainda não entendeu o que estou dizendo, sugiro a leitura do recém-publicado artigo de Demétrio Magnoli, Ogro, sim, senhor!.

Boa parte do que ele afirma é verdadeiro, principalmente nestes dois parágrafos:
"Sob a inspiração geiseliana, tão óbvia na interlocução com Delfim Netto, o lulismo assimilou a seu bloco de poder um setor do grande empresariado. As empresas estatais, os financiamentos subsidiados do BNDES e os capitais de fundos de pensão geridos por sindicalistas petistas são as ferramentas dessa assimilação, que abrange grupos de telecomunicações, empreiteiras, conglomerados da petroquímica e da siderurgia. Na interface das alianças entre capitais públicos e negócios privados vicejam intermediários com acesso privilegiado ao governo".

"O arco político situacionista estende-se da esquerda à direita, dissolvendo barreiras doutrinárias. O clã Sarney, Fernando Collor, Jader Barbalho, Michel Temer, Ciro e Cid Gomes foi incorporado ao 'partido de Lula'. Todos eles têm a prerrogativa de subordinar a seus interesses um fragmento do Estado neopatrimonalista".
Aliás, antes mesmo de Lula ser eleito pela primeira vez, um companheiro cujo filho tinha posição de destaque no mercado de capitais já me alertava: Delfim Netto seria a  eminência parda  da política econômica do governo petista.

Dito e feito. Ou alguém acredita que Palocci fizesse algo além de figuração?

Nosso senhor é o povo. Os governos do Lula serviram a dois senhores, o tempo todo. 

Daí nos caber, agora, lutarmos com todas as forças para o que de Dilma não venha a manter a mesma duplicidade.

O caminho certo é o que o PT se dispôs a trilhar há três décadas, e do qual nunca deveria ter saído:
"O Partido dos Trabalhadores pretende que o povo decida o que fazer da riqueza produzida e dos recursos naturais do país. As riquezas naturais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem-estar da coletividade.

"Para isso é preciso que as decisões sobre a economia se submetam aos interesses populares. Mas esses interesses não prevalecerão enquanto o poder político não expressar uma real representação popular, fundada nas organizações de base, para que se efetive o poder de decisão dos trabalhadores sobre a economia e os demais níveis da sociedade".

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