sábado, 13 de março de 2010

CUBA "NÃO É PARADIGMA" PARA O BRASIL EM DIREITOS HUMANOS, DIZ GARCIA

O caso mais célebre de dissidente político que morreu em greve de fome: o irlandês Bob Sands, em 1981. Aguentou 66 dias.


Esqueçam o exemplo desastrado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu para ilustrar sua posição de que não se pode libertar todo e qualquer detento que faça greve de fome.

Se ele acrescentasse que cada caso é um caso, a ser abordado de acordo com suas especificidades, ninguém estaria reclamando.
Os bandidos paulistas é que não tinham nada a ver com este assunto. Errou Lula ao misturar alhos com bugalhos.

A posição oficial do Governo Lula foi dada nesta 6ª feira (12) pelo assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, em coletiva à imprensa. Ele esclareceu que:
  • as polêmicas declarações foram "laterais" (ou seja, referem-se a aspectos secundários e não ao âmago da questão) e "não refletem a posição do Brasil e nem do Lula sobre os direitos humanos";
  • "o regime de Cuba não é paradigma para o nosso", em matéria de DH;
  • o Brasil faz defesa "intransigente" dos DH, mas só debate "nos fóruns multilaterais";
  • como os cubanos não dialogam "na base da exigência", criticá-los seria "contraproducente", daí Lula preferir tratar do assunto com "discrição".
Assim, segundo Garcia, o Brasil se dissocia do enfoque cubano dos direitos humanos, pois os DH são defendidos de forma intransigente por nosso país (e, depreende-se, não o são pelo regime dos irmãos Castro).

Mais: Cuba infringe mesmo os DH dos opositores de consciência, mas se manterá intransigente diante de pressões externas para rever suas práticas. Então, Lula acredita que uma atuação discreta seja mais adequada para atingir-se tal objetivo.

Colocada nestes termos, é uma posição defensável e equilibrada, após os excessos cometidos de parte a parte nesta polêmica desfocada: de um lado a grande imprensa, tendenciosamente, conferiu importância demasiada a uma fala distraída de Lula; do outro, os defensores de Cuba satanizaram uma vítima, negando-lhe até a condição de perseguido político, embora ele fosse reconhecido como tal pela Anistia Internacional desde janeiro de 2004 (vide aqui).

Quanto à decisão de ignorar os apelos dos dissidentes cubanos, porque "o governo brasileiro não é uma ONG" e só se relaciona com outros governos, formalmente é inatacável, mas isto não a impede de ser chocante ao extremo para quem tem nossas tradições humanitárias e compassivas.

Caberia melhor, p. ex., para anglo-saxões, que colocam a lei acima de tudo (às vezes, até do espírito de justiça).

Gente como a dama de ferro Margareth Thatcher.

Um comentário:

wilson cunha junior disse...

Obrigado por essa análise que resgata a verdade dos fatos, preocupação que deve ser apenas nosssa pois a imprensa tradicional a ela não se apega.

Parecem também não se apegar a ela senadores como Suplicy, C. Buarque e Pedro Simon que na tribuna do senado referendam a cobertura midiática e oportunista da mídia corporativa.

É curioso como Cuba se torna o Leviatã em ano em que se vota pra presidente. No mais é desdenhada por essa mesma mídia quando nada está em jogo.

Minha simpatia por Cuba deriva da minha angústia em ver a degradação humana. Moro em uma cidade que, antes calma, está se transformando numa das mais violentas do país. Pessoas são mortas porquem negam um cigarro ou se negam a pagar a relocação do DVD alugado.

A sociedade capitalista é uma sociedade doente. A violência que atinge a todos sem discriminação é a única igualdade entre nós.

Tenho simpatia, ou esperança, por Cuba porque de lá não vejo alunos irem pra escola e metralhar seus colegas, porque não vejo crianças serem mortas a esmo, porque não vejo crianças sendo arregimentadas para o trabalho escravo nem vivendo como zumbis nas ruas fumando crack, porque a saúde não é uma mercadoria pra se ganhar dinheiro.

Me dói ver o país mais solidário do mundo só ser notícia por suas imperfeições, que a meu ver, é fruto de sua solidão.

“Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”. (Leon Tolstoi)

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