terça-feira, 2 de março de 2010

DE VOLTA À "ERA DUNGA" (NO MAU SENTIDO!)


As formigas da Seleção Brasileira estão fazendo covarde jogo de bastidores contra a convocação da cigarra Ronaldinho Gaúcho, indiscutivelmente nosso mais refinado talento futebolístico da atualidade.

Nas entrevistas, repetem os elogios de praxe ao astro do Milan. Mas, quando batem papo descontraído com jornalistas, defendem o direito adquirido de quem ralou pela vaga desde o último Mundial, nas eliminatórias, na irrelevante Copa América e nos amistosos caça-níqueis.

[Se assim for, teremos como segundo goleiro o Dôni. E o Brasil inteiro rezará para o Júlio César não se contundir...]

O veterano Gilberto Silva, nada além de um volante mediano e aplicado, é dos que consideram preferível prestigiar o armário Júlio Batista. Os limitados se atraem.

Assim como limitado era o futebol de Dunga, tão rústico que serviu como pejorativo para designar a performance retranqueira e burocrática com a qual a Seleção Brasileira não passou das oitavas-de-final em 1990.

Dunga continua procurando até hoje o craque Maradona, que já estava em franca decadência mas ainda conseguiu driblá-lo e armar um fuzuê na defesa brasileira, colocando Cannigia cara a cara com Taffarel.

Há quem o considere redimido pela laboriosa participação no Mundial de 1994, conquistado bem ao seu feitio: nos pênaltis, após 120 minutos de chatíssimo 0x0 contra a Itália.

Para mim, foi a Copa de Romário, o único fora-de-série e, por isto mesmo, o jogador brasileiro que fez a diferença.

Como técnico, é compreensível seu preconceito contra um dos que, na atualidade, mais se assemelha ao Maradona dos gramados.

Humilhação como a da Copa de 1990 não se supera facilmente -- ainda mais quando acrescida de um baile como o que Ronaldinho lhe aplicou no GreNal decisivo do Campeonato Gaúcho de 1999.

Dunga revela insensatez e obtusidade, pois pode estar semeando nova derrota acachapante. Em partida decisiva, eu não apostaria num Brasil sem Ronaldinho contra uma Argentina com Messi.

"Este grupo só aceita quem se entrega totalmente", diz Dunga. É a apoteose da transpiração, em detrimento da inspiração. Serve para exércitos. Futebol costumava ser outro departamento.

A vitória a qualquer preço, no peito e na raça, fornece satisfação medíocre, que se dilui com o tempo.

As conquistas de que os brasileiros mais nos orgulhamos são as dos Mundiais de 1958 e 1970, em função das atuações artísticas, deslumbrantes; em segundo plano, as de 1962 e 2002, que marcaram mais pelos lampejos geniais; a de 1994 fica no fim da fila, com a anticlimática partida final sendo lembrada de forma até constrangida.

Também são deploráveis os resmungos moralistas de Ricardo Teixeira (logo quem!), recriminando as baladas atribuídas a Ronaldinho.

As cervejinhas não impediram Sócrates de dar títulos inesquecíveis ao Corinthians, como o do bicampeonato paulista de 1983, quando fez o único gol do time nos quatro jogos decisivos (1x1 e 1x0 contra o Palmeiras, 1x0 e 1x1 contra o São Paulo) -- uma proeza e tanto para um meiocampista!

O maior cartola brasileiro de todos os tempos, Paulo Machado de Carvalho, contando com a cooperação de jornalistas compreensívos, evitou que o decisivo futebol de Garrincha e Didi fosse prejudicado pelo fato de que um era engravidador serial das loiras suecas e o outro não aguentava abster-se da sua caninha.

Já o técnico Telê Santana deixou de conquistar o Mundial que até merecia por, entre outros motivos, não haver feito vistas grossas na hora certa: cortou Renato Gaúcho e Leandro da Seleção de 1986 por terem escapulido da concentração em busca de mulheres, numa noite que não era véspera de jogo nem nada.

Pelos mesmos critérios, não teríamos Garrincha nem em 1958, nem em 1962.

Sabe-se lá se venceríamos sem o Mané. Tudo leva a crer que, no Chile, não.

13 comentários:

Anônimo disse...

Paulo Reis

Celso assino embaixo de tudo que vc falou. Sou gaúcho colorado, mas a seleção do Dunga, com esse futebol burocrático, de resultado e engessado, não dá para aguentar. Que falta faz um Ronaldinho com seu futebol moleque, um Alexandre Pato jogando em alto nível. É duro ter que ver Elano, Josias, Julio Batista e Gilberto Silva etc...

Haroldo M. Cunha disse...

Eu também assino embaixo. Dunga parece um daqueles generais da ditadura e, a se configurar como verdadeiras as fofocas contra o 'grupo', seus capatazes sem competência, me lembra o "Brasil, ame-o ou deixe-o". Bem, pelo menos, hoje podemos nos expressar...

Ruivo disse...

Eu não assino em baixo. A impressão que se tem, talvez errada, é que o articulista se juntou à mídia dominante que não "engole" o Dunga justamente por não ter sido ele uma indicação dela.
Não creio ser ele a pessoa ideal para dirigir a seleção brasileira, mas de uma coisa podemos estar certos: desta vez a Globo não conseguiu ela mesma dizer quem deveria ser o técnico. (Não nos esqueçamos de que esse canal de TV, ou melhor, essa rede se acha no direito e no dever de indicar tanto o técnico da seleção, como o presidente da República).
Provavelmente seja por isso que a Globo (e todos os outros meios que a seguem fielmente) fizeram, inicialmente, uma campanha feroz contra o Dunga. Essa campanha ainda persiste, não com base nos resultados, porque esses são favoráveis, mas tendo como motivo chave a não convocação do Ronaldinho.
Só mais uma coisa: se alguém me apontar uma só vez em que Ronaldinho foi brilhante na seleção em jogos oficiais, eu retiro tudo o que disse.

Naty disse...

Como gaúcha não posso deixar de relembrar um episódio que foi a final do Campeonato Gaúcho de 1999, eu tinha 12 anos e assisti à final entre Grêmio e Internacional no estádio Olímpico.

O Grêmio ganhou o campeonato por 1x0 com um gol de Ronaldinho Gaúcho, ganhamos contra o Inter de Dunga que ainda jogava, mas o mais memorável foram os lances de pura habilidade de Ronaldinho para cima de Dunga, especialmente um lençol que Ronaldinho aplicou nele.

Entre nós gremistas a teoria é de que a não convocação é pura dor de cotovelo e sinceramente, eu não duvido nada.

Naty disse...

Ah...agora li o comentário do Ruivo, como ele pediu apenas um momento do Ronaldinho sendo brilhante na seleção, eu lembrei imediatamente do jogo Brasil x Inglaterra pela Copa do Mundo de 2002, se eu não me engano, quartas de final.

celsolungaretti disse...

Então retire, Ruivo. O Ronaldinho Gaúcho foi o responsável pela vitória brasileira na partida mais difícil do Mundial 2002, contra a Inglaterra:
criou a jogada do gol de Rivaldo, dando-lhe uma assistência perfeita; e tirou o 2x1 da cartola, encobrindo Oliver Kahn com um arremate da zona morta.

De resto, nunca me defino como anti-Globo ou anti-qualquer-coisa. Defendo valores positivos. P. ex., o futebol-arte, o talento, o espetáculo.

Comecei a gostar de futebol num tempo em que jogavam Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Dino Sani, Ademir Da Guia e outros artistas da bola. Como jogador e como técnico, Dunga sempre foi de outra liga.

Anônimo disse...

Celso, Oliver Khan é da Alemanha...
O goleiro em questão era David Seaman....

E apesar de achar o Ronaldinho um cracaço...Ele infelizmente jogou bem pouquíssimas vezes na seleção....

celsolungaretti disse...

Bastaria essa, Marcos.

Foi o jogo decisivo do Mundial 2002, o único adversário que realmente poderia ter ganhado de nós.

De mais a mais, preferirei sempre 1% do futebol de um Ronaldinho Gaúcho do que 100% do futebol de um Júlio Batista.

Garrincha não fez absolutamente nada em 89 minutos da partida também decisiva contra a Espanha, no Mundial 1962. No seu único lampejo, liquidou a partida.

A Argentina jamais deixará de levar um Messi, só porque não costuma ser o mesmo do Barça quando joga na seleção.

Só um obtuso como o Dunga para preterir nosso maior talento.

Forte abraço!

Naty disse...

Só uma observação, mas notaram que um post sobre futebol teve muito mais comentários do que os outros posts?

Aquele jogo contra a Inglaterra eu não esqueço, mesmo porque tive que acordar as 3 da madrugada para ver o jogo. Ronaldinho tava tão impossível naquele jogo que acabou sendo expulso depois de quase quebrar o tornozelo de um jogador da Inglaterra, realmente foi um jogaço.

Provos Brasil disse...

Acho que quem perde é o futebol!

E acho também que o Ronaldinho não é só isso aí!
O cara foi o melhor do mundo duas vezes, foi campeão da Champions, fez partidas incríveis, foi aplaudido de pé em pleno Santiago após partida história, entre tantas!

É espécie rara na era do futebol resultado!
O Dunga é um bobo! Qualquer técnico de futebol do Brasil que tenha o mínimo de bom senso é capaz de alcanças os resultados alcançados por ele, basta marcar, preencher os espaços e colocar a criatividade a serviço do ataque!

É Naty, se os brasileiros se importasse menos com o futebol as coisas seriam melhores... quem sabe!

Provos Brasil

Anônimo disse...

Bela lembrança a do corte do Renato Gaúcho.

Tirando os craques que jogaram em 82, Renato era certamente, naquela altura, o melhor jogador brasileiro.
No lugar dele tivemos que aguentar o Muller, que nunca jogou bem na seleção.

Anônimo disse...

Bem, sobre o Ronaldinho. Não sei exatamente como ele está jogando agora, mas faz muito muito tempo que ele não joga bem na seleção.
Parece que ele desaprendeu a jogar futebol e virou filureiro. Virou tipo um jogador pra jogar num time espetáculo tipo globetrotters (é assim que se escreve?). O futebol dele perdeu eficiência, coisa que me parece que Garrincha nunca perdeu.
Mas ele ser convocado não seria absurdo.
Absurdo foi a convocação do Ronalducho na copa passada. Havia um grande esquema entre CBF, Parreira e jogadores certamente, e envolvendo muita grana.

Anônimo disse...

Prezados,

Fico tão intrigado com a capacidade de todos aqui serem técnicos de futebol...
1º Quem aqui jogou futebol profissional?
2º Quem aqui treinou um time de futebol?

Este assundo quando tratado todos parecem PHd's, mas no final das contas quem é o errado?
Na minha opinião, ninguém!
A única coisa que sabem fazer é meter o pau no Dunga por A e por B, mas até agora o que podemos ver, como leigos que somos, são os resultados e estes não poderiam ser mais positivos. Senhores o futebol não é teatro, há muito tempo perdemos jogos e campeonatos por dois motivos: futebol "arte" e individualismo.
As melhores equipes (em qualquer área) não é a que tem os melhores "profissionais" e sim a que tem melhor espirito de grupo, ou seja, a que unida gera os melhores resultados.
Acho muita prepotência questionarmos os métodos do Dunga, mas sinceramente, adoro a forma como ele trata a imprensa que se diz tão importante para a sociedade (será?) manipulando tudo e a todos. Fico impressionado com a campanha anti-dunga da imprensa, fantástico quando alguém defende o seu grupo como ele defende, ele não fala mal dos jogadores, e nem mesmo dos torcedore, apenas agride a impensa!!!

Palmas para, pois ele mostra para esta cambada de prepotentes reporteres que são idiotas manipuladores de notícias.

Parabéns Dunga, é por falta de caras como você que o Brasil não vai para frente.

Continue defendendo os interesses da seleção como um todo.

A população irá se calar quando você levantar a taça do Hexa.

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