sábado, 31 de outubro de 2009

SOLUÇÃO SALOMÔNICA PARA A CRISE HONDURENHA

Foi uma solução salomônica, a que os EUA concertaram em Honduras.

Caberá ao Congresso decidir se o poder vai ou não ser restituído ao presidente legítimo Manuel Zelaya. É o que Zelaya propunha.

A Suprema Corte, na qual o presidente golpista Roberto Micheletti depositava suas esperanças, será consultada e vai emitir um parecer, que poderá ou não ser seguido pelo Congresso.

O mais tardar na 5ª feira, será empossado um governo de unidade e de reconciliação nacional, com representantes das duas partes.

Esse governo, ou reempossará Zelaya, ou empossará quem vencer as eleições, dependendo da decisão dos congressistas.

Se o Congresso optar pela volta de Zelaya ao governo, o que lhe restará de poder real?

As eleições se realizarão, como programado, no próximo dia 29. Ou seja, daqui a quatro semanas.

Tão logo se anuncie o vencedor, será ele o presidente de fato, embora tenha de esperar até 27 de janeiro para sê-lo de direito.

Elegendo-se um candidato apoiado por Zelaya, este sairá fortalecido e vai continuar exercendo forte influência no destino de Honduras.

Caso contrário, o golpe terá logrado o seu objetivo: evitar a continuidade das políticas de Zelaya.

A este, restaria o provável papel de líder da oposição.

De resto, o acordo prevê a futura instalação de uma Comissão da Verdade, para apurar os fatos relativos à deposição de Zelaya. O previsível é que venha a dividir as culpas também salomonicamente.

Não foi, nem de longe, o desfecho ideal. À primeira vista, parece que Zelaya perde mais do que Micheletti (começando pelos quatro meses de governo que já lhe foram surrupiados, desde o golpe de 28 de junho).

Mas, a política é uma caixinha de surpresas. Se reassumir a presidência antes das eleições, Zelaya poderá se apresentar ao povo como o grande vencedor do braço-de-ferro com os golpistas e, surfando nessa maré de popularidade, fazer o seu sucessor.

Quanto aos golpistas, aprenderam uma lição que poderiam ter lido em Napoleão: baionetas não servem como assento. Tinham a força das armas, mas a rejeição mundial, em última análise, os obrigou a ceder.

Quanto a Lula, também saiu metade vencedor e metade perdedor -- como todos os outros.

Acolhendo Zelaya na embaixada, foi o país com atuação mais decisiva para frustrar os planos dos golpistas, de levarem a situação em banho-maria até as eleições.

Mas, não teve força política suficiente para ser ele a impor uma solução a Micheletti.

Fez um lance ousado, aparentemente superestimando o efeito que a presença física de Zelaya teria sobre a mobilização popular.

Quando esta se mostrou insuficiente para abalar os golpistas, recuou para uma posição de imobilismo, deixando o palco livre para os Estados Unidos brilharem.

Foram estes, infelizmente, os únicos vencedores totais. Os EUA deixaram o impasse prolongar-se quanto quiseram e deram um basta no momento em que decidiram.

Obama mostrou que seus elogios são como confetes: alegram a festa, mas acabam varridos no dia seguinte.

Pois fez questão de mostrar que é ele o cara a quem cabe a palavra final nas Américas.

Poderia ter manobrado para os louros ficarem com Lula. Não o quis.

Espero que os sábios do Itamaraty façam a avaliação correta e a transmitam a Lula: nada devemos esperar de Obama além do que esperávamos de Bush.

Teremos o espaço e a influência que conquistarmos. Não nos serão repassados de mão beijada.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

LULA SE COMPARA À IGREJA UNIVERSAL: DIZ QUE AMBOS SÃO VÍTIMAS DE PRECONCEITOS


Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quem continua esquerdista ao se tornar sexagenário tem um parafuso solto na cabeça.

Foi só uma frase infeliz? Não. Tratou-se, à sua maneira rústica, de uma declaração de princípios.

Pois, semana após semana, dia após dia, ele vai renegando todos os valores que dizia professar, e em nome dos quais os abnegados voluntários do Partido dos Trabalhadores fizeram campanha por ele, nas eleições perdidas para presidente da República (1989, 1994 e 1998) e governador (1982), bem como na que ganhou para a Câmara Federal (1996).

Em 2002 entendeu-se com o grande capital, para que lhe fosse permitido conquistar o ambicionado troféu que três vezes lhe escapara.

Este compromisso, ao contrário dos que firmou com os idealistas, ele cumpriu integralmente: os bancos registraram, ao longo de seus quase sete anos de governo, lucros estratosféricos. Estão entre os mais rentáveis do planeta.

Antes da última crise global do capitalismo, festejavam a cada mês novas quebras dos seus recordes de faturamento.

Durante a crise, receberam verdadeiras doações do Governo Federal, para que não estrangulassem o crédito aos que trabalham e produzem.

Em vão: usaram os recursos para precaverem-se contra as inadimplências, tratando apenas da salvação de si próprios.

Não por causa deles, o País se salvou. E os bancos continuam rapinantes, recebendo brandas admoestações de Lula pelos juros escorchantes dos cheques especiais e outros produtos.

Ao lado do puxão de orelhas de pai para filho, vem o conselho ao cidadão comum: administre melhor seus gastos!

Já tratou os retrógrados usineiros como "heróis" do nosso sofrido país.

Já colocou os interesses do agronegócio acima da própria vida do bispo Luiz Flávio Cappio.

Já renegou o uso do termo "burguesia" para qualificar os que antes ele designava como vis "exploradores".

Já fez as alianças políticas mais esdrúxulas, com desmoralizadíssimos partidos fisiológicos.

Já proibiu seus ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi de encaminharem, no âmbito do Executivo, a revogação da anistia autoconcedida pela ditadura a seus esbirros, obrigando-os a deslocar essa luta para a esfera do Judiciário.

Já salvou a cabeça de um dos símbolos do coronelismo brasileiro, José Sarney, além de haver aceitado e agradecido o apoio de outro, Antonio Carlos Magalhães.

Já apareceu aos abraços com figuras execradas da política brasileira, inclusive Fernando Collor, que tornou público seu adultério, sua filha ilegítima e sua tentativa de convencer a amante a abortar.

Já deu contribuição destacada para que o Brasil continuasse o país da impunidade, no qual políticos e seus corruptores nunca têm punição à altura dos seus delitos.

E, last but not least, já colocou o Exército a serviço da campanha eleitoral de um figurão da Igreja Universal do Reino de Deus, daí resultando quatro mortes estúpidas, além do péssimo precedente de trazer de novo as Forças Armadas para cuidar de questões sociais (da última vez, levamos 21 anos para reconduzi-las aos quartéis!).

Agora, necessitando dos votos da Igreja Universal para eleger Dilma Rousseff, não se vexou de equiparar a IURD a si próprio, como "vítima de preconceito"!

Prestigiando a inauguração de dois estúdios da TV Record em Vargem Grande (RJ), lembrou que a atriz Cristina Pereira, pertencente ao cast da emissora, fez campanha por ele: "Cristina saía para bater bumbo com um metalúrgico, vítima de preconceito, como a Record é vítima de preconceito".

Adiante, voltou a bater nessa tecla: "Acompanho os meios de comunicação no Brasil e sei o quanto a Record e o povo da Record foram vítimas de preconceito".

Só esqueceu um síngelo detalhe: ele próprio era vítima de preconceito por sua origem humilde, enquanto os outros são tidos e havidos como responsáveis por práticas financeiras ilícitas, lavagem de dinheiro (por meio da própria TV Record!), estelionato, curandeirismo e lavagem cerebral.

Constituíram bancadas, adquiriram influência política e têm conseguido sobreviver às muitas tentativas dos promotores de colocá-los atrás das grades.

Pior: arrancam até o último centavo de seres humanos fragilizados, que em seu desespero abrem mão dos bens materiais na esperança de obter retribuição divina.

E, como os nazistas faziam com os judeus, imantam seu rebanho unindo-o contra um inimigo comum, os cultos afrobrasileiros, alvos de uma perseguição religiosa que amiúde descamba para o vandalismo (outra reminiscência do nazismo e seus ferrabrazes).

Além dos dóceis eleitores da Igreja Universal, Lula também aprecia o tipo de jornalismo que a TV Record desenvolve, bem de acordo com sua noção de que o papel da imprensa é informar e não fiscalizar.

Assim, elogiou o investimento que a emissora está fazendo para a produção de novelas como uma "demonstração extraordinária de que acreditam no Brasil".

Acrescentou que a concorrência entre as emissoras de TV elevaria o nível do jornalismo e da cultura nacional, permitindo "que o povo brasileiro não seja vítima de alguns formadores de opinião que querem conduzi-la para formar um pensamento único".

Também aí esqueceu um singelo detalhe: a indústria cultural é mesmo altamente manipulatória, mas ainda se direciona a leitores e espectadores capazes de formar juízo próprio, enquanto a TV Record tem como objetivo último ampliar a legião de pobres coitados que atribuem qualquer evento adverso às maquinações do Capeta.

No auge das denúncias na imprensa, e mesmo quando apareceu na TV o registro chocante da divisão do butim, o rebanho fechou olhos e ouvidos à realidade escancarada, preferindo acreditar que era outra provação para testar sua fé.

E é isso que os poderosos sempre quiseram: transformar eleitores em zumbis. O que a IURD está aos poucos forjando é uma versão modernizada (e ainda mais nociva) dos currais eleitorais nordestinos, que Lula conhece tão bem.

O último dos singelos detalhes esquecidos é o de que essa máquina político-religiosa trabalha sempre ao lado dos que estão no poder... e ele, Lula, não durará para sempre.

Então, o seu legado poderá ser o de ter montado a engrenagem perfeita para evitar que, no futuro, algum sindicalista atrevido abra caminho na política, driblando todos os preconceitos, até chegar à Presidência da República.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ENSINO TEM DE SER REERGUIDO SOBRE OS ESCOMBROS DA TERRA ARRASADA

Movimento estudantil ressurge: esperança de que o retrocesso seja revertido.

A ditadura militar de 1964/85 intimidou reitores, diretores, alunos e professores, criando um ambiente irrespirável nas escolas.

Primeiro foram os expurgos, a caça às bruxas.

Depois que a poeira baixou, veio a fase da paranóia: quem estava em instituições ou cursos tidos como de esquerda, sabia ser vigiado o tempo todo, por espiões infiltrados nas salas-de-aula. Todo cuidado era pouco.

No entanto, até por falta de capacidade intelectual -- imaginem só, o coronel Jarbas Passarinho chegou a ser ministro da EDUCAÇÃO!!! --, os governos militares não conseguiram implantar a filosofia educacional fascistóide que seria condizente com sua visão de mundo. Causaram mais males no varejo que no atacado.

Pior mesmo foi a mercantilização do ensino que veio em seguida, com a imersão total do Brasil no capitalismo globalizado. Deixaram de existir estudantes, no sentido real do termo. Foram substituídos por consumidores ávidos por agregar valor a seu currículo profissional.

Nem mesmo a ditadura conseguiu suprimir a tradicional missão da educação, de capacitar os cidadãos para refletirem sobre o mundo em que vivem. A sociedade de consumo logrou este feito.

Agora, as escolas formam apertadores de parafusos, com uma formação especializada que lhes permite executar mal e mal suas tarefas numa determinada profissão -- e mais nada.

Quando cursei a Escola de Comunicações e Artes da USP, na década de 1970, os dois primeiros anos eram de formação geral, de forma que extraíamos ensinamentos riquíssimos da sinergia com os colegas de outras vocações (jornalismo x música x cinema, p. ex.). Esse respiradouro foi fechado, com a especialização agora sendo imposta desde o primeiro dia.

Disciplinas fundamentais para adquirirmos um conhecimento mais crítico e globalizante foram praticamente banidas dos currículos -- começando pela filosofia, que nos permite estabelecer conexões entre os várias abordagens da realidade, habituando-nos a pensar o todo, as partes e as interações entre ambos.

E que dizer do latim, vital para a compreensão de como os idiomas evoluíram e se diferenciaram a partir de uma base comum?! Como é triste ver brasileiros macaquearem sofregamente o falar estrangeiro e não mostrarem o menor interesse na jornada evolutiva que está por trás dele!

VANGUARDA DIZIMADA
-- A aposta da esquerda no confronto com a ditadura pela via armada acabou alijando, pela morte ou impedimentos vários, quadros que teriam um papel fundamental a desempenhar na crítica ao modelo de educação e de sociedade que se foi implantando ao longo da década de 1970, quando houve uma reconfiguração para pior, infinitamente pior.

Indivíduos que de gênios tinham muito pouco (mas possuíam ganância e oportunismo em excesso), puderam concretizar sem maior resistência seu objetivo de substituir qualificação por memorização mesmerizada, franqueando as universidades a uma legião de zumbis do sistema.

Instituições de ensino superior brotaram como cogumelos, promovendo farta distribuição de diplomas inúteis, já que o número de formados ultrapassa dezenas de vezes a capacidade de absorção do mercado.

Uma das vítimas desse mecanismo perverso deu um nome pitoresco ao estabelecimento comercial que teve de abrir por não haver conquistado um lugar ao sol na sua profissão: O Engenheiro Que Virou Suco.

Ademais, desvalorizou-se a graduação pura e simples. Pós, mestrado, doutorado, MBA's, extensão, especialização, seminários disto ou daquilo, uma gama enorme de produtos é oferecida aos consumidores que querem acrescentar diferenciais ao currículo, para se colocarem em vantagem sobre a concorrência no mercado de trabalho.

Resultado: selecionando profissionais para empresas de comunicação, eu frequentemente me deparava com candidatos que ostentavam vários desses penduricalhos mas eram incapazes de redigir algumas linhas sem cometer erros primários de ortografia, gramática e conhecimentos gerais.

Nunca se estudou tanto. Nunca se soube tão pouco sobre o que realmente importa.

Hoje há uma crítica generalizada ao aviltamento da representação política, mas poucos põem o dedo na ferida: os quadros executivos e legislativos são medíocres, predatórios e amorais em função da própria inexistência de uma verdadeira elite na sociedade brasileira.

Cada vez menos dirigentes conseguem ver a floresta atrás das árvores. Miram o interesse imediato e não se dão conta das consequências em médio e longo prazos, nem do quadro global. São conduzidos pelos acontecimentos, ao invés de tentar dar-lhes um direcionamento.

O cenário é o de terra arrasada, literalmente: além dos danos presentes, estamos transformando o futuro em incógnita, com o insensível desperdício/esgotamento de recursos essenciais para a sobrevivência humana.

Carecemos, mais do que nunca, de uma nova vanguarda política e intelectual, que ofereça alternativa ao pesadelo engendrado pelo capitalismo globalizado.

Uma esperança são os sinais de vida que, desde 2007, o movimento estudantil vem emitindo. Ainda é pouco para que seja revertido o imenso retrocesso, mas começou-se, pelo menos, a caminhar de novo na direção correta: a de recolocar a universidade como a consciência crítica da sociedade, o que implica questionarmos esse ensino superior que se prostituiu e descaracterizou, perdendo a própria razão de ser.

Quando um terremoto destruiu a infra-estrutura com que o Chile contava para sediar o Mundial de Futebol de 1962, um grande dirigente esportivo andino liderou o esforço para reerguer-se tudo em tempo recorde, tendo proferido uma frase célebre: "porque nada tenemos, lo haremos todo".

Em matéria de educação, é mais ou menos essa a situação. Nada mais temos, então precisamos construir tudo de novo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ANISTIA INTERNACIONAL ACUSA: ISRAEL MONOPOLIZA ÁGUA POTÁVEL EM GAZA

Fortemente gripado, não conseguia encontrar assunto que aguentasse desenvolver nesta terça-feira. Encaro seriamente meus compromissos, como o de postar algo novo aqui todo dia.

A BBC Brasil veio em meu socorro, com uma notícia desta madrugada, indiscutivelmente importante e que, por falta de tempo hábil, não entrou nos jornais de hoje: Anistia acusa Israel de negar acesso à água potável aos palestinos.

A denúncia da respeitadíssima ONG Anista Internacional vem, mais uma vez, comprovar que Israel hoje incide nas mesmas práticas que tanto condenou nos nazistas.

Com a diferença de que Hollywood não faz um mísero filme sobre essas barbaridades, enquanto o Holocausto já rendeu, seguramente, milhares de produções.

E não adianta me imputarem antissetismo cada vez que um fato novo corrobora essa lamentável regressão e eu o registro.

Os judeus conscientes têm mais é de pressionar o governo de Israel para que volte à civilização, passando a respeitar as leis, os tratados e os tribunais internacionais.

Hoje, não dá mais para tapar o sol com a peneira. As notícias circulam e as pessoas tiram as conclusões que se impõem. Quem quiser ficar com boa imagem, que trate de mudar as práticas. Já passou o tempo em que bastava desqualificar as testemunhas.

Eis os principais trechos do horror nosso deste dia:
"A organização de direitos humanos Anistia Internacional (AI) acusou o governo de Israel de negar aos palestinos o acesso livre à água potável, ao manter um controle total sobre os recursos hídricos compartilhados e seguir políticas discriminatórias.

"Em um relatório divulgado nesta terça-feira, a AI afirma que Israel restringe sem razão a disponibilidade de água nos territórios ocupados da Cisjordânia. No caso da Faixa de Gaza, o bloqueio israelense teria levado o sistema de fornecimento de água e esgoto a um 'ponto crítico'.

"No documento, de 112 páginas, a Anistia sugere que Israel utiliza mais de 80% da água procedente do Aquífero da Montanha, um aquífero subterrâneo partilhado com os palestinos, que, por sua vez, só têm acesso a 20% do total.

"Segundo a organização, por essa razão, o consumo médio de água entre os palestinos é de 70 litros por dia, comparados com 300 litros entre os israelenses. A organização ressalta que há casos em que palestinos consomem apenas 20 litros de água por dia – a quantidade mínima recomendada em casos de emergências humanitárias.

"Além disso, o documento sugere ainda que cerca de 180 mil palestinos que vivem em áreas rurais não têm acesso à água corrente e o Exército israelense proibiria com frequência a coleta de água da chuva. Em contraste, o relatório destaca que os israelenses que vivem na Cisjordânia possuem grandes fazendas de irrigação, jardins luxuosos e grandes piscinas.

"'Israel só permite aos palestinos o acesso a uma parte dos recursos hídricos compartilhados, que se encontraem sua maioria na Cisjordânia ocupada, enquanto os assentamentos israelenses ilegais recebem praticamente provisão ilimitada', explica Donatela Rovera, investigadora sobre Israel da AI."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

POLANSKI RECEBE PROPOSTA INDECENTE

EUA oferecem pena branda se Polanski aceitar
a condenação injusta e a humilhação pública.
Pretenderão exibi-lo como exibiram Mike Tyson?


O caráter do cineasta Roman Polanski está sendo posto à prova. Talvez a tentação seja mais um ardil do bebê de Rosemary, que já se tornou adulto...

Polanski foi detido há quase dois meses na Suíça por causa de uma acusação que os pais de uma adolescente dos EUA lhe fizeram em 1977: a de que teria embebado e abusado da filha, uma modelo de 13 anos deixada desprotegida numa festa de figurões do cinema.

Polanski admitiu apenas haver mantido relações sexuais consentidas com a garota, que não era mais virgem.

Libertado à espera de julgamento, escafedeu-se e decidiu nunca mais pisar em solo norte-americano, nem no de países com quem os EUA mantêm tratados de extradição. Temia um daqueles linchamentos judiciais de que os norte-americanos são useiros e vezeiros, vide os casos de Sacco e Vanzetti e do casal Rosemberg.

Nada receava na Suíça, onde até tem até um chalé.

Mas, os cucos desafinaram: a Suíça recentemente firmou um desses tratados e, num toma-lá-dá-cá muito bem exposto pelo companheiro Rui Martins, entregaram a cabeça de Polanski aos mastins.

Ignorando a novidade, Polanski foi lá para ser homenageado num festival de cinema e acabou preso, à espera de extradição.

Para que o médico parecesse monstro, andaram falando, de forma mistificadora e demagógica, em estupro.

Só que, para os farisaicos moralistas estadunidenses, qualquer relação sexual com menor de idade é estupro, mesmo não envolvendo violência.

Aquele país foi forjado por puritanos, não esqueçamos. Indivíduos totalitários e fanatizados, tão obsessivamente determinados a impor sua repressão sexual a toda a sociedade que os ingleses não aguentaram mais: livraram-se deles, expulsando-os para a colônia.

Os portugueses mandaram para cá a ralé, os criminosos. Eu jamais os trocaria pelos quacres. Prefiro marginais do que tiranos.

Mas, voltemos às desventuras de Polanski.

O certo é que se desprezou a possibilidade de a garota ter sido deixada à mercê dos marmanjos para que acontecesse exatamente o que aconteceu.

Novamente, não esqueçamos: uma armadilha dessas acabou com a carreira de Mike Tyson.

Só uma corte de debilóides estadunidenses seria capaz de engolir a lorota que a vigarista contou.

Que mulher vai no apê de um gorila como Tyson, de madrugada, para outra coisa? Estaria interessada na coleção de selos dele?

E que outra reação uma mulher pode esperar de um gorila como Tyson, se o excitar e depois disser que não está mais a fim?

No Brasil, provavelmente seria condenada por aplicar uma variação do golpe aqui conhecido como suadouro. Merecidamente.

Também não se levou em conta que a suposta vítima de Polanski há muito tempo retirou a acusação contra ele. Aliás, acaba de implorar às autoridades que deixem-na em paz e deixem Polanski em paz.

O que sobrou desse imbroglio, três décadas depois? Nada, afora a intransigência e a compulsão por holofotes dos justiceiros estadunidenses.

Agora, constatando que nenhum ser humano sensato aprova esse simulacro de justiça, estão tentado sair da enrascada em que se meteram de forma torpe, pois torpes eles são. Então, ofereceram a Polanski uma barganha imunda, conforme despacho da agência Reuters:
"Os Estados Unidos querem que ele seja extraditado por ter tido relações sexuais com uma menor de idade. Essa acusação é passível de no máximo dois anos de prisão, pelas leis norte-americanas", disse na sexta-feira o porta-voz do ministério suíço Folco Galli.

"Se Polanski concordar voluntariamente com a extradição, o processo poderá ser concluído rapidamente", disse Galli. "Se a decisão for combatida, pode levar meses e meses."

Fontes judiciais dos EUA disseram que o processo de extradição é complexo e, se Polanski o contestar, poderá se arrastar por anos.
Ou seja, não se fala mais em estupro, que não houve mesmo. E se coloca a alternativa: ou a aceitação de uma pena branda ou o risco de passar anos mofando numa prisão suíça.

Não duvido que haja uma cláusula secreta na proposta indecente: a de que, logo depois da condenação, ele será colocado em liberdade condicional.

É um homem de 76 anos, sofrido e com trabalhos importantes por realizar, não um ocioso com afazeres irrelevantes e tempo infinito para procurar pêlo em ovo, como seus perseguidores. Vai daí que talvez acabe concedendo essa aparência de triunfo aos liliputianos ressentidos.

Tem todas as atenuantes. E o desfecho seria cinematográfico, lembrando uma obra-prima de Ingmar Bergman: O Rosto (1958).

Nesse filme, um artista usa seus talentos para amedrontar mortalmente os poderosos que quiseram humilhá-lo, mas não leva até o fim o confronto, preferindo um recuo estratégico.

Torço para que Polanski nos dê, na vida real, a mesma lição de dignidade que deu em fitas como O Pianista.

Quando eu era um jovem inquieto, procurando meu caminho na vida, fui tocado por uma peça sobre Galileu Galilei, a que assisti em montagem amadora num teatro do meu bairro.

Tinha uma frase que nunca esqueceria, tanto que a adotei para uso pessoal e procuro segui-la até hoje:
"Há um mínimo de dignidade que não se pode negociar. Nem mesmo em troca da liberdade. Nem mesmo em troca do sol".

domingo, 25 de outubro de 2009

D. TOMÁS BALDUÍNO PEDE O FIM DOS "PROJETOS FARAÔNICOS DEVASTADORES"

Longe de mim a pretensão de expertise em todos os assuntos. Conheço meus limites.

Mas, o acompanhamento atento da política há quatro décadas e meia, além do exercício do jornalismo profissional durante 34 anos, aguçaram meu faro. Sei distinguir bem o aroma de perfume do fedor da carniça.

Então, desde o primeiro momento, senti que a razão estava do lado de D. Flavio Cappio, na polêmica da transposição das águas do rio São Francisco.

Talvez por conhecer muito bem os megaprojetos e os interesses neles embutidos: trabalhando na Imprensa do Palácio dos Bandeirantes, constatei que a política oficial é pior ainda do que supõe nossa vã filosofia.

Ademais, há valores sagrados para mim, como o de somar forças com todo idealista que faça greve de fome em nome de uma causa justa (ou do que lhe pareça ser uma).

É um instrumento de luta dos fracos contra os poderosos: não pode ser debilitado. Que se debilitem, antes, os governos! Fazem menos falta...

Os realistas políticos -- que estão mais para lacaios do Poder e suas boquinhas -- hoje mesmo andaram me acusando de estacionado nos valores do passado, um jurássico que até hoje não saiu da década de 1960.

Ora, se para me tornar moderninho precisarei abdicar da solidariedade revolucionária, que me desculpem, mas seguirei até o fim defendendo os Cappios e Battistis.

Cada um escolhe com quem se identifica. Eu escolhi personagens como esses, lá no início de minha jornada. E, ao contrário do Lula, não vejo motivos para mudar.

Mas, retomando o fio da meada, o que eu quero mesmo é recomendar o excepcional artigo de D. Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e ex-presidente da Pastoral da Terra, Réquiem para a Transposição do São Francisco, publicado pela Folha de S. Paulo neste domingo.

Estou totalmente convencido da exatidão dos seus argumentos e prognósticos, inclusive o de que essa monumental pirâmide desabará, como tantas outras pirâmides do passado.

O texto inteiro está impecável, mas me agradaram, principalmente, estes trechos:
"Imagino que Lula (...) possa estar sonhando em se ligar pessoalmente com o nordestino rio São Francisco, símbolo da integração nacional, transformando o grande sertão da seca num abençoado oásis...

"Isso explica, quem sabe, sua apaixonada tenacidade em querer levar adiante essa obra apesar das inúmeras reações contrárias de parte do Judiciário, do Ministério Público, da mídia, dos cientistas, do episcopado católico, das organizações sociais, dos atingidos pelas obras: camponeses, quilombolas, grupos indígenas.

"A transposição pretende guindar continuamente, em um desnível de 300 metros, 2,1 bilhões de m3 da água mais cara do mundo para o Nordeste, que, por sua vez, já acumula 37 bilhões de m3 a custo zero. Se o problema da seca do Nordeste não se resolve com esses 37 bilhões de m3 armazenados, irá ser resolvido com 2,1 bilhões de m3 da transposição?

"...os 70 mil açudes do Nordeste construídos nesses cem anos demonstram que lá não falta água. O que falta é a distribuição dessa água. Basta implantar um vigoroso sistema de adutoras, como o proposto pela Agência Nacional de Águas, por meio do 'Atlas do Nordeste', que foi abafado pelo governo.

"Trata-se de levar água por meio de uma malha de tubos e adutoras a toda a população difusa do semiárido para o abastecimento humano, sem a transposição. Enquanto a transposição atenderia 12 milhões de pessoas em quatro Estados, segundo dados oficiais, o projeto alternativo atenderia 44 milhões em dez Estados. Custo: metade do preço da transposição.

"Enquanto, de um lado, ainda prevalece a indústria da seca (a transposição aí se inscreve), que rende uma fortuna para os políticos e empresários e mantém o povo na situação do flagelado retirante, (...) do outro lado está surgindo uma nova consciência nas comunidades populares carregada de esperança libertadora.

"Trata-se da convivência com o semiárido. (...) A questão não é 'acabar com a seca', mas de se adaptar ao ambiente de forma inteligente.

"Nessa linha, um pedreiro sergipano inventou a tecnologia revolucionária das chamadas cisternas familiares de captação da água de chuva para o consumo humano.

"Está chegando, pois, a transfiguração do povo e da terra construída de baixo para cima, no respeito e na convivência, libertando-se dos projetos faraônicos devastadores, impostos autoritariamente de cima para baixo.

"Esse humilde toque de sino, alegre e festivo, já se pode ouvir com nitidez, pois essa mudança, cheia de vida e esperança, é um fato no grande sertão nordestino."
Amém.

sábado, 24 de outubro de 2009

OS HOMENS UNIDIMENSIONAIS DITOS DE ESQUERDA

(reflexões inspiradas pela reação de leitores do site Vi o Mundo a meu artigo De Lula-lá a Pilatos)

Quando, na década de 1960, Marcuse comunicou o advento do homem unidimensional, deu-nos a impressão de estar apenas exagerando certas tendências dos países desenvolvidos.

Seu retrato impiedoso de um indivíduo em que foi anulada a capacidade crítica e cujas aparentemente livre escolhas são moldadas por forças exteriores parecia-nos apenas outra distopia, na linha do 1984 de George Orwell.

Aí, a partir de 1970, passamos a conviver com aqueles pré-yuppies ensandecidos, a vociferarem “Brasil, ame-o ou deixe-o!”, impermeáveis a qualquer crítica que se fizesse à ditadura militar. Só viam o que queriam ver: a conta bancária no azul, os ganhos na Bovespa, o carango na garagem. Direitos humanos? Ora, isso não enche a barriga de ninguém...

Nós nos consolávamos com o pensamento de que a censura férrea vedava aos cidadãos o conhecimento das mazelas do regime dos generais. Não queríamos acreditar que os eufóricos com o milagre brasileiro eram nossos primeiros homens unidimensionais, avestruzes que enterram a cabeça na areia quando confrontadas com realidades que desmentem suas ilusões.

Pior ainda aconteceria quando os vigaristas neopentecostais começaram a ser desmascarados pela imprensa. As provas de estelionato, curandeirismo, lavagem cerebral e outros crimes se multiplicavam, saltavam aos olhos, até formarem um quadro devastador.

Qualquer ser realmente pensante só poderia concluir que a Igreja Universal do Reino de Deus nada mais era (e é) do que uma arapuca para depenar otários. No entanto, o rebanho de fanáticos fechou os ouvidos, cobriu os olhos e tampou a boca, mantendo-se numa redoma mental até o assunto sair do noticiário. Para eles, tudo não passava de maquinações do Capeta.

O inimaginável seria o fenômeno se reproduzir na esquerda. Mesmo nos piores momentos do século passado, como quando do pacto de Stalin com Hitler, os comunistas se mantiveram disciplinados, mas tinham um mundo de dúvidas na cabeça. Calavam sua insatisfação por acreditarem que a salvação da pátria-mãe do socialismo justificava quaisquer sacrifícios.

Hoje, entretanto, o pesadelo se materializou. Passaram a existir pessoas que acreditam sinceramente ser de esquerda, e com igual sinceridade crêem que se pode possa ser de esquerda caluniando, difamando e injuriando quem quer que contrarie sua posição, mesmo que a partir de outros valores pertencentes ao campo da esquerda.

Na década de 1960, sepáravamos bem uns e outros: aos defensores do capitalismo e do totalitarismo, combatíamos como inimigos, implacavelmente; aos companheiros de outras tendências de esquerda, combatíamos como adversários, respeitando-os e buscando convencê-los, ao invés de tentar esmagá-los sob os rolos compressores do sectarismo.

Tínhamos claro que jamais deveríamos reincidir nas infamias do stalinismo (aquela caricatura grotesca do socialismo!), quando revolucionários exemplares, após uma vida inteira dedicada à causa do proletariado, eram levados a tribunais inquisitoriais sob acusações tão estapafúrdias quanto as de espionagem pró-EUA (ou pró-Alemanha, ou pró-Inglaterra, conforme o vilão do momento) ou complô para envenenar os reservatórios de água...

Parece que a internet adubou as patrulhas ideológicas, o monolitismo do quem-não-é-por-mim-é-contra-mim, o primarismo, a demagogia, a falsificação, a grosseria...

Mas, enquanto tiver vida e forças, continuarei fiel aos valores que norteiam minha atuação: os ideais revolucionários, a defesa dos direitos humanos e o exercício do pensamento crítico.

Como disse Dolores Ibárruri, no desafio que lançou a outra horda, "no pasarán!".

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

DE LULA-LÁ A PILATOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu longa entrevista a Kennedy Alencar, que é matéria-de-capa da Folha de S. Paulo e está integralmente reproduzida na Folha On Line.

O que dela se filtra é, principalmente, a metamorfose do Lula num mais do que competente político convencional.

Caíram do cavalo os que apostavam na sua incapacidade de pensar, falar e agir como presidente da República, por ter formação escolar apenas básica.

Pelo contrário, suas palavras e raciocínios são os mesmíssimos dos presidentes que essa gente erige como modelos.

Decepção real é a dos idealistas que apostaram nele e fizeram campanhas voluntárias, com doação extrema dos seus esforços, para colocá-lo no poder.

A faixa presidencial o fez esquecer ideologia e se tornar mais um adepto do realismo político, com tudo que isso tem de sinistro num país tão desigual e tão injusto como o Brasil.

Lula já emitiu, com outras palavras, o conceito de que só um desmiolado continua esquerdista ao se tornar sexagenário.

Agora ele acrescentou outras pérolas na mesma linha. P. ex.: "Não utilizo mais a palavra burguesia".

Coerentemente, qualifica Roger Agnelli (presidente da Vale) e Eike Batista (o homem mais rico do Brasil) com a mesma expressão: "grande executivo".

Eu preferia os tempos em que ele designava tais figuras como burgueses fdp. Mas...

Também é chocante ouvir Lula confessar que suas afirmações aparentemente tão convictas de outrora não passavam de papo furado: "Quando se é oposição, você acha, pensa, acredita. Quando é governo, faz ou não faz. Toma decisão".

Ou seja, se você não tem o poder, o que diz não passa de retórica inconsequente. Quando você está no poder, aí sim é que mostra quem realmente é, por suas atitudes.

Deu-me razão. Há anos venho afirmando que o Governo Lula se define mesmo é por sua política econômica - no caso, neoliberal, idêntica à de FHC.

Fiquem os leitores sabendo que ele concorda com este critério. Discurso é conversa pra boi dormir, o que vale é a ação.

E a atuação concreta do Governo Lula prioriza o grande capital, os banqueiros e o agronegócio. Em suma, os burgueses, que continuam existindo e sendo socialmente perversos e nocivos, pouco importando a forma como os denominemos.

Lula também deixa claro o motivo de hoje fazer coro aos reacionários em suas críticas aos MST:
"Em 2002, fizemos uma pesquisa em que 85% diziam que a reforma agrária tinha de ser pacífica. Levei mais de 15 dias para que minha boca pudesse proferir reforma agrária tranquila e pacífica. Essas mudanças têm de ter. Algumas coisas que a gente fala, pensando que está agradando, não batem com o que povo pensa".
Só esquece de dizer que o que o povo pensa tem 99% a ver com o que a grande imprensa martela na sua cabeça. E que a cobertura das ações do MST é extremamente tendenciosa e distorcida.

Mas, para um político convencional, o que importa mesmo é aquilo que o povo acredita ter concluído por conta própria, embora, na verdade, lhe tenha sido impingido pela indústria cultural.

Então, se houver considerável maioria de posições contra o MST, nas tais pesquisas de opinião nunca totalmente confiáveis, é nesta direção que o político Lula irá. Sorry, MST!

"JESUS TERIA DE CHAMAR JUDAS
PARA FAZER COALIZÃO"


O Lula realista só não aprendeu a falar muito sem dizer nada, como fazem os outros políticos convencionais. Às vezes, seus excessos retóricos permitem que descortinemos a verdade oculta atrás dos bimbos.

Seu maior ato falho, desta vez, foi proclamar em alto e bom som o que realmente são os partidos da base aliada:
"Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
Depois disto, nada mais surpreende.

Nem a defesa que faz de sua própria atuação no Sarneygate, não por considerar inocente o "grande republicano" (é assim que Lula se refere a ele noutro trecho), mas porque, se fosse feita justiça, a presidência do Senado seria assumida por um tucano. Ah, a maldita governabilidade, quantas infamias se cometem em seu nome!

Nem sua justificativa tosca ("Não tenho relações de amizade, mas relações institucionais") para a atual promiscuidade com figuras que o Lula do passado abominaria, como Fernando Collor, Renan Calheiros e Jader Barbalho.

Nem sua entendiado descaso, só faltando bocejar ("Palocci pode reconstruir a vida dele"), diante da incompatibilidade extrema entre o que Antonio Palocci fez (mobilizar todo o poder do Estado contra um mero caseiro) e a proposta original do PT (representar os humildes e os fracos na sua luta contra os poderosos).

O Lula realista, que admite fazer alianças com quaisquer judas, escolheu ser Pôncio Pilatos: lava as mãos dos resíduos imundos da governabilidade e vai em frente.

Que nunca lhe falte sabonete, e que não venha a ter também nas mãos o sangue dos inocentes - é o que lhe desejo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ISRAEL É O IV REICH

Os judeus criaram os kibutzim.

Para os jovens, explico: tratou-se da experiência temporariamente mais bem sucedida, em todos os tempos, de comunidades coletivas voluntárias, praticantes do igualitarismo -- na linha do que Marx e Engels classificaram como "socialismo utópico".

O verbete da Wikipedia, neste caso, é rigorosamente correto:
"Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutzim são uma experiência única israelita e parte de um um dos maiores movimentos comunais seculares na história. Os kibutzim foram fundados numa altura em que a lavoura individual não era prática. Forçados pela necessidade de uma vida comunal e inspirados pela sua ideologia socialista, os membros do kibutz desenvolveram um modo de vida comunal que atraiu interesse de todo o mundo.

"Enquanto que os kibutzim foram durante várias gerações comunidades utópicas, hoje, eles são pouco diferentes das empresas capitalistas às quais supostamente seriam uma alternativa. Hoje, em alguns kibutzim há uma comunidade comunitária e são adicionalmente contratados trabalhadores que vivem fora da esfera comunitária e que recebem um salário, como em qualquer empresa normal".
O BUND E A REVOLUÇÃO SOVIÉTICA - Os judeus também desempenharam papel relevante no movimento socialista, principalmente por meio do Bund, que existiu entre as décadas de 1890 e 1930 na Europa.

Vale a pena lembrarmos como eles contribuíram para a revolução soviética, aproveitando um excelente artigo de Saul Kirschbaum, responsável pelo Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da USP :
"A crescente urbanização e proletarização dos judeus, que deixavam para trás suas aldeias empobrecidas em busca de novas perspectivas de vida, fez emergir o movimento socialista judaico na segunda metade da década de 1870. Nos dez anos que se seguiram, desenvolveu-se a luta organizada dos trabalhadores pela melhoria de suas condições. Associações de operários organizaram greves em várias cidades da região de assentamento judaico. Representantes da intelligentsia, em sua maioria estudantes, começaram a formar círculos de trabalhadores para a disseminação de idéias socialistas.

"Aglutinando todos esses esforços, a idéia de que os judeus em geral e os trabalhadores judeus em particular tinham seus próprios interesses, e por isso precisavam de uma organização própria para atingir seus propósitos, disseminou-se rapidamente entre os ativistas. Por fim, representantes dos círculos socialistas reuniram-se em Vilna em outubro de 1897 para fundar a União Geral dos Trabalhadores Judeus na Lituânia, Polônia e Rússia, conhecida em ídiche como Der Bund. O Bund não se via somente como uma organização política, e devotou grande parte de sua atividade à luta sindical. Seu programa, formulado no primeiro encontro, via como objetivo principal a guerra contra a autocracia czarista.

"O Bund também não se considerava um partido separado, mas parte da socialdemocracia russa, que existia na forma de grupos e associações dispersos. Por causa de sua força, o Bund teve papel decisivo na criação, em março de 1898, do Partido Socialdemocrata de toda a Rússia, que viria a tornar-se o Partido Comunista.

"As atividades do Bund cresceram e sua influência sobre o público judeu aumentou depois que começou a organizar unidades de autodefesa no período dos pogroms de 1903 a 1907. Desempenhou papel ativo na revolução de 1905, quando tinha atingido 35 mil membros.

"Mas o Bund não foi o único partido a atuar entre as massas judaicas. A extensa atividade política que se seguiu à fracassada revolução de 1905 permitiu a ação de outros três partidos judaicos: o Partido Sionista Socialista dos Trabalhadores, (...) o Partido Judaico Socialista dos Trabalhadores (...) e finalmente o Partido Socialdemocrata dos Trabalhadores.

"A revolução que irrompeu na Rússia no início de 1917 pôs fim ao regime czarista e implantou uma república chefiada por um governo provisório. O novo governo aboliu as discriminações e outorgou aos judeus plena igualdade de direitos. Os partidos judeus, que tinham restringido ou mesmo totalmente suspendido suas atividades durante o período reacionário que se seguiu a 1907, despertaram para grande atividade. Após a proibição imposta durante os anos de guerra sobre todas as publicações em caracteres hebraicos, as editoras em hebraico e ídiche retomaram suas atividades, e surgiram dúzias de periódicos e jornais.

"...a Revolução Soviética provou ser possível uma abordagem nova e bem-sucedida para os conflitos nacionais, por meio da criação de um estado multinacional - uma nova forma de diferentes povos conviverem num mesmo território sobre uma base de igualdade nacional. Abordagem que, na época em que vivemos, parece ter sido esquecida e negligenciada em toda parte."
DE MÉDICO A MONSTRO - Durante longo tempo, a propaganda reacionária apresentou o movimento socialista internacional como uma conspiração judaica para dominar o mundo.

Na segunda metade do século passado, entretanto, Israel viveu sua transição de Dr. Jeckill para Mr. Hide. Virou ponta-de-lança do imperialismo no Oriente Médio, responsável por genocídios e atrocidades que lhe valeram dezenas de condenações inócuas da ONU.

Até chegar ao que é hoje: um estado militarizado, mero bunker, a desempenhar o melancólico papel de vanguarda do retrocesso e do obscurantismo.

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, acaba de determinar ao seu gabinete que estude a possibilidade de propor alterações à legislação de guerra internacional a fim de adaptá-la à necessidade de "conter a expansão do terrorismo no mundo".

Uma tese que conhecemos muito bem, pois martelada dia e noite nos sites e correntes de e-mails das viúvas da ditadura: a de que o combate ao terrorismo justifica violações dos direitos humanos. Eufemismos à parte, esta é a essência da proposta do premiê israelense.

E, se os totalitários daqui tudo fazem para salvar de punições aqueles que cometeram crimes em seu nome, os de lá não ficam atrás: Netanyahu determinou também a criação de uma comissão para defender as autoridades de Israel das acusações de crimes de guerra que lhes possam ser feitas por tribunais internacionais.

Ou seja, face ao repúdio universal dos massacres que perpetrou em Gaza na última virada de ano, Israel se prepara para radicalizar sua posição: defenderá genocidas, ao invés de os punir, como qualquer nação civilizada faria; e quer mudar as leis da guerra, para que passem a considerar lícitas e justificadas campanhas em que morrem 1.400 de um lado e 13 do outro.

Israel não tem mais nada a ver com os ideais que inspiraram os kibutzim e o Bund.

Está mais para um IV Reich. Nazista, como o anterior.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

FRED VARGAS DETONA O ESCUDEIRO DO MINO CARTA

Em termos intelectuais e morais, a diferença de estatura é maior ainda...


(Segue a íntegra da carta que a escritora Fred Vargas enviou ao juiz aposentado e
colunista da "Carta Capital" Walter Maierovitch, extraída do blogue Horizonte Vermelho)

Paris, França, 12 de Outubro de 2009

Prezado Walter Maierovitch,

Ao me atacar, ou incansavelmente atacar Cesare Battisti, o senhor está golpeando alvos fáceis e sabe disso. Pois do seu lado, e não do nosso, estão o poderoso governo italiano e sua embaixada.

Desde mais de dois anos o senhor vem se fazendo o eco do governo italiano, cuja pressão, por intermédio da imprensa, efetuou a proeza de transformar Cesare Battisti, um total desconhecido, um escritor pacífico, num “monstro” imaginário, num homem jogado à opinião pública a custo de incontáveis mentiras. Isso o senhor sabe, isso o senhor tem feito, a despeito do parecer dos maiores e mais respeitados juristas brasileiros. Obedecendo a motivações que desconheço, o senhor apóia esse governo italiano. Quanto a mim, represento modestamente a História. Pois é este meu ofício, sendo pesquisadora em história e arqueóloga antes de ser escritora.

Entre o atual governo italiano e a História ou, em outras palavras, entre a política e a justiça, o combate está hoje desigual para Cesare Battisti. Mas, e amanhã? A História sempre triunfa diante das indignidades da Pequena história, mesmo que tenham de se passar dez, ou cem anos. De modo que o senhor talvez vença hoje (bela vitória, de fato, essa da morte de um homem), mas há de perder amanhã perante a História.

O senhor conhece os invariáveis movimentos da opinião pública: iludida pelo discurso da mídia, sem tempo para analisá-lo, aceita a “presa” que lhe oferecem. Tão logo é abatida essa presa, porém, tão logo cessa o “perigo”, sua sabedoria desperta e ela acaba dando a volta, pedindo para conhecer “o outro lado”. Nessa lei da inversão não existe exceção. Assim, quando Cesare Battisti estiver preso, ou morto, a opinião pública irá dar a volta. E há de escutar “o outro lado”, o lado da verdadeira História. Creio que seja honesto apresentar-lhe esta verdade.

Suponho que o senhor conheça o nome dos três únicos e verdadeiros assassinos do grupo armado dos PAC, assim como o de seus cúmplices ou instigadores. Cesare Battisti não se inclui entre eles. Esses homens e mulheres constituíram-se “arrependidos” e combinaram entre si jogar seus próprios crimes nas costas de Battisti. Arriscados a pegar pesadas penas, juntos optaram por acusar em seu lugar um companheiro ausente, e a este preço salvaram suas vidas. É algo que podemos compreender, mas em hipótese alguma podemos aceitar que ainda hoje essa falsa denúncia possa condenar Cesare Battisti, o único entre eles que ainda se encontre preso.

Se excetuarmos as denúncias desses homens e mulheres, eles próprios assassinos ou cúmplices de assassinos, o senhor não foi capaz de publicar um único testemunho digno desse nome, nem um único elemento material que definisse a culpa de Cesare Battisti. Que belas testemunhas, de fato. Todos esses arrependidos estão hoje em liberdade, alguns desde muito tempo, tal como o chefe do grupo, Pietro Mutti, seu “subchefe” Cavallina, e os quatro homens do comando que matou Torregiani. Cesare Battisti foi o único condenado à prisão perpétua, não tendo ninguém para garantir sua defesa. Pois, como suponho que saiba, eram falsas as três “procurações” por meio das quais ele foi representado em seu segundo julgamento. Se for de seu interesse, podemos publicá-las em Carta Capital. Suponho que saiba igualmente que houve um primeiro julgamento coletivo dos PAC, ao qual Cesare Battisti esteve presente e que não o condenou por nenhum dos quatro homicídios. A Itália o terá informado sobre esses fatos, ou será que o induziu em grave erro?

Cesare Battisti jamais matou ninguém. O chefe Pietro Mutti foi acusado de ter atirado em Santoro. Ameaçado de prisão perpétua, acusou Battisti em seu lugar e apontou Spina como sendo sua cúmplice. Ocorre que Spina foi declarada inocente. Mutti mentiu novamente, acusando Battisti de ter atirado em Sabbadin (o qual pertencia ao partido fascista MSI e tinha por sua vez matado um homem). Giacomin, porém, confessou ter ele próprio atirado. O senhor sabia disso? Então Mutti, mais uma vez, acusou Battisti de ter “planejado” o crime contra Torregiani (um homem de extrema direita que também já havia matado um homem, o que explica, embora não justifique, as represálias do grupo dos PAC), sendo que as reuniões foram realizadas no apartamento do próprio Mutti. O qual mentiu novamente ao acusar Cesare de ter atirado em Campagna, sendo que a arma pertencia ao assassino de Torregiani e que uma testemunha descreveu um agressor vinte centímetros mais alto que Battisti. O juiz Armando Spataro, por sua vez, aceitou procurações que sabia serem falsificadas, aceitou as mentiras dos arrependidos, e foi informado sobre as torturas.

Cesare Battisti não “fugiu da justiça”. Ele já havia sido julgado e condenado a 12 anos de prisão por “subversão”. Como poderia imaginar que seria julgado uma segunda vez pelos mesmos fatos?

É certo que durante a presidência de Jacques Chirac, amigo de Berlusconi, a mais alta Corte de Justiça francesa e a Corte Europeia concederam a extradição. Como? Por quê? Na Europa, não se pode mandar para a prisão uma pessoa que não tenha comparecido ou sido representada em seu processo. Ora, essas Cortes foram informadas de que as “procurações” de Cesare Battisti eram falsificações, forjadas pelos arrependidos de modo a que sua futura condenação se tornasse irrevogável. Era esse um obstáculo intransponível. De que maneira essas Cortes puderam superá-lo? Fechando os olhos e considerando as procurações como verdadeiras. O senhor sabia disso?

Sim, a justiça dos anos de chumbo recorreu regularmente à tortura. Foram denunciados treze casos só no primeiro processo coletivo dos PAC. Coloco esses depoimentos à sua disposição.

Sim, os tribunais italianos, quase todos dirigidos por juízes associados ao Partido Comunista, então aliado ao governo de Democracia Cristã, condenaram 4.700 ativistas de extrema esquerda, e deixaram em paz todos os de extrema direita, embora estes tivessem causado muito mais mortes com seus atentados a bomba.

Sim, o próprio ministro do Interior daquela época, Francesco Cossiga, que organizou a repressão e posteriormente foi duas vezes Presidente da República italiana, se manifesta a esse respeito. Coloco as declarações de Cossiga à sua disposição, assim como todos os elementos que provam a inocência de Cesare Battisti, propondo que os publique em primeira mão antes que sejam publicados por outro veículo.

Existe uma opção intelectual e moral a ser feita entre a versão política enganosa do governo italiano e a versão baseada na autenticidade dos documentos e na tenacidade da História. A escolha é sua, entre as mentiras do tempo imediato e o veredicto de amanhã.

Atenciosamente,

Fred Vargas

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Obs.: Fred Vargas (Frédérique Audoin-Rouzeau) é historiadora, arqueóloga e escritora francesa.

ANOS DE CHUMBO: EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA

Segue a íntegra do manifesto que

será divulgado no próximo dia 4,
40º aniversário da morte de um dos
maiores revolucionários brasileiros
de todos os tempos. Adesões pelo
e-mail marialmeid@uol.com.br,
citando apenas o nome e profissão.

CARLOS
MARIGHELLA tombou na noite de 4 de novembro de 1969, em São Paulo, numa emboscada chefiada pelo mais notório torturador do regime militar. Revolucionário destemido, morreu lutando pela democracia, pela soberania nacional e pela justiça social.

Da juventude rebelde, como estudante de Engenharia, em Salvador, às brutais torturas sofridas nos cárceres do Estado Novo; da militância partidária disciplinada, às poesias exaltando a liberdade; da firme intervenção parlamentar como deputado comunista na Constituinte de 1946, à convocação para a resistência armada, toda a sua vida esteve pautada por um compromisso inabalável com as lutas do nosso povo.

Decorridos quarenta anos, deixamos para trás o período do medo e do terror. A Constituição Cidadã de 1988 garantiu a plenitude do sistema representativo, concluindo uma longa luta de resistência ao regime ditatorial. Nesta caminhada histórica, os mais diferentes credos, partidos, movimentos e instituições somaram forças.

O Brasil rompeu o século 21 assumindo novos desafios. Prepara-se para realizar sua vocação histórica para a soberania, para a liberdade e para a superação das inúmeras iniqüidades ainda existentes. Por outros caminhos e novos calendários, abre-se a possibilidade real do nosso País realizar o sonho que custou a vida de Marighella e de inúmeros outros heróis da resistência. Garantida a nossa liberdade institucional, agora precisamos conquistar a igualdade econômica e social, verdadeiros pilares da democracia.

A América Latina está superando um longo e penoso ciclo histórico onde ocupou o lugar de quintal da superpotência imperial. Mais uma vez, estratégias distintas se combinam e se complementam para conquistar um mesmo anseio histórico: independência, soberania, distribuição das riquezas, crescimento econômico, respeito aos direitos indígenas, reforma agrária, ampla participação política da cidadania. Os velhos coronéis do mandonismo, responsáveis pelas chacinas e pelos massacres impunes em cada canto do nosso continente, estão sendo varridos pela história e seu lugar está sendo ocupado por representantes da liberdade, como Bolívar, Martí, Sandino, Guevara e Salvador Allende.

E o nome de Carlos Marighella está inscrito nessa honrosa galeria de libertadores. A passagem dos quarenta anos do seu assassinato coincide com um momento inteiramente novo da vida nacional. A secular submissão está sendo substituída pelos sentimentos revolucionários de esperança, confiança no futuro, determinação para enfrentar todos os privilégios e erradicar todas as formas de dominação.

O novo está emergindo, mas ainda enfrenta tenaz resistência das forças reacionárias e conservadoras que não se deixam alijar do poder. Presentes em todos os níveis dos três poderes da República, estas forças conspiram contra os avanços democráticos. Votam contra os direitos sociais. Criminalizam movimentos populares e garantem impunidade aos criminosos de colarinho branco. Continuam chacinando lideranças indígenas e militantes da luta pela terra. Desqualificam qualquer agenda ambiental. Atacam com virulência os programas de combate à fome. Proferem sentenças eivadas de preconceito contra segmentos sociais vulneráveis. Ressuscitam teses racistas para combater as ações afirmativas. Usam os seus jornais, televisões e rádios para pregar o enfraquecimento do Estado. Querem o retorno dos tempos em que o deus mercado era adorado como o organizador supremo da Nação.

Não admitimos retrocessos. Nem ao passado recente do neoliberalismo e do alinhamento com a política externa norte-americana, nem aos sombrios tempos da ditadura, que a duras penas conseguimos superar.

A homenagem que prestamos a Carlos Marighella soma-se à nossa reivindicação de que sejam apuradas, com rigor, todas as violações dos Direitos Humanos ocorridas nos vinte e um anos de ditadura. Já não é mais possível interditar o debate retardando o necessário ajuste dos brasileiros com a sua história. Exigimos a abertura de todos os arquivos e a divulgação pública de todas as informações sobre os crimes, bem como sobre a identidade dos torturadores e assassinos, seus mandantes e seus financiadores.

Precisamos enfrentar as forças reacionárias e conservadoras que defendem como legítima uma lei de auto-anistia que a ditadura impôs, em 1979, sob chantagens e ameaças. Sustentando a legalidade de leis que foram impostas pela força das baionetas, ignoram que um regime nascido da violação frontal da Constituição padece, desde o nascimento, de qualquer legitimidade. E procuram encobrir que eram ilegais todas as leis de um regime ilegal.

Sentindo-se ameaçadas, estas forças renegam as serenas formulações e sentenças da ONU e da OEA indicando que as torturas constituem crime contra a própria humanidade, não sendo passíveis de anistia, indulto ou prescrição. E se esforçam para encobrir que, no preâmbulo da Declaração Universal que a ONU formulou, em 10 de dezembro de 1948, está reafirmado com todas as letras o direito dos povos recorrerem à rebelião contra a tirania e a opressão.

Por tudo isso, celebrar a memória de Carlos Marighella, nestes quarenta anos que nos separam da sua covarde execução, é reafirmar o compromisso com a marcha do Brasil e da Nuestra America rumo à realização da nossa vocação histórica para a liberdade, para a igualdade social e para a solidariedade entre os povos.

Celebrando a memória de Carlos Marighella, abrimos o diálogo com as novas gerações garantindo-lhes o resgate da verdade histórica. Reverenciando seu nome e sua luta, afirmamos nosso desejo de que nunca mais a violência dos opressores possa se realimentar da impunidade.

Carlos Marighella está vivo na nossa memória e nas nossas lutas.

Brasil, 4 de novembro de 2009.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

INVESTIGAÇÃO SOBRE UMA IMPRENSA ABAIXO DE QUALQUER SUSPEITA

Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso?

Você tem de assumir o comando"
(Brecht, "Elogio do Aprendizado")

Um ótimo exemplo da leviandade com que a imprensa nacional e internacional está cobrindo o Caso Battisti nos foi dado nas duas últimas semanas.

A Folha OnLine, o UOL Notícias e o portal da Band, entre outros, publicaram, no dia 07/10, uma notícia que a primeira creditou à "Ansa, em Milão" e as demais, simplesmente, à Ansa, mas não está disponibilizada nos portais dessa agência (nem no latinoamericano, nem mesmo no italiano):
"O italiano Alberto Torregiani, uma das vítimas de um dos crimes pelos quais o ex-ativista de esquerda Cesare Battisti é condenado na Itália, pediu nesta quarta-feira para ser ouvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que analisa o pedido de extradição feito pela Justiça italiana.

"Alberto é filho de Pierluigi Torregiani, que foi morto em frente à joalheria da família, em Milão, e também foi vítima da mesma ação, cometida em 1979. Ele foi atingido por um tiro e ficou hemiplégico.

"'Se os juízes não conseguem decidir porque falta alguma informação, eu os aconselho a escutarem também as vítimas. Eles conhecem a história apenas das cartas processuais', disse Torregiani, retomando um pedido que já havia feito.

"Em março passado, ele solicitou ser ouvido pelo Supremo, o que foi rejeitado, já que o STF não prevê depoimentos..."
Supõe-se que tenha sido uma besteirinha enviada pela Ansa a seus assinantes brasileiros, como um calhau para dar mais volume ao pacote diário desta agência -- ela mesmo consciente de que se tratava de uma total irrelevância.

Jornalisticamente, a pergunta que se impõe é: para que serve uma notícia destas, se não há hipótese nenhuma de Alberto Torregiani vir a depor na conclusão do julgamento do pedido de extradição italiano?

Obviamente, uma de suas serventias é criar prevenção contra Battisti, tentando tanger o STF para o desfecho que a Itália tanto quer enfiar-nos goela abaixo; outra, mais prosaica, é o que os antigos chamavam de "encher linguiça".

A Folha de S. Paulo percebeu que este mal dissimulado exercício de lobby era matéria de segunda linha, não lhe dando espaço na edição impressa.

ESTADÃO EMBARCA
NA CANOA FURADA


Surpreendentemente, O Estado de S. Paulo embarcou, atrasadíssimo, nessa canoa furada. O vetusto jornalão conservador publicou idêntica ladainha no dia 10/10, com a assinatura de Davide Sarsini e sem dar crédito à Ansa, óbvia fonte da notícia inicial.

Afora a repetição do mesmíssimo blablablá, a notícia Vítima de grupo de Battisti quer depor acrescentou duas informações reveladoras.

A primeira é que Torregiani não tem absolutamente nada a testemunhar no Supremo:
"É difícil traçar um quadro do que está ocorrendo, mas os acontecimentos nos levam a pensar que está sendo procurada uma maneira de adiar a extradição", avalia Torregiani. Battisti sempre afirmou sua inocência e sustenta que o disparo que deixou Torregiani numa cadeira de rodas partiu da arma de seu próprio pai.

"E o que isso tem a ver?", replica Torregiani. "Battisti não fazia parte do comando, mas é uma questão de responsabilidade. Ele foi condenado por ter participado da tomada de decisão, por ter sido o mandante do crime, e o que importa são as intenções. O crime foi premeditado e agora ele deve assumir a responsabilidade por seus atos."
Isto veio ao encontro do que ele mesmo havia declarado à Ansa, que publicou em 30/01 a notícia Filho de vítima diz que Battisti não estava presente em assassinato do pai:
"O italiano Alberto Torregiani, filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, supostamente assassinado por Cesare Battisti, disse que não ficou surpreso com as declarações do ex-militante divulgadas pela imprensa brasileira, nas quais ele alega inocência.

"'Ele não disse nada de novo', considerou ele, que ficou paraplégico após ser atingido no mesmo tiroteio em que seu pai foi morto.

"Torregiani revelou que Battisti não participou da ação que culminou no assassinato de seu pai porque havia ido à localidade de Mestre, onde teria matado o açougueiro Lino Sabbadin. 'Está tudo nos autos do processo', explicou.

"Para ele, no entanto, 'o problema é que existe uma sentença de condenação definitiva e testemunhos que indicam ele e seus cúmplices como responsáveis pelo homicídio de meu pai'".
TORREGIANI E SUA
MEMÓRIA SELETIVA

Aqui também houve duas omissões significativas. Torregiani esqueceu de dizer:
  • que, segundo "os autos do processo", os dois assassinatos foram planejados na casa do dirigente máximo do grupo Proletários Armados para o Comunismo, Pietro Mutti, em reunião na qual é atribuída a Battisti (que, na verdade, não estava presente) apenas a omissão, ou seja, não teria objetado; e
  • que depois Mutti, como delator premiado, imputou mentirosamente a Battisti a autoria direta dos dois assassinatos, tendo a acusação engolido suas lorotas interesseiras como se fossem a tábua dos 10 mandamentos.
Aí a defesa levantou um pequeno e singelo detalhe: a distância entre as duas localidades (500 quilômetros) não podia ser transposta no intervalo de tempo transcorrido entre as ações (duas horas).

A derrubada de uma das mentiras de Mutti foi um embaraço? Longe disso. Os procuradores apenas remendaram a peça acusatória, colocando Battisti como assassino de Lino Sabbadin e autor intelectual da morte do joalheiro Pierluigi Torregiani...

Quanto a Mutti, a própria Corte de Milão assim se pronunciaria sobre sua teia de falsidades, em 31/03/1993:
"Este arrependido é afeito a jogos de prestidigitação entre os seus diferentes cúmplices, como quando implica Battisti no assalto de Viale Fulvio Testi para salvar Falcone, ou Battisti e Sebastiano Masala em lugar de Bitti e Marco Masala no assalto à loja de armas 'Tuttosport', ou ainda Lavazza ou Bergamin em lugar de Marco Masala em dois assaltos em Verona".
E o que pretenderia, afinal, Alberto Torregiani fazer no Brasil, se admite que não viu Battisti entre os assassinos do seu pai?

Ora ele afirma que "está tudo nos autos do processo", ora ele diz que os ministros do STF "conhecem a história apenas das cartas processuais".

Pretenderá dizer-nos aquilo que nem mesmo acusadores tão tendenciosos ousaram sustentar no julgamento de cartas marcadas a que Battisti foi submetido em 1987?

E é aqui que entra a segunda informação reveladora da matéria do Estadão:
"Autor do livro Já Estava na Guerra, Mas Não Sabia, em que contou sua experiência, Torregiani entrou há pouco tempo na política. É responsável pelo Departamento de Justiça do Movimento pela Itália, liderado por Daniela Santanchè...".
Para quem não sabe, trata-se de um agrupamento reacionário cuja líder é coproprietária de um night-club para ricaços da Sardenha, uma senhora assumidamente neofascista e que rompeu com Berlusconi por considerá-lo demasiado tímido na defesa dos ideais direitistas...

Então, a motivação de Alberto Torregiani se evidencia desde a cadeira de rodas que ocupa espaço tão destacado na capa do seu livro: é uma vítima profissional querendo aparecer no noticiário, já que engata uma carreira política e literária nas fileiras da extrema-direita italiana.

Que a Folha OnLine, o UOL Notícias e O Estado de S. Paulo, dentre outros veículos, tenham aproveitado esta não-notícia é patético... ou suspeito.

O único sítio apropriado para ela são os sites e blogues da extrema-direita, dedicados a martelar incessantemente propaganda enganosa, como Goebbels recomendava.

Para estes, aliás, acabou servindo como munição. Vários, começando pelo do Reinaldo Azevedo, a reproduziram.

SUPLICY REIVINDICA
OUTRA IMPOSSIBILIDADE

Em seguida, foi a vez do senador Eduardo Suplicy dar sua contribuição a esta comédia de erros, enviando aos ministros do STF um pedido de que, no caso de decidirem ouvir Torregiani, ouvissem também Battisti!

Evidentemente, nem uma coisa nem outra ocorrerá. Mas, foi o bastante para, no dia 14/10, a Ansa Brasil prosseguir com sua "história contada por um tolo, cheia de som e fúria, significando nada" (nunca a citação de Shakespeare foi tão apropriada!): aproveitou a vacilada de Suplicy para continuar dando quilometragem a uma impossibilidade.

A Folha OnLine novamente foi a reboque do incrível exército brancaleone.

Enviei à Folha OnLine e à Ansa pedidos de espaço para apresentar o outro lado da questão, da mesma forma como o expus aqui.

Ambas o ignoraram olimpicamente, o que, aliás, era previsível: não há mesmo justificativa possível ou imaginável para exercício tão medíocre do jornalismo.

Melhor enfiarem a cabeça na areia, como avestruzes.

domingo, 18 de outubro de 2009

QUEM TEM MORAL PARA CASSAR SUPLICY NESSE SENADO?

Os "bons companheiros": Sérgio Fleury (1º, da esq. p/ a dir.) e Romeu Tuma (3º), no auge da ditadura, quando atuavam no Dops/SP.

Desta vez, o senador Eduardo Suplicy (PT) corre risco bem maior de ser cassado por quebra do decoro parlamentar: o corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (PTB), informou que abrirá investigações sobre o caso da cueca vermelha na próxima 3ª feira (20), praticamente antecipando que a conclusão será o envio de uma representação ao Conselho de Ética.

Para quem não se lembra, Tuma era superior hierárquico do pior assassino serial da Polícia Civil durante a ditadura militar, o delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Diretor-geral da Delegacia de Ordem Política e Social no auge do terrorismo de Estado, Tuma passou depois a chefiar o Serviço de Informações do seu sucessor, o Departamento Estadual de Ordem Política e Social -- função que ocupava durante o Caso Herzog.

Em 2005, um dos remanescentes desse episódio e atual presidente da Fundação Padre Anchieta, o jornalista Paulo Markun lançou o livro Meu querido Vlado, trazendo uma gravíssima acusação contra Tuma: foi o primeiro a denunciar Herzog, o que teria feito dele um alvo para o DOI-Codi.

Markun exibiu ata de uma reunião dos serviços de informações da ditadura, realizada 45 dias antes da morte de Vlado, da qual consta o seguinte informe de Tuma:
"Que o canal 2, através de seu departamento de jornalismo, está fazendo uma campanha sistemática contra as instituições democráticas e esse fato foi notado após ter assumido a direção daquele departamento o jornalista Wladimir Herzog, elemento sabidamente comprometido".
Tuma assumiu a autoria do informe, como parte de suas atribuições na época, mas negou qualquer responsabilidade nos eventos posteriores: "Há uma distância oceânica entre isso e o que aconteceu com o jornalista Vladimir Herzog".

Da mesma forma, Tuma sempre conseguiu manter "uma distância oceânica" das torturas e assassinatos cometidos por Sérgio Fleury. Nenhum ex-preso político se lembra dele como torturador, mas Ivan Seixas garante que ele analisava as informações arrancadas nas torturas e decidia quem (e quanto) seria torturado.

XERIFE DE SARNEY

Não há nada a estranhar em sua volta espetaculosa à cena como xerife do Plano Cruzado durante o Governo Sarney. Tinham a afinidade básica de haverem servido fielmente à ditadura militar e conseguido, com inegável jogo de cintura, escapar do destino que lhes deveria caber num país redemocratizado: a responsabilização ou, no mínimo, o ostracismo.

Esse é o personagem que hoje bate no peito e proclama: "É tão ridículo que custei a dar crédito às fotos. É chocante que um senador ande de calcinha por pedido de um programa de TV".

Será que o episódio burlesco protagonizado por Suplicy no Pânico na TV é o verdadeiro motivo da diatribe de Tuma?

Ou ele estará aproveitando para dar o troco pela recente expulsão simbólica que Suplicy aplicou a seu amigo e protetor Sarney?

O certo é que Tuma fez questão de lembrar o caso do cartão vermelho com estas palavras: "O senador feriu as regras e sujou a imagem do Senado em um período não muito positivo de sua história".

Noves fora, o que realmente quebrou o decoro parlamentar e sujou a imagem do Senado, em tempos recentes, foi a absolvição do culpadíssimo Sarney, não a palhaçada inofensiva de Suplicy.

Em nome de tudo que Suplicy já fez pelas causas justas, temos a obrigação de defender com todas as forças seu mandato.

Mesmo porque, pior do que a cueca vermelha são os dolares na cueca, contra os quais o Senado jamais agiu com a energia que se impunha.

Suplicy, entretanto, tem de se compenetrar que seu papel como principal defensor dos direitos humanos no Congresso Nacional é incompatível com exposições ridículas de sua imagem.

É hora de optar, de uma vez por todas, pela priorização da credibilidade ou dos holofotes, nas situações em que uns excluírem a outra.

sábado, 17 de outubro de 2009

JACOBINOS À ESQUERDA E PIRATAS À DIREITA

Robespierre e Barba Negra ainda têm seguidores...

Segundo a Época, Hamas comemora e Israel rejeita aprovação do relatório Goldstone.

Eis a reação do Hamas:
"Taher al-Nunu, porta-voz do Hamas em Gaza, disse que o grupo agradece aos países que votaram a favor da aprovação do relatório. 'Damos as boas-vindas à arrasadora votação do relatório, que deve ser levado imediatamente ao tribunal internacional para crimes de guerra, a fim de que sejam processados os líderes da ocupação israelense por seus horrendos crimes', disse Nunu.

"O dirigente do Hamas Mahmoud Zahar disse à 'Al-Aqsa TV' – vinculada ao grupo islâmico palestino – que (...) o Hamas, inicialmente, rejeitou o relatório (...) 'porque igualava as vítimas com aos carrascos'.

"Porém, Zahar afirmou que, após a decisão desta sexta-feira (16), acredita que o relatório 'ofereça ao Hamas e à outra parte (Israel) a oportunidade de apresentar evidências e provas'. 'Pedimos a criação de um comitê independente que prepare a defesa de nossa posição', disse.
Eis a reação de Israel:
"...afirma um comunicado divulgado pelo Ministério de Assuntos Exteriores israelense... [tratar-se de uma] 'resolução injusta, que ignora os ataques assassinos cometidos pelo Hamas e por outras organizações terroristas contra civis israelenses'.

"'Esta resolução dá ânimo às organizações terroristas no mundo todo e menospreza a paz global', diz o documento israelense.

"Além disso, Israel adverte que 'continuará exercitando seu direito à defesa própria e de tomar ações para proteger as vidas de seus cidadãos'.
A última afirmação é a mais significativa: Israel hasteia a bandeira pirata e, arrogantemente, proclama que continuará ignorando a ONU, os tribunais internacionais e quaisquer instituições que se oponham ao primado da lei do mais forte.

Já não é nem mais o "olho por olho, dente por dente" dos tempos bíblicos que inspira o estado judeu, mas sim as práticas do homem de Neanderthal. Israel regrediu à mais primitiva barbárie.

FILHOS DE ROBESPIERRE

E este episódio é emblemático também para aferirmos quão miope e inconsequente é o posicionamento de uma pseudo-esquerda virtual, cuja inspiração nem de longe é o humanista Marx, que sonhou com um mundo no qual cada trabalhador pudesse desenvolver livremente suas potencialidades, tornando-se até grande pensador ou artista maior, pois estaria liberto dos grilhões da necessidade.

Não, eles são filhos de Robespierre, o cortador de cabeças. Trocam também a política, que pressupõe diálogo e concessões mútuas, pelas soluções de força. Exatamente como Israel, só que com o sinal trocado.

Então, tomando conhecimento da aprovação do relatório Goldstone, de imediato a avaliei como emblemática da rejeição cada vez maior da comunidade das nações aos genocídios e atrocidades israelenses.

E fiz um artigo para repercuti-lo, pois sabia que a imprensa subserviente a Israel lançaria fogo pesado contra o relatório, a ONU e a verdade histórica.

No Centro de Mídia Independente, entretanto, houve comentários ao meu artigo que ignoraram tudo que esse fato político trazia de positivo e só atentaram para o aspecto secundário de que a ação do Hamas também era recriminada. P. ex.:
"...a condenação ao partido do HAMAS, diga-se de passagem, eleito pelo POVO palestino só podia partir de uma organização que outrora se chamou 'liga das nações'.

"Digo e reafirmo, o Hamas Foi eleito e reeleito pelo nobre povo palestino!

"Aqueles que dizem que o Hamas é o culpado, ou provocador das mazelas do povo palestino, só repetem o discurso do opressor [grifo meu]".
Num apelo à racionalidade inexistente nesses (parafraseando Marcuse) homens unidimensionais de esquerda , expliquei:
"...o Relatório Goldstone não poderia omitir que as insensatas provocações do Hamas forneceram pretexto para o banho de sangue que Israel desencadeou. Caso contrário, ficaria exposto a acusações de parcialidade.

"Mas, o documento deixa bem claro que a culpa de cada lado é inversamente proporcional ao número de mortes: para cada israelense, 100 palestinos".
Em português tão tortuoso quanto a linha de raciocínio, veio a resposta:
"Quando se denuncia (sic) os crimes do Estado terrorista de Israel logo vêm (sic) a desculpa da existência do Hamas, ora, o Hamas só existe devido ao roubo das terras de seus legítimos donos, ou seja, os palestinos. Portanto, estes têm todo o direito de lutar contra os invasores sionistas, que com o apoio [grifo meu] da subserviente ONU, vêm ao longo do tempo cometendo todos os tipos de atrocidades e crimes de guerra... "
Cansado de tanta obtusidade, desabafei:
"O que está em causa não é o Hamas, É ISRAEL!

"O puxão de orelhas no Hamas era obrigatório, até porque não lhe cabia mesmo ficar disparando aqueles foguetes de baixo poder destrutivo mas muito dano político adverso (verdadeiros bumerangues!).

"Brincou com a vida dos palestinos e criou a situação que deu a Israel pretexto para massacrar os cidadãos do seu povo, incluindo velhos, mulheres e crianças.

"Mas o documento coloca muito mais peso nas acusações contra Israel, por ter retaliado de forma genocida, com uma reação exageradíssima em relação à ação.

"Temos mais é de aproveitar o principal dessa condenação para esclarecer as pessoas desinformadas, divulgando-a o máximo possível, ao invés de nos preocuparmos com o que foi secundário e sem verdadeira importância política.

"A direita sabe o que faz: tenta minimizá-la e colocá-la sob suspeição.

"Nós, não. Ficamos obcecados com uma única árvore e não percebemos a floresta por trás dela".
É, agora está oficialmente expresso, a avaliação que o próprio Hamas faz do relatório: de início o repudiou, mas depois caiu em si e percebeu que lhe proporcionava um enorme ganho moral e político.

Tanto que tudo fez para que fosse colocado o quanto antes em votação e agora agradece efusivamente aos países que garantiram sua aprovação.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ONU APROVA RELATÓRIO CONDENANDO MASSACRES ISRAELENSES EM GAZA

Notícia acabando de sair do forno: a Folha OnLine informa que o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas aprovou o Relatório Goldstone, que imputa crimes de guerra a Israel (principalmente) e ao Hamas nos eventos de dez/08 e jan/09, que culminaram com a campanha genocida movida pelo estado judeu contra os palestinos de Gaza.

Para quem não se lembra, tal relatório é extremamente contundente quanto às responsabilidades de Israel.

Segundo o documento, a ofensiva de Israel foi direcionada contra "o povo de Gaza em conjunto", configurando "uma política de castigo".

Mais: "Israel não adotou as precauções requeridas pelo direito internacional para limitar o número de civis mortos ou feridos nem os danos materiais".

Portanto, o estado judeu "cometeu crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade".

A missão de investigação da ONU analisou 36 episódios ocorridos em Gaza, entre eles "alguns nos quais as forças armadas israelenses lançaram ataques diretos contra civis, com consequências letais".

Pior ainda, os militares judeus incorreram exatamente nas mesmas práticas que seu povo tanto deplorava nos nazistas: "Outros incidentes que detalhamos se referem ao emprego pelas forças israelenses de escudos humanos, em violação de uma sentença anterior do Tribunal Supremo israelense que proibiu essa conduta".

Embora recriminando secundariamente o Hamas, a missão constatou a extrema desproporção entre os ataques sofridos por Israel e a forma avassaladora como reagiu. Foi o que o juiz Goldstone explicou à imprensa, quando divulgou o relatório, no final de setembro:
"O ataque contra a única fábrica que seguia produzindo farinha, a destruição da maior parte da produção de ovos em Gaza, a destruição com escavadeiras de enormes superfícies de terra agrícola e o bombardeio de 200 fábricas, não podem ser justificados de nenhuma maneira com razões militares. Esses ataques não tiveram nada a ver com o disparo de foguetes e morteiros contra Israel".
A missão recomendou, ainda, à Assembleia Geral da ONU que promovesse uma discussão urgente sobre o emprego do fósforo branco, usado indiscriminadamente pelos israelenses contra a população civil de Gaza. A utilização militar do fósforo branco é proibida tanto pela Convenção de Genebra quanto pela Convenção de Armas Químicas.

ATÉ ALIADOS PEDEM A ISRAEL QUE APURE MATANÇAS

O fato de um relatório tão incisivo quanto este obter a aprovação da ONU é um indício seguro de que a rejeição universal aos massacres israelenses está causando constrangimentos até mesmo aos aliados tradicionais do estado judeu: estes não só deixaram de empenhar-se seriamente em impedir a aprovação do documento, como estão pressionando Israel a investigar as matanças e punir os culpados.

Eis os principais trechos da notícia da Folha OnLine:
"O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou nesta sexta-feira o Relatório Goldstone que condena Israel e o movimento islâmico palestino Hamas por crimes de guerra durante a ofensiva israelense iniciada no ano passado contra a faixa de Gaza.

"O relatório Goldstone (...) apontou a ocorrência de crimes de guerra por parte de Israel e do Hamas durante os 23 dias da operação que causou a morte de 1.400 palestinos, em sua maioria civis, segundo informações de hospitais locais e de ONGs israelenses, palestinas e internacionais.

"Segundo o Centro Palestino de Direitos Humanos, a operação deixou 1.434 palestinos mortos -- incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes. Já as Forças de Defesa israelenses admitiram ter matado 1.370 pessoas, incluindo 309 civis inocentes, entre eles 189 crianças e jovens com menos de 15 anos".

"O relatório (...) afirma que Israel fez uso desproporcional da força e violou o direito humanitário internacional. O texto porém pondera que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos -- que motivaram a operação, segundo o governo de Israel-- também configura crime de guerra.

"O relatório recomenda ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU exija que os dois lados investiguem suas atuações, sob a ameaça de transferir o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

"Tanto Israel quanto Hamas rejeitam as acusações do relatório, que é mais crítico aos israelenses que aos palestinos.

"Em uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU nesta semana, aliados ocidentais de Israel pressionaram nesta quarta-feira o país a investigar as acusações do relatório Goldstone sobre crimes de guerra ocorridos durante a ofensiva (...) na faixa de Gaza. Israel, que esperava o apoio dos Estados Unidos contra o documento, disse que o relatório é uma perda de tempo para o conselho.
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