segunda-feira, 24 de maio de 2010

SEM RETROCESSO, MAS SEM FANTASIA

"Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer"
(Chico Buarque)
Previsivelmente, houve leitor deste blogue se manifestando contra meu posicionamento acerca da ex-companheira de VAR-Palmares e atual presidenciável no artigo Dilma aos investidores estrangeiros: nada muda na economia.
E, para um que escreve, há sempre vários outros que pensaram o mesmo e não se deram ao trabalho de escrever. Então, vale a pena deixar um pouco mais clara a questão.

A fala de Dilma aos investidores estrangeiros, ao garantir que, se eleita, nossa política econômica continuará seguindo os ditames do capitalismo globalizado, deve até ser elogiada pela sinceridade. Ao menos não nos tenta vender gato por lebre.

Mas, se o que Dilma promete, verdadeiramente, é manter a ortodoxia neoliberal que convém aos grandes empresários, aos banqueiros e ao agronegócio, por que devemos apoiá-la contra Serra? Qual a diferença entre ambos, em termos macroeconômicos? Nenhuma.

No primeiro turno, evidentemente, quem é contra a hegemonia capitalista poderá votar em algum candidato mais adequado ao seu perfil, como Plínio de Arruda Sampaio.

Aí, se o 2º turno for mesmo entre Dilma e Serra, só restará a um anticapitalista basear sua opção nos fatores secundários, já que o principal terá saído da pauta: nenhum deles se propõe a substituir o capitalismo por uma organização política, econômica e social fundada na igualdade, no primado do bem comum e na cooperação entre os homens. A desigualdade, a ganância e a competição continuarão intocadas.

Mesmo assim, entre o reformismo de Dilma e o chicote do Serra, a escolha será óbvia.

Para quem conhece as condições subumanas em que vegetam, mais do que vivem, tantos brasileiros, o Bolsa-Família e outros paliativos vão ser sempre melhores do que nada.

O que não podemos é acalentar ilusões de que por aí chegaremos a uma sociedade solidária e livre. Já se passou um século desde que Edouard Bernstein pregou a transição
automática do capitalismo para o socialismo, com a progressiva ampliação das conquistas sociais.

E o que vemos é exatamente o contrário, como Rosa Luxemburgo previu: a desigualdade, o desperdício e o parasitismo estão piores do que nunca.

Com a agravante de que a atuação predatória do capitalismo sobre o meio ambiente cada vez mais ameaça extinguir a espécie humana.

Então, há, sim, motivo para nos empenharmos em evitar a vitória de José Serra, o ex-presidente da UNE que ousou colocar a tropa de choque da PM no campus da USP. Quem foi capaz disso, é capaz de qualquer coisa.

Mas, sem fantasia. Eleita Dilma, teremos de arregaçar as mangas e travar nossa luta onde ela deve ser travada, no seio da sociedade, pois não serão os governos que nos vão conduzir à terra prometida.

Se apostarmos todas as nossas fichas neles, continuaremos sempre longe do "tempo em que o homem seja amigo do homem", sonhado por Brecht e pelos melhores seres humanos.


2 comentários:

Haroldo Mourão Cunha / São Gonçalo/RJ disse...

Celso, concordo com parte do que disse (grande parte). No entanto, os eleitores devem lembrar que o presidente tem um poder limitado, via de regra, sua força está na CANETA, mas ela pode ser revertida se nos conseguirmos eleger um Congresso que realmente nos represente. Mas, entra eleição e sai eleição, são sempre os mesmo, se no programa escolar fosse obrigatório o ensino da Constituição, um pouco de Direito Administrativo (O basicão mesmo: Leis da improbidade, licitação...), já teriamos futuros eleitores conscientes (E por que não dizer, futuros legisladores, também?). Nossa Carta Magna é Parlamentarista dentro de um sitema presidencialista. Só com parlamento melhor, teremos um presidencialismo melhor.

luiz carlos disse...

Prezado Celso. Tua análise é clara e esclarecedora. Abraço

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