segunda-feira, 21 de junho de 2010

UMA ETAPA FOI VENCIDA; AS OUTRAS SERÃO MAIS DIFÍCEIS

As pessoas para as quais só a vitória importa estão esfuziantes com a vitória brasileira sobre a Costa do Marfim por 3x1.

Analistas acostumados ao futebol de outros tempos têm alguma dificuldade para equacionar o que aconteceu.

Mas, há explicações. Sempre existem.

Todos, no fundo, estão certos. Cada um à sua maneira.

Houve tempos em que um triunfo se desenhava claramente, como resultado de nítida superioridade.
Os esquemas táticos atuais, entretanto, servem exatamente para anular pontos fortes dos rivais.

Conjugados aos enormes ganhos em desempenho físico dos futebolistas, acabam produzindo uma certa igualação de forças, baseada no fechamento dos espaços.

Ou seja, é cada vez mais difícil estabelecer-se a situação na qual um único atacante se defronta com um defensor só e tudo se decide no duelo entre ambos. Existem sempre jogadores demais na mesma faixa de gramado, embolando tudo.

E, aí, a partida é decidida nos pequenos e nem sempre discerníveis detalhes; minimalismo.

Assim, o Brasil não se mostrava melhor em nada até o gol inicial, mas era quem tinha melhor potencial para aproveitar a primeira oportunidade real que conseguisse criar.

Criou e aproveitou, abrindo o placar: como a cobra que aparenta letargia mas dá o bote de um momento para outro, trocou passes rapidamente e conseguiu colocar Luís Fabiano na cara do goleiro. O matador não perdoou.

Aí, pela nossa antiga maneira de ver o futebol, deveria aproveitar a necessidade que o adversário passou a ter de atacar para liquidar o jogo em contra-ataques.

Mas, nem a Costa do Marfim se mandou toda para o ataque, nem o Brasil soube encaixar bons contra-ataques, embora os espaços disponíveis passassem a ser maiores... só que nem tanto.

A partida continuou equilibrada e o 1º tempo terminou sem vantagem nítida para nenhum lado. Salvo no placar, favorável aos brasileiros.

E assim recomeçou, para novo lance agudo decidir tudo. O resto foi só complementação do tempo regulamentar, com direito a mais dois gols e muita pancadaria.

É certo que Luiz Fabiano usou indevidamente o braço para conduzir a bola e o gol deveria ser anulado.

Mas, fica a impressão de que o tento decisivo ocorreria logo adiante. Pois era o Brasil que prevalecia nos (poucos) lances agudos; e este pequeno fator tinha peso decisivo.

Cabe, entretanto, a pergunta: mesmo que nossa Seleção possa resolver a parada em duas ou três estocadas, não seria melhor ainda se, como a Argentina deste Mundial e o Barcelona dos últimos anos, envolvesse e sobrepujasse categoricamente o adversário?

No fundo, é o que queríamos --queremos -- todos os que reclamamos jogadores melhores do que os convocados e escalados pelo técnico Dunga em algumas posições.

Deve-se levar em consideração, entretanto, que a Argentina tem um supercraque, Messi, que dá o toque de gênio à sua tática de trocar passes longamente até que surja a brecha para a assistência perfeita, a tabelinha, o drible em direção ao gol.

Idem o Barcelona, com Messi no presente e Ronaldinho Gaúcho em passado recente.

No fundo, trata-se de uma atualização da laranja mecânica com que os holandeses produziram a última verdadeira revolução tática do futebol mundial.

E se trata de um esquema que, desde Cruyff, só atinge a perfeição quando tem um grande maestro regendo a orquestra.

Dunga pode dar a desculpa de que nem tentou ir por esse caminho exatamente por não ter um Cruyff. Paulo Henrique Ganso estaria verde e Ronaldinho Gaúcho, maduro demais. Pode ser.

Ainda assim, com sua necessidade obsessiva de vencer um hipotético braço de ferro contra seus críticos, Dunga desperdiçou possibilidades para montar um conjunto mais consistente e equilibrado, que não dependesse desesperadamente das tais estocadas.

Diziam os antigos que não é sensato colocar todos os ovos numa cesta só. Foi o que fez Dunga, acreditando que o Brasil poderá vencer sempre sem impor uma nítida superioridade ao longo dos 90 minutos, mas sendo superior apenas nos segundos que duram uns poucos lances agudos.

É o que veremos a partir das oitavas-de-final, quando as dificuldades tendem a aumentar.

Como a partida contra Portugal deixou de ter real importância, Dunga conta agora com um intervalo precioso para fazer os ajustes que aumentarão as chances do Brasil neste Mundial.

O pior que pode acontecer é ele considerar que, como deu certo até agora, mudanças/melhoras são desnecessárias.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ô náufrago, deixa o Dunga em paz.

Eu estou adorando o Dunga porque ele está botando a GRobo no lugar dela e a GRobo está p da vida. Estou achabdo ótimo e torcendo para que os torcedores vão às ruas gritar diante de microfones e câmeras da GRobo: Dunga! Dunga! Dunga!

celsolungaretti disse...

Não me parece que minha humilde opinião vá tanger os acontecimentos em qualquer direção.

Procuro fazer sempre análises equilibradas e verdadeiras, sem me importar com quem compartilha a minha posição e quem defende ponto de vista oposto.

Então, para mim o futebol será sempre arte e espetáculo. Vi artistas maravilhosos da bola como Garrincha, Pelé, Zico, Sócrates, Maradona e que tais. É a imagem deles que eu associo ao futebol.

Quando alguém tenta transformá-lo numa guerra e numa cruzada de afirmação nacional, serei sempre contra, pouco importando de que lado a Globo esteja.

Abs.

Anônimo disse...

Caro Celso.

A coletiva de imprensa foi pedagógica, não? Um cara que não está nem aí para a imprensa, mandando todo mundo se $#%¨&* - e a imprensa, $%¨&* da vida com o mesmo, que não a deixa trabalhar, e a faz para ter que cumprir a pauta, ter que inventar histórias e criar lorotas. E ainda cobra profissionalismo e ponderação do Dunga - eu rio, muito!

A questão, é que se analisarmos todas as seleções criticamente, somos superiores. A Argentina que você vangloria, só criou dois gols com a bola rolando. Isso mesmo! O resto foi em cobranças de faltas, gols contra...

Todos os nossos gols foram em jogadas trabalhadas, tabelas, dribles; nenhum em bola parada...

A questão é bem simples: Futebol moderno é força física, contato, tática, ocupar espaços. Fazer gols em tabelas e jogadas é para poucos. A Espanha que copia o Barcelona é um fiasco. O Barcelona parou na Inter de Julio Cesar, Maicon e Lúcio. Quando o Brasil foi ameaçado, além de nos gols de bobeira?

Eu sou nostálgico com relação ao voley - só assisto voley feminino. O voley masculino de antigamente, aonde haviam rallys, ataques repetidos, defesas recorrentes, não existe mais.

Desculpe, meu admirado, mas você deve passar a assistir apenas ao futebol feminino, aonde Martas e Crhistianes soltam dribles mágicos e lúdicos, e aonde cada jogadora pode parar e pensar cinco segundos para vislumbrar qual jogada desenvolver.

Pense nisso!

Saudações Fraternas!

celsolungaretti disse...

A Argentina criou umas 20 oportunidades nos dois jogos e fez 5 gols.

O Brasil, criou umas 8 e fez 4 gols.

Cada um vê o ângulo que quer.

Você pode achar o Brasil mais eficiente.

Eu o considero mais mesquinho: poderia nos oferecer estética, só oferece matemática.

A Seleção Brasileira de 1982 é até hoje mais reverenciada pelos amantes do futebol, no mundo inteiro, do que a campeão Itália.

Idem a da Hungria de 1954. [Quem se lembra dos alemães calculistas, que botaram os reservas para levar uma goleada de 8x3 e ainda por cima quebrarem o principal jogador húngaro? Já Puskas será sempre lembrado como um gigante.]

Idem a da Holanda de 1974.

Para mim, vale muito mais ficar para sempre no imaginário do povo do que colocar uma taça numa estante.

A Seleção de Sócrates, Zico e Falcão perdeu a tacinha, mas será, para sempre, lendária.

A Seleção do führer Dunga, ou ganha a tacinha ou será lembrado com a mesma repulsa que dedicamos à Seleção da Era Dunga (a de 1990).

Essa é a diferença.

Anônimo disse...

Falando em estatísticas, a Argentina teve 31 ataques, o Brasil teve 28. Em total de chutes a gol, a Argentina teve 42, e o Brasil 38. Chutes no gol, a Argentina teve 18, e Brasil 16 (estatísticas no sítio da Fifa). Mas o grupo da Argentina é bem mais fácil que o Grupo do Brasil.

Celso, você chegou a visualizar as publicações do viomundo recentes sobre Dunga?

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/novelini-dunga-nao-lava-a-mao-da-globo.html

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/dunga-desmente-o-dossie-global.html

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/burburinho-a-tentativa-de-demonizar-o-tecnico-dunga.html

Com relação a esta "Seleção da Era Dunga", reafirmo que a rusga entre imprensa e técnico distorce a informação, como venho afirmando há muito.

Enfim, a seleção de 1982 e a de 1986 foram maravilhosas, mas não foram melhores que a de 1958, 1962, 1970...

Por que não escalar a seleção no 4-2-4? Pois o futebol mudou, e a seleção de 1982 e a de 1986 são a prova, não esqueçamos do "bota ponta Telê!"

As mudanças no esporte nem sempre são compreendidas.

O Dunga não é um traidor do futebol - ele apenas compete na realidade, e não em 1982.

Saudações Fraternas

celsolungaretti disse...

Lembrei-me de Nelson Rodrigues e os sarcasmos certeiros que disparava contra os "idiotas da objetividade".

Estatísticas não fazem distinção entre chances reais de gols e chutinhos meia-boca. Mas, quem viu as quatro partidas sabe que a proporção é exatamente a que eu disse.

Desmentidos desse tipo são produzidos por atacado. Atuei durante 33 anos no batente jornalístico, conheço panos quentes quando os vejo.

Tudo que se disse do Dunga é 100% congruente com seu comportamento de moleque pirracento na coletiva da Fifa.

Quem encostava a Globo na parede era outro gaúcho, este sim um grande homem: Leonel Brizola.

Dunga só consegue ser grosseiro com profissionais que estão cumprindo seu trabalho.

Só lamento que os coleguinhas de hoje tenham sangue de barata. Durante toda minha carreira, em tais situações, eu sempre respondi à altura.

A liturgia profissional vai até quando o entrevistado parte para agressões pessoais. Aí a coisa passa para outro plano e homens devem reagir como homens.

A Argentina também compete na realidade... sem despojar o futebol de sua dimensão lúdica.

Já o Brasil, como a retranqueira Suíça, lembra mais exércitos, tal sua rigidez.

Repito: quem só quer a vitória, de qualquer jeito e a qualquer preço, fica reduzido a pó se não vence.

Dunga deveria ter aprendido isto em 1990.

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