quarta-feira, 21 de abril de 2010

O HORROR NUCLEAR, A ARTE E A VIDA

"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas...
Mas, não se esqueçam
Da rosa, da rosa,
Da rosa de Hiroshima"
(Ney Matogrosso)

A ARTE
O Dia Seguinte (1979 - d. Nicholas Meyer)
Numa pequena cidade do Kansas, uma família prepara um casamento. O Dr. Oakes (Jason Robards) se ocupa com sua função de chefe de cirurgia do hospital local. As pessoas cumprem suas rotinas diárias, sem saber que o mundo está próximo de uma guerra nuclear.

Os soviéticos atiram mísseis contra a Alemanha, atacam um navio estadunidense no Golfo Pérsico e, depois, o quartel general da OTAN. As notícias geram pânico, muitos constroem abrigos em seus porões, a maioria é pega de surpresa.

A destruição não poupa o Kansas: o Dr. Oakes e sua família tentam sobreviver num mundo estéril e devastado, sem energia elétrica, água ou comida, mas com muita radioatividade, fome e doenças.
A VIDA
Crise dos mísseis cubanos (outubro de 1962)
Em todos os países há pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki. Era concreta a possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo suficiente para exterminar a espécie humana.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíram, sofregamente, abrigos nucleares em suas casas.
[A histeria coletiva inspirou um episódio magistral da série de TV Além da Imaginação, sobre vizinhos que, ao confraternizarem numa festa, recebem a notícia de que a guerra atômica pode estar começando.

O único que havia transformado seu porão em abrigo, nele entrincheira-se com a família, negando acesso aos demais, por não haver mantimentos, água e espaço físico para tanta gente.

Quando os outros estão pondo abaixo a porta, empunhando tacos de beisebol e outras armas improvisadas, chega o desmentido: rebate falso. Mas, suas reações primitivas e egoístas durante a emergência revelara a todos como eles realmente eram, sob o verniz da hipocrisia social.]
A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.

Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a exibirem também o muque.

Krushev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.

Nos EUA e em grandes capitais européias, houve júbilo incontido. Cidadãos festejavam nas praças e parques, lotavam os bares. Casais redescobriram a atração sexual, estranhos iam para a cama depois de trocarem duas palavras (o número de crianças nascidas nove meses depois foi muito superior ao habitual...).

A explosão de vida sucedeu aos augúrios de morte. Emblematicamente, a música até então ignorada de quatro jovens de Liverpool decolaria para a consagração mundial, tornando-se a trilha sonora da maior revolução de costumes que o mundo já vivenciou.

A ARTE
Síndrome da China (1979 - d. James Bridges)
Ao fazerem uma reportagem em usina nuclear da Califórnia, a repórter de TV Kimberly Wells (Jane Fonda) e o cinegrafista Richard Adams (Michael Douglas) suspeitam de que presenciaram uma ameaça de vazamento nuclear.

A emissora é pressionada para não colocar a matéria no ar, mas a dupla insiste na pauta e acaba descobrindo que houve mesmo um início de descontrole, encoberto pela usina por temer uma vistoria que a obrigue a fechar para reparos, com enorme prejuízo.

O honesto engenheiro Jack Godell (Jack Lemmon) decide priorizar a segurança da coletividade em detrimento dos patrões, esforçando-se para alertar a opinião pública do enorme risco existente, com a ajuda da equipe de TV.


Acaba se trancando numa sala de controle, armado, para impedir que recoloquem a usina em operação sem terem sanado o problema. É morto, mas seu alerta vai ao encontro de novo incidente, em que quase ocorre o pior, desta vez diante das câmaras de várias redes de TV.

A VIDA
Three Mile Island (1979) e Chernobil (1986)
Se o desfecho sensato da crise dos mísseis cubanos fez diminuir consideravalmente a ameaça de uma guerra apocalíptica entre as superpotências, nem por isso a energia atômica deixou de provocar pesadelos e paranóias.

Em abril de 1986, um acidente nuclear na usina soviética de Chernobil, na Ucrânia, liberou uma nuvem de radioatividade que atingiria a URSS, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, expondo 6,6 milhões de pessoas e tornando necessárias a evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil habitantes.

A ONU computou 56 mortes decorrentes do acidente na primeira década, estimando que outras 4 mil ainda viriam a ocorrer; o Greenpeace retrucou que esses números eram bem inferiores aos reais. A usina foi desativada.

Anteriormente, o acidente no reator de Three Mile Island já levara 140 mil moradores do condado de Dauphin, na Pensilvânia, a abandonarem a região.

Essa central nuclear sofreu fusão parcial em março de 1979, devido a falha do equipamento decorrente ao mau estado do sistema técnico, além de erro operacional. Tinha havido redução de custos, prejudicando a manutenção e troca de equipamentos. Os encarregados não se demonstraram suficientemente capacitados para lidar com a emergência.

O susto e os transtornos motivaram o lançamento de uma campanha contra a energia nuclear nos EUA: No Nukes, com a participação de músicos famosos como Jackson Browne, Bonnie Raitt e Graham Nash.

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