quarta-feira, 8 de julho de 2009

CRISE HONDURENHA: LULA PEDE MEDIDAS DURAS, MAS NÃO PROMETE AÇÃO

"É preciso sermos muito duros, muito estritos, não podemos admitir sob nenhum conceito que alguém se ache no direito de poder derrubar um governo legitimamente eleito pelo povo", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a crise hondurenha, em entrevista radiofônica que concedeu nesta terça feira em Paris.

Lembrando que a América Latina já sofreu demais com os golpes de Estado das décadas de 1960 e 1970, Lula declarou enfaticamente: "Não vamos permitir que isso ocorra de novo".

Admirável. Pena que não ocorresse a quem o entrevistava a pergunta óbvia: qual vai ser a atitude que ele próprio tomará para impedir essa reincidência golpista extemporânea?

Pois está cada vez mais claro que os EUA não querem arcar com o ônus de compelirem a Organização dos Estados Americanos a adotar medidas mais enérgicas.

Qual é a segunda grande liderança da OEA? O Brasil de Lula, claro, já que o México ainda não decidiu o que quer ser na vida: um país com voo próprio ou um satélite político dos EUA, em cuja órbita já oscila em termos econômicos.

Então, se a parada tiver de ser resolvida pela força, com o envio de tropas da OEA para garantir a devolução do poder ao presidente deposto Manuel Zelaya, a iniciativa de transformar as palavras em atos cabe a Lula. Aconselho as redes bolivarianas a lhe cobrarem isto.

A hipótese de um desfecho menos duro do que o pregado na retórica de Lula seria uma pressão estadunidense nos bastidores que funcionasse. Foi o motivo da reunião que Zelaya manteve com a secretária de Estado Hillary Clinton.

Pode resultar, se Barack Obama empenhar-se realmente neste sentido. Países pobres têm muito a perder antipatizando-se com o mandatário da principal economia do mundo.

O resultado visível da reunião foi a indicação do presidente costarriquenho Óscar Arias para atuar como mediador entre Zelaya e o seu substituto ilegítimo Roberto Micheletti.

Mas, o cacife do Arias é unicamente moral; depende dos EUA lhe fornecerem os trunfos de que necessitará para levar a bom termo sua missão.

Da boca para fora, o desempenho de Obama é convincente. Em visita oficial a Moscou, afirmou:
"Os Estados Unidos apoiam a restituição do presidente democraticamente eleito de Honduras, apesar de ele ter fortemente se oposto a políticas americanas.

"Nós o fazemos não porque concordemos com ele, mas porque respeitamos o princípio universal segundo o qual as pessoas devem escolher os seus próprios líderes, quer concordemos com eles ou não."
Os próximos acontecimentos nos informarão se as convicções de Lula e Obama são sinceras ou não passam de conversa pra boi dormir.

No caso de tudo isso falhar, uma cartada interessante para Zelaya seria voltar de surpresa a Honduras, a fim de que o prendessem e as duas organizações (OEA e ONU) fossem obrigadas a mostrar para que servem. Já que ele andou citando tanto Gandhi, esta seria uma linha de ação bem ao estilo do Mahatma.

O que não pode é esperar demais.

Como enxadrista que sou desde criança, tenho o hábito mental de sempre considerar as jogadas possíveis dos dois lados. O governo golpista hondurenho tem também uma carta poderosa para jogar: a antecipação das eleições.

Isto criaria um fato consumado capaz de desestimular reações da comunidade internacional, que já denota mais vontade de discursar que de agir.

O chanceler Celso Amorim diz esperar que a situação em Honduras se resolva "nos próximos dias ou semanas", argumentando:
"Honduras é muito dependente da ajuda dos Estados Unidos, do Banco Mundial e de petróleo. Esse novo governo não tem possibilidade de durar dois ou três meses."
Que Zelaya não o ouça. Pois suas chances de voltar ao poder também não devem durar dois ou três meses. O tempo corre contra ele, com a situação tendendo a acomodar-se a cada dia que passa. Os próximos movimentos serão decisivos.

2 comentários:

Humberto Carvalho Jr. disse...

Oi, Lungaretti!

Como sempre, muito lúcido. Parabéns!

Abraços.

Anônimo disse...

É bem capaz de Washington querer Zelaya de volta ao poder inabilitado politicamente.

Luis Henrique

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